PRODUÇÃO DE SUÍNOS EM CAMA SOBREPOSTA (DEEP BEDDING): ASPECTOS SANITÁRIOS



Documentos relacionados
Ocorrência de linfadenite em suínos criados em sistema convencional e cama sobreposta nas fases de crescimento e terminação

SUÍNOS EM CAMA SOBREPOSTA E PRESENÇA DE LINFADENITE TUBERCULÓIDE DEEP BEDDING IN SWINE AND PRESENCE OF LIMPHADENITIS TUBERCULOSIS

OCORRÊNCIA DE LINFADENITE POR Mycobacterium avium E OUTRAS PATOLOGIAS EM SUÍNOS CRIADOS EM SISTEMA CONVENCIONAL E CAMA SOBREPOSTA DE MARAVALHA

Perguntas e Respostas Sistema de Cama Sobreposta. Introdução

ISSN Osmar Antonio Dalla Costa I* Armando Lopes do Amaral I Jorge Vitor Ludke I Arlei Coldebella I Elsio Antonio Pereira de Figueiredo I

RINITE ATRÓFICA DOS SUÍNOS

MAURÍCIO SEABRA BERNARDI

COMUNICADO TÉCNICO. Introdução. Jurij Sobestiansky 1 Osmar A. Dalla Costa 2 Nelson Morés 3 Waldomiro Barioni Jr. 4 Itamar A. Piffer 5 Roque Guzzo 6

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO SECRETARIA DE DEFESA AGROPECUÁRIA INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 19, DE 15 DE FEVEREIRO DE 2002 GRSC

MANEJO DE MATRIZES PARTE I

Frangos de corte, poedeiras comerciais e pintos de um dia Aula 5. Professora Me Mariana Belloni 06/09/2016

SISTEMA DE PRODUÇÃO DE SUÍNOS EM CAMA SOBREPOSTA DEEP BEDDING

CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA HIDRÁULICO E DA QUALIDADE DA ÁGUA EM GRANJAS DE SUÍNOS DA REGIÃO SUL DO BRASIL NAS FASES CRECHE, CRESCIMENTO E TERMINAÇÃO

Uso da cama sobreposta na criação de suínos nas fases de crescimento e terminação: experiência brasileira revisão de literatura

Comunicado 302. Técnico. Execução e interpretação da prova tuberculínica pareada em suínos, com tuberculina aviária e bovina

PERDAS ECONÔMICAS DECORRENTES DE DIFERENTES GRAUS DE SEVERIDADE DE RINITE ATRÓFICA EM SUÍNOS

Projeto Brasil / União Europeia - Gestação coletiva de matrizes suínas. Cleandro Pazinato Dias

Sistema Alternativo de Criação de Suínos em Cama Sobreposta para Agricultura Familiar

sistema de cama < < <

Desempenho de leitões em fase de creche alimentados com soro de leite.

DESEMPENHO E CARACTERÍSTICAS DE CARCAÇA DE SUÍNOS EM TERMINAÇÃO SUPLEMENTADOS COM DIFERENTES NÍVEIS DE RACTOPAMINA NA DIETA

RELATÓRIO SOBRE DESEMPENHO DE FRANGOS DE CORTE CRIADOS POR ACADÊMICOS DO CURSO DE ZOOTECNIA DURANTE O 1º SEMESTRE LETIVO DE 2004

ELIMINAÇÃO DE DEJETOS SUÍNOS: AVALIAÇÃO DE MATERIAIS UTILIZADOS NO SISTEMA DE CAMAS

Geração de Renda a Partir dos Dejetos da Pecuária

ESTUDOS ECOPATOLÓGICOS NA PREVENÇÃO DE DOENÇAS MULTIFATORIAIS EM SUÍNOS

FATORES DE RISCO ASSOCIADOS AOS PROBLEMAS DOS LEITÕES NO PERÍODO PÓS-DESMAME

Estimativa dos índices de pneumonia, pela tosse, e de rinite atrófica, por espirros, em suínos

Princípios básicos. Instalações, ambiência e equipamentos. Para implantação. Para implantação. Água e Efluentes. Para implantação

1 - MANEJO ALIMENTAR DE FRANGOS DE CORTE

PRODUÇÃO DE SUÍNOS EM SISTEMAS DEEP BEDDING: EXPERIÊNCIA BRASILEIRA

AVALIAÇÃO DE DIFERENTES MATERIAIS DE CAMA DE AVIÁRIO E DENSIDADES POPULACIONAIS - DESEMPENHO DE FRANGOS DE CORTE

UNIDADE DESENVOLVE TECNOLOGIAS PARA MANEJO E BEM-ESTAR ANIMAL

16 EFEITO DA APLICAÇÃO DO FERTILIZANTE FARTURE

Material de apoio para a disciplina Avicultura CAP.5 MANEJO DE PINTINHOS

CRIAÇÃO DE SUÍNOS EM CAMA SOBREPOSTA: FASES DE CRESCIMENTO E TERMINAÇÃO

Graça a Gomes Médica Veterinária. ria Direcção Regional de Veterinária. ria

CAPÍTULOS 7 E 8 AMOSTRAGEM POR ATRIBUTOS OU VARIÁVEIS

Helena M. F. da SILVA 1 ; Fábio R. ALMEIDA 1 ; Marcos L. DIAS 1 ; Gustavo F. RODRIGUES 1 ; Letícia G. M. AMARAL 2 ; Níkolas O.

431 - AVALIAÇÃO DE VARIEDADES DE MILHO EM DIFERENTES DENSIDADES DE PLANTIO EM SISTEMA ORGÂNICO DE PRODUÇÃO

Prevalência de distúrbios respiratórios em vitelos e potencias fatores de risco

Comunicado Técnico. Zootecnista, Ph.D. em Produção de Aves, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Concórdia, SC,

Efeitos da adubação nitrogenada de liberação lenta sobre a qualidade de mudas de café

Ganho de Peso de Coelhos de Diferentes Grupos Genéticos

BIOSEGURIDADE em rebanhos suinícolas. Mínimo de Doenças ou Alto Estatus de Saúde. Alto Estatus de Saúde. Alto Estatus de Saúde BIOSSEGURIDADE

FUNDAÇÃO DO MEIO AMBIENTE DE ITAJAÍ

MÉTODOS ALTERNATIVOS DE MUDA FORÇADA EM POEDEIRAS COMERCIAIS

Prof. Ricardo Brauer Vigoderis, D.S.

Produção de aves e ovos de maneira tecnificada com maior proximidade do natural.

PRODUÇÃO DE FRANGOS DE CORTE

CARACTERIZAÇÃO DOS PRINCIPAIS PROBLEMAS OBSERVADOS NA COMPOSTAGEM DE AVES MORTAS

Comunicado Técnico 01

AULA 03 SISTEMA E REGIME DE CRIAÇÃO

CAUSAS DE MORTALIDADE DE LEITÕES ATÉ O DESMAME EM GRANJA COMERCIAL NA REGIÃO NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL 1

PERFORMANCE E BEM-ESTAR DE VACAS LEITEIRAS EM UM SISTEMA DE INSTALAÇÃO ALTERNATIVO DE MINNESOTA

DESEMPENHO DE UMA SEMEADORA-ADUBADORA UTILIZANDO UM SISTEMA DE DEPOSIÇÃO DE SEMENTES POR FITA.

ASPECTOS DA NUTRIÇÃO RELACIONADOS COM A CRIAÇÃO DE SUÍNOS EM FASE DE CRECHE, CRESCIMENTO E TERMINAÇÃO EM GRANJAS DO SUL DO BRASIL

Modelo de gestão ambiental para a suinocultura. Rodrigo S. Nicoloso Eng. Agrônomo, Dr. Núcleo Temático de Meio Ambiente Embrapa Suínos e Aves

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Comunicado Técnico. Ventilação Cruzada e em Zig-Zag em Aviário de Matrizes de Corte. Introdução. Metodologia

Nelson Morés. Anildo Cunha Junior

Indicadores de ocorrência de doenças em populações

07/12/2012. Localização das instalações. Localização das instalações. Localização das instalações. Trajeto do sol sobre o barracão

Efeito de sistemas de criação no conforto térmico ambiente e no desempenho produtivo de suínos na primavera

GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE MAMONA COM E SEM CASCA

Capítulo 9 AÇÕES DE PESQUISA PROMOVEM A SEGURANÇA DOS ALIMENTOS

A COMPOSTAGEM COMO SOLUÇÃO TECNOLÓGICA PARA O TRATAMENTO DOS DEJETOS DE SUÍNOS

Avaliação da curva de crescimento de frangos de corte e índices zootécnicos no sistema de produção do IFMG campus Bambuí

Workshop PED MAPA, ABCS e Embrapa. Percepções da agroindústria: Desafios e oportunidades

MANEJO DE MATRIZES. Avicultura Allan Reis Troni

FERTILIDADE E MANEJO DE SOLOS. Prof. Iane Barroncas Gomes Engenheira Florestal

Compostagem orgânica como manejo sustentável dos resíduos da aquicultura. PqC. Rose Meire Vidotti Zootecnista

5Cs. Criação de Bezerras. do sucesso para AGRIPOINT. por: Carla Maris Machado Bittar. agripoint.com.br/curso CURSOS ONLINE

Um modelo de gestão ambiental para a suinocultura

DESEMPENHO ZOOTÉCNICO DE SUÍNOS SOB PISO OU DIFERENTES ALTURAS DE CAMA SOBREPOSTA: UMA MÉTA-ANÁLISE 1

Plano de aula. ZOOTECNIA I (Suínos) MATERNIDADE Aula Passada 30/03/2016. Manejo de suínos do desmame ao abate. Maternidade (Aula Passada) Creche

GUIA PRÁTICO PARA A UTILIZAÇÃO DE TABELAS DE ENTALPIA

Sistemas de produção de suínos

RESPOSTA TÉCNICA 002* COMPOSTEIRA PARA RESÍDUOS SÓLIDOS DE PARTO E DE ABATE DE SUÍNOS

TAXA DE DECOMPOSIÇÃO DE ESTERCOS EM FUNÇÃO DO TEMPO E DA PROFUNDIDADE DE INCORPORAÇÂO SOB IRRIGAÇÃO POR MICRO ASPERSÃO

ZOOTECNIA I (Suínos) Sistemas de produção de suínos. Sistemas de produção de suínos 01/04/2014

Custo de um surto de Mycoplasma hyopneumoniae Relato de caso

EFEITOS DO REUSO DE ÁGUA RESIDUÁRIA NA PRODUÇÃO DE MUDAS DE EUCALIPTO

Resumo Expandido. Título da Pesquisa: UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DA INDÚSTRIA FRIGORÍFICA NA FERTILIZAÇÃO DE PLANTAS FORRAGEIRAS DO GÊNERO BRACHIÁRIA

AVALIAÇÃO DO CONSUMO E PESO DE BEZERROS DA RAÇA GIROLANDO ALIMENTADOS COM CONCENTRADO FARELADO OU PELETIZADO DURANTE A FASE DE ALEITAMENTO

Patologia, Tamanho de Grão, Poder Germinativo e Teor de Micotoxina em Genótipos de Cevada Produzidos em Ambiente Favorável a Doenças de Espigas

AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS QUÍMICOS EM UM SISTEMA PILOTO QUE SIMULA A CRIAÇÃO DE SUÍNOS SOBRE CAMA

Infecção ocorre por meio de secreções nasais, fômites e fezes e cama contaminada. Afeta principalmente galinhas, mas pode

PROJETO DE PESQUISA GRANULOMETRIA DO MILHO NA AMOSTRA NATURAL X AMOSTRA SECA

Suinocultura. Evolução, Situação e Perspectivas da Suinocultura no Mundo e no Brasil. Material didático. Leitura complementar 13/03/2018

Reduzindo Desperdícios e Melhorando o Meio-Ambiente. Uma abordagem pragmática para os projetos de suinocultura

¹ Bacharelando em Agronomia DCA/IFMG/Bambuí ² Prof. DSc. Forrragicultura e Pastagens Orientador DCA/IFMG/ Bambuí

Código Sanitário para Animais Terrestres Versão em português baseada na versão original em inglês de Versão não oficial (OIE)

21/02/2019. Suinocultura. Prof. Luciano Hauschild Departamento de Zootecnia Jaboticabal, 2019.

Comprimento de cocho para novilhas leiteiras

11 EFEITO DA APLICAÇÃO DE FONTES DE POTÁSSIO NO

Suinocultura. Luciano Hauschild Departamento de Zootecnia Jaboticabal, Evolução da produção mundial de suínos;

LORATADINA Hypermarcas S/A Comprimido 10mg

Tecnologias de Tratamento de Dejetos. Dr. Airton Kunz

Transcrição:

PRODUÇÃO DE SUÍNOS EM CAMA SOBREPOSTA (DEEP BEDDING): ASPECTOS SANITÁRIOS Nelson Morés Méd. Vet. M. Sc., Embrapa Suínos e Aves 89700 000 Concórdia, SC. O uso cama sobreposta ( deep bedding ) para criação de suínos nas fases de crescimento e terminação, é uma tecnologia recente no Brasil, sendo que apenas últimos cinco anos é que alguns produtores começaram fazer uso dela. A Embrapa suínos e Aves iniciou as pesquisas com esse sistema em 1993, quando estudou diferentes tipos de substratos usados como leito (maravalha, serragem, sabugo de milho, palha e casca de arroz), com acompanhamento sanitário dos animais. O sistema de produção em cama sobreposta apresenta algumas vantagens e desvantagens em relação ao sistema convencional. As vantagens estão relacionadas, principalmente, ao menor custo de investimento em edificações e manejo de dejetos, melhor conforto e bem estar animal e melhor aproveitamento da cama como fertilizante agricola, devido a concentração de nutrientes e redução quase total da água contida nos dejetos. As desvantagens estão associadas ao maior consumo de água no verão, maior cuidado e necessidade de ventilação nas edificações, disponibilidade de maravalha, serragem ou outro tipo de substrato e, principalmente aspectos sanitários relacionados com a ocorrência de infecções por Mycobacterium avium-intracellulare (MAI). A linfadenite por micobactérias não provoca mortalidade nem atraso no crescimento dos suínos, mas, dependendo da gravidade das lesões nos gânglios, o serviço de inspeção de carnes pode determinar a condenação ou destino condicionado das carcaças afetadas, com prejuízos tanto para o produtor como para a indústria. O objetivo dessa palestra é expor os riscos sanitários que o sistema de produção em cama sobreposta pode trazer para os suínos. 1 Linfadenite por Mycobacterium avium-intracellulare De modo geral vários problemas são reduzidos com o uso da cama sobreposta, como é o caso do canibalismo caudal e dos problemas de cascos e das articulações. Entretanto, em alguns rebanhos tem sido observado um aumento na ocorrência de linfadenite provocada por Mycobacterium avium-intracellulare. Hoy & Stehmann (1994), em trabalho comparativo com suínos no crescimento-terminação, observaram a ocorrência de linfadenite por micobactérias em 29,8% dos suínos criados em cama de maravalha sobreposta e em 3,4% daqueles alojados piso metálico totalmente ripado. Alguns estudos (Songer et all., 1980; Charette et all., 1989) têm mostrado que a serragem ou maravalha usadas como cama pode ser uma fonte de infecção de micobactérias para os suínos. O Mycobacterium avium-intracellulare frequentemente é encontrado em amostras de serragem ou maravalha, onde pode sobreviver por longos períodos. As micobactérias podem se multiplicar sob condições adequadas 101

de umidade e temperatura o que pode explicar a ocorrência sazonal da doença em alguns rebanhos. Em estudo realizado na Embrapa Suínos e Aves (Corrêa, K.C., 1998), com três lotes consecutivos criados sobre a mesma cama de diferentes substratos, a ocorrência de linfadenite foi maior naqueles criados sobre cama de serragem e com maior freqüência no primeiro lote (Tabela 1). Isso pode indicar que os leitões quando alojados já estavam contaminados, uma vez que no terceiro lote alojado sobre a mesma cama nenhum animal foi afetado. Tabela 1 Freqüência de animais condenados por linfadenite no frigorífico criados sob diferentes tipos de piso: nas épocas 1, 2 e 3 são apresentados o número de suínos condenados por linfadenite. TRATAMENTO Número suínos Época Total condenados 1 2 3 Maravalha 120 0 0 Serragem 120 21 3 24 20 Sabugo de milho triturado 120 0 0 Casca de arroz 120 2 2 1,6 Concreto parcialmente 120 0 0 ripado *1: de março a maio; 2: de julho a agosto e 3: setembro a novembro. Fonte: Corrêa, K.C., 1998. Entretanto, em dois estudos epidemiológicos do tipo caso-controle (Staal, A. & Eystein, S., 1993 e Morés et all., 2000) o uso de maravalha como cama para os suínos, não foi um fator de risco para ocorrência de linfadenite em suínos abatidos. A cama pode não ser a fonte primária de micobactérias, mas ela pode permitir o acúmulo e mesmo a multiplicação de micobactérias de outras fontes. A constante exposição de leitões para camas infectadas na maternidade ou creche pode levar a alta ocorrência de lesões no abates. Aves domésticas e selvagens podem contaminar as camas que são usadas para suínos e dar inicio a infecção no rebanho. Até o momento não se conhece com profundidade porque isso ocorre. A principal suspeita é que alguns leitões ao serem introduzidos no sistema de cama sobreposta já encontram-se infectados, provavelmente da maternidade ou creche. Mas como os leitões infectados podem eliminar as micobactérias nas fezes e o sistema de cama sobreposta facilita o contacto dos animais com os dejetos, suspeita-se que a maravalha ou serragem podem facilitar a contaminação de outros suínos durante a fase inicial de crescimento. Atualmente estamos desenvolvendo ações de pesquisa que visam esclarecer esses aspectos relacionados com a ocorrência de linfadenite. De qualquer forma, sugere-se que os produtores que desejam usar o sistema de cama sobreposta, é importante que o plantel de origem dos leitões seja livre dessa doença. A maioria dos produtores que já estão usando esse tipo de sistema de produção no Brasil são da região sul. Não são muitos, provavelmente, porque a pesquisa e as agroindústrias, em função da falta de informações conclusivas sobre os riscos de 102 %

ocorrência da linfadenite, têm alertado os produtores da possibilidade de aumento das condenações por essa doença. Entretanto, essa doença tem sido observada também em rebanhos que nunca usaram a maravalha. Por isso, acredita-se que a maravalha não seja a fonte principal de infecção, mas provavelmente um meio que facilita a disseminação da infecção entre os suínos mantidos na mesma baia, quando algum suíno introduzido no sistema já está infectado. Nesse aspecto, o risco é alto para produtores que compram leitões de várias origens, sem saber da condição sanitária dos rebanhos que produziram os leitões. Então, do ponto de vista sanitário, o principal cuidado que o produtor deve ter é que o rebanho de origem dos leitões seja livre da infecção por Mycobacterium avium-intracellulare e que a maravalha ou serragem a ser usada seja seca em secador comercial para tal finalidade e que não tenha ficado exposta ao tempo. Para saber se o rebanho está infectado deve-se fazer o teste de tuberculinização com PPD aviária, no plantel de porcas e machos. 2 Problemas respiratórios Em estudo realizado na Embrapa Suínos e Aves, embora as percentagens de tosse e espirro foram baixas em todos os tratamentos houve menor ocorrência de espirro e tosse nos suínos criados sobre cama de sabugo de milho triturado, mas não houve diferença entre os suínos criados nos demais substratos com aqueles criados sobre piso de concreto, com exceção para tosse nos suínos criados sobre casca de arroz que também foi inferior àqueles sobre concreto (Tabela 2). Os animais criados sobre cama de serragem foram os que apresentaram percentagem de espirro mais elevada, provavelmente devido a maior quantidade de partículas em suspensão no ar que exercem efeito físico sobre o aparelho respiratório superior. Quando esses mesmos animais foram avaliados no abate, quanto a presença de lesões de rinite atrófica e pneumonias, não houve diferença entre os suínos nos diferentes substratos usados como cama (Tabela 3.) Tabela 2 Resultados em porcentagem, das contagens de espirro e tosse e o número de contagens (N) em suínos alojados em diferentes tipos de piso. TRATAMENTO N Espirro Tosse Maravalha 28 2,8 ab 3,4 ab Serragem 28 3,3 a 3,2 ab Sabugo de milho triturado 28 1,3 b 2,2 b Casca de arroz 28 2,5 ab 2,9 b Concreto parcialmente ripado 28 2,6 ab 4,6 a Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem significativamente a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. Fonte: Corrêa, K.C., 1998. 103

Tabela 3 Médias das contagens das lesões nos cornetos nasais, estômagos e pulmão em suínos alojados em diferentes tipos de piso (tratamentos). TRATAMENTO Cornetos Estômagos Pulmão Maravalha 0,52 0,81 0,46 Serragem 0,57 0,88 0,44 Sabugo de milho triturado 0,47 0,83 0,47 Casca de arroz 0,57 0,83 0,48 Concreto parcialmente ripado 0,47 0,98 0,53 Médias não diferentes (P>0,05) estatisticamente pelo teste de Tukey. Fonte: Corrêa, K.C., 1998. Em trabalho realizado na França, Oliveira (1999) verificou que os suínos criados em piso totalmente ripado apresentaram maior freqüência de lesões pulmonares do que aqueles criados em cama de serragem sobreposta (Tabela 4). Nesse mesmo estudo a ocorrência de rinite atrófica, também foi menor nos suínos criados em cama sobreposta (Tabela 5). Por outro lado, Hoy & Stehmann (1994), Observaram maior ocorrência de pleurite e pleuropneumonia e menor de pneumonia catarral nos suínos criados sobre cama de maravalha sobreposta, em comparação com aqueles em piso metálico totalmente ripado. Tabela 4 Comparação das lesões pulmonares em suínos criados em cama de maravalha sobreposta em um piso totalmente ripado(freqüência em % em cada graduação). Graduação das lesões Experimentos ano 1 Experimentos ano 2 pulmonares Ripado Cama Ripado Cama 0 (ausência) 50,0 58,4 30,0 50,0 1 33,4 33,3 30,0 33,4 2 8,3 8,3 20,0 8,3 3 8,3 0 10,0 8,3 4 (severa) 0 0 10,0 0 Fonte: de Oliveira. P.A.V. (1999). 104

Tabela 5 Comparação das lesões de rinite atrófica em suínos criados em cama de maravalha sobreposta e em piso totalmente ripado (freqüência em % em cada graduação). Graduação das lesões Experimentos ano 1 Experimentos ano 2 Ripado Cama Ripado Cama 0 (ausência) 33,3 66,7 0 50,0 1 (leve atrofia) 67,7 33,3 66,7 16,7 2 (atrofia importante 0 0 33,3 33,3 Fonte: de Oliveira, P.A.V. (1999). 3 Lesões de estômago e fígado A ocorrência de lesões ulcerativas ou pré-ulcerativas na Pars Oesophagea do estômago têm sido avaliados em alguns trabalhos executados com suínos criados em cama sobreposta. Em estudo realizado por Oliveira (1999) foi observado menor freqüência de lesões no estômago nos suínos criados em cama sobreposta, em comparação com aqueles criados em piso totalmente ripado (Tabela 6). Corrêa (1998), não encontrou diferença na ocorrência de úlcera estomacal, entre os animais criados em cama sobreposta, usando-se diferentes substratos, e com aqueles mantidos em piso parcialmente ripado (Tabela 3), mas neste estudo não foi investigado a ocorrência de lesões pré-ulcerativas de hiperqueratose. Tabela 6 Comparação das lesões de úlcera no estômago de suínos criados em cama sobreposta e em piso totalmente ripado (freqüência em % em cada graduação). Graduação das lesões Experimentos ano 1 Experimentos ano 2 no estômago Ripado Cama Ripado Cama 0 (normal) 33,3 75,0 20,0 66,7 1 (hiperqueratose+) 8,3 25,0 10,0 33,3 2 (hiperqueratose++) 41,7 0 40,0 0 3 (hiperqueratose+++) 8,4 0 20,0 0 4 (úlcera) 8,3 0 10,0 0 Fonte: de Oliveira, P.A.V. (1999). Segundo Hoy & Stehmann (1994), a criação de vários lotes de suínos sobre a mesma cama pode trazer riscos sanitários para os animais. Em estudo realizado por estes autores, a percentagem de hepatite parasitária aumentou de 15,8% no primeiro lote para 72,2% no quarto lote nos suínos criados em cama de maravalha sobreposta, enquanto que nos controle mantidos em piso metálico ripado, a incidência de lesões permaneceu estável, com prevalência ao redor de 15,3%. Então, os programas de controle de helmintos devem ser rigorosos nos sistemas de criação de suínos sobre cama, principalmente, quando mais de um lote são produzidos sobre a mesma cama. 105

4 Problemas locomotores Na Inglaterra (Smith & Morgan, 1997) em um acompanhamento de suínos criados em cama sobreposta de palha, comparativamente a outros de mesma origem criados em piso ripado, foi observado maior ocorrência de artrite no abate naqueles criados sobre a cama. De um lote de 190 suínos alojados na cama, 83 (43,7%) apresentaram artrite identificada pelo serviço de inspeção, enquanto que dos 178 leitões da mesma origem, mas alojados em piso ripado e abatidos no mesmo dia, apenas cinco apresentaram lesões de artrite. Em outra granja, 18,5% dos leitões machos criados em cama de palha sobreposta tinham lesões de artrite no abate, enquanto que as fêmeas do mesmo lote alojadas em piso ripado somente 4,3% estavam afetadas. Nessas duas granjas as lesões de artrite foram associadas à infecção por Mycoplasma hyosynoviae. 5 Conclusão De modo geral, existem poucas informações sobre acompanhamentos sanitários de suínos criados em sistema de cama sobreposta, especialmente no Brasil. O problema mais importante e que parece ter limitado a expansão dessa tecnologia no Brasil, é a ocorrência de linfadenite, provocada por micobactérias não tuberculosas. Mais pesquisas são necessárias para explicar se os animais se infectam e desenvolvem a doença durante a fase de crescimento, quando alojados sobre a cama ou se já estão contaminados no momento do alojamento (durante as fases de maternidade e creche). Atualmente é possível obter serragem ou maravalha que tenham sido submetidas a um processo de esterilização pelo calor, eliminando, com isso, essa fonte de infecção. É importante também esclarecer se a cama, uma vez contaminada por alguma fonte de infecção, que podem ser diversas (leitão infectado, pássaros, galinhas, etc), favorece a multiplicação das micobactérias e, com isso, possa servir de fonte de infecção para os suínos. Entretanto, com relação a problemas respiratórios e lesões ulcerativas no estômago, o sistema de criação em cama sobreposta parece oferecer vantagem em relação ao sistema tradicional. 6 Referências bibliográficas Charette, R.; Martineau, G. P.; Pigeon, C. et all. Na outbreak of granulomatous lynfhadenitis due to Mycobacterium avium in swine. Ca. Vet. J., v.30 p.675 678, 1989. Corrêa, É.K. Avaliação de diferentes tipos de cama na criação de suínos em crescimewnto e terminação., Pelotas, RS: UFPel, 1998. 105p. Dissertação de Mestrado. Hoy, St. & Stehmann R. Hygienische aspekte der tiefstreuhaltung von mastschweinen mit mikrobiell enzymatischer einstreubehandlung. Der Praktische Tierarzt, n.6, p.495 504, 1994. 106

Morés,N.; Silva, V.S.; Dutra, V. et all. Controle da micobacteriose suína no sul do Brasil: identificação e correção dos fatores de risco. Concórdia: Embrapa CNPSA, 2000. 4p. (Embrapa-CNPSA. Comunicado Técnico, 249). Oliveira, P.A.V. de. Comparaison des systèmes d élevage des porcs sur litière de sciure ou caillebotis intégral., RENNES: ENSA, 1999. 263p. Thèse de Docteur. Smith, W.J. & Morgan, M. Pig Journal, v.40, p.9 27, 1997. Staal, A. & Eystein, S. Nn abatttoir-based case control study of risk factors for mycobacteriosis in Norwegian swine. Prev. Vet. Med., v.15, p.253 259, 1993. Songer J.G.; Bicknell, E.J., Thoen, C.O. Epidemiological investigation of swine tuberculosis in Arizona. Can. J. Comp.Med. v.44, p.115 120, 1980. 107