A CONJUGALIDADE NA CONTEMPORANEIDADE 1



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Transcrição:

A CONJUGALIDADE NA CONTEMPORANEIDADE 1 SILVEIRA, Tatiane, C 2 ; SILVA, Ticiane, R 3 ; SMEHA, Luciane, N 4 1 Trabalho de Pesquisa _UNIFRA 2 Acadêmica do curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil 3 Acadêmica do curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil 4 Docente do Curso Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA) Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: tatisilveira@msn.com; ticipsico@yahoo.com.br; lucianenajar@yahoo.com.br RESUMO Este trabalho tem por objetivo investigar a conjugalidade na contemporaneidade, além de propor reflexões sobre as possibilidades de união por meio do casamento no cenário de uma sociedade cada vez mais individualista, na qual as pessoas buscam primordialmente o prazer e satisfação das necessidades pessoais. Assim, foi realizada uma pesquisa bibliográfica acerca do tema, a fim de conhecer as motivações que levam os sujeitos a se casarem e quais as implicações da conjugalidade em suas vidas. Foi evidenciada a liquidez das relações e a fragilidade dos vínculos. Foi constatado também que o medo da solidão é um fator que motiva os jovens para o casamento. O amor romântico idealizado ainda é presente nas relações, assim como ainda se espera que o outro conjugê seja responsavél pela felicidade e a sensação de completude do sujeito. Palavras-chave: Conjugalidade; Amor; Família. 1. INTRODUÇÃO O casamento é um conceito fenomenológico social existente em todas as culturas e em todas as épocas, mas que sofreu transformações ao longo da história. Estas transformações referentes às novas formas de configuração de casais, famílias, papéis e relações são consideradas, por alguns autores, como uma maneira de responder às exigências da sociedade atual, sendo esta marcada por regras e valores que estão em constante modificação (MENEZES, 2006). Assim, com a evolução da sociedade, novas formas de conjugalidade acabaram surgindo, tendo em vista outras formas de ser família, não mais no modelo nuclear, heterossexual e indissolúvel de outrora. No entanto, as novas configurações acabaram dividindo opiniões em geral, pois tantas ambiguidades e coexistências de modelos conjugais acabam confundindo o sujeito que vive em uma sociedade em constante transformação, onde coabitam modelos familiares tradicionais, nucleares e também as novas relações (MENEZES, 2006). 1

Frente a essa questão e levando em consideração a importância que a união por meio do casamento representa na vida das pessoas, decidiu-se realizar uma pesquisa bibliográfica a fim de investigar como a conjugalidade se estabelece em meio à individualização, além de conhecer as motivações que levam os sujeitos a se casarem e quais as implicações da conjugalidade em suas vidas. Dessa forma, discorreu-se acerca de diversos autores que discutem a temática do casamento, bem como, a construção da individualidade e conjugalidade nas relações contemporâneas. 2. REFERENCIAL TEÓRICO A transição para o casamento é uma das maiores mudanças que o sistema familiar pode passar. É o momento onde os indivíduos deixam seu núcleo familiar primário para constituir a sua própria família, assim, este processo envolve inúmeros fatores (internos e externos). Desta forma, as diferentes percepções que os indivíduos têm sobre o casamento e o novo núcleo familiar está intimamente ligado às experiências que o sujeito teve com a sua rede familiar e social (MENEZES, 2006). Discorrendo acerca das mudanças que a instituição casamento vem sofrendo através dos tempos, o mesmo esteve inicialmente vinculado à reprodução e ao sexo, de caráter meramente biológico. Assim, o casamento teve como função garantir a perpetuação da espécie (ZORDAN, FALCKE e WAGNER, 2009). Posteriormente, a função do casamento esteve atrelada a aspectos econômicos e sociais. Somente a partir do século XVIII o casamento tomou forma de instituição de direito. Inicia-se então, uma tentativa de união entre amor e casamento, que até então eram considerados aspectos separados da vida conjugal (MENEZES, 2006) Neste contexto, lentamente a união entre famílias, que visava apenas interesses econômicos, abre espaço para o amor e para o desejo de união. No entanto, de acordo com a autora, tal fato se consolidou apenas no século XX, quando então o casamento pôde reunir a liberdade de escolha, amor, amizade e desejo sexual. Ela ressalta ainda que os aspectos citados, difundidos e misturados, resultarão no conceito atual de casamento, que inclui a identidade conjugal, abrangendo seus aspectos emocionais, além de físicos, sexuais e econômicos (MENEZES, 2006). Até a década de 70 a família se orientou pelo modelo de família nuclear, heterossexual e indissolúvel. Até esse momento, os papéis eram rigidamente definidos, onde o homem era o provedor e a mulher era vista como mãe e responsável pela casa. Porém, devido à crescente autonomia no que se refere à vida profissional, afetiva e sexual do sujeito ao longo das décadas, a realização profissional foi priorizada em detrimento do casamento, que passou a ser adiado (ZORDAN, FALCKE e WAGNER, 2009; OLIVEIRA, 2011). 2

A definição de casamento precisou levar em consideração as várias conjugalidades existentes. Assim, os autores relatam que diferentes modelos de uniões entre casais coexistem para responder às transformações e exigências sociais. Zordan, Falcke e Wagner (2009) expõem também que o casamento hoje é caracterizado como uma tarefa da adultez e afirmam que atualmente este ocupa posição diferente na vida das pessoas devido a diversos fatores, tais como início precoce da vida sexual, longa permanência na casa dos pais, possibilidade de experiências conjugais antes de casar e o prolongamento da fase adulto jovem. Na transição para o casamento há duas dimensões importantes que devem ser consideradas, que conferem a: a individualidade e a conjugalidade. A primeira se refere ao indivíduo, seus desejos e suas percepções de mundo; a segunda diz respeito ao desejo conjunto e história de vida do casal, ou seja, a identidade conjugal. Levando em consideração estas duas dimensões a manutenção do equilíbrio entre tais pode ser difícil para os sujeitos (MENEZES e LOPES, 2007). Estudos apontam a existência de tensões entre a individualidade e conjugalidade, onde o primeiro é constantemente enfatizado nas relações. Atualmente, os sujeitos buscam felicidade, realização pessoal, sexual e profissional, além de liberdade e romantismo e a busca pela pessoa perfeita (que una beleza à recursos financeiros). Tal busca confirma a ênfase direcionada à individualização, onde cada um se preocupa demasiadamente em si mesmo. O medo de ser deixado, medo do sofrimento e insegurança podem contribuir e fazer com que se estabeleçam outras prioridades em detrimento das relações afetivas (ZORDAN, FALCKE e WAGNER, 2009, OLIVEIRA, 2011; BAUMAN, 1998). A ampla aceitação social frente à afirmação de que o objetivo do casamento contemporâneo é a satisfação de ambos os cônjuges, além da questão do narcisismo fortemente incutido na sociedade atual são questões abordadas por alguns autores. Neste, há a priorização da manutenção da autonomia individual, equilibrando-a com o espaço compartilhado do casal, limitando a privacidade e intimidade do mesmo. Discute-se acerca do casamento mantido em casa separadas, denunciando a dificuldade em preservar a individualidade na convivência conjugal Os interesses individuais são mais valorizados em detrimento dos interesses coletivos, pois a responsabilidade já traz consigo um viés narcísico, onde o sujeito é responsável por si mesmo e suas escolhas (VIEIRA e STENGEL, 2010; OLIVEIRA, 2011). A priorização da liberdade de escolha e a possibilidade de se fazer o que quer acaba gerando insegurança nos indivíduos. A insegurança ocorre devido às incertezas em relação ao futuro e à desvalorização do passado e das tradições que o levam a se focar apenas no presente. Assim, essas ambiguidades confundem o sujeito, pois este preza a liberdade, porém, ela se apresenta acompanhada pela insegurança. Frente a essa situação, o sujeito 3

busca segurança por meio de um relacionamento, no entanto a união pode gerar ressentimentos em relação ao que se pode perder (BAUMAN, 1998; VIEIRA e STENGEL, 2010; OLIVEIRA, 2011). Em muitos relacionamentos podem ocorrer dificuldades em conciliar individualidade e conjugalidade, pois quando a relação se fortalece, há necessidade de ambos os cônjuges cederem; a fragilidade da relação pode ser atribuída à ênfase na satisfação individual. No casamento contemporâneo há intolerância quanto a não satisfação das expectativas, fato que gera um crescente número de divórcios. Logo, frente às dificuldades conjugais, os vínculos tendem a ser dissolvidos devido à fragilidade de sua ligação, entretanto, a sociedade contribui para a criação de expectativas difíceis de atingir à medida que torna sinônimo amor, paixão e casamento (ZORDAN, FALCKE e WAGNER, 2009). Dados demonstram que as relações atuais podem estar mais superficiais, descartáveis e impulsivas, onde não há tempo para conhecer o outro e questões tradicionais são ultrapassadas. Autores relacionam a impulsividade à frustração nos relacionamentos, posto que as relações são iniciadas rapidamente, sem conhecer o parceiro e gerando expectativas baseadas no sentimento inicial de paixão e idealização, que não é sustentado com o tempo, podendo acarretar no sentimento de frustração. O medo da responsabilidade também parece assustar o sujeito, pois uma relação duradoura requer dedicação, comprometimento e responsabilidade. Estas exigências podem ser consideradas paradoxais diante da sociedade atual, na qual se busca a satisfação imediata e sem esforços (OLIVEIRA, 2011). 3. METODOLOGIA Para os propósitos deste estudo, foram selecionados e analisados materiais bibiográficos com teóricos de referência na temática das relações entre individualidade e conjugalidade. Dentre estes, Bauman, Zordan, Falcke, Wagner, além de Minuchin e Nichols. Para a realização do presente artigo, o método utilizado consiste em uma pesquisa bibliográfica. A pesquisa bibiográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado e que abrange principalmente livros e artigos científicos (GIL, 2006). 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES A literatura aponta que atualmente se busca prazer nas relações e frente a algum desprazer proporcionado pelas dificuldades da relação, rompe-se o frágil vínculo e se estabelecem outros que continuem a proporcionar prazer. Por outro lado, pesquisas apontam que o casamento ainda é desejado, porém são estabelecidas outras prioridades de cunho individual antes da realização do mesmo (BAUMAN, 1998; ZORDAN, FALCKE e WAGNER, 2009). 4

Autores relatam que a coexistência de tipos de amor, romântico, líquido, patológico, dentre outros, que acabam confundindo o sujeito. A grande variedade de opções aliada a dados demográficos (menos homens que mulheres no mundo) corroboram com o fato. A literatura também aponta a importância do diálogo nas relações, assim como equilíbrio e reciprocidade para que a união estabelecida seja saudável para os sujeitos envolvidos (BAUMAN, 1998; CHAVES, 2011; MINUCHIN e NICHOLS, 1995, VIEIRA e STENGEL, 2010; MENEZES, 2006). O consumo em massa, altamente pregado atualmente, enfatiza o que o indivíduo não tem, para fomentar o consumo. O sujeito, que se encontra à mercê do mesmo, adota uma postura passiva e está constantemente insatisfeito com o que conseguiu construir. Logo, o consumo também influência nas relações amorosas, à medida que transforma o outro em um objeto de prazer e satisfação individual. Aqui, o outro é constantemente julgado pelo que pode oferecer e no momento em que este não satisfaz mais, ele é descartado (BAUMAN, 1998; VIEIRA e STENGEL, 2010; CHAVES, 2011). Pesquisas publicadas apontam que o casamento é almejado para afastar a solidão. Assim, unir-se à alguém pode ser visto como um refúgio do medo de ficar sozinho e para satisfação de necessidades individuais. A doação ao outro também aparece como um dado importante a ser discutido, pois em alguns casos, pode ser patologizante à medida em que o sujeito se anula, reorganiza suas atividades e se isola para agradar o outro. De acordo com a autora, o amor patológico é oriundo das novas relações estabelecidas em meio ao capitalismo, aos novos papéis e novas estruturas familiares. Para que uma relação seja saudável, é necessário que haja reciprocidade no estabelecimento da identidade conjugal, sem que esta anule a identidade de cada cônjuge (CHAVES, 2011). Minuchin e Nichols (1995) relatam que os membros de um casal saudável não perdem sua individualidade, eles a expandem e incluem a visão do outro em suas perspectivas. Este busca alternativas para superar as adversidades e negocia as suas diferenças. O autor informa que o casamento não é inteiramente complementar, nem totalmente simétrico, todo casal mistura autonomia e complementaridade. 5. CONCLUSÃO Conclui-se que, após várias transformações, o casamento contemporâneo se apresenta como uma opção. Este ainda é desejado, porém não mais como uma exigência de terceiros. O casamento assume um grande valor e significado na vida dos envolvidos, pois requer um alto grau de desejo, além investimento afetivo entre seus pares para que ele ocorra. Por meio das leituras realizadas, foi possível identificar vários aspectos que acompanham o tema em discussão, tais como a fluidez das relações, a insegurança, a forte 5

influência do consumismo até mesmo nas relações, o medo do novo e ao mesmo tempo algum desejo de manter tradições no que se refere à nova posição da mulher. Não é novidade o quanto o social interfere nas relações e o quanto as relações atravessam o social. Ao observarmos nosso contexto, é possível perceber o quanto as mudanças vão ocorrendo de maneira tão rápida que as normas sociais muitas vezes não conseguem acompanhar. Ainda hoje se discute como definir o casamento e o quão difícil é definí-lo hoje. Nos séculos anteriores observamos que a definição restringia o casamento à uma instituição indissolúvel, heterossexual, monogâmica, nuclear. No entanto, essas restrições foram gradativamente alteradas a fim de abarcar a infinidade de modelos conjugais existentes concomitantemente, desde tradicionai até às novas configurações. Severino (1996) define casamento como determinação de dois indivíduos de conviverem numa relação estável e que implica assumirem compromissos mútuos, oferecendo suporte para as necessidades sociais, afetivas e sexuais (SEVERINO, 1996: 78). A autora ressalta que morar na mesma residência não é requisito para determinar um casamento, já que inúmeros casais moram em residências separadas por vários motivos. Outro aspecto bastante encontrado nas literaturas refere-se à insatisfação. Dados encontrados indicam que esta pode estar ligada às expectativas pregadas pelo social, onde o casamento precisa ser sempre feliz e livre de conflitos. Em contrapartida, autores apontam que o casamento não é definido por ausência de conflitos e sim pelo constante diálogo e comprometimento frente a esses. No entanto, o que se percebe é que as uniões duram cada vez menos devido à fragilidade dos vínculos estabelecidos e à busca incessante pelo prazer. O amor romântico também aparece nas uniões modernas, de maneiras diferenciadas. Autores revelam que ele está presente na constante procura por uma pessoa ideal, que una qualidades, tais como beleza, recursos financeiros, similaridade de valores e que seja responsável pela felicidade e completude do sujeito. Quando isso não ocorre, procura-se outro parceiro que proporcione apenas prazer e não sofrimento. Assim, o casamento é comparado ao consumo, onde quando um objeto apresenta algum problema é imediatamente trocado por outro que promete oferecer mais satisfação. Em relação às motivações para que um casamento ocorra, o amor apareceu nas pesquisas como o principal, mas além deste, o medo da solidão também foi bastante encontrado nas fontes lidas, fato que reforça ainda mais a questão referente à fragilidade dos vínculos e à busca da satisfação do individual. Assim, a liquidez das relações não oferecem suporte suficiente para que vínculos capazes de superarem as adversidades sejam estabelecidos. Logo, o que se vê são relações muitas vezes superficiais e breves, 6

que terminam assim que o prazer acabe diante dos conflitos que emergem da convivência conjugal. Os autores em geral enfatizam cuidados para que a relação seja saudável, tais como: refletir acerca do motivo de se estar casado, assim como equilíbrio, reciprocidade, estabelecimento de um bom contrato e preservação da identidade própria em conjunto à contrução da identidade conjugal. Dados pesquisados apontam que a tendência futura é o adiamento do casamento para uma idade cada vez mais avançada (após satisfação de aspectos individuais, tais como profissional) possivelmente ocasionado pelo medo do sofrimento e desejo de liberdade e independência. Nesse sentido, pudemos evidenciar que os sujeitos estão cada vez mais preocupados com as suas questões pessoais, tendo em vista o número crescente de pessoas que optam pelo adiamento do casamento. Com relação ao casamento, podemos verificar que as dimensões da conjugalidade e individualidade são bastante complexas, pois é dificil conciliar um equilibrio entre ambas e um dos fatores que contribui para isto é a individualização, que é crescente nas relações por diversas causas. Individualização que é reforçada fortemente pelo social que cobra dos sujeitos sucesso e satisfação. REFERÊNCIAS BAUMAN, Z. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. CHAVES, R. O significado do sentimento de amor na contemporaneidade: a perspectiva da mulher. 26 f. TFG (Trabalho final de graduação) Curso de Psicologia, Centro Universitário Franciscano, Santa Maria, RS, 2011. GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2006. MENEZES, C. A transição para o casamento. 271 f. Tese (Doutorado em Psicologia) Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Instituto de Psicologia, Porto Alegre, RS, 2006. MENEZES, C.; LOPES, R. A transição para o casamento em casais coabitantes e em casais não-coabitantes. Revista brasileira de crescimento e desenvolvimento humano. São Paulo, v. 17, n. 1, 2007. Disponível em: <http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=s0104-12822007000100006&script=sci_ arttext> Acesso em: 6 abr. 2012. MINUCHIN, S.; NICHOLS, M. A cura da família: histórias de esperança e renovação contadas pela terapia familiar. Porto Alegre: Artes médicas sul, 1995. 7

OLIVEIRA, M. Os relacionamentos amorosos na contemporaneidade sob a ótica dos jovens. 2011. 21 f. TFG (Trabalho final de graduação em Psicologia) Curso de Psicologia, Centro Universitário Franciscano, Santa Maria, RS, 2011. SEVERINO, R. Casais construindo seus caminhos: a terapia de casal e a família de origem. IN: PRADO, L. (Org.). Famílias e terapeutas: construindo caminhos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. p. 71-96. VIEIRA, E.; STENGEL, M. Os nós do individualismo e da conjugalidade na Pós- Modernidade. Aletheia [online]. Canoas, n. 32, ago. 2010. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=s1413-03942010000200012&script=sci_arttext>. Acesso em: 10 jul. 2012. ZORDAN, P. E.; FALCKE, D.; WAGNER, A. Casar ou não casar? Motivos e expectativas com relação ao casamento. A Psicologia em revista. Belo Horizonte, v. 15, n. 2, ago. 2009. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=s1677-11682009000200005&script=sci_arttext> Acesso em: 7 abr. 2012. 8