A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO INICIAL E CONTÍNUA PARA A ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO/EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR



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Transcrição:

A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO INICIAL E CONTÍNUA PARA A ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO/EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Ana Sheila Fernandes Costa NUTESES/FAEFI/UFU anasheilaf@yahoo.com.br Viviane Aparecida Moreira Rocha NUTESES/FAEFI/UFU Vivi@edf.ufu.br Resumo Este trabalho é produto de inquietações advindas da prática de um estágio supervisionado em Educação Física escolar. A temática abordada foi a formação de professores. O objetivo do estudo foi compreender o processo de formação inicial e continuada dos profissionais da Educação/Educação Física e sua influência na atuação profissional. Para tanto, primeiramente fizemos uma pequena introdução do tema. Em seguida explicitamos, sucintamente, as diferenças entre formação inicial e continuada. Posteriormente contextualizamos historicamente as possíveis limitações no processo de formação docente. Por último discutimos sobre a formação do professor de Educação Física e fizemos nossas considerações finais. Podemos dizer que compreendemos vários fatores, dentre eles ressaltamos os determinantes que interferem no processo de formação docente e a necessidade de serem repensados e modificados para que tenhamos um profissional consciente, crítico e que tenha uma prática-pedagógica planejada, sistematizada, sedimentada na história e na ciência. Introdução A gênese do nosso estudo ocorreu durante a realização de um estágio obrigatório da disciplina Prática de Ensino, do curso de licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de Uberlândia-MG. O estágio é em Educação Física escolar e foi desenvolvido em uma escola estadual de Uberlândia com turmas de 5ª e 8ª séries. Um dos objetivos do estágio foi aproximarmos do cotidiano escolar com um olhar crítico-reflexivo e investigador. Neste sentido, procuramos observar a prática docente nesta dada instituição de ensino e percebemos um trabalho sem planejamento, sem uma proposta didáticometodológica, o que levou-nos a enfrentar inúmeras dificuldades no momento que iniciamos nossa regência. 49

Ao refletirmos sobre esta questão, entendemos que um dos entraves para uma boa atuação profissional seria possíveis limitações na formação de professores e, a partir de então resolvemos fazer um estudo que buscasse como objetivo compreender como se estrutura o processo de formação inicial e continuada dos profissionais da Educação/Educação Física. Metodologia Para atingirmos nosso objetivo, recorremos à literatura e fizemos um levantamento bibliográfico. A partir das dissertações, teses, artigos e livros encontrados que abordassem a temática por nós escolhida, formação de professores, fomos sistematizando o material encontrado e à luz da teoria desenvolvemos nossas reflexões sobre o assunto. Explicitando as diferenças entre formação inicial e continuada Podemos considerar que a formação acadêmica de profissionais da educação possui basicamente duas etapas: a inicial e continuada. Segundo Negrine (1997), a etapa inicial caracteriza-se como sendo a que, do ponto de vista acadêmico, credencia o indivíduo a atuar em determinada área do conhecimento e é adquirida com a conclusão do curso de licenciatura ou bacharelado. Ainda no que se refere à formação inicial, Pimenta apud Vidal (2001) demonstrou em seus estudos que os cursos de formação, ao desenvolverem um currículo formal com conteúdos e atividades de estágios distanciados da realidade das escolas, numa perspectiva burocrática e categorial que não dá conta de captar as contradições presentes na prática social de educar, pouco tem contribuído para gestar uma nova identidade do profissional docente. Já a outra etapa de formação, denominada formação continuada, envolve todas as aprendizagens decorrentes da atualização permanente, das experiências profissionais vivenciadas associadas ou não aos cursos de atualização em nível de lacto ou estricto sensu, que ampliam a formação inicial. Negrine (1997) diz ainda que a primeira etapa funciona como um pré-requisito para a atuação profissional, e a segunda deve ser entendida como um processo contínuo, agregada às experiências que vivenciamos como profissionais com erros e acertos. 50

Contextualizando historicamente as possíveis limitações no processo de formação docente A formação de professores é parte do contexto globalizado e neoliberal existente neste mundo contemporâneo. Segundo Lima (2000), para se pensar a questão da formação do educador é imprescindível ter-se em conta as transformações pelas quais vêm passando o capitalismo e a categoria trabalho. Isto porque as mudanças ocorridas na economia e na política vêm ocasionando o aumento da visão pragmatista da preparação profissional do educador; a exclusão destes profissionais das decisões sobre políticas curriculares; a descaracterização das Faculdades de Educação como o local responsável pela formação desta categoria; a limitação da formação a cursos práticos de curta duração que não enfatizam a reflexão sobre a realidade educacional. Taffarel (1993) aponta que esta situação é historicamente determinada e comum a todas as áreas, e tem suas raízes para além da escola. Dentre os fatores externos, nas diferentes características e relações geradas no seio da produção capitalista; e nos fatores internos, os mecanismos gestados no interior da escola, que asseguram, reproduzem ou modificam os fatores externos. Cabe à escola incorporar ou não este processo da maneira como ocorre. Tratando-se mais especificamente da categoria trabalho, as transformações que vêm ocorrendo não alteram as características do modo de produção capitalista, quais sejam: a fragmentação do trabalho em intelectual e manual com a conseqüente hierarquização de funções; divisão, especialização e desqualificação das atividades produtivas. Essas características acabam se manifestando no interior das instituições de ensino. Podemos constatar esta realidade através do que vem ocorrendo com a produção e a apropriação do conhecimento, que acontece de forma desvinculada do trabalho concreto, prevalecendo no interior dessas instituições a fragmentação deste em teórico e prático, manual e intelectual, concepção e execução. A dissociação entre concepção e execução do conhecimento manifesta-se também no interior das universidades através da organização curricular. Os currículos se encontram fragmentados em disciplinas teóricas e práticas, contribuindo assim para determinar o modo como é concebido e produzido o conhecimento no interior dos cursos responsáveis por habilitar os profissionais da área de educação. O trabalho que deveria exprimir a unidade face a organização capitalista acaba fragmentado no interior das instituições de ensino. Assim, na formação enfatizase a especialização e a submissão destes especialistas durante o percurso acadêmico, às rotinas distantes do conteúdo concreto do trabalho e da vida social. Taffarel (1993) coloca a necessidade dos eixos curriculares substanciarem um projeto político-pedagógico expresso na proposta curricular que desenvolva uma reflexão lógica mediada pela apropriação do conhecimento científico, confrontando com as diferentes representações da realidade. 51

Ao tratar mais especificamente da formação profissional em Educação Física, aborda alguns estudos que consideram a necessidade de se levar em conta os mecanismos externos e internos aos cursos e suas inter-relações que asseguram determinadas tendências, idéias hegemônicas e contradições e que estabeleçam limites e possibilidades no processo de formação profissional frente a uma dada realidade. No que se refere ao modo como o conhecimento científico é produzido e apreendido no âmbito escolar, este é privilegiado como elemento mediador no processo de formação/sociabilização via escolarização, fazendo-se levar em conta as três dimensões relacionadas à compreensão do conhecimento: a primeira diz respeito à sua produção, difusão, acesso e sociabilização, a segunda se refere à sua apropriação pelo sujeito, e a terceira à apreensão do conhecimento científico pela escola e sua organização. No âmbito de algumas Instituições do Ensino Superior-IES, esta produção e apropriação não apontam para a unidade metodológica da prática pedagógica. É evidenciada a divisão entre áreas do conhecimento, a divisão entre a teoria e a prática, a fragmentação entre os que produzem e os que consomem o conhecimento (licenciandos, graduandos, bacharéis e pós-graduandos); a falta de interdisciplinariedade e a sobreposição de conteúdos. Neste contexto o profissional de ensino superior é habilitado a exercer uma dada profissão pela apropriação de um conhecimento dado como acabado, restringindo as possibilidades de superação dos mecanismos de alienação na formação acadêmica. Neste âmbito, a graduação é assumida como instância de transmissão do conhecimento, remetendo-se à pós-graduação a responsabilidade pela produção do mesmo, acentuando a contradição assegurada no interior do curso, segregando o conhecimento através das formas de tratamento do mesmo. Podemos dizer que outro grande entrave referente à formação profissional e que acaba limitando a mesma é a separação entre ensino, pesquisa e extensão e a divisão de alguns cursos em Licenciatura e Bacharelado. Isto confirma a tendência predominante da formação especializada, preparando o profissional de Educação Física para o exercício de funções específicas no mercado de trabalho. Outra limitação detectada, ocorre na realização dos cursos de suplência e/ou atualização dos conteúdos de ensino, os quais segundo Demo (1996), induzem a perpetuar o mesmo meio de treinamento herdado da graduação, tratando-se de seqüência de aulas repassadas sob o signo da cópia, as quais se dá o nome equivocado de curso. E que em nenhum momento aparece elaboração própria, pesquisa ou teorização das práticas. Os professores nestes cursos apenas ensinam, não têm habilidade para construir o conhecimento e orientar os alunos para que também o construam. O autor ainda ressalta que o sentido maior destes cursos deveria ser o da atualização continuada, permanente, cuja lógica básica é a do aprender a aprender, devendo então expugar toda forma de treinamento cuja lógica é repetir para decorar. Pois nós como seres humanos somos capazes de questionar de modo crítico, cabendo-nos formação, não adestramento. Assim a maneira humana de internalizar é construir. 52

Também é ressaltado que esses programas têm se mostrado pouco eficientes para alterar a prática docente e, consequentemente, às situações de fracasso escolar, por não tomarem a prática docente e pedagógica escolar nos seus contextos. Discutindo a formação do professor de Educação Física A partir dos estudos levantados, pudemos identificar várias problemáticas referentes à formação do profissional de Educação Física, entre as quais podemos citar a formação a-crítica, a-histórica e a-científica; os currículos desportivizados; a ênfase no paradigma da aptidão física com forte influência da área biológica. Contraditoriamente, deste modo, não se evidencia a proximidade da área com as reivindicações colocadas nas licenciaturas. Pereira apud Lima (2000) propõe que no processo de formação profissional o ensino e a pesquisa sejam trabalhados de forma integrada, com vistas a preparar um docente reflexivo, sendo necessário para tanto que mais experiências com o desenvolvimento de pesquisas sejam proporcionadas aos discentes. Para que assim se consiga formar educadores que compreendam a sistemática da produção de conhecimentos científicos como um aspecto inerente de suas práticas pedagógicas. Uma das grandes questões colocadas é a de como formar cidadãos autônomos, criativos e reflexivos se nossos professores não são formados com base nestes princípios? Ainda existe uma supervalorização da esfera instrumental em detrimento das esferas comunicativa, social e afetiva. Um exemplo claro disto é a desportivização da Educação Física em algumas instituições em que o ensino é desprovido de reflexão. A visão do esporte é funcionalista e sua prática conservadora. Neste sentido, ressaltamos um estudo realizado por Grassi (1994). Este autor concluiu com o seu trabalho que o professor de Educação Física vem utilizando-se do esporte na escola como um fim em si mesmo, e não como um meio da Educação Física, trabalhando de maneira diretiva, agindo de forma impositiva, sem justificar a razão de sua ação, reproduzindo conteúdos pré-estabelecidos sem explorá-los ou modificá-los de acordo com as necessidades do grupo. Esta Educação Física tecnicista não define um programa comprometido com o processo de formação, o que torna as aulas em sua maioria excludentes e sem nenhum fim. É notada a necessidade de os cursos de graduação contemplarem a formação de um professor mais reflexivo e crítico, que analise a Educação Física dentro das expectativas de busca de uma nova identidade, mudando o enfoque tecnicista, sem supervalorizar o esporte, mas sem desvalorizá-lo como prática, lançando mão de estratégias que possam integrá-lo numa proposta educativa mais abrangente.(grassi, 1994) 53

Resultados e considerações finais Com base no exposto, pudemos verificar que somente a formação inicial é insuficiente para uma atuação que desenvolva um trabalho integral pelo fato da mesma poder chegar a ponto de estagnar-se. Torna-se então imprescindível uma atualização cíclica a fim de obter subsídios que promovam uma reflexão crítica, contemplando todas as esferas da Educação Física, e não somente reproduzindo a técnico-instrumental ainda tão presente no cotidiano escolar. É necessária uma formação ampla que contemple a produção do conhecimento em detrimento da transmissão do mesmo; a unidade teoriaprática; a interdisciplinaridade, para que o planejamento do cotidiano escolar possa fundamentar-se com base nestas perspectivas, visto que a prática pedagógica sofre influência direta da formação adquirida. Com este estudo pudemos verificar algumas das limitações existentes no processo de formação docente, dentre as quais podemos citar: a fragmentação dos currículos em disciplinas teóricas e práticas; a divisão entre as áreas do conhecimento; a forma como o conhecimento é produzido e apropriado no interior das instituições de ensino; a falta de interdisciplinaridade no âmbito das IES entre outros. Na Educação Física mais especificamente, além destes podemos apontar os currículos desportivizados; a ênfase no paradigma da aptidão física com forte influência da área biológica. A partir das limitações/deficiências identificadas por meio da nossa experiência e do levantamento bibliográfico realizado, verificamos então a necessidade das mesmas serem repensados e modificadas, por entendemos que o tipo de formação que o professor recebe, poderá refletir diretamente em suas ações pedagógicas, na sua forma de planejar e intervir no cotidiano escolar e consequentemente na formação que será proporcionada ao alunos. Neste sentido é importante que os cursos de Educação Física compreendam a unicidade do saber e fazer, superando o fazer pelo fazer, assumindo a responsabilidade de oferecer aos alunos o exercício da sistematização e da compreensão de um corpo de conhecimentos. 54

Referências Bibliográficas AROEIRA, K. P. A constituição curricular no ensino fundamental, médio e superior no Brasil: o debate na Revista Brasileira de Ciências do Esporte nas décadas de 1980 e 1990. Espírito Santo. Disponível em: <http: // www.proteoria.net/textos/kalline_sbpc_2001.pdf> 04 nov. 2003. DEMO, Pedro. Pesquisa e construção de conhecimento: metodologia científica no caminho de Habermas. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996. 125p. GRASSI, Marco Antônio. Educação Física na escola de 1 º e 2 º graus: prática esportiva?. Piracicaba: UNIMEP, 1994.133p. LIMA, Lana Ferreira de. A relação teoria-prática no processo de formação do professor de Educação Física. Uberlândia: UFU, 2000. 235p. NEGRINE, Airton. Terapias Corporais: a formação pessoal do adulto. Porto Alegre: Edita, 1998. TAFFAREL, Celi Neuza Zulke. A formação do profissional da Educação: o processo de trabalho pedagógico o trato com o conhecimento no Curso de Educação Física. Campinas: UNICAMP, 1993.250p. VIDAL, M. H. C.; BERNARDES, A. A. M.; SOUSA, S. B. A formação docente frente os desafios na superação da racionalidade técnica: uma experiência de formação pessoal. Caderno de Educação Escolar, Uberlândia, ano 2, n.1, p.17-25, 2001. 55