) 4?.4. 4 ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO GABINETE DO DES. NILO LUIS RAMALHO VIEIRA ACÓRDÃO APELAÇÃO CRIMINAL: 037.2000.001700-6 / 002 APELANTE: Francisco Lindoval da Silva Ferreira ADVOGADO: Raimundo Antunes Batista APELADO: Justiça Pública ger ' APELAÇÃO CRIMINAL. USO DE DOCUMENTO FALSO. ART. 304 DO CÓDIGO PENAL. ALEGADO DESCONHECIMENTO DA FALSIDADE DA CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. DOLO DEMONSTRADO. ABSOLVIÇÃO INADMISSíVEL, RECURSO DESPROVIDO. Quem paga a quantia de R$ 120,00 (cento e vinte reais) a um terceiro desconhecido para obtenção da CNH sem prestar o devido exame de habilitação perante o Detran sabe, ou devia saber, ser falso o documento. "Não pode ser havido como grosseiramente falsificado o documento que é capaz de enganar o homem-comum, assim não considerado o experiente policial que, em sua repartição e diante de seus conhecimentos específicos e das condições pessoais do portador, suspeita da autenticidade em virtude de um pormenor que a outrem passaria despercebida" (TJMS - AC 2.347/89 - rel. José Riskallah - publ. 26/4/89) acima identificados: Vistos, relatados e discutidos estes autos de apelação criminal, (j2
t 4,, Acorda a Egrégia Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, por votação unânime, em negar provimento ao recurso, em harmonia com o parecer da Procuradoria de Justiça. RELATÓRIO Na comarca de Sousa, o órgão do Ministério Público ofereceu denúncia contra Francisco Lindalvo da Silva Ferreira, imputando-lhe a prática da conduta descrita no art. 304 do Código Penal, em razão do fato assim descrito, ipsis verbis: "(...) que por volta das 14:30 horas do dia 13 de abril de 2000, a Polícia Rodoviária Federal realiza uma blitz de rotina na BR-230, quando por ali passou o denunciado conduzindo um veículo, sendo abordado para verificação dos documentos. Ao verificar o CNH do denunciado, os policiais rodoviários desconfiaram de sua autenticidade e trouxeram-no para a delegacia local onde foi lavrado o flagrante. Entregando a prestação jurisdicional, a Dra. Juiza de Direito julgou procedente a denúncia e, como corolário, condenou o réu ao cumprimento de 2 (dois) anos de reclusão e ao pagamento de 10 (dez) dias-multa, no valor unitário equivalente a um trigésimo do salário mínimo vigente ao tempo do crime, substituindo a pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos, consistentes em prestação de serviços à comunidade e limitação dos finais de semana (fls. 277/289). Inconformado, o réu apelou, objetivando a absolvição, ao argumento de que: a)não tinha conhecimento da falsidade do documento por ser uma pessoa de pouco instrução, semi-analfabeta; b)a falsificação era grosseira Com as contra-razões, ascenderam os autos a esta Corte. Instada a manifestar-se, fé-lo a douta Procuradoria-Geral de Justiça pelo conhecimento e desprovimento do recurso. É o relatório. ;
. 4 :.... e VOTO 1) Não-conhecimento da falsidade Não procede a pretensão absolutória, visto que restaram comprovadas nos autos, à saciedade, tanto a materialidade, quanto a autoria do delito, as quais exsurgem do auto de prisão em flagrante (fls. 05/07), termo de exibição e apreensão (fl. 08 ) e laudo pericial (fls.44/50), bem como das declarações prestadas pelas testemunhas. Extrai-se do caderno processual que, no dia 13 de abril de 2000, o acusado, ao ser abordado por policiais em uma blitz, apresentou a Carteira Nacional de Habilitação falsa., O próprio apelante confessou em juízo: "o interrogado comprou a carteira falsa de um rapaz que conheceu no calçadão em Sousa; o interrogado pagou R$ 120,00 (cento e vinte reais) pela carteira e recebeu-a 20 dias depois" (fls. 53/56). O policial rodoviário Gerson Bezerra da Silva afirmou à fls. 227 "o flagranteado informou que tinha comprado a carteira de um rapaz próximo a casa dele; que o depoente entendeu que era uma feira de troca; que esse rapaz apareceu na feira oferecendo carteiras" Apesar do inconformismo do apelante, não restou demonstrado nos autos o alegado erro sobre o elemento constitutivo do tipo, qual seja, o desconhecimento da falsidade da carteira nacional de habilitação, emergindo dos autos, ao contrário do asseverado, o dolo exigível para a configuração da conduta típica delineado no art. 304 do Código Penal. Com efeito, é certo que a apreciação do elemento subjetivo do agente é questão dotada de complexidade ímpar para quem quer que se aventure a realizá-la, ante a impossibilidade de penetrar em sua mente, para dela extrair subsídios com vistas a elucidar suas ações. Contudo, a apontada dificuldade cede frente aos indicativos seguros existentes no processo, os quais revelam que o réu conhecia a falsidade da carteira nacional de habilitação que usava. De fato, o acusado relatou, em juízo (f. 54), que adquiriu a carteira nacional de habilitação de um terceiro que encontrou no calçadão de Sousa, pagando R$ 120,00 (cento e vinte reais) e recebendo-a vinte dias depois. Afirma ainda que só esteve com esse rapaz duas ou três vezes e que ficou com a carteira cerca de dois ou três anos até ser pego. (,
..,. Evidencia-se, assim, que o réu conhecia a falsidade da carteira nacional de habilitação que portava, quer em virtude do valor pago para sua obtenção, quer em virtude de ter adquirido de um terceiro desconhecido. Nesse sentido manifestou-se a Procuradoria ao afirmar que: "qualquer pessoa de baixo intelecto tem condições de saber que para se obter uma carteira de habilitação é necessária a realização de certos procedimentos, pois tem-se que fazer alguns testes, e ser aprovado, para então, ter o direito à carteira, e não compra-la por R$ 120, 00 (cento e vinte reais) de um desconhecido encontrado em um praça". Com isso, não merece prosperar a tese defensiva de que o apelante, tão-somente em razão de ter um baixo grau de instrução, desconhecia que o documento por ele usado era falso, pois este é o entendimento: '"Contra o motorista que não se submete a exames regulares teóricos e práticos perante a autoridade de trânsito, milita a presunção de que conhece a falsidade da Carteira Nacional de Habilitação que usa' (Ap. 118.099-3/7)" (RT 697/281) (grifos meus). Ensina Celso Delmanto sobre tal conduta criminosa: "A conduta punível é fazer uso, que tem a significação de empregar, utilizar. Incrimina-se, assim, o comportamento de quem faz uso de documento materialmente falsificado, como se fora autêntico; ou emprega documento que é ideologicamente falso, como se verdadeiro fora. A conduta é comissiva e o documento deve ser utilizado em sua destinação própria, com relevância jurídica." (Código Penal Comentado, 3', p. 462 - destaque original). Diante disso, entende-se que o réu era conhecedor da falsidade da CNH que usava e sua conduta enquadra-se perfeitamente com a descrita pelo tipo penal. II) Falsificação Grosseira Outro argumento que não procede é o de que a falsificação do documento era grosseiro, de fácil percepção até mesmo por um leigo. Ora, contrariamente ao alegado nas razões recursais, constata-se que a falsidade não era tão grosseira a ponto de revelar um meio absolutamente ineficaz para a consumação do crime, tanto que, como se infere da declaração feita pelo acusado, este vinha - //,%'
e e 1 usando a CNH falsificada há pelo menos três anos sem nenhum problema. O argumento da defesa esmera-se, principalmente, nas frases dos policiais rodoviários Valdir Marcelo Dantas e Hugo Batista Severo que afirmaram que "o papel era grosseiro", Contudo, em que pese o cuidado da defesh, examinando a fotocópia do documento falsificado à fl. 48, vê-se que não há nada de grosseiro ou rude. Nesse mister, colhe-se da jurisprudência: "Não pode ser havido como grosseiramente falsificado o documento que é capaz de enganar o homem-comum, assim não considerado o experiente policial que, em sua repartição e diante de seus conhecimentos específicos e das condições pessoais do portador, suspeita da autenticidade em virtude de um pormenor que a outrem passaria despercebida" (TJMS - AC 2.347/89 - rel. José Riskallah - publ. 26/4/89). Dessa forma, rechaça-se a alegação de crime impossível, em razão de a falsificação não ser grosseira. Assim, diante do exposto, nega-se provimento ao recurso, em harmonia com o Parecer da Procuradoria. É como voto. DECISÃO Negou-se provimento ao apelo, em harmonia com o Parecer. Unânime. 411 PARTICIPARAM DO JULGAMENTO Relator: Des. Nilo Luis Ramalho Vieira 1 Vogal: Des. Antonio Carlos Coelho da Franca 2 Vogal: Dra. Renata de Câmara Pires Belmont, juiza convocada para substituir o Exmo. Des. Leôncio Teixeira Câmara..4/
.1 -.` i... 1....,. ' t Presente ao julgamento o(a) Exmo(a) Dr(a). José Marcos Navarro Serrano, Procurador de Justiça., Sala das Sessões Des. M. Taigy de Queiroz Mello Filho da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, João Pessoa, 05 de setembro de 2006 (data do julgamento). João Pessoa, 05 de setembro de 2006 'i D s. Nilo Luis Ramalho Vieira Relator IP e 4 i / / %,
,. TRIBUNAL DE JUSTIÇA ; oordenadoria Judleiária Regi-Orado em.. / t290.