A TERAPIA DE CASAL RETRATADA NO FILME UM DIVÃ PARA DOIS

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1 A TERAPIA DE CASAL RETRATADA NO FILME UM DIVÃ PARA DOIS 2015 Fernanda Tessaro Graduanda em Psicologia pela Faculdade Meridional - IMED de contato: fernandamtessaro@gmail.com RESUMO O cinema permeia o imaginário popular. Portanto é importante realizar uma reflexão teórica a luz de um curta-metragem que trata sobre os impasses da vida de um casal e a busca de terapia, a fim de quebrar paradigmas do senso-comum. Dessa forma, este estudo tem por objetivo refletir acerca de aspectos do processo de terapia e da conjugalidade, dos personagens Kay e Arnold, presentes no filme Um divã para dois (Hope Springs) a partir de referenciais da literatura. Palavras-chave: Terapia de casal, cinema, um divã para dois, conjugalidade. O filme Um divã para dois apresenta a história de um casal, kay e Arnold, que se encontra na fase adulta tardia. Eles estão casados há mais de trinta anos e a rotina tomou conta do casamento. A esposa, insatisfeita com a situação, propõe ao marido o desejo de realizar terapia de casal intensiva, em outra cidade. De acordo com Couto, Prati, Falcão e Koller (2008), a terapia de casal tem a capacidade de auxiliar na mudança de pensamento, no desenvolvimento da capacidade de negociação e de esclarecimento em qualquer fase do ciclo de vida. O marido, em um primeiro momento, não é favorável a ideia, entretanto acaba por participar da terapia de casal, pressionado pela esposa. Na primeira sessão após as apresentações, o terapeuta logo questiona a motivação do casal ao iniciar a terapia e percebendo o desinteresse de Arnold, o indaga quanto à situação de seu casamento. Também questiona a Kay sobre o motivo pela busca de terapia e ela o responde dizendo que gostaria de ter um casamento de novo, relatando o que gostaria de modificar em sua vida conjugal. Investigar a motivação, bem como a capacidade de regular o comportamento, auxilia no entendimento dos reais motivos que levam as pessoas há Fernanda Tessaro 1 Siga-nos em

2 buscarem a terapia, desse modo torna-se possível compreender as futuras implicações do processo psicoterápico, além de seus determinantes (Lemos & Silva, 2010). É possível verificar que Kay é em muitos momentos interrompida por Arnold, e o terapeuta tem que intervir para que ela possa relatar sua opinião acerca do casamento. Conforme Rech (2005), em uma perspectiva sistêmica, a própria família (sistema) determina quem pode opinar, o que pode expressar e também determina quem deve permanecer em silêncio. Após investigar a demanda e a motivação do casal, o terapeuta então resume o objetivo da terapia: tentar resgatar a intimidade no casamento, encontrando formas de comunicação mais assertiva, cultivo da intimidade e desenvolvimento de meios de manter a intimidade fluindo. A conversa aberta com o(s) paciente(s) é muito importante, logo nas primeiras sessões, pois possibilita o conhecimento das expectativas quanto à terapia (Fiorini, 2004). Desse modo, um dos enfoques na terapia deste casal foi o tema da sexualidade, já que o casal dormia separado e não mantinha relações sexuais há mais de quatro anos, nem mesmo demonstravam outros comportamentos afetivos. A esposa, Kay, sentia-se muito frustrada quanto a isso e disposta a colaborar durante o processo psicoterápico para que ocorresse uma reaproximação do casal. Entretanto, Arnold demonstrou incomodo em entrar na temática. A sexualidade na terceira idade pode ser vista ainda como um tabu, como se o casal na terceira idade não possuísse desejos sexuais (Dias, 2009). E, ainda conforme estudo de Moraes et al. (2011) os casais na terceira idade relatam ter uma vida sexual menos ativa, por diversos fatores, dentre eles: idade, presença de doenças, menos desejo sexual. Quanto às características do terapeuta, pode-se verificar que este permaneceu muito ativo durante as sessões, questionando sobre a rotina do casal e propondo atividades para serem desempenhadas, de acordo com os objetivos da terapia. A atitude ativa, a flexibilidade e a utilização de técnicas, por parte do terapeuta, são elementos importantes para a promoção de benefícios no ambiente familiar (Souza, 2005). Além disso, em determinados momentos das sessões, percebendo as dificuldades do casal em desempenhar as atividades propostas, que tocavam em questões dolorosas e delicadas da vida de casal, o terapeuta demonstrou empatia e incentivou o casal a prosseguir. Conforme Souza (2005) a empatia e a confiança por parte do terapeuta são importantes na medida em que facilitam os pacientes a expressarem seus sentimentos e emoções. As perguntas lineares e circulares, bem como conotações positivas e metáforas são ferramentas que podem ser utilizadas pela Terapia Familiar Sistêmica (Zordan, Dellatorre & Wieczorek, 2012). Neste caso, o terapeuta utilizou com este casal a metáfora do nariz quebrado para exemplificar a necessidade de tocar nas dificuldades do casal para que a terapia tivesse êxito. Foi possível perceber, durante as sessões, que o casal também demonstrava através da linguagem não verbal, indícios de como estavam se sentindo durante a execução das atividades Fernanda Tessaro 2 Siga-nos em

3 que o terapeuta propunha. Por exemplo, quando conseguiram realizar a tarefa de se abraçarem, na sessão seguinte sentaram-se mais próximos, demonstrando intimidade, entretanto, quando em outra tarefa não obtiveram sucesso, os dois permaneceram afastados no sofá. Sendo assim, é importante considerar o que diz Marques (2005), que o terapeuta deve permanecer atento a todas as formas de comunicação, como os comportamentos, a postura, a vestimenta e a linguagem verbal, pois fornecem informações acerca dos pacientes. Além disso, o encerramento da terapia se deu em um momento-chave da vida do casal, onde eles estavam investindo significativamente na reaproximação, entrando em contato com seus medos, porém se deparando com dificuldades inerentes ao processo. Entretanto, o terapeuta deu um feedback positivo ao casal, explicitando que todos os casamentos passam por dificuldades e que Arnold e Kay tinham um grande potencial para melhorar a qualidade de vida em seu casamento e os encaminhou para continuarem com a terapia de casal na cidade deles. Fernanda Tessaro 3 Siga-nos em

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Couto, M. C. P. de P., Prati, L. E., Falcão, D. V. da S., & Koller, S. H., (2008). Terapia familiar sistêmica e idosos: contribuições e desafios. Psicologia Clínica, 20(1), Dias, J. P. de B. M. (2009). A satisfação conjugal, a depressão e a sexualidade na terceira idade (Dissertação de mestrado, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, Universidade do Porto). Recuperado de Fiorini, H. J. (2004). Teoria e técnica de psicoterapias (ed. ampl.). (M. S. Gonçalves, Trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes. Frankel, D. (Diretor). (2012). Um divã para dois (título original Hope Springs) [Filme]. Estados Unidos. Imagem Filmes. Lemos, M. S. de, & Silva, V. A. (2010). Motivação no contexto psicoterapêutico. Actas do VII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia. Universidade do Minho, Portugal. Marques, N. (2005). Entrevista de triagem: espaço de acolhimento, escuta e ajuda terapêutica. In M. M. K. Macedo & L. K. Carrasco (Orgs.), (Con)textos de entrevista: olhares diversos sobre a interação humana (pp ). São Paulo: Casa do Psicólogo. Moraes, K. M., Vasconcelos, D. P. e, Silva, A. S. R. da, Silva, R. C. C. da, Santiago, L. M. M., & Freitas, C. A. S. L. (2011). Companheirismo e sexualidade de casais na melhor idade: cuidando do casal idoso. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 14(4), Rech, T. (2005). A circularidade sistêmica na escuta clínica. In M. M. K. Macedo & L. K. Carrasco (Orgs.), (Con)textos de entrevista: olhares diversos sobre a interação humana (pp ). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo. Fernanda Tessaro 4 Siga-nos em

5 Souza, N. H. S. de. (2005). A família em terapia. In M. M. K. Macedo & L. K. Carrasco (Orgs.), (Con)textos de entrevista: olhares diversos sobre a interação humana (pp ). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo. Zordan, E. P., Dellatorre, R., & Wieczorek, L.(2012). A entrevista na terapia familiar sistêmica: pressupostos teóricos, modelos e técnicas de intervenção. Perspectiva, 36(136), Fernanda Tessaro 5 Siga-nos em