Avanços na patologia e biologia molecular do Câncer Renal e suas implicações na prática clínica

Documentos relacionados
Existe indicação de biópsia em massa renal?

TUMORES RENAIS. Benignos. Malignos. Angiomiolipoma; Oncocitoma. Adenocarcinoma renal (90%); Tumor de Wilms; Carcinomas uroteliais da pelve renal.

5 15% dos tumores renais Benigno > (2:1) Pico: 60 anos. Origem nas células dos ductos coletores Maioria assintomático Esporádicos

Biologia molecular dos carcinomas epiteliais e tumores de baixo grau (borderline) do ovário e implicações para a prática clínica

Câncer de Rim. Diagnóstico Escore Biópsia percutânea. João Manzano Prof. Afiliado de Urologia Escola Paulista de Medicina UNIFESP

Qualquer idade. Massa abdominal Assintomático. Benignos. Malignos

UNIVERSIDADE DE CUIABÁ NÚCLEO DE DISCIPLINAS INTEGRADAS DISCIPLINA DE CIÊNCIAS MORFOFUNCIONAIS IV

Câncer de Rim. Clézio Rodrigues de Carvalho Abreu RESUMO:

Biologia molecular dos meningiomas

Carcinogêse e Neoplasia. Profº Ary da Silveira Mendes Jr.

Difusão por Ressonância Magnética

TÍTULO: ANÁLISE DO IMPACTO DO ÁCIDO 5-AMINOLEVULÍNICO (ALA) NA EXPRESSÃO DO GENE VEGF-A EM LINHAGENS CELULARES RENAIS HUMANAS

Patologia da mama. [Business Plan]

Imagem da Semana: Tomografia Computadorizada (TC)

Patrícia Savio de A. Souza

05/01/2016. Letícia Coutinho Lopes 1. Definição Fibroma Ossificante Epidemiologia Oncogênese

RONI DE CARVALHO FERNANDES

CÂNCER DE BOCA E OROFARINGE

Bases Genéticas do Câncer

ORIENTAÇÕES SOBRE CARCINOMA NÃO INVASIVO DA BEXIGA

BIOLOGIA MOLECULAR EM ENDOCRINOLOGIA

Caso Clínico: CCRm de rim nativo em recetor de transplante renal

Luís Eduardo Rosa Zucca

Gabriela Sousa. Oncologia Médica IPO Coimbra

Denominação geral dos tumores

Angiomiolipoma Epitelioide

Caso do mês Abril/2016 -A. Shenia Lauanna O. Rezende Bringel Médica residente (R3) Departamento de Anatomia Patológica

TC Abdominal 18/05/24

Imuno-histoquímica - aplicações

Alterações genéticas no processo de carcinogênese colo-retal. Programa de Pós-Graduação em Gatroenterologia Cirúrgica 2002

NEOPLASIAS. Alunos 4º semestre. Prof. Jane Maria Ulbrich. Prof. Adjunta do Departamento de Patologia Famed/Ufrgs

Mecanismos Genéticos e Epigenéticos do Câncer

Reunião de Casos. Camilla Burgate Lima Oliveira Aperfeiçoando de RDI da DIGIMAX (A2)

CÂNCER DE BEXIGA: MECANISMOS DE DESENVOLVIMENTO

Histopatologia. Padrão bifásico - áreas sólidas e áreas glandulares mucinosas

MicroRNAs: nova classe de reguladores gênicos envolvidos na função endócrina e câncer

Mutações em ESR1 e DNA tumoral circulante

A Genética do Câncer

APESP 246 Caso Botucatu. Dra. Viviane Hellmeister Camolese Martins - R2

PROPOSTA DE TUTORIA DE PROJECTOS

Carcinoma de células renais (CCR) Diogo Assed Bastos André Poisl Fay Carlos Dzik

GABARITO PROVA TEÓRICA QUESTÕES DISSERTATIVAS

Biologia da célula neoplásica e interacção com o hospedeiro (I)

Diagnóstico e classificação de cancro do rim

INTRODUÇÃO À BIOQUÍMICA DA CÉLULA. Bioquímica Celular Prof. Júnior

AVALIAÇÃO DA IMUNOEXPRESSÃO DE PROTEÍNAS DA VIA DE SINALIZAÇÃO WNT CANÔNICA E NÃO CANÔNICA NO ADENOCARCINOMA GÁSTRICO

Tumores renais. 17/08/ Dra. Marcela Noronha.

BIOLOGIA. Moléculas, células e tecidos. Ciclo celular. Professor: Alex Santos

CICLO CELULAR Eduardo Montagner Dias

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA PROGRAMA DE DISCIPLINA

TERAPIAS MOLECULARES CONTRA O CÂNCER

Tratamento do GIST Gástrico ALEXANDRE SAKANO

DIAGNÓSTICO DE TUMORES DE MAMA: PARTE II

Lâmina 32 Neoplasia Benigna (Simples) Leiomioma Uterino Neoplasia benigna constituída pela proliferação de fibras musculares lisas, dispostas em

RESUMO INTESTINOS DELGADO E GROSSO DOENÇAS INTESTINAIS NÃO NEOPLÁSICAS

Investigação Laboratorial de LLA

DISPLASIA INTRA-EPITELIAL TUBULAR RENAL EM CARCINOMA DE CÉLULAS RENAIS - CARACTERIZAÇÃO DE SUA IMPORTÂNCIA COMO PRECURSORA BIOLÓGICA DO

PROCESSOS PATOLÓGICOS GERAIS. Prof. Archangelo P. Fernandes

NEOPLASIAS DO APARELHO DIGESTIVO de 2003 a REGISTRO HOSPITALAR DE CÂNCER Rosa Helena Silva Souza

BIOLOGIA MOLECULAR EM ENDOCRINOLOGIA. Denise Pires de Carvalho Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho / UFRJ

CEC de Pulmão: O que há de novo? Clarissa Mathias NOB e Hospital Português

2. INFORMAÇÕES PARA OS ESPECIALISTAS (ONCOLOGISTAS, CIRURGIÕES E PATOLOGISTAS)

Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento Instituto de Ciências Biomédicas Universidade de São Paulo BMC- 104: BIOLOGIA TECIDUAL III

Difusão por Ressonância Magnética

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CONCURSO PÚBLICO

DANIEL DE OLIVEIRA GOMES

NEOPLASIA. Bruno Almeida Costa S4 Membro da Liga do Câncer - UFC

28-Oct-17. COMO QUE OCORRE A TRANSIÇÃO DE totipotente PARA O ESTADO pluripotente? Zhou e Dean, 2015 Zhou e Dean, potencial diferenciação

Curso de Medicina - 1º período Organização semestral.

Carcinoma renal NÃO células claras Qual a melhor terapia? Daniel Herchenhorn, MD, PhD

UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO

V Congresso de Iniciação Científica do IAMSPE

APOPTOSE, OU MORTE CELULAR PROGRAMADA


CÂNCER. Prof. Ernani Castilho

TABELA DE PROCEDIMENTOS SUS

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA VIDA DCV CCS006 - BIOLOGIA CELULAR. Sinalização Celular SALVADOR - BA 2016

Ferran Algaba João Cassis Pedro Oliveira. Patologia

Aspectos gerais da estrutura celular

USO DA TÉCNICA DE MICROARRANJO TECIDUAL NA CLASSIFICAÇÃO DAS GLÂNDULAS MAMÁRIAS CANINAS NORMAIS E NEOPLÁSICAS

R3 HAC Thaís Helena Gonçalves Dr Vinícius Ribas Fonseca

Microambiente tumoral. Cristiane C. Bandeira A. Nimir

Radioterapia baseada em evidência no tratamento adjuvante do Câncer de Endométrio: RT externa e/ou braquiterapia de fundo vaginal

Membros do Laboratório

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO MÉDICA CONTINUADA MARCADORES TUMORAIS E O PAPEL DA MEDICINA DIAGNÓSTICA NO TRATAMENTO ONCOLÓGICO

GBETH Newsletter CARCINOMA DE CÉLULAS RENAIS FAMILIAR N E S T E N Ú M E R O. Volume 2 Número de agosto de 2004

B.Ljungberg (presidente), N. Cowan, D.C. Hanbury, M. Hora, M.A. Kuczyk,A.S. Merseburger, P.F.A. Mulders, J-J Patard, I.C. Sinescu

CÂNCER DE PULMÃO NÃO PEQUENAS CÉLULAS

DIRETRIZES PARA O CÂNCER DE BEXIGA NÃO MÚSCULO INVASIVO

De acordo com a forma como estas glândulas liberam suas secreções para o corpo, podem ser classificadas em dois grandes grupos:

BIOLOGIA MOLECULAR EM ENDOCRINOLOGIA

Métodos de imagem. Radiologia do fígado. Radiologia do fígado 12/03/2012

Neoplasias 2. Adriano de Carvalho Nascimento

Proteinúrias Hereditárias: Nefropatia Finlandesa e. Esclerose Mesangial Difusa

Biologia Molecular e Celular II. Controle do crescimento celular

Prevenção do Cancro do Ovário

Sarcomas em Cabeça e Pescoço

TESTE DE AVALIAÇÃO. 02 novembro 2013 Duração: 30 minutos. Organização NOME: Escolha, por favor, a resposta que considera correta.

Transcrição:

Avanços na patologia e biologia molecular do Câncer Renal e suas implicações na prática clínica Marilia Germanos de Castro Patologista da FCMSCSP e Laboratório Diagnóstika Núcleo Avançado de Urologia - NAU - HSL

Classificação dos tumores epiteliais do rim (OMS 2004 ) Tumores Benignos Adenoma Papilífero Oncocitoma Tumores Malignos (origem em túbulos renais) Carcinoma de Células Claras Carcinoma Multilocular Cístico Carcinoma Papilífero Carcinoma Cromófobo Carcinoma de Ductos Coletores (Bellini) Carcinoma medular do rim Carcinoma associado à translocação Xp11 Carcinoma associado ao neuroblastoma Carcinoma tubular mucinoso e de células fusiformes Carcinoma renal não classificado

Carcinomas renais descritos recentemente Carcinoma túbulo-cístico Carcinomas associados à doença cística adquirida Carcinoma de células claras papilífero Carcinoma folicular (Tireóide-símile) Carcinoma papilífero oncocítico Carcinoma leiomiomatoso Modern Pathology (2009) 22, S2 S23

Fatores prognósticos Sub-tipo histológico Grau nuclear Estadiamento Presença de áreas sarcomatóides % necrose Invasão vascular Marcadores biológicos Ficarra et al European Urology 58 (2010)

Carcinoma de Células Claras 70 a 75% CCR Origem Túbulos proximais Alterações Citogenéticas Deleção do cromossomo 3p (70 a 90%) 3p25-26 (VHL locus) 3p21 3p12-14

Carcinoma de Células Claras Esporádicos maioria Solitários Hereditários síndromes familiares (5%) - Multicêntricos e/ou bilaterais Síndrome de von Hippel-Lindau (VHL) Translocação constitucional do cromossomo 3

Carcinoma de Células Claras

Grau nuclear - Fuhrman 4 GRAUS tamanho e forma Nucléolos distribuição da cromatina Fator preditivo 1 2 independente de sobrevida 4 3 Am J Surg Pathol 1982;6:655 63.

Carcinoma de Células Claras biologia molecular Inativação gene VHL gene supressor tumoral 100% hereditários 60% esporádicos Inativação de VHL : mutação (50-80%) deleção (60 a 80%) metilação do DNA (20 a 25%) pvhl controle do ciclo celular e angiogênese L. Cheng et al Human Pathology (2009) 40, 10 29

HIF (hipoxia-inducible factor) HIF - fator de transcrição HIF α HIF: estimula produção de fatores de crescimento (GF) GFs atuam nos receptores de TKs estimulando a proliferação celular e agiogênese L. Cheng et al Human Pathology (2009) 40, 10 29

mtor Proteina quinase Reguladora Translação proteica Crescimento celular Angiogênese Apoptose Regula HIF Gary R. Hudes Cancer 2009; 115(10 suppl):2313 20 Bhanu K. Vakkalanka and Brian I. Rini Curr Opin Urol 2008, 18:481 487

Marcadores biológicos EUROPEAN UROLOGY 60 (2011) 644 661

Marcadores Biológicos CAIX Anidrase Carbônica IX Enzima transmembrana Ativação - via Hipóxia (VHL-HIF) 70 a 95% + ccccr Bom prognóstico CCR e mccr VEGF Fator de crescimento vascular 30% + ccrcc Estadio Grau Tamanho TU Necrose Invasão vascular Progressão Sobrevida EUROPEAN UROLOGY 60 (2011) 644 661

131 CCRs primários e 41 metastáticos Via mtor e HIF ativadas em ambos perda PTEN evento primário Tamanho TU, expressão HIF 1α e ps6 são fatores preditivos independentes de sobrevida doença-específica e progressão tumoral nos CCRs primários Am J Surg Pathol 2011;35:1549 1556

Alterações Genéticas - Trissomia do cromossomo 7 - Ganho 7q31/7q31.1 - Trissomia do cromossomo 17 - Perda do cromossomo Y Carcinoma Papilífero 10% a 15% CCR Esporádicos ou hereditários Macroscopia - Multifocal e bilateral

Carcinoma Papilífero Tipo 1 Tipo 2 J Urol. 2012 Jan;187(1):54-9

Carcinoma Papilífero Pigno et al Urology 69 (2), 2007

Síndrome do Carcinoma papilífero hereditário Múltiplos e bilaterais CCRp tipo1 p MET receptor de TK HGF ligante Mutação de cmet (7q31) Ações: proliferação celular, migração, invasão e sobrevivência Esporádicos: 13% mutação de cmet Steven F. Bellon et al J Biol Chem. 2008 Feb 1;283(5):2675-83 Cancer. 2009 May 15; 115(10 Suppl): 2252 2261

Leiomiomatose Hereditária e Carcinoma de células renais (HRLCC) Leiomiomas uterinos e cutâneos (tronco), Carcinomas papilíferos tipo 2 ou de ductos coletores sempre de alto grau Tumores Renais Únicos gene HF (fumarate hydratase) Codifica enzimas do ciclo de Krebs?Gene supressor tumoral? Cancer. 2009 May 15; 115(10 Suppl): 2252 2261

Carcinoma cromófobo 5% CCR Citogenética perdas múltiplas e complexas de cromossomos (Y, 1, 2, 6, 10, 13q, 17 e 21)

Carcinoma Cromófobo DD Células claras Imunoistoquímica CD10 e Vimentina - Ckit (CD117) +

Carcinoma cromófobo x Oncocitoma -1-14 t 11q13

3 GRAUS Anaplasia Aglomeração nuclear Am J Surg Pathol. Volume 34, Number 9, September 2010

Síndrome de Birt-Hogg-Dubé gene FLCN (BHD) 17p11.2 Gene supressor tumoral Proteína foliculina? atua na via AMPK/mTOR? Carcinomas Cromófobos Tumores Híbridos Carcinomas de células claras Oncocitose Renal British Journal of Cancer (2007) 96, 336 340 Cancer. 2009 May 15; 115(10 Suppl): 2252 2261

Carcinoma de Ductos coletores (Bellini) 1% CCR Origem ductos de Bellini Morfologia adenocarcinoma x ca urotelial Sempre alto grau Citogenética Monossomias 1,6,14,15 e 22

Carcinoma Medular jovens Traço de anemia falciforme Origem: ductos coletores

Transformação sarcomatóide via final dediferenciação alto índice mitótico invasão local metástase divergência genética durante evolução clonal BJU Int. 2012 Jan 5

Carcinomas renais não classificados 4-5% Sarcomatóides puros Carcinomas produtores de mucina Tumores mistos estromais e epiteliais Histologia irreconhecível

Estadiamento EUROPEAN UROLOGY 58 (2010) 655 668