O TRABALHADOR COM DEFICIÊNCIA VISUAL NO BRASIL: CONQUISTANDO DIREITOS COM MUITO SUOR.



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Transcrição:

O TRABALHADOR COM DEFICIÊNCIA VISUAL NO BRASIL: CONQUISTANDO DIREITOS COM MUITO SUOR. 1 Claudenilson Pereira Batista Doutorando em Educação, pela Universidade Federal do Amazonas - UFAM 2 Maria Almerinda de Souza Matos Profª Dra. da Universidade Federal do Amazonas - UFAM Eixo Temático: 11º- Aspectos sociais das deficiências Palavras Chaves: Trabalho- deficiência visual- inclusão Introdução Esta produção foi inspirada em uma pesquisa mais abrangente, em andamento na Faculdade de Educação, da Universidade Federal do Amazonas UFAM/AM e, retoma a discussão sobre a pessoa com deficiência visual e o mundo do trabalho no Brasil, tema já explorado em outros trabalhos acadêmicos, e mais uma vez, lançamos luzes sobre o assunto. Rememoramos no túnel do tempo, os caminhos trilhados por esses indivíduos, pela luta para a conquista do direito à exercer uma atividade profissional, adquirindo assim, condições de sustentar a si e à sua família, de forma digna, decente e meritórica. Estabelecemos ainda, uma relação da educação com a atividade laborativa, pois, no mundo contemporâneo, são indissociáveis. Toda a discussão, está conduzida, tendo como pano de fundo a inclusão, por entendermos que é extremamente relevante, não perdermos o foco desse processo, ilustrado pelo respeito às diferenças, como fundamento filosófico desse paradigma. O objetivo desse artigo, foi conhecer o processo para a garantia de direitos para o exercício de atividades laborativas formais e com dignidade, por parte das pessoas com deficiência visual no Brasil. Os meios utilizados para a realização deste estudo, foram: pesquisa bibliográfica, desvelando os aspectos históricos e políticos das pessoas com deficiência visual, análise de elementos norteadores para a promoção da inclusão. Após um profundo estudo, por meio de uma lupa investigativa e de um trabalho crítico-analítico, os resultados nos dizem, que o movimento de luta por parte das pessoas com deficiência visual, para serem inseridos no mundo do trabalho e no mundo da educação,

principia no séc. XIX, no período imperial; as conquistas em termos de direitos sociais, foram resultados de exaustivas reinvindicações, demonstração de competência organizativa e físicaintelectual. Discussão Estamos vivendo a era dos direitos, na qual nossa sociedade, se move, numa tentativa de reverter os desequilíbrios existentes entre as categorias sociais. Acerca da participação das pessoas com deficiência visual em atividades produtivas, não é algo novo. Certamente, que as circunstâncias atuais, apresentam aspectos mais amplos e complexos. Em sendo a sociedade capitalista, fundamentada em princípios de competência, seletividade e competição, traz portanto, em seu bojo a excludência, apartando do setor produtivo formal as pessoas com deficiência visual. Para compreendermos o mundo do trabalho dos indivíduos com deficiência visual no Brasil, em nossos dias, faz-se necessário, que abordemos a evolução no campo da educação. Em 1824, o francês Louis Braille, desenvolveu o sistema de escrita e leitura em alto relevo, que recebeu o seu nome em sua homenagem. O sistema braile atravessou o oceano e aportou no Brasil em 1850, em pleno reinado de D. Pedro II, período em que o Brasil procurava alinhar-se com as nações desenvolvidas da Europa, em vários setores. Assim, na área da educação para deficientes visuais, de acordo com Mazzotta (2011) e Jannuzzi (2006), a Coroa criou o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, por meio do Decreto Imperial 1428, de 12 de setembro, de 1854. Como já dissemos, nessa época, o Brasil procurava seguir algumas práticas sociais europeias, inclusive, infelizmente, algumas práticas negativas também, como a escravidão de pessoas com deficiência. A literatura nos conta, que há registros de pessoas cegas, que não eram poupados de trabalhos forçados. (...) seja qual for a causa, a cegueira era muito comum entre os escravos. É lamentável encontrar com muita frequência, um ou mais deles, levando barris cheios na cabeça, girando os globos oculares inúteis e tateando o caminho com seus bordões (Lobo, 1997, p. 249). Com relação à caracterização do sistema educacional do Instituto criado pela Coroa, havia uma preocupação com a atividade laborativa de seus alunos. A instituição

possuía oficinas de tipografia e encadernação para os meninos, e de tricô para as meninas (Mazzotta, 2011, p. 30). Com o advento da República, o Imperial Instituto dos Meninos cegos, passou a se chamar Instituto Benjamin Constant - IBC, cujo nome permanece até hoje. No final do séc. XIX, o Brasil apresentava-se com uma sociedade basicamente agrícola, com uma economia incipiente, enquanto que na Europa, o sistema capitalista já orientava a compra da força de trabalho, com remuneração ao trabalhador. Com o passar do tempo, as atividades laborativas no IBC não satisfaziam mais as necessidades dos alunos, que se sentiam subutilizados profissionalmente, e que desejavam alargar oportunidades, que abarcasse também outros cegos. Destarte, em 1893, importante iniciativa social, foi a de alunos e professores egressos do IBC, ao fundarem o Grêmio Comemorativo Beneficente 17 de setembro, com o objetivo de promover a educação do cego, inserção no campo do trabalho, bem como, ações contra o preconceito e a discriminação (Brasil, 2010, p. 30). Este Grêmio foi criado, objetivando ajudar os cegos que desejassem uma profissão honesta e a minimização do desamparo dos sócios necessitados (Lobo, 1997). Na metade do séc. XX, mais precisamente na década de 1950, surgia no Brasil, um novo modelo organizacional dos indivíduos com deficiência visual, o modelo associativista. As primeiras associações de cegos surgiram no Rio de Janeiro, resultado de interesses eminentemente econômicos. Os associados eram, em geral, vendedores ambulantes, artesãos especializados no fabrico de vassouras, empalhamento de cadeiras, recondicionamento de escovões de enceradeiras e correlatos (Brasil, 2010, p. 30). O movimento político das pessoas com deficiência, toma força e, se generaliza. Os ideais de igualdade de oportunidades reverberam por todo o Brasil. Destarte, a luta pela garantia de direito à educação e ao trabalho, eram algumas das prioridades na agenda social das associações de deficientes visuais de todo o país. Orientado por exopolíticas, de garantia de trabalho para pessoas com deficiência, o Brasil incorpora no seu ordenamento jurídico, alguns importantes documentos, como as Convenções da Organização Internacional do Trabalho OIT. Após a promulgação da Constituição, o governo publica a lei 7.853/89, reforçando a garantia de trabalho, a lei 8.213/91, conhecida como lei de cota, determinando as empresas com no mínimo 100 funcionários, a contratar pessoas com deficiência; Decreto Federal

3298/99, que ratifica o percentual de vagas e atribui ao Ministério Público, a responsabilidade de fiscalizar o cumprimento das referidas leis. Após séculos de exclusão, os deficientes visuais conseguiram ascender socialmente e adquiriram uma certa visibilidade. Mas apesar desses cidadãos terem se fortalecido socialmente, não atribuímos esse feito à educação, unicamente, e sim, mais à própria pessoa do deficiente, pois, num pretérito relativamente recente, escolas que apartavam esses indivíduos do convívio com outros alunos, eram referências na educação especial em todo o Brasil (Batista, 2015, p. 34). A realidade nos revela, que sob a ótica do neoliberalismo, existe uma preocupação muito maior para conduzir as pessoas com deficiência ao mercado de trabalho, que conduzilas a um espaço escolar de qualidade, com princípios filosóficos libertários. Nos últimos anos, o governo federal tem divulgado alguns números, que nos permitem visualizar, em parte, como está sendo efetivada a inserção laboral das pessoas com deficiência visual no Brasil. Dados da União, dão conta, que entre todas as categorias de pessoas com deficiência, os melhores resultados das pessoas com deficiência visual, foi justamente no item escolarização. Ao falarmos de trabalho, é importante que façamos referência a dignidade e a decência dessa atividade, pois, o trabalho degradante, avilta e vilipendia a dignidade humana, por assim dizer. Ao observarmos que houve um avanço considerável na admissão de pessoas com deficiência, em razão da legislação, é pertinente perguntarmos: em não existindo o imperativo da lei, as empresas dariam esse salto no número de contratações? Conclusão Em nosso entendimento, as pessoas com deficiência visual já alcançaram uma certa visibilidade social, fruto de esforço pessoal, amparo e incentivo à empregabilidade, oriundo de todo arcabouço legal gerado pelo Estado. Na sociedade capitalista em que vivemos, é praticamente impossível passarmos incólume pelas contradições sociais, naturalmente criada pelo homem, bem como ao preconceito, construído e cultivado historicamente. Entretanto, o fortalecimento alcançado pelas pessoas com deficiência, já é capaz de intervir, alterar e reconfigurar nossa sociedade,

rumo a um mundo melhor, com mais igualdade de oportunidade, seguindo o ritmo lento e gradual do processo evolutivo impresso pela história. Trabalhar hoje em dia, tornou-se comum, ainda que as vias de acesso a essa atividade sejam obstaculizadas por políticas públicas ainda não consolidadas. Por fim, podemos inferir, que um tema não se esgota com uma pesquisa, mas o ato contínuo, serve como termômetro dos progressos e/ou retrocessos das questões sociais. Referências BATISTA, C. P. Política pública de inclusão: atendimento de educandos com deficiência visual no município de Manaus/AM. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal do Amazonas-UFAM, Manaus, AM, 2015. BRASIL, Relação Anual de Informações SociaisRAIS. Ministério do Trabalho e Emprego. Disponível em: http://www.mte.gov.br/pdet. Acesso em: 20 de jul de 2015.História do movimento político das pessoas com deficiência no Brasil. Secretaria dos Direitos Humanos, Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Brasília, DF, 2010. Decreto n. 3.298, de 20 de dezembro, de 1999. Dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Disponível em: http://www.balancosocial.org.br. Acesso em: 18, out. 2009. JANNUZZI, G. de M. A educação do deficiente no Brasil: dos primórdios ao início do séc. XXI. 2. Ed. Campinas: Autores Associados, 2006. LOBO, Lilia Ferreira. Os infames da história: a instituição das deficiências no Brasil. Tese (Doutorado em Psicologia Clínica) Departamento de Psicologia Pontifícia Universidade Católica. Rio de Janeiro, 1997. MAZZOTTA, M. J. S. Educação Especial no Brasil: história e políticas públicas. 6. Ed. São Paulo: Cortez, 2011.