RESSIGNIFICAÇÃO DO CORPO E IMAGEM PELO VESTIDO DE NOIVA. Body and image s resignification by the wedding dress



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Transcrição:

RESSIGNIFICAÇÃO DO CORPO E IMAGEM PELO VESTIDO DE NOIVA Body and image s resignification by the wedding dress BURATTO, Giseli Cristina Caldeira; (Yeva Lingerie) gicaldeira@yahoo.com.br FORNASIER, Cleuza Bittencourt Ribas; (Universidade Estadual de Londrina) cleuzafornasier@gmail.com Resumo: O artigo discute os aspectos subjetivos da escolha do uso de um vestido de noiva, por meio de levantamento histórico. Para tanto, verificamos qual o desejo de consumo da noiva através de análise de imagens portadas de blogs, como também quais são as influências da Era Vitoriana para a escolha do modelo e, por fim, apresenta um estudo da relação do consumo do vestido de noiva com o corpo e a imagem desejada. Palavras-chave: Consumo, Comportamento, História da Moda. Abstract: The article discusses the subjective aspects of the choice of using a wedding dress through historical survey. Therefore, we find that the desire Bride consumption through portals image analysis blogs, as well as what are the influences of the Victorian Era to the model selection, finally, presents a study of the relationship of the bride dress consumption with the body and the desired image. Key words: Consumption, Behavior; Fashion History.. Introdução O vestido de noiva, diferente de outro traje social de luxo preparado para ocasiões especiais, tem um significado relevante para vida das mulheres. Ele resgata pedaços da cultura, da religiosidade e da história da humanidade. Muito provavelmente o vestido de noiva será a roupa mais cara que uma mulher irá vestir na vida e, acredita-se terá usado apenas uma vez. Seu noivo nunca a viu vestir algo parecido e provavelmente nunca verá de novo. (WORSLEY, 2010 p. 12) Diante dessa leitura, pressupomos que as noivas desejam estar como nos seus sonhos, uma "princesa", não considerando somente o sentido literal, e independente do seu tempo ou do estilo de vida que leva no momento. O desejo de perfeição vai além da escolha do vestido de noiva, e que também toma conta do universo do casamento.

Logo, o objetivo desse artigo é estudar os aspectos subjetivos da escolha de um vestido de noiva, para isto, iremos verificar qual o desejo de consumo que a noiva possui durante essa época de encantamentos, quais são as influências da Era Vitoriana para a escolha do seu vestido de noiva e finalmente, analisar a relação do vestido de noiva com o corpo e a imagem desejada, transmitida no dia do casamento. Para tanto, realizaremos uma pesquisa bibliográfica no que tange os aspectos teóricos para esta abordagem, relacionados à história da moda, comportamento do consumo e as relações do corpo e da imagem com a noiva. Após, realizaremos análises comparativas de imagens dos estilos da Era Vitoriana com imagens de noivas brasileiras atuais para definirmos a relação do corpo com a imagem desejada. História do vestido de noiva Quando o casamento, ou a união civil surgiu, ainda não apresentava a característica do sagrado advinda do nascimento do cristianismo, porém, Worsley (2010) afirma que esses eventos aconteciam com frequência e, assim sendo respeitavam os aspectos da tradição romana. As madrinhas tinham a função de ajudar a noiva a colocar um véu muito fino de linho na cabeça, chamado flammeum, com o cabelo preso que já era enfeitado com uma grinalda de flores. Para os romanos, as flores representavam a fertilidade (WORSLEY, 2010). Podemos acreditar que o uso do véu foi o primeiro acessório usado para o casamento, pois, o livro de Gênesis da Bíblia Sagrada, capítulo 24 versículo 65, conta que Rebeca se cobriu com um véu quando se aproximava do seu futuro marido Isaque. Quando a Rainha Vitória casou com seu primo, o príncipe Albert, em 1840, ela endossou o vestido branco como símbolo de status para noivas abastadas. (WORSLEY, 2010, p. 12). Para essa época a rainha era uma mulher romântica e moderna, considerando que se casou por amor e não só por um contrato da aristocracia, seu vestido adornado por rendas, foi considerado simples para uma integrante da família real. Portanto, assim se constitui o traje completo para o rito do matrimônio. Na década de 1920, o vestido de noiva branco já tinha se tornado um padrão para as noivas, mas de forma irônica, percebemos que nesse período as mulheres começaram a lutar por direitos iguais e na moda aconteceram mudanças drásticas. Mesmo assim, o vestido branco de noiva tornou-se símbolo da pureza e do ideal romântico do casamento. As tendências para vestidos de noiva tem muito mais a ver com a história dos trajes do que com a moda: [...]. Se por

um lado o matrimônio representa o planejamento futuro, por outro as noivas costumam recorrer a estilos do passado, num interessante paradoxo. (WORSLEY, 2010, p.154) Exemplos destas influências são: Princesa Grace Kelly, Jacqueline Bouvier Kennedy, Lady Diana, Sandy, Juliana Paes, Carol Trentini e a Princesa Kate Middleton, que foi ovacionada usando uma releitura do vestido da Grace Kelly, que por sua vez, já foi copiado por famosos e anônimos. Figura 1: Grace Kelly Fonte: chic.uol.com.br Figura 2 e 3: Carol Trentini e Kate Middleton Fonte: constanzezhan.com Hoje, por meio de pesquisa imagética verificamos que a Era Vitoriana é a que mais influencia o vestido de noiva das mulheres do ocidente. O modelo vencedor é o costumeiro vestido de corpete justo e saia cheia e rodada, adornado com rendas, bordados, pérolas e cristais, principalmente iguais, ou ao menos parecidos com aqueles usados por famosas. Considerando essa ânsia das mulheres em ter uma referência de famosas bem sucedidas e esteticamente consideradas um exemplo de beleza, somos impelidos a estudar os aspectos subjetivos desse desejo de consumo de compra do vestido de noiva. Aspectos subjetivos do consumo O aspecto subjetivo do consumo é uma ação transmitida a partir de imagens e mensagens indiretas, através dos signos e dos códigos estilísticos, que são os símbolos de linguagens usados para atrair a atenção e instigar o desejo de compra. Assim, os aspectos subjetivos do consumo são fruto do comportamento estético. A estética tem como sentido o estudo da natureza da beleza e da arte trazendo a percepção dos sentidos, porém com muitos desdobramentos. Ela pode despertar o sentimento

da beleza por algo, ou alguém, e até sensações mais profundas. Sendo assim, um produto pode proporcionar ao consumidor um conforto psicológico, satisfação e segurança, perante o meio do qual ele quer ser incluído. O comportamento de consumo subjetivo, pode ser a maneira objetiva de uma análise da estética, uma noção concreta das suas peculiaridades. O comportamento estético é eticamente apropriado, com conforto, luxo e lazer, fruto das escolhas e das satisfações de necessidades e de intensificação de experiências e prazeres. A criação, em suas diversas formas, jorrará de uma dinâmica renovada e sempre plural. As diversas situações sociais, os modos de vida, as experiências são múltiplas expressões de um vitalismo poderoso. (MAFFESOLI,1996, p.28) A partir disso, um produto desejável pode proporcionar ao ser consumidor o bem-estar psicológico, de forma inconsciente, no sentido de aumentar a satisfação, e a sua segurança diante da identificação com os membros da sociedade em que vivem, ou que desejam viver. O ápice do consumo de um vestido de noiva [...] não é o valor signo diferencial, mas o valor experiencial, o consumo puro valendo não como significante social, mas como conjunto de serviços para o indivíduo (LIPOVESTSKY, 2007, p. 27). Nesse contexto, o consumo emocional atua como aspecto subjetivo, que permite que a noiva consumidora viva as experiências afetivas, imaginárias e sensoriais, de forma lúdica, trazendo nostalgia para o momento de decisão da escolha de compra, além de desinstitucionalizar o maior bem estar subjetivo, o consumo. A crescente complexidade da oferta do consumo supera o sistema baseado na cultura e nas motivações privadas, que superam as finalidades distintivas. Lipovetsky e Villaça (2005 e 2010) chamavam de sociedade do hiperconsumo. A consumidora do vestido de noiva não procura somente um traje, mas algo para ser a noiva, para sentir a emoção, para viver o momento, como se fosse um bem à serviço dela. Nos tempos atuais, a volta da tradição do casamento está extrapolada pelas significações do consumo. Os noivos investem alto para sentir a emoção dessa vivência e transformar o sonho não apenas em uma realidade, mas em um espetáculo. Dados de uma pesquisa do site de notícias Ig, apontam que no ano de 2013 os noivos brasileiros gastaram 16 bilhões de reais em festas de casamento. O site da Revista Exame, diz que 50% dos casais gastam mais do que o valor previsto. A competição, a excelência e a urgência do momento matrimonial conduzem a escolha do seu vestido, já que a demonstração do poder de superação é cada vez maior entre as noivas

porque hoje vivemos o hedonismo dos costumes. Como exemplifica o texto de Lipovetsky (2007, p. 96): Durante mais de dois séculos, o moderno processo de emancipação do indivíduo realizou-se pelo direito e pela política, pela produção e pela ciência; a segunda metade do século XX prolongou essa dinâmica pelo consumo e os meios de comunicação de massa. Destruição das práticas tradicionais, alienação e descrença, vida à la carte, investimento excessivo nos gozos privados: organiza-se uma nova cultura, na qual o consumismo, os cultos do corpo e do psicologismo, as paixões por autonomia e realização individuais fizeram da relação consigo mesmo uma dimensão dotada de um relevo excepcional. Narciso é sua figura emblemática. Portanto, o fator emocional como consumo subjetivo é empregado cada dia mais em função de fins, de cobiças e de critérios individuais e pode ser abordado como um novo meio de ter prestígio e sofrer influência. Temos como objetivo principal de vida, a busca de sensações variadas e de bem estar pessoal, por isto, que as identidades e as diferenças assumem um novo papel e o que nos satisfaz fica cada vez mais distante. A experiência emocional de compra é uma forma válida para explicar o consumo, principalmente para o traje de um evento importante como o matrimônio. O mercado estimula o consumo emocional, pois, supostamente como a vida que a noiva pretende levar, deixando as decepções do cotidiano que foi vivido até aquele momento. [...] o consumo exerce sua influência apenas na medida em que tem a capacidade de aturdir e de adormecer, de oferecer-se como paliativo aos desejos frustrados do homem moderno. (LIPOVETSKY, 2007a, p. 37) Assim, o consumo emocional não pode ser considerado fútil, já que, na vida social a afetividade é visível em vários momentos da história, porém pouco valorizada. A ação política do mercado desempenha um papel importante, estimula e acompanha esse processo, mas só se sustenta no fator emocional. Segundo estudos de Mafesoli (1996, p. 83), [...] o consumo emocional [é] o primeiro motor de todos os grandes acontecimentos, sem o que não seria possível compreender um desenvolvimento histórico. As mesmas emoções de épocas já vividas, como da Era Vitoriana, são motivos de influência para a escolha do vestido de noiva, o consumo emocional de algo que a noiva não vivenciou, e a ressiginificação e reapropriação da aparência do ícone dessa era de glória e riqueza cultural, abrem inúmeras alternativas de consumo para um vestido de noiva. A influência da Era Vitoriana

A Era Vitoriana corresponde ao reinado da Rainha Vitória da Inglaterra, entre 1837 a 1901. Como afirma Harris (1995). [...] o consumo e burguesia cresciam devido a Revolução Industrial. Um ponto a se destacar é que até esse momento, a França era inspiradora no traje feminino, apesar de muitos esforços da Inglaterra para mudar esse fato. As britânicas usavam corpetes, camadas de anáguas ou crinolina, que foi adotada pela Rainha Vitória. Os vestidos poderiam chegar a pesar 15 quilos, porque eram confeccionados com muitos metros de tecido e ainda com acessórios. As cores das roupas eram claras, a silhueta tinha ombros mais estreitos e caídos, a cintura no lugar afinados pelos espartilhos pontudos na frente, usados com uma saia que tinha formato de sino. Os vestidos de noite eram decotados até os ombros, decorados em rendas, laços e babados. Durante os primeiros 20 anos de reinado a Rainha Vitória ditou a moda, porém a partir de 1861, com a morte do seu marido o Príncipe Albert, os ingleses usaram somente preto por luto, como era de costume, e a rainha até o fim da vida por opção. Foi dessa forma que as cores escuras entraram na vida das mulheres que imitavam a sua rainha. Em 1866, finalmente a crinolina foi substituída pela saia-anágua, sem a armação artificial. Boucher (2010) diz que, desde 1858 a Rainha Vitória gostaria de abandonar esse costume e que a Imperatriz Eugenia da França já tinha usado um vestido sem a crinolina. Em 1860 houve uma mudança na silhueta [...] a saia já se achatava na frente e desenvolvia em comprimento na parte de trás, fazendo renascer a cauda [...] (BOUCHER, 2010, p. 360). A roupa para a noite tinha decote baixo e mangas curtas usadas com luvas curtas de renda ou de tecido. A Imperatriz Eugênia da França personifica a moda da época, ela que introduziu nas cortes da Europa o costureiro Worth, um inglês radicado na França, que foi o primeiro a preparar uma coleção para apresentá-la à sua clientela. Próximo a 1870, iniciou-se uma mudança na saia, um forro feito de babados ou de pequenas anquinhas de barbatanas chamadas de tournures, um visual que causou furor, pois mostrou mais as formas do corpo feminino. No ano de 1880, a anquinha gradativamente desapareceu das roupas femininas. As saias eram menos armadas, as blusas tinham gola alta com babados de renda ou tule. Boucher (2010) afirma que em 1885 o conjunto de blusa justa, ou a pequena jaqueta, com saia dupla passou a se chamar conjunto de tailleur. No fim da Era Vitoriana, próximo a 1900, a saia era em formato de sino com pouco volume, a cintura marcada com manga longa e justa, o colarinho era alto. Tudo isso para simplificar, já que na época as mulheres levavam uma vida mais ativa.

A partir da personificação de Eugênia como ícone da moda, a Rainha Vitória não retoma mais seu status, pois sua idade avançada desconfigura um ideal de beleza e felicidade. No entanto, foi com a Rainha Vitória que o vestido branco de noiva estabeleceu-se e Diferente da maioria dos membros de sua família real, Victoria casou por amor, em 1840, com um romance idealizado e afirmando o direito da mulher de escolher o seu próprio marido (MELLINGER, 1993 p.24 tradução nossa). Até os dias de hoje, nenhum outro casamento influencia tanto os ritos matrimoniais, e dele nasce o vestido feito com renda, unanimidade nos casamentos atuais. Os volumes e formas da moda da Era Vitoriana também influenciaram os vestidos das princesas Grace Kelly, com o uso de crinolina; de Kate Middleton, com o uso de anáguas e a atriz Juliana Paes usou uma releitura de 1875 com anquinhas. Hoje, o vestido com decote ombro a ombro e o romantismo da coroa de flores no cabelo, como da Rainha Vitória, estão presentes nos vestidos de noiva da atriz Fernanda Souza, da princesa Madeleine, da atriz Fiorella Mattheis, Thaila Ayala e da cantora Thaeme. Muito além de toda a suntuosidade do vestido de noiva, percebemos a importância da relação do comportamento da noiva com o corpo e com a imagem idealizada para o dia do matrimônio, afinal, ficou claro que a aparência de perfeição, inclusive nos detalhes, é o que induz o consumo de todo o evento nupcial. O corpo e a imagem Historicamente o corpo é instituído conforme a aspiração e conjectura de sua cultura e de uma época vivida. Parte do sistema moderno de pensamento emergente entre os séculos XVI e XVII na Europa, baseava-se na ideia de que o corpo não é apenas aquilo que se é, mas, também, aquilo que se tem. (SANT ANNA, 2005, p.123) A beleza do corpo é o grande motivo das múltiplas questões simbólicas. Em especial, a noiva deseja um corpo jovem e saudável desde que isso seja visível, comunicável e permutável no campo de valores simbólicos. Essa dimensão simbólica transforma o corpo, para que por meio dele, haja uma nova sociabilização, um contato de apresentação e de comunicação com o outro. Toda influência adquirida pela noiva, molda uma identidade cultural individual, que está inscrita e manifesta-se no corpo, que produz sentido continuamente através da imagem. Com isso, a relação do consumo com o corpo e sua imagem se torna corriqueira, porque [...] os sujeitos querem escolher seu humor, controlar sua experiência vivida cotidiana, tornar-se senhores das vicissitudes emocionais [...] (LIPOVETSKY, 2007, p.35).

Principalmente na sociedade ocidental, as noivas costumam preparar o corpo de forma incisiva para o evento matrimonial, que faz parte de um comportamento de vaidade corporal representativo de uma trajetória bem sucedida, portanto, importante. A valorização da vaidade ao corpo jovem e saudável não é um fenômeno novo. A segunda década do século XX foi crucial na formulação de um novo ideal físico, tendo a imagem cinematográfica interferindo significativamente nessa construção. (CASTRO, 2005, p.137). A ressignificação do corpo pelo meio da forma e volume, demonstram os cuidados com o corpo e imagem que deixou de ser uma experiência passageira, portanto, não está mais relacionada a uma determinada idade da vida. Hoje, são atitudes impositivas tratadas como deveres dos membros da sociedade. Desta forma, a noiva tem o dever de aparentar uma beleza ideal. Hoje, ter um corpo forte, magro, longilíneo, pele viçosa, cabelos longos e brilhantes, dentes perfeitos e brancos faz parte do ideal desejado pelas noivas. Observamos através da mídia, um aumento do culto ao corpo magro e atlético, o qual desde a Antiguidade demonstrava que delineamento muscular era sinônimo de força e agilidade. Deste modo, já que a vestimenta ganhou poder de consumo popular, o corpo precisou assumir destaque para se tornar único e ficar em evidência na sociedade, por isso, a ressiguinificação das formas e volumes da mulher entrou em seu período áureo, todos os holofotes estão voltados a ele. Assim, presencia-se diariamente [...] a frenética e intensa importância dada à imagem corporal e à moda (TRINCA, 2008, p.128). A fantasia da beleza do corpo é a versão moderna de um reflexo social, em vigor desde a entrada da mulher no mercado de trabalho. Na medida em que as mulheres se tornam independentes, o mito da beleza toma conta e se torna indispensável, assumindo sua tarefa de controle social. Quanto mais numerosos foram os obstáculos legais e materiais vencidos pelas mulheres, mais rígidas, pesadas e cruéis foram as imagens de beleza feminina a nós impostas (WOLF, 1992, p.11). Para uma decisão justa deve-se fazer a relação do corpo e imagem com a o vestido de noiva, ponderando que este traje representa uma passagem na vida da noiva e, para isto, analisamos imagens de noivas e suas histórias de vida, publicadas em meios de fácil acesso. Análise de imagens A metodologia utilizada foi inicialmente a pesquisa qualitativa por meio do estudo bibliográfico, que fundamentou cientificamente os temas, assim, por meio do método dedutivo

definimos critérios de escolhas de imagens da Era Vitoriana, que mostraram mudanças da forma e que representavam épocas distintas. Em seguida, através de blogs ligados ao assunto casamento, relacionamos, por meio do método indutivo, mais de 100 fotografias de noivas e seus vestidos, cerimônia e comemorações. As escolhas recaíram nos exemplos de noivas que fugiram dos padrões vigentes de tendência, mas que, no entanto, eram coerentes com a personalidade identificada no histórico dos noivos e que, visivelmente não sofreram influências de agentes ou família. Por fim, catalogamos as imagens com as formas principais da Era Vitoriana e relacionamos com as imagens de noivas atuais, começando pelo vestido de noiva da figura principal da época, a Rainha Vitória. Quadro 1: Rainha Vitória X Camila Recife PE Fonte: constancezahn.com A imagem do vestido da blogueira pernambucana Camila Coutinho, segunda foto do quadro 1, tem muitas semelhanças com o da Rainha Vitória, primeira foto do quadro 1. A silhueta com cintura marcada, o decote ombro a ombro e a renda como adorno no corpo do vestido, tem as mesmas características, no entanto a manga do vestido da Camila não tem volume e é mais curta. A forma em ponta do espartilho também é uma adequação moderna, entretanto a saia do vestido em formato de sino apresenta tecidos diferentes, mas tem o mesmo volume. Percebemos que inclusive o penteado da noiva brasileira é parecido com o da Rainha Vitória.

Quadro 2: Vestido de tafetá X Mariana São Paulo SP Fonte: vestidadenoiva.com A referência é de uma época de muitos exageros e no vestido, primeira foto do quadro 2, utilizado como comparação esse excesso é visível. O vestido da Mariana, segunda foto do quadro 2, é bem marcado na cintura, provavelmente por um espartilho, com decote ombro a ombro, o volume da saia revela o uso da anágua deixando o formato redondo. Assim como a textura do tecido são elementos semelhantes da época, as rendas e os bordados também tem a mesma característica do modelo de 1854. A maior diferença é a manga, com cortes distintos, porém plausível para a época que vivemos.

Quadro 3: Vestido com cauda X Luciana Marília SP Fonte: constancezahn.com No quadro 3, o vestido da Luciana, terceira foto do quadro 3, apresenta características do ano de 1867. Com o espartilho, anágua, saia projetada para trás, a cauda como continuação do próprio vestido, conforme a primeira foto do quadro 3, o volume da saia, o romantismo das rendas e bordados está em acordo com a da segunda imagem do quadro 3. O tecido dos modelos comparados, embora diferentes, manifesta o mesmo efeito. Considerando que a manga longa e justa do vestido da Luciana está distante da comparação, curta, com volume e babados, podemos afirmar que o vestido é uma releitura da época. Quadro 4: Vestido de noite X Fabiane Londrina PR Fonte: Acervo pessoal A semelhança entre os vestidos comparados é grande. A Fabiane, segunda foto do quadro 4, tem a saia com estrutura de barbatanas deixando a parte de trás com volume, muito característica do ano de referência, e sobre saia de babados, diferente da sobre saia inteira da primeira foto do quadro 4, porém com o mesmo efeito e nos dois vestidos os adornos são renda e bordados. O uso de espartilho e o amplo decote também aparecem no vestido Fabiane, favorecendo o busto como na foto de 1885. Outra diferença é a manga, não existe no vestido atual seguindo uma tendência de moda, e na referência tem tamanho média e justa.

Quadro 5: Vestido garden party X Fabiana Londrina PR Fonte: elianazanini.blogspot.com.br No fim da Era Vitoriana, a maior particularidade é a silhueta arqueada e o corpete mais longo, característica que aparece no vestido da noiva Fabiana, segunda foto do quadro 5, porém mais branda do que no vestido de 1904, primeira foto do quadro 5. A cintura marcada, as rendas, os babados e a fluidez também estão em conformidade, o decote fechado aparece no vestido, atual sem forro e no vestido da primeira imagem do quadro 5 chegando até o pescoço e todo forrado. Outra comparação é a saia dos vestidos, com pouco volume e presença de bordados. Percebemos a maior diferença apenas na manga, longa e bufante que para o vestido atual da Fabiana é curta e sem volume, uma adaptação do clima do país e da época. Considerações finais Através da pesquisa bibliográfica sobre a história da moda a partir de 1840 até 1901, denominada da Era Vitoriana, e a história do vestido de noiva, estudamos a influência do fator emocional como um aspecto subjetivo do consumo, que faz com que as noivas passem o valor do rito por gerações em gerações. Igualmente, na pesquisa imagética realizada, conseguimos determinar a relação da Era Vitoriana com as noivas atuais, que por sua vez vinculavam sinais de romantismo, de aparência de perfeição e de realizações de sonhos por meio do casamento. Durante a busca de imagens, conhecemos a história de um casal que iniciaram os preparativos para o matrimônio e se depararam com as dificuldades de uma cidade cosmopolita,

com uma possível festa para 400 pessoas, quando seria impossível dar atenção a todos. A noiva sendo impelida a usar um vestido que não era do seu agrado, mas a altura da comemoração e com a disputa de egos de fornecedores. Nesse momento de alto stress, decidiram por cumprir todos os rituais desejados, mas na ilha Fernando de Noronha com os 70 convidados indispensáveis para a comemoração. Pensando dessa forma, a questão central não é mais ser como os outros, mas o que escolher? na oferta pletórica do mercado: o princípio de autonomia tornou-se a regra de orientação legítima das condutas individuais. (LIPOVESTSKY, 2007, p. 72). Logo, na atualidade as noivas tem poder de escolha, desde que o rito e o vestido estejam presentes por decisão própria. Esse relato mostra que a reapropriação de uma imagem desejada não deixou de ser importante. Inicialmente a hipótese para este estudo era que o consumo do vestido seduz a noiva a realizar seus sonhos de ser a mulher mais linda do evento e de estar perfeita como nos contos de fadas, para iniciar sua nova vida. Sendo assim, num processo de indução percebemos que o momento da escolha de um vestido de noiva, torna-se um consumo coberto de sentimentos e desejos, mas, não o simples fato da compra. A relação do corpo com sua imagem que será apresentada no dia do casamento é mais visível que o consumo em si, que fica em segundo plano. Com isso, entendemos que a ressignificação do corpo tornou-se um respeitável objeto de desejo e, portanto, de estudo, já que descobrimos que a perfeição citada, nada mais é do que o desejo de aparentar e não necessariamente estar ou ser. Assim, a cultura enraizada ou adquirida pela noiva, mostra a obstinação em estar invejável, o que evidencia o desejo hedonista. Como a noiva da imagem do quadro 1, que escolheu um vestido moderno, mas com características literais do traje da rainha bem sucedida e feliz, referencia pela forma e volume a reapropriação de toda áurea mística embutida na figura da Rainha Vitória, enquanto ícone de felicidade, de riqueza, de elegância e de realeza. É fato que rendas e bordados são itens indispensáveis na escolha do modelo ideal do vestido de noiva atual. A grande maioria dos modelos analisados tem esses adornos, tanto em casamentos modestos ou em casamentos luxuosos, no campo ou em clubes, o que nos faz entender que a noiva deseja romantismo, requinte e beleza estética. Assim, o consumo emocional, deixa de ser comandado pela inquietação com o outro, para tornar realidade dos sonhos individuais. Podemos verificar nos vestidos atuais do quadro 2 e 3, que as fotos demonstram o romantismo desejado, o vestido com amplos decotes até os ombros, cintura marcada, rendas, laços e bordados, completado por um cenário que aparenta um conto de

fadas. Este exemplo, embora utilizando de formas e volumes distintos do anterior, apropria-se de outra fase da Era Vitoriana, personificada pela Imperatriz Maria Eugênia da França e seus inúmeros bailes que consumiam muitos trajes criados por Worth. Não se espera que a noiva busque informações sobre a história da moda, já que da tendência do momento elas extraem apenas os modelos de possíveis decotes, pois, a reapropriação da aparência, a forma e os adornos, vem atravessando gerações e seguindo tradições como a do vestido branco acompanhado de todo o rito do casamento. Na imagem do quadro 4, a noiva dispõe-se a usar muitos metros de tecido e espartilho, em pleno verão brasileiro, para realizar seu desejo de ter um vestido único, no entanto, ele é mais uma cópia quase que fiel dos vestidos de1885, quando existiam estruturas rígidas como a anquinha, cauda e muito volume. Se não é provável o conhecimento da História da Moda, da onde veio a referência para um vestido com estas características incomuns para os dias atuais? A forma do corpo e a imagem da noiva são inseridas no encanto avassalador do mercado casamenteiro, esse propõe uma série de ritos estéticos pré-evento incentivando a ressignificação do corpo através de tratamentos como: esfoliação, hidratações de pele e cabelo, massagens modeladoras e relaxantes, limpeza de pele, peelings, lifting e botox. A noiva do quadro 5 utilizou todos estes artifícios e adornos como renda, laço, bordado no seu vestido, pois a relação da beleza do corpo e da imagem transmitida com a escolha do vestido, cria um comprometimento explícito de diferenciação, status, prazer, poder, amor e felicidade para si, para ser a mulher dos seus próprios sonhos, única e deslumbrante. As noivas se reconhecem na afirmação de Wolf (1992, p 76) Os homens olham as mulheres. As mulheres se observam sendo olhadas. Isso determina não só a relação entre os homens e as mulheres, mas também a relação das mulheres consigo mesmas. Além disso, o corpo ideal e a imagem a ser transmitida, devem estar de acordo com o evento, esse culto ao corpo mostra uma preocupação em ressignificar a imagem diante da nova vida que se iniciará, principalmente por meio do vestido de noiva que deve deixá-la indefinivelmente bela, muitas vezes irreconhecível. Desse modo, como futuros trabalhos temos motivação para utilizar as poucas imagens das noivas reais catalogadas que possuem como referencia a década de vinte do século XX, para descobrirmos o movedor de sua pouca utilização, que é da mesma forma recheado de símbolos de riqueza, requinte e poder, e também entender a relação com o corpo das que escolhem essa referência. Temos como hipótese que além do ícone Chanel não ter se casado, ser transgressora e independente, a silhueta da década não valorizava as formas do corpo feminino desejado, idealizado, imensamente trabalhado da atualidade.

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