Audiência Pública nº 049/2011 Obter contribuições referentes às alterações do Artigo 218 da Resolução Normativa nº 414/2010. CONTRIBUIÇÃO DO SINDICATO DOS ENGENHEIROS NO ESTADO DE SÃO PAULO Em princípio, consideramos ser incontroverso que a competência para a prestação do serviço de iluminação pública é da municipalidade. Entretanto, aceitamos com certa reserva a afirmação constante no item 14 da Nota Técnica n 021/2011- SRC/ANEEL que subsidia a presente Audiência Pública que a situação atual é anômala por existirem ativos de iluminação pública pertencentes às distribuidoras já tendo a legislação dado tratamento ao assunto. Atualmente existem dois serviços públicos relacionados à energia elétrica: 1) Fornecimento de energia elétrica, cuja competência é da União que delega por meio de contratos de concessão à distribuidora e 2) Prestação de Serviço de iluminação pública, cuja competência pertence à Municipalidade. A própria afirmação da Aneel de existirem ativos de iluminação pública pertencentes às distribuidora deve também ser aceita com certa reserva pois são provenientes de uma concessão que chegando ao seu final determinam a reversão ao Poder Concedente dos bens vinculados ao serviço. Assim, considerar que os ativos de iluminação pública de uso exclusivo como pertencentes ao patrimônio público da municipalidade nos parece mais acertado até porque foram integralmente custeados por ela, porém também não vemos
problemas de tais ativos serem temporariamente concedidos à distribuidora enquanto esta estiver prestando serviço de iluminação para o Município. As considerações desta Agência Reguladora na Nota Técnica n 021/2011- SRC/ANEEL, todavia, merecem algumas ressalvas. Confira-se: I - Instalações Exclusivas ou Compartilhadas? A Resolução nº 414/2010, em seu artigo 2º, inciso XLIV, assim definiu instalações de iluminação pública: XLIV instalações de iluminação pública: conjunto de equipamentos utilizados exclusivamente na prestação do serviço de iluminação pública; Importante ponderar que a maioria dos municípios brasileiros tem, ao contrário por exemplo de Brasília, rede de energia aérea, compartilhada com os serviços de iluminação pública. Nesse contexto, tem-se que a Aneel definiu como equipamentos de iluminação pública aqueles utilizados exclusivamente na prestação de serviços de iluminação pública exatamente para diferenciar daqueles outros utilizados de forma compartilhada. Assim, os equipamentos utilizados exclusivamente na prestação do serviço de iluminação pública são os braços de iluminação, os relés, as luminárias, os reatores e as lâmpadas. Não obstante, existem outros equipamentos utilizados não exclusivamente que são os postes e a fiação para alimentação elétrica, ou seja, compartilhados na prestação de serviços públicos de energia elétrica e na prestação de serviços de iluminação pública. No entanto, a Nota Técnica que subsidia a presente Audiência interpreta de maneira equivocada a Resolução 414/2010 no item 8: 8. A iluminação pública é definida na Resolução Normativa nº 414, de 2010, como serviço público que, através da utilização de um conjunto de equipamentos exclusivos, tem por objetivo prover de claridade os logradouros públicos, de forma periódica, contínua ou eventual. Frise-se que a situação de compartilhamento de equipamento significa otimização dos serviços, não só em relação as instalações físicas mas também em relação aos recursos humanos. O mesmo eletricista que faz parte da equipe de
manutenção da concessionária atua nos serviços de energia para sua continuidade e na conservação da iluminação das vias públicas. II - Mudança Constitucional A bem da verdade não houve nenhuma mudança constitucional que tivesse alterado a competência do serviço de iluminação pública, passando da Concessionária para o Município, uma vez que este sempre foi o detentor de sua obrigação e competência. O artigo 30, inciso V, da Constituição Federal define como competência do Município organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial sendo, obviamente, que o serviço de iluminação pública possui interesse local e caráter essencial. Na Resolução Normativa nº 414/2010, art. 218, a ANEEL fez constar: 4º Os ativos constituídos com recursos da distribuidora devem ser alienados, sendo que, em caráter excepcional, tais ativos podem ser doados, desde que haja prévia anuência da ANEEL. Normalmente, para que seja instalado um novo ponto de luz, a Prefeitura faz o pedido, a distribuidora faz um orçamento, a Prefeitura paga e finalmente a distribuidora programa os trabalhos, compra os equipamentos e faz a instalação. Deste modo, os equipamentos exclusivos utilizados na iluminação pública já foram integralmente custeados pelo Município e seria até de estranhar que tais ativos viessem a ser alienados pois assim o Município pagaria pela segunda vez por eles. Em nosso ver, a possibilidade de doação deveria ser a única admissível. O Município não só tem a competência do serviço de iluminação pública como poderia executar uma instalação completamente separada com a utilização de postes independentes e fiação própria. Porém, no caso de fiação aérea coexistiriam duas plantações de postes no passeio público: uma para suportar a fiação elétrica e transformadores e outra para prover o serviço de iluminação pública. Em 2002, através de Emenda Constitucional nº 39, foi introduzido o art. 149-A, onde ficou prevista a instituição de contribuição para custeio do serviço de iluminação pública, conhecida como CIP ou COSIP :
Art. 149-A Os Municípios e o Distrito Federal poderão instituir contribuição, na forma das respectivas leis, para o custeio do serviço de iluminação pública, observado o disposto no art. 150, I e III. Parágrafo único. É facultada a cobrança da contribuição a que se refere o caput, na fatura de consumo de energia elétrica. A Iluminação Pública é um serviço público de caráter geral e indivisível, prestado a todos os cidadãos. Cabe ao Município o seu custeio não apenas com todos os investimentos para colocação de novos pontos de iluminação pública como também o pagamento mensal pelo fornecimento de energia elétrica para este fim. A referida emenda constitucional veio a permitir que, mediante lei municipal, repassasse o seu custo aos consumidores de energia, incluindo o seu rateio em contas de luz. Assim, a alteração constitucional permitiu esta cobrança extra na conta de luz independente da distribuidora ser contratada ou não pelo Município para prestação de serviços de iluminação pública. A distribuidora, por sua vez, atua como arrecadadora de recursos para que o Município quite seus débitos perante ela e/ou outra empresa prestadora do serviço. Pondere-se que não há limite para este repasse. Havendo autorização legislativa municipal vão incorporar e aumentar o valor da fatura de energia elétrica, devendo a distribuidora repassar o que recebe para o Município e somente efetuando encontro de contas mediante autorização desta último. III - Perda de Ganho de Escala e Aumento de Custos Uma instalação de energia elétrica que suporta os transformadores e fios de energia elétrica e, ainda, os braços de iluminação e luminárias está desenvolvendo uma dupla função. Nada mais natural incentivar e não proibir uma articulação da União (detentora dos serviços e instalações dos serviços de energia elétrica), por meio de sua delegada, concessionária de serviço público de energia, com o Município (detentor da titularidade do serviço de iluminação pública). A redação dada a alguns parágrafos do artigo 218, é que está induzindo, de forma desnecessária, a impossibilidade da distribuidora continuar a prestar o serviço de iluminação pública: 1º Enquanto as instalações de iluminação pública existentes forem de propriedade da distribuidora, o ponto de entrega se situará no bulbo da lâmpada.
2º Enquanto as instalações de iluminação pública existentes forem de propriedade da distribuidora, esta é responsável pela execução e custeio apenas dos respectivos serviços de operação e manutenção. 3º Enquanto as instalações de iluminação pública forem de propriedade da distribuidora, a tarifa aplicável ao fornecimento de energia elétrica para iluminação pública é a Tarifa B4b. De acordo com esta previsão, o preço público regulado para o serviço de operação e manutenção de iluminação pública (Tarifa B4b) será extinto, tão logo a transferência de ativos de iluminação seja efetivada. O conceito empregado de ponto de entrega é falho pois considera a entrega no bulbo da lâmpada o que não corresponde a realidade, pois a entrega poderia ser considerada no máximo até o soquete da lâmpada e mesmo assim apenas parte da energia vai para a lâmpada, já que outra parte vai para equipamentos auxiliares tais como o reator. A bem da verdade, o ponto de entrega atual tanto para a Tarifa B4a como da Tarifa B4b é no poste, pois se fosse no bulbo da lâmpada não poderia ser somado o consumo dos equipamentos auxiliares. Tal imprecisão de definição é assumida pela ANEEL quando na Nota Técnica fez constar: 21. Sobre o montante de energia elétrica a ser faturado não haverá alteração em decorrência da transferência dos ativos, pois apesar do deslocamento do ponto de entrega, a apuração do consumo sempre foi realizada levando-se em consideração a energia consumida pelos equipamentos auxiliares de iluminação pública. Diante do que estabelece o artigo 218 da Resolução nº 414/2010, para o Município a dispensa de licitação para contratação de um serviço cujo preço deixe de ser regulado pela ANEEL não há como ser sustentada diante do que dispõe a Lei nº 8.666/1993. A absoluta maioria dos Municípios de pequeno e médio porte, não possuem estrutura, conhecimento técnico e capacidade para suportar tal responsabilidade e efetuar de forma eficiente a manutenção da rede de iluminação publica o que irá implicar em terceirização dos serviços. Na verdade, os processos licitatórios, pretensamente competitivos, para aquisição e produtos e contratação de prestação de serviços de iluminação pública poderão conduzir a uma aparente redução de preços quando na verdade poderão precarizar a qualidade dos serviços.
Isto porque, os produtos utilizados na iluminação pública ganharam uma forte evolução tecnológica nos últimos anos e as normas técnica se tornaram muito mais rígidas. De nada adianta comprar uma lâmpada mais barata mas com vida útil menor, ou com menos eficiência energética, ou com maior perda de fluxo luminoso ao longo da vida útil. As luminárias são outros exemplos de como um projeto avançado de luminária pode até dobrar o desempenho em termos de fluxo luminoso mesmo usando a mesma lâmpada e reator. Por conseguinte, ficam evidentes aspectos de desotimização e de identificação de responsabilidade quando duas empresas atuando na mesma instalação elétrica, gerando ainda situações de insegurança. A necessidade, neste caso, da regulação dos serviços ser feita pela ANEEL é decorrente do serviço prestado ser totalmente integrado e fazer parte da estrutura de custos da distribuidora. Alerte-se que mesmo que a tarifa B4b for devidamente calculada, o seu valor será sempre inferior ao cobrado por empresas prestadoras de serviço de iluminação pública. IV - Proposta de nova Redação: Art. 218. Nos casos onde o sistema de iluminação pública estiver registrado como Ativo Imobilizado em Serviço AIS da distribuidora, esta deve transferir os respectivos ativos à pessoa jurídica de direito público competente até 1º de julho de 2013. 1º A tarifa aplicável ao fornecimento de energia elétrica para iluminação pública é a Tarifa B4a quando o serviço de iluminação pública não for prestado pela Concessionária. 2º A tarifa aplicável ao fornecimento de energia elétrica para iluminação pública é a Tarifa B4b quando o serviço de operação e manutenção de iluminação pública for prestado pela Concessionária. 3º Os ativos serão transferidos sem ônus para pessoa jurídica de direito público, mediante comprovação e prévia anuência da ANEEL. 4º A distribuidora deve encaminhar à ANEEL relatórios de acompanhamento da segregação dos ativos do sistema de iluminação pública e atender ao seguinte cronograma: I até 14 de março de 2011: elaboração de plano de repasse às prefeituras dos ativos referidos no caput e das minutas dos aditivos aos respectivos contratos de fornecimento de energia elétrica em vigor; II até 1º de julho de 2012: comprovação do encaminhamento de proposta da distribuidora ao poder público municipal e distrital, com as respectivas minutas dos termos contratuais a serem firmados e relatório detalhando o
AIS, por Município, e apresentação, se for o caso, de relatório que demonstre e comprove a constituição desses ativos com os Recursos Vinculados à Obrigações Vinculadas ao Serviço Público (Obrigações Especiais); III até 1º de setembro de 2012: relatório conclusivo do resultado das negociações, por Município, e o seu cronograma de implementação; IV até 1º de dezembro de 2012: relatório de acompanhamento da transferência de ativos objeto das negociações, por Município; e V até 1º de julho de 2013, comprovação dos atos necessários à implementação da segregação de que trata o caput, com remessa à ANEEL de cópia dos instrumentos contratuais firmados com o poder público municipal e distrital. O que este Instituto pretende é que os Municípios, dentro de sua realidade, possam optar, alternativamente, pela continuidade da prestação de serviços de operação e manutenção realizado pela distribuidora ou por empresa licitada, desde que a ANEEL continue regulando o setor para garantia da qualidade do fornecimento e preço módico. No aguardo de que esta Agência acate a sugestão ora proposta. São Paulo, 09 de Dezembro de 2011. Carlos Augusto Ramos Kirchner Diretor do SEESP