Sete acções para fortalecer famílias vulneráveis e profissionais Liliana Sousa Universidade de Aveiro Apoio comum responde às necessidades básicas Mas: Raramente lhes assegura autonomia e desenvolvimento; e tende a fragilizar os profissionais Acções dos profissionais (o que fazer?) para fortalecer profissionais e famílias: 1. Reflectir 2. Ser empático 3. Estabelecer uma aliança 4. Compreender o apoio como uma actividade relacional 5. Confiar nas famílias 6. Estabelecer prioridades e dar tempo 7. Promover a resiliência de quem apoia (técnicos) 1ª Acção. Reflectir Comum: agir e reagir, sem reflectir 1
O que temos/tenho feito que ajuda a manter (não ultrapassar) esta vulnerabilidade? (reflectir sobre a acção) Porque é que os nossos/meus enormes esforços não têm permitido obter mais resultados positivos? Reflectir na forma como olham estas famílias: Olhar saturado de problemas: acções substitutivas (não mobilizam as famílias, apenas os profissionais); intrusivo (afasta as famílias que pretendem manter a sua coesão) Olhar que incorpora competências e resiliência: mais colaboração (profissionais e famílias são mobilizados) Algumas estratégias para reflectir Contexto de supervisão (p. ex. pensamento crítico), permite: Organizar a experiência de intervenção Identificar estratégias anteriores bem sucedidas Criar grupos de discussão de casos e estratégias Contexto individual (p. ex. escalonamento), permite: Ser específico Definir pequenos passos necessários 2ª Acção: Ser empático Reflectir e agir! 2
Porque são estas famílias resilientes? Em que é esta família resiliente? i. Acção interna: que resiliência eu vejo nesta família? ii. Acção externa: uma auto-acção para compreender melhor a família e os próprios sentimentos e expectativas em relação à família! iii. Acção interna: colocar-se na situação da família e sentir o que ela sente! Gostaria que outros tomassem decisões sobre a sua vida? Um apoio que culpa, substitui e é punitivo, não é desejável: porque não é empático! 3ª Acção: Estabelecer uma aliança O cliente não é um inimigo (compreensão empatia)! Famílias vulneráveis Não são o inimigo São famílias em necessidade que queremos ajudar Ser um aliado significa entender como as famílias se sentem e ajudá-las a criar alternativas para construir vidas mais positivas 3
4ª Acção: Entender o apoio como uma actividade relacional O profissional está na intervenção como pessoa, mostrando quem é! Ser genuíno Usar a auto-revelação Ser culturalmente sensível e competente Ser genuíno: O profissional está atento aos seus sentimentos, em vez de tentar ser neutro ou assumir uma atitude correcta Envolve disponibilidade para experienciar e expressar, por palavras e comportamentos Os clientes apreciam profissionais que agem como pessoas e não apenas como especialistas que aplicam técnicas! Auto-revelação = comunicação de informação pessoal por uma pessoa a outra pessoa (recíproca). Na relação de ajuda: O cliente tem de se auto-revelar ao profissional Mas o inverso é controverso Saber auto-revelar-se: Importante para o cliente, não para o profissional Referir estratégias de resolução de problemas que usaram Não expor problemas pessoais ou profissionais Impacto da auto-revelação do profissional no cliente: Ver o profissional como pessoa Normalizar problemas Aumentar a auto-revelação dos clientes Aumentar as alternativas de resposta do cliente 4
Ser culturalmente sensível e competente: Atenção à cultura e crenças pessoais (profissional): sensibilidade aos valores pessoais e como podem influenciar as percepções dos problemas cliente e a intervenção Conhecimento cultural: conhecer a cultura do cliente, a forma como olham o mundo e as expectativas que têm da intervenção Competências culturais: habilidade para intervir de forma culturalmente relevante e sensível 5ª Acção: Confiar nas famílias Não é fingir que tudo está bem com as famílias! Confiar (sendo genuíno) implica descobrir: O que a família sente ser positivo no seu funcionamento! O que o(s) profissional(is) consideram positivo na família! As duas perspectivas são igualmente válidas! Ocorrem duas situações Cumulativa, os profissionais acreditam nos mesmos aspectos positivos que a família: reforço do sentido de competência da família Fortalecer, os profissionais acreditam em aspectos positivos em que a família não acredita: na família gera-se entusiasmo, motivação, esperança e expectativas positivas 5
6ª Acção: Estabelecer prioridades e dar tempo Os profissionais revelam duas tendências: Responder aos problemas imediatos da família e negligenciar os outros Responder a todos os problemas ao mesmo tempo, implementando diversas medidas que aumentam o stress na família Alterar: Orquestrar diferentes apoios ao longo do tempo (por norma) Começar com apoio material e instrumental (responde às necessidades básicas; permite estabilidade emocional) Compreender o processo de mudança: Os resultados são imprevisíveis Envolve ciclos de evolução, recaídas e abandonos Necessita tempo (para experimentar, escolher, testar, ) Continuidade da intervenção e dos profissionais Descontinuidade: quebra da relação e reforço da sensação de abandono nas famílias 6
7ª Acção: Promover a resiliência dos profissionais Manter sentido de competência e auto-eficácia! Formação Supervisão Compreender: processo de mudança, o que é um problema e o que é uma solução Mudança: reinterpretar à luz das teorias da mudança! As famílias não mudam, recaem ou mudam para pior! Significa que o processo de mudança está em curso! Não mudam porque não cumprem as instruções! O itinerário da mudança não pode ser predefinido! A mudança não ocorre do exterior para o interior! Nada mudou! A mudança é permanente: a família não se moveu no sentido pretendido pelos profissionais! A mudança vai ocorrendo: reconhecer pequenos passos e reforçar! São resistentes à mudança ou não querem mudar! Têm uma identidade; precisam de tempo! 7
O que é um problema? Algo acessível à mudança! Factos e condições não são problemas: não podem ser alterados O que é uma solução? Constrói-se quando se faz algo diferente! Focar o problema não é a melhor forma de encontrar a solução (é uma forma)! Um problema pode ter diversas soluções (não tem apenas uma solução)! A solução assenta sempre nas competências da família (não é externa)! Para ajudar a resolver problemas os profissionais têm de activar as competências da família e apoiar o processo de mudança! Objectivo destas sete acções: Transformar a intervenção: da expertise à capacitação Capacitação das famílias com base nas suas competências e resiliência Capacitação dos profissionais: reorganizarem as suas funções e papéis, para se tornarem mais eficientes e resilientes O principal papel do profissional passa para: ser um modelo positivo (role model) 8
Reflexão: uma acção da qual os profissionais nunca se devem afastar! Liliana Sousa lilianax@ua.pt https://www.ua.pt/cs/pagetext.aspx?id=9019 9