Qualidade Social na Educação Básica e Diversidade: os desafios para enfrentar as desigualdades

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Transcrição:

Qualidade Social na Educação Básica e Diversidade: os desafios para enfrentar as desigualdades Elizabete Ramos Centro de Cultura Luiz Freire Recife, maio 2008

1- Qualidade: um conceito em disputa Históricamente... Qualidade para poucos (de 1930 a 1950) Qualidade versus Quantidade (ditadura militar) Qualidade como eficiência (anos 80, 90) Qualidade para todos (Constituição 88, Declaração de Educação para Todos...) Qualidade Social- No final década de 90, nos setores da esquerda, surge o conceito de Qualidade Social da educação, baseado no debate qualidade versus eqüidade, afirmando que não há qualidade baseada em critérios democráticos que represente a exclusão.

Qualidade numa perspectiva democrática Qualidade para todos. Acesso e acessibilidade Eficiência: qualidade que não seja só para poucos. Qual é o patamar mínimo, digno de respeito, de direitos, para uma educação humanista, não-sexista, não-racista, tolerante e estendida a todos? Como é essa educação de qualidade? O que ela deve desenvolver nos alunos? Como se relaciona com os projetos de sociedade, com valores humanos, com a solidariedade? Como incorporar as questões de grupos que tratam de identidades, de diferenças, diversidades? Como incorporar a questão da diversidade, das diferenças, da inclusão? Quem e como se define essa qualidade? Como revitalizar, aprimorar, fortalecer e politizar os espaços, processos e as institucionalidades participativas de educação para que garantam o controle cidadão e a influência efetiva da sociedade civil na definição de políticas educacionais na perspectiva do direito?

Algumas referências de qualidade educacional da Campanha Nac.pelo Direito à Educação e o Centro de Cultura Luiz Freire um processo que gere sujeitos de direitos, de aprendizagem e de conhecimento, sujeitos de vida plena; Comprometida com a inclusão cultural e social, com uma melhor qualidade de vida no cotidiano, o respeito à diversidade, o avanço da sustentabilidade ambiental e da democracia e a consolidação do Estado de Direito; Que exige o reconhecimento das diversidades culturais, sociais e políticas Que reconhece e enfrenta as desigualdades sociais em educação, contextualizadas no conjunto das políticas sociais e econômicas do país; Se referencia nas necessidades, nos contextos e nos desafios do desenvolvimento de uma região, de um país, de uma localidade; Está indissociada da garantia do acesso ao direito à educação; Exige investimentos financeiros a longo prazo; Se aprimora por meio da participação social e política, garantida por uma institucionalidade e processos participativos e democráticos que independem da vontade do gestor/a em exercício.

2-Brasil, diversidade e desigualdade: acesso e idade 120 100 80 60 B rasil: taxa de ate ndime nto de 0 a 24 anos (2000) 96 83 61 40 20 0 9,4 Até 3 a n o s 4 a 6 a n o s 7 a 1 4 a n o s 1 5 a 1 7 anos 15 1 8 a 2 4 anos

Brasil: diversidade e desigualdade: acesso na educação infantil /idade, renda e região Fonte CDES-Observatório de Equidade/2007 Creche 0 a 3anos Pre escola 4 a 6 anos Preta/parda 11,6% 60,6% branca 14,5% 65,3% Rural / Urbana Região 20%+pobre / 20%+ricos 4,6% 15,2 % 5,8% N 16,1% S 8,6 % / 27,6% 44,5% / 67,5% 49,1% S 70,9% NE 52,2% / 85,7% Total Brasil 13% 63%

Brasil, diversidade e desigualdade: os desafios da qualidade

Pub. Br Pub. N Pub. NE Pub. SE Pub. S Pub. CO Brasil, diversidade e desigualdade: os desafios da qualidade Gr áfico 3.21 Re cu r s o s e xis te n te s n as p r é -e s co las p o r r e g ião e tip o d e in s titu ição 2003 (% d o to tal d e e s tab e le cim e n to s ) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Bibliotec a Parque Quadra Sanitário adequado

% de alunos atendidos Brasil, diversidade e desigualdade: os desafios da qualidade Infra-estrutura das escolas de E. Fundamental 120 100 80 60 40 20 E Elétrica Biblioteca L Cienc L Info Qd Esp Internet 0 Brasil Pub Brasil Priv Ne Pub Ne Priv Sul Pub Sul Priv

Brasil e os desafios da acessibilidade nas Escolas Públicas com Educação Básica Fonte: MEC, Ed.Especial-2006 Nordeste Sudeste Esc.Públicas c/ Educação Básica Esc.Públicas c/sanitários Adequados aos alunos com N.E.E Esc.Públicas c/dependên cias e Vias Adequadas aos alunos com N.E.E. 74.656 100% 40.802 100% 2.366 3,17% 5.379 13,18% 1.801 2,41% 3.408 8,35%

Brasil e os desafios da qualidade: Condições de Informática nas escolas de educação básica com alunos na educação especial em classes comuns (inclusão), por região em 2006 Fonte: MEC, Ed.Especial/2006 Nordeste Sudeste Escolas com Computadores Escolas com Laboratórios de Informática Escolas com Acesso à Internet 32% 85,4% 11,5% 45,6% 13% 61,8%

Brasil: Total 14,4 milhões Brasil e os desafios da equidade: Analfabetismo Fonte: MEC, Diagnóstico EJA para Confitea-2006 Percentual da pop. por região Números Nordeste 20,7% 7,6 mi Norte 11,3% 1,1 mi Centro Oeste 8,3% 0,8 mi Sudeste 6,0% 3,7 mi Sul 5,7% 1,2 mi

Brasil e os desafios da equidade: anos de escolaridade brancos e negros EDUCAÇÃO: Os brasileiros estudam em média 5,3 anos 6,2 Anos 4,2 Anos Negros Brancos

A Escola e as diversidades A escola brasileira é de tradição monocultural, quando se caracteriza como eurocêntrica, branca, ocidental, cristã e sexista. Historicamente, reduziu o conhecimento e a cultura ao experimento, à prova analítica, demonstrativa, unificadora, totalizante e totalitária onde outras formas de explicação são desprestigiadas e entendidas como não científicas. Assim, os saberes das sociedades ditas primitivas foram desconsiderados, havendo um verdadeiro epistemicídio. No que se refere aos processos organizativos e pedagógicos, o que temos visto é que têm servido como instrumento de homogeneização e de assimilação à cultura dominante. Esse modelo de escola excluiu e marginalizou outras formas de racionalidades, de concepções, de saberes, de filosofias. Assim, as minorias culturais e sociais foram marginalizadas e seus saberes excluídos dos processos de produção do conhecimento.

A Escola e as diversidades É preciso construir escolas brasileiras, plurais, diversas, multiculturais, que respeitem as diversidades. Existem outras formas de olhar a escola que devem ser pensadas, para garantir uma política pública de educação escolar para o respeito às diversidades: é preciso olhar a escola nacional, como modelo implementado pelo Estado. Mesmo com os PCN pautando a obrigatoriedade de se tratar de outras referências culturais, a história, os conhecimentos e as práticas dos povos e comunidades, a escola continua, cotidianamente introjetando e reproduzindo referenciais monoculturais; muito embora cada escola deva ter o seu projeto político-pedagógico, orientado por diretrizes nacionais e respeitando-se a diversidade e especificidade de cada local, a escola continua, de modo geral, conteudista e bancária e reproduzindo valores, conhecimentos e pontos de vistas únicos das tradições hegemônicas nas disciplinas, no formato da sua prática educativa e na sua relação com a sociedade.

A Escola e as diversidades étnico e racial, Um outro ponto é a negação oficial das identidades pelas escolas, que violenta a própria construção das subjetividades. Para a escola respeitar os direitos humanos e a diversidade cultural do país, em todas as suas formas e matizes, tem que se permitir mudar os padrões de funcionamento, diversificando sua cultura, estabelecendo outras bases para o desenvolvimento dos conteúdos curriculares, fugindo à homogeneização, considerando histórias e saberes de outras sociedades. É fundamental combater o racismo institucional nas escolas, consolidando e ampliando de políticas afirmativas, como políticas públicas, a exemplo da política de cotas, das diretrizes nacionais curriculares e da Lei 10.639/2003 hoje Lei 11.645/2008, uma vitória dos movimentos negros, mas que é ainda preciso zelar pela sua implementação, bem como investir na formação de educadores, na revisão dos livros didáticos e produção de novos materiais, construídos em parceria com os movimentos.

A Escola e as diversidades étnico e racial, É fundamental também a construção de políticas públicas que garantam a implementação de escolas específicas e interculturais em territórios indígenas e quilombolas. Como exemplo as organizações indígenas em suas lutas, que têm conseguido elaborar programas educacionais diferenciados para as diversas etnias, garantindo uma legislação escolar específica, diferenciada e intercultural, estabelecendo princípios e critérios para formar professores, problematizando sobre os saberes e as bases epistemológicas que devem fundamentar o tipo de escola. Atualmente, algumas comunidades quilombolas começam também a discutir a perspectiva da escola a partir de seus referenciais culturais, e a pensar qual a escola que seu povo quer construir.

Escola e diversidades Além das diversidades étnico-raciais, existem outras diversidades que também são excluídas e marginalizadas: diversidades de gênero, orientação sexual, estética, de habilidades físicas e mentais, de geração, crenças, entre outras diferenças. A escola nacional, tem de pautar a ética nas relações sociais e comportamento x direitos humanos, não como disciplina ou conteúdo curricular, mas sim como prática cotidiana. A discussão em torno da problemática da convivência, do respeito com o/a diferente, não é simples e ainda está longe de consensos. É também um desafio para educadores e educadoras, seres humanos portadores e reprodutores da cultura dominante, o enfrentamento e a desconstrução, primeiro em si mesmos/as, para colaborar com a construção dessa escola que respeite às diferenças culturais.

Políticas de Qualidade e diversidades e Financiamento É preciso a construção de Políticas educacionais que se preocupem com as especificidades, com as diferenças, orientadas para o compromisso com a democracia, os direitos humanos e a liberdade, que assuma a pluralidade de Razões, de Lógicas, de Perspectivas, de Formas de vida; Onde as diferenças não sejam tratadas como desigualdades e que se compreenda a desigualdade sempre como produto da história, da cultura, do poder e da ideologia. Políticas para fazer da Qualidade na Educação Básica um direito de todos e todas, construída com mais envolvimento da sociedade e densidade nos diagnósticos e propostas. Que promova uma aproximação dos temas Qualidade, Diversidade com o Financiamento e Legislação educacional, que tratam da viabilidade prática das propostas e das estratégias políticas para efetivá-las.

Educação e Projeto de Sociedade Aprendendo com os povos indígenas, que na última década têm exercido reflexões sobre a função social da escola em relação aos projetos de sociedade de seus povos... têm reelaborado o papel da escola, que por muito tempo serviu de instrumento de dominação, exploração, assimilação, aculturação, etc... e, reconstruído seus modelos de gestão, seus mitos, seus heróis, conteúdos e calendários... Numa visão crítica da escola, como espaço de disputa, de luta de projetos, de poder, onde a escola não serve só à cultura dominante e os povos indígenas têm demonstrado isso. Colocam a instituição escolar no seu devido lugar, que é o da cultura, e, como tal, pode e deve ser transformada, recriada, reelaborada, redefinida e colocada a serviço dos Projetos de Sociedades dos povos.

Qualidade Social na Educação Básica e Diversidade: desafios para enfrentar as desigualdades Seminário Qualidade Social da Educação Básica Fórum de Gestão em Políticas Públicas de Educação Elizabete Ramos, com contribuições de Cida Fernandez, Delma Silva e Eliene Amorim E Campanha Nacional pelo Direito à Educação Centro de Cultura Luiz Freire www.cclf.org.br www.campanhaeducacao.net Recife, maio 2008