Projeto de reflexão, investigação e debate: O papel das empresas na comunidade



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Transcrição:

Projeto de reflexão, investigação e debate: O papel das empresas na comunidade Edição 2012 1

ÍNDICE 1. A METODOLOGIA UTILIZADA 3 2. SUMÁRIO EXECUTIVO 4 3. RESULTADOS FINANCEIROS 5 4. PRINCIPAIS CONCLUSÕES 6 2

A Sair da Casca Criada em 1994, a Sair da Casca foi a primeira empresa em Portugal de consultoria em desenvolvimento sustentável e responsabilidade social. É a única consultora nacional que baseia a sua oferta nas diferentes abordagens da sustentabilidade, da estratégia e gestão à inovação social passando pela comunicação e educação para o desenvolvimento sustentável, tendo desenvolvido conhecimentos, ferramentas e formação contínua das suas equipas nestas áreas. 1. A METODOLOGIA UTILIZADA Esta pesquisa, teve como principal objetivo apresentar o estado de arte no que respeita ao investimento das empresas na comunidade. O trabalho da Sair da Casca, na análise dos relatórios de sustentabilidade, teve por objetivo refletir sobre os posicionamentos que estes relatórios traduzem. Estamos conscientes que o facto de a empresa não reportar não significa que não tem essa prática. A análise dos relatórios seguiu uma metodologia que resultou do cruzamento de alguns standards de referência (GRI, AccountAbility, LBG) e das necessidades de informação identificadas durante a primeira escuta das partes interessadas. Método de recolha de informações Consulta de relatórios de sustentabilidade: o o Amostra total: 27 relatórios de sustentabilidade publicados no site do BCSD Portugal até dia 31 de outubro de 2011 relativos ao desempenho das empresas, em território nacional: Análise de 22 relatórios que reportam 2011 (19 destas empresas foram analisadas na primeira edição do estudo). Análise de 5 relatórios que reportam 2010 (5 1 empresas que foram analisadas na primeira edição do estudo). Universo: 22 empresas, nacionais e multinacionais, pertencentes a 9 setores diferentes (telecomunicações, petrolífero, banca e seguros, utilities, logística e transportes, agroalimentar, indústria, construção e outros). Os objetivos: Aferir qual o contributo das empresas para a comunidade, se se verificaram mudanças nas últimas edições do estudo: Como é que as empresas relatam o seu desempenho social? Quais são as práticas mais comuns? Que perceções e posicionamento traduzem os relatórios de sustentabilidade? Refletir sobre o papel social das empresas: Podem as empresas contribuir para a resolução de problemas sociais? Qual pode ser o papel das empresas no combate à pobreza e à exclusão social? Quais são as novas abordagens e formas de atuar para maximizar os impactes e tornar mais eficiente o contributo das empresas? 1 A análise destas 5 empresas permitiu completar o histórico dos últimos 4 anos. 3

2. SUMÁRIO EXECUTIVO As principais conclusões: O resultado antes de imposto das empresas analisadas reduziu 15% entre 2009 e 2011, tendo-se também verificado que o valor investido na comunidade sofreu uma redução de 12% de 2009 para 2011. O que indicia que a situação de crise socioeconómica poderá estar a influenciar os montantes investidos na comunidade. Cerca de 18% das empresas analisadas aumentaram o investimento na comunidade entre 2009 e 2011. O voluntariado empresarial continua a ser uma tendência geral. Cerca de 86% das empresas desenvolvem ações de voluntariado para ter impacto a nível interno (colaboradores) e simultaneamente a nível externo (comunidade). O compromisso de contribuir para o combate à pobreza e à exclusão social a nível interno foi reforçado, pois cerca de 96% das empresas analisadas comunicam práticas internas no âmbito da criação de condições de empregabilidade e também de acessibilidade a produtos. A Solidariedade foi a causa mais apoiada pelas empresas seguindo-se a Educação e a Cultura. A comunicação dos critérios de escolha dos projetos, instituições, iniciativas apoiadas é já uma tendência com 68% das empresas analisadas a comunicarem faze-lo. O amadurecimento da visão estratégica sobre o envolvimento e investimento na comunidade, que já se vinha a sentir nos estudos anteriores, é reforçado nesta análise pela percentagem de empresas que comunica a importância da medição do impacto das suas iniciativas (40%). Verificou-se na análise efetuada que cerca de 40% das empresas comunica fazer medição do impacto social dos projetos que desenvolve, apoia ou investe, no entanto, o que comunicam são essencialmente resultados (por exemplo, número de beneficiários ou número de refeições entregues). 4 empresas utilizam uma ferramenta de gestão e medição de impacto social como é o caso do LBG 2 (London Benchmarking Group). 2 Modelos de gestão e medição para a avaliação do impacto social de projetos 4

3. RESULTADOS FINANCEIROS Em 2011 foram analisadas 22 empresas que investiram mais de 52 milhões de euros na comunidade. Das empresas analisadas mantém-se a tendência, em relação a 2009 e 2010, de serem mais representativas as que investem mais de 1 milhão de euros (45%). Continua a haver uma percentagem significativa (14%) de empresas que não comunicam esta tipologia de valores. A informação recolhida em 2011 diz respeito a 22 empresas, destas 17 são comparáveis com os anos anteriores. Ao analisarmos a evolução do investimento na comunidade ao longo do tempo verifica-se ocorreu uma redução de 12% entre 2009 e 2011. Esta variação poderá estar relacionada com uma redução de 15% nos resultados antes de imposto obtidos pelas mesmas empresas entre 2009 e 2011. Analisando as variações nos resultados antes de imposto e do investimento na comunidade, entre 2009 e 2011, para cada uma das empresas concluímos que não é possível estabelecer uma correlação linear entre ambos. Se por vezes um aumento dos resultados conduz a um aumento no investimento na comunidade, noutros casos verifica-se o inverso, em que uma variação negativa nos resultados não influencia o investimento na comunidade. 5

4. PRINCIPAIS CONCLUSÕES O investimento na comunidade é um conceito complexo, muito abrangente e alvo de várias interpretações; na realidade, pode abranger quase toda a atividade da empresa afinal todas as suas operações têm impacte na comunidade ou apenas a sua ação social. A título de exemplo, algumas empresas integram a construção de infraestruturas no capítulo comunidade do seu relatório de sustentabilidade, outras limitam-se a citar os projetos de caridade apoiados. Há ainda outras que incluem projetos para criação de produtos acessíveis e outros patrocínios comerciais ou cedência de instalações. Voluntariado Para além dos apoios financeiros, cerca 86% das empresas desenvolve atualmente programas de voluntariado. Verificou-se um aumento significativo na percentagem de empresas que participa em projetos interempresas, provavelmente numa ótica de partilha de recursos, e que organizam recolhas de bens junto dos seus colaboradores. A percentagem de empresas com projetos próprios manteve-se relativamente aos anos anteriores. O envolvimento dos colaboradores em iniciativas de envolvimento com a comunidade é um fator importante para a coesão interna da organização, sendo este aspeto reforçado nos relatórios analisados. Empresas que comunicam ter ou participar em projetos de voluntariado 86,4% 65,2% 65,4% 13,0% 34,8% 32,7% Sim Não comunicam 2011 2010 2009 90,9% Tipologia de voluntariado comunicado pelas empresas 81,8% 46,2% 48,1% 39,1% 17,4% 27,3% 26,1% 13,5% 0,0% 34,8% 32,7% Projectos inter-empresas Recolhas de bens Projectos próprios Não comunicam 2011 2010 2009 As causas mais apoiadas A causa mais apoiada, à semelhança dos anos anteriores, pelas empresas analisadas continua a ser a Solidariedade, seguida da Educação (crianças e jovens) e da Cultura. Associadas à Solidariedade estão, nomeadamente, instituições que entregam bens alimentares a pessoas carenciadas, que apoiam pessoas sem-abrigo, pessoas com deficiência e associações de bombeiros voluntários, etc. No caso da educação destacam-se as escolas e universidades e instituições que promovem o sucesso escolar e o empreendedorismo nas escolas. No caso da cultura as fundações de âmbito cultural, os museus, as iniciativas culturais locais e a conservação do património, mereceram destaque. De entre as empresas analisadas 68% comunicaram os critérios de escolha das instituições e/ou projetos que apoiam, sendo estes principalmente questões territoriais (27%) e as causas do projeto ou da instituição (9%). No entanto, a maioria ainda não comunica critérios para a escolha de instituições / projetos que apoia (64%). Se por um lado às causas mais apoiadas, como a Solidariedade e a Educação, estão associadas instituições com notoriedade e dimensão, cuja ação tem uma abrangência nacional, por outro lado as empresas tendem 6

também a comunicar a escolha de instituições de âmbito mais local, junto às suas instalações. De referir que no âmbito da Solidariedade o Banco Alimentar Contra a Fome foi a entidade que mereceu maior destaque. Pobreza e exclusão social A pobreza e a exclusão social continuam, atualmente, temáticas prementes e as empresas procuram canalizar esforços primeiro internamente. Empresas que comunicam um compromisso interno no combate à pobreza e exclusão social 95,5% 82,6% 71,2% 4,5% 17,4% 28,8% Sim Não comunicam 2011 2010 2009 As principais iniciativas das empresas que demonstram a preocupação com os seus colaboradores dizem respeito a programas de empregabilidade como apoio à formação, acesso ao programa novas oportunidades e bolsas de estudo. Outra das iniciativas são os descontos para colaboradores e seus familiares em produtos ou serviços ligados ao core business da empresa. Em paralelo as empresas desenvolvem iniciativas externas. No entanto, nesta análise, verificou-se um decréscimo na percentagem de empresas que comunicam este tipo de compromissos, dedicando-lhes também menos destaque em relação às iniciativas internas. Empresas que comunicam um compromisso externo no combate à pobreza e exclusão social 73,9% 50,0% 53,8% 50,0% 46,2% 26,1% Sim Não comunicam 2011 2010 2009 Medição do impacto Relativamente à medição do impacto social dos projetos na comunidade ocorreu uma maior comunicação do tema por parte da amostra. Se em 2009 e 2010, 92% e 82% das empresas, respetivamente, não comunicaram qualquer iniciativa neste sentido, em 2011 cerca de 40% das empresas comunica a preocupação de medir o impacto social do seu investimento. No entanto, destas, apenas 44% aplicam de facto modelos de gestão e medição como por exemplo, o LBG e o SROI (Social Return on Investment), as restantes comunicam indicadores de resultados como o nº de beneficiários, nº de voluntários, nº de atividades ou quantidade de bens entregues. Apesar da crescente consciencialização da importância de medir os impactos do investimento realizado na comunidade, as empresas ainda têm de percorrer um caminho reflexão e aprofundamento do tema. 7

Abordagem estratégica Tendencialmente as empresas, na presente análise, mantiveram a comunicação de eixos / áreas de atuação, que indicia a estruturação da sua área de envolvimento com a comunidade, ainda que, algumas não apresentem uma efetiva estratégia / política de envolvimento com a Comunidade. Terminologias Nas empresas analisadas verificou-se que 50% das empresas usam a terminologia Comunidade (50%) enquanto que, 23% das empresas utilizaram responsabilidade social para se referirem a estes temas. 8