1 INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO 13 Na sociedade global e no mundo dos indivíduos e das organizações existem, hoje como provavelmente sempre, poucas certezas e muitas incógnitas. A incerteza é, para todos os efeitos e goste-se ou não, dominante. E resulta, entre outras questões, da rápida evolução das tecnologias, da circulação da informação em tempo real e à escala global, da alteração acelerada de comportamentos e mentalidades, da desregulação de mercados, da livre circulação de pessoas e capitais, de novas necessidades dos consumidores. Em suma, incerteza que resulta da mudança, em ritmo cada vez mais rápido, da generalidade das dimensões individuais, organizacionais e sociais (Ferreira e Martinez, 2008). Para sobreviver neste ambiente de incerteza e mudança, as organizações necessitam de implementar mudanças organizacionais de forma a adaptarem-se (Turner et al., 2009). No entanto, grande parte destas iniciativas acabam por falhar (Beer e Nohria, 2000), o que reflete uma incapacidade das organizações para implementarem mudanças com sucesso. Segundo Ferreira e Martinez (2008) este problema afeta também as organizações portuguesas, podendo dever-se a fatores como a aversão ao risco e pessimismo dos gestores portugueses, à estagnação dos processos nas organizações ou a faltas de conhecimento sobre as áreas de gestão da mudança. Este último fator é particularmente relevante nas organizações de saúde, uma vez que os conceitos de mudança organizacional e gestão da mudança são apreendidos e discutidos maioritariamente em escolas de gestão, psicologia, sociologia e economia (Iles e Sutherland, 2001) e, por conseguinte, longe dos teatros da prestação dos cuidados de saúde. Por esta razão, informações e orientações importantes que a literatura oferece sobre os processos de mudança e a sua gestão não estão a ser utilizadas pelas organizações de saúde para implementar as mudanças necessárias com sucesso. Tendo em conta esta linha de pensamento, o objetivo principal deste livro é o de, primeiramente, realizar uma revisão sobre alguma da literatura sobre gestão da mudança e, em particular, na saúde, com o intuito de, posteriormente, elaborar um manual com
14 GESTÃO DA MUDANÇA NA SAÚDE FUNDAMENTOS E ROADMAP informações gerais sobre o tema, dirigido a gestores e profissionais de saúde e adaptado ao contexto e idiossincrasias desta área. Os objetivos a que os autores se propõem são, explicitamente, os seguintes: 1. Descrever o contexto em que se inserem as organizações de saúde portuguesas; 2. Realizar uma revisão bibliográfica sobre algumas das principais teorias, abordagens e modelos de gestão da mudança; 3. Realizar uma revisão bibliográfica sobre alguns dos principais modelos de gestão da mudança na saúde; 4. Elaborar um manual de gestão da mudança de caráter simples e percetível e direcionado para o setor da saúde, de forma a fornecer informações gerais sobre os principais modelos, abordagens, técnicas e ferramentas e podendo ser usado de forma rápida e segura por gestores e profissionais de saúde, adequando-se ao seu contexto. O corpo do livro é constituído por sete capítulos: a introdução (o presente capítulo), a metodologia (capítulo 2), a contextualização do problema (capítulo 3), o estado da arte na gestão da mudança (capítulo 4), revisão da gestão da mudança na saúde (capítulo 5), a elaboração do manual de gestão da mudança na saúde (capítulo 6) e a conclusão (capítulo 7). No segundo capítulo são referidos os aspetos referentes à metodologia usada para construir o livro. O método utilizado foi o descritivo que, segundo Reto e Nunes (2001), tem como objetivo principal caracterizar o estado da arte de um determinado tema de interesse. A técnica de recolha da informação utilizada foi a pesquisa documental, realizada em bibliotecas e, principalmente, em bases de dados eletrónicas. Por último, as fontes de informação consistiram em relatórios e publicações de saúde, manuais de gestão da mudança na saúde e obras e artigos sobre mudança organizacional e modelos de gestão da mudança.
INTRODUÇÃO 15 No terceiro capítulo é feita a contextualização do problema, com uma breve descrição da evolução dos sistemas de saúde inglês e português na última década, nomeadamente a nível das principais medidas políticas e reformas implementadas. Para o sistema de saúde português, a cargo do Serviço Nacional de Saúde, é também feita uma contextualização no ambiente atual de crise e, por fim, uma comparação com o sistema inglês no que respeita às estratégias implementadas na área da gestão da mudança. No quarto capítulo apresenta-se a revisão bibliográfica realizada sobre o tema da mudança organizacional, os seus conceitos, teorias e abordagens. São referidos os diversos tipos de mudança identificados por diferentes autores, os principais modelos de gestão da mudança e os elementos essenciais para o sucesso da mudança, presentes na generalidade dos modelos estudados. De seguida, no quinto capítulo, são referidos os desafios adicionais para as organizações de saúde no que se refere à gestão da mudança e são também apresentados alguns modelos de gestão da mudança na saúde, com ênfase nos modelos dirigidos às organizações de saúde. O sexto capítulo é dedicado à apresentação do manual «Gestão da mudança nas organizações de saúde: roadmap» e à forma como foi elaborado. Este manual apresenta informações gerais sobre os principais conceitos e abordagens de mudança organizacional, revistos nos capítulos anteriores, bem como algumas técnicas e ferramentas a serem utilizadas consoante o tipo e contexto da mudança. Por fim, no capítulo 7, Conclusão, são discutidas algumas questões importantes que foram surgindo ao longo do livro e apresentadas sugestões para futuras práticas.