Taxa de juros: um estudo no comércio de bens de consumo duráveis



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Transcrição:

Taxa de juros: um estudo no comércio de bens de consumo duráveis Jonas Rigodanzo (UFSM) jonasrigodanzo@yahoo.com.br Camila Avozani Zago (UFSM) avozani@terra.com.br Denis Rasquin Rabenschlag (UFSM) denis@ct.ufsm.br Resumo Este artigo tem por objetivo verificar e mostrar o real valor das taxas de juros cobradas no comércio varejista de eletrodomésticos, e sugere alternativas para escapar dos abusivos juros cobrados na venda de bens de consumo duráveis. Para isso, questiona o comportamento do consumidor em relação às compras a prazo, uma vez que esse, mesmo pagando um preço elevado, prefere a compra a prazo. Como unidade de análise elenca-se cinco lojas situadas em uma cidade de porte médio, no interior do Rio Grande do Sul, sendo efetuada um entrevista in loco com membros das respectivas lojas. Através deste estudo pôdese verificar, por meio da análise da taxa de juros, que o anúncio de juro zero é irreal, uma vez que os comerciantes arbitram, no preço à vista, a taxa a ser cobrada, ou seja, estão vendendo o bem de consumo e o crédito. Palavras chave: Taxa de juros; Prazo de pagamentos; Compras. 1. Introdução As compras a prazo, apesar dos acréscimos, superam as compras à vista, e isso instiga o questionamento por quê?. Sabe-se que os juros, na compra a prazo, são exorbitantes, por mais que os anúncios divulguem juro zero. Oliveira (2006) afirma que não existe venda a prazo sem juros, portanto, surge como objetivo de pesquisa mostrar que os verdadeiros juros são superiores aos informados e anunciados pelas lojas. Para obtenção do real valor monetário dos bens, será analisado o juro no eletrodoméstico TV, subdividindo em duas categorias 14 e 29 polegadas, em um município de porte médio do interior do Rio Grande do Sul. Neste artigo, caracterizado como exploratório, no qual se assume uma perspectiva crítica de análise sobre o tema proposto, discorrer-se-á sobre a taxa de juros cobrada na aquisição de bens de consumo a prazo. Ressalta-se a importância do estudo, uma vez que enfatiza conceitos discutidos no âmbito econômico, político e social, que afeta o consumidor, buscando uma possível solução, ou pelo menos minimização dos prejuízos para os consumidores. 2. Taxa de juros e o ambiente concorrencial Com o aumento da competitividade, os avanços tecnológicos e a instalação de novas agências bancárias, aumenta a similaridade no preço de produtos e serviços, e os consumidores não estão mais dispostos a pagar um preço diferenciado por uma marca, produto ou serviço, sem que esse ofereça benefícios superiores aos demais. Weilbacher (1994, p.15) afirma que, como a maioria das marcas dentro de uma categoria de produto são agora muito parecidas, o profissional de marketing não consegue mais controlar os preços pagos pelos consumidores pelas marcas que são oferecidas e faz sua escolha em outras ações. Na ótica de Tucker (1999, p.19), o líder em preços baixos está sempre sujeito a alguém, em algum lugar, oferecer o produto por alguns centavos a menos. Porém, não significa que os consumidores estejam apenas interessados no preço de determinado produto ou serviço, mas 1

nas condições de pagamento, no valor agregado ao mesmo, enfim, em adquirir um produto ou serviço que satisfaça suas exigências. Lovelock (1995) aponta custos-chave que os clientes podem incorrer ao comprar e usar bens e serviços: (i) tempo; (ii) esforço físico envolvido na utilização de bens e serviços; (iii) custos psicológicos, por vezes ligados ao uso de bens e serviços específicos; (iv) custos sensoriais, que são experimentados fisicamente pelos clientes. Na aquisição de um produto ou serviço a prazo, normalmente, o consumidor incorre em juros sobre o preço à vista. A taxa de juros cobrada por instituições financeiras e pelo varejo integra o rol de operações financeiras efetuadas pela engenharia econômica, buscando identificar quais são os investimentos mais rentáveis em determinado período. Segundo Veras (2001, p. 53), os juros são o custo de capital durante determinado período de tempo, portanto as taxas consistem na unidade de medida dos juros [...] correspondem à remuneração paga pelo uso, durante determinado período de tempo. Segundo Brealey e Myers (1998, p. 12), [...] taxa de rentabilidade é muitas vezes designada por taxa de atualização, taxa mínima de rentabilidade ou custo de oportunidade de capital. É chamado de custo de oportunidade, pois representa a rentabilidade devida ao investimento no projeto que deixa de ser ganha através de uma aplicação em títulos. A taxa básica de juros indica com exatidão o custo de captação de dinheiro no tempo. Portanto, pode-se calcular a taxa de juros, cobrada pelas instituições financeiras, ou pelas empresas pertencentes ao varejo, através da fórmula abaixo, tendo como dados de entrada o valor presente (P), a série uniforme com valor da parcela (A), o número de períodos ou número de parcelas (n) e busca-se, como incógnita, a taxa de juros (i). P = A ( 1+ i) n 1 n i(1 + i) Fonte: Casarotto e Kopittke (2000, p. 33) Fórmula para cálculo da taxa de juros Pode-se chegar aos mesmos resultados utilizando uma calculadora financeira, como pode ser visto em Puccini (1999). Entretanto, muitos indivíduos ignoram as implicações dos juros nas decisões financeiras, incorrendo em custos e preços elevados, verificando apenas as condições de pagamento. 3. Procedimentos metodológicos O presente trabalho refere-se a um estudo das taxas de juros praticadas pelo varejo de eletrodomésticos em uma cidade de porte médio, no interior do Rio Grande do Sul. Para escolha das organizações considerou-se o ramo de atividade, bem como a comercialização do bem de consumo escolhido (TV), dessa forma foram elencadas cinco empresas. Além disso, a escolha pelo produto a ser analisado, TV de 14 e 29 polegadas, deve-se ao fato de ser um bem de consumo durável, presente na maioria das residências. A metodologia de pesquisa utilizada constituiu-se em uma investigação exploratória, que, segundo Oliveira (1999), enfatiza as descobertas e práticas ou diretrizes que precisam modificar-se na elaboração de alternativas. A técnica utilizada para pesquisa foi entrevista semi-estruturada com os membros das lojas de eletrodomésticos, na qual foi utilizado um roteiro pré-estabelecido. Na primeira fase da pesquisa foi realizada coleta de dados secundários através de pesquisa documental e bibliográfica, que segundo Lakatos e Marconi (2003), a pesquisa bibliográfica 2

propicia o exame de um tema sob um novo enfoque ou abordagem. Na segunda fase da pesquisa foi realizada a coleta de dados primários através de pesquisa de campo e entrevistas in loco, através das quais dividiu-se os consumidores em duas classes sociais: Classe AB (consumidores da classe A e da classe B) e Classe CDE (consumidores das classes C, D e E). Na apreciação e análise dos dados foram utilizados instrumentos descritivos associados a mecanismos derivados da lógica da matemática, aliados à cálculos utilizando a fórmula supracitada, efetuando críticas às afirmações expostas no início do estudo, sendo essas concernentes às características do mesmo. 4. Motivos que impulsionaram a compra a prazo Os consumidores são impulsionados à aquisição de determinados produtos ou serviços. Dessa forma, com base na percepção dos autores deste estudo, identificaram-se alguns motivos pelos quais os consumidores compram a prazo, em detrimento da compra à vista. Os argumentos que seguem consistem em situações as quais justificam a opção pela forma de pagamento, por parte dos consumidores, sendo esses argumentos os motivadores deste estudo: Necessidade de obter um bem: o julgamento desse argumento é de difícil mensuração, uma vez que se trata de uma necessidade urgente, em um momento em que o consumidor não possui recursos monetários suficientes para aquisição do bem, sendo esse de grande utilidade, não havendo outra opção, além da compra a prazo. Satisfação imediata de possuir o bem: o consumidor, movido pela necessidade latente de possuir determinado bem, o adquire. Consiste em oportunidade para que os profissionais de marketing atuem instigando o consumidor a buscar algo anteriormente não necessário. Dessa forma, o consumidor não analisa as opções de compra, move-se apenas pelo instinto e valorização do ego. Dificuldade de economizar: o fator impulsionador, nesse caso, provém, principalmente, da cultura e de fatores históricos do consumidor. Vive-se em um mundo consumista, no qual as empresas se utilizam de mecanismos para atrair a atenção do consumidor, o que dificulta o acúmulo de dinheiro para investimentos futuros. Acreditar que está realizando um bom negócio: o consumidor é movido pelo anúncio, efetuado por muitas lojas, de produtos a prazo com preços à vista, sendo que os juros estão embutidos no preço anunciado. Tal política ilude o consumidor, uma vez que esse acredita estar efetuando um bom negócio, além disso, algumas lojas extinguem a possibilidade de descontos na compra efetuada à vista, como ocorre com aparelhos celulares. Pagamento diluído, não representando um gasto excessivo: mesmo cientes das desvantagens da compra a prazo, muitos consumidores preferem pagar a prazo porque o pagamento é diluído em diversas parcelas, fazendo com que o mesmo não se torne demasiado ao consumidor. O principal fator que impulsiona a compra à vista, ou a prazo, é o valor monetário que o consumidor possui no ato de aquisição do bem, aliado à renda mensal do mesmo. Esses são fatores determinantes da forma de pagamento dos produtos ou serviços adquiridos pelos consumidores, principalmente quando o bem possui um maior valor agregado e monetário. Os consumidores, na condição de eternos insatisfeitos, são consumistas. Em virtude disso, imobilizam toda sua renda mensal com pagamento de parcelas advindas da compra a prazo, estando sempre dispostos a adquirir novos bens e, conseqüentemente, novas prestações. Com a política de venda a prazo, facilitando as condições de pagamento aos consumidores, as 3

lojas aumentam seu volume de vendas, obtendo rentabilidade superior, uma vez que as mesmas negociam valores monetários, ou seja, auferem renda tanto com a venda de imobilizado quanto com a moeda corrente. Percebe-se que a loja, além de vender o bem, consegue ganhar mais vendendo a prazo, pois além de obter lucro sobre o bem real, ganha juros sobre o financiamento. 5. Análise dos dados Com base nos dados coletados, através do instrumento de pesquisa, foi possível verificar a real taxa de juros cobrada, na compra a prazo, pelas lojas comerciantes de eletrodomésticos, bem como o perfil do consumidor que efetua a compra parcelada. A análise dos resultados encontra-se subdividida em duas partes: perfil dos consumidores que efetuam a compra a prazo, envolvendo as variáveis compra a prazo de acordo com a Classe Social, número de parcelas e solicitação de descontos; forma de pagamento, e real taxa de juros utilizadas pelas lojas pesquisadas. 5.1 Perfil dos consumidores em relação à forma de pagamento Os consumidores foram subdivididos em Classe Social AB e CDE, de acordo com o poder aquisitivo, na qual baseou-se na descrição do Critério Brasil (ABEP, 2003). Considera-se consumidores que possuem renda média familiar até R$ 924 (novecentos e vinte e quatro reais) pertencentes à classe CDE, e a partir de R$ 925 (novecentos e vinte e cinco reais) considera-se Classe AB. Dessa forma, constatou-se que os consumidores pertencem, em sua maioria (70%) a Classe Social CDE, e uma minoria (30%) à Classe AB. De acordo com o Quadro 1, pode-se perceber que, os consumidores pertencentes à Classe AB adquirem seus bens em até 50% das vezes a prazo, variando em cada loja pesquisada, ou seja, cerca de 3% das vendas efetuadas pela loja A para consumidores de Classe AB são a prazo, assim sucessivamente para as demais lojas (10%, 20%, 30% e 50%). Enquanto que na Classe CDE as aquisições variam de 60% a 100% a prazo (60%, 80%, 90%, 90% e 100% respectivamente), sendo nítido que essa Classe prioriza a compra a prazo. CLASSE VENDA A PRAZO NAS LOJAS PESQUISADAS SOCIAL A B C D E AB 3% 10% 20% 30% 50% CDE 60% 80% 90% 90% 100% Fonte: Pesquisa Tabela 1 Percentual de compra a prazo de acordo com a classe social No que diz respeito à opção pelo número de parcelas que o consumidor prefere pagar na compra a prazo, assim como a compra ser com ou sem entrada, varia de acordo com a política da loja. Entretanto, a Classe AB procura efetuar suas compras em um número reduzido de parcelas, enquanto a Classe CDE geralmente utiliza o máximo de parcelas oferecidas pela loja, em geral o dobro de vezes em relação ao da Classe AB. Além disso, são os consumidores pertencentes a Classe AB que solicitam mais desconto, perfazendo um total que varia de 70% a 100% dos consumidores dessa Classe, enquanto os clientes da Classe CDE são uma minoria (menos de 10%). Esse percentual, reduzido, devese ao fato da maioria das compras efetuadas, pela Classe CDE, serem a prazo, havendo receio em solicitar o desconto, pois nessa política de venda o mesmo não é concedido. 5.2 Forma de pagamento e taxa de juros A forma de pagamento diz respeito à compra à vista ou a prazo. Percebe-se que, o desconto concedido, no pagamento à vista varia de 5% até 12% sobre o valor anunciado como à vista, 4

isso em produtos de maior valor monetário. Enquanto no prazo, poderia não haver desconto, ou um desconto de no máximo 6%, dependendo da política da loja comerciante. Nos produtos de menor valor monetário (mais barato), no pagamento à vista, poderia não ser concedido desconto, como o mesmo poderia variar de 3% até 6%, enquanto na venda a prazo o desconto não é concedido. Os consumidores pertencentes à Classe CDE, visam o maior prazo de pagamento, ignorando os juros cobrados, porém, os consumidores da Classe AB evitam a compra a prazo, uma vez que consideram o montante final a ser pago na aquisição de um bem a prazo. Dessa forma, privilegiam a compra a prazo somente em algumas ocasiões, como ao efetuar uma compra combinada (vários itens), mesmo assim, solicita um desconto, uma vez que possui conhecimento a respeito dos juros cobrados, efetuando uma melhor negociação. Os consumidores da Classe AB buscam formas de minimizar os efeitos dos juros atribuídos à compra a prazo, solicitando descontos, efetuando compras combinadas, aguardando promoções, entre outras formas de economizar. Os consumidores da Classe CDE compram, na sua maioria, a prazo, principalmente os produtos mais baratos, de menor valor monetário, recebendo raramente desconto quando solicitado, tendo em vista que os custos de manutenção e crediário são elevados em relação ao preço cobrado pelo produto. Percebe-se que os consumidores que possuem dinheiro para pagar à vista, negociam desconto e prazo de pagamento, pagando menos pelo produto adquirido, caso contrário paga-se mais caro. Com base na fórmula supramencionada, técnicas de engenharia econômica, e calculadora financeira calculou-se o juro real envolvido nas transações comerciais das lojas pesquisadas. Para isso considerou-se um bem durável, subdividido em duas categorias 29 (polegadas) e outra de 14 (polegadas) de uma mesma marca, a fim de identificar as taxas de juros cobradas para esse produto, o que pode ser visualizado no anexo. Destaca-se a política de vendas diferenciada de cada loja, o que dificulta a padronização da pesquisa. Comparando as lojas B e C, conforme pode ser visualizado nos cálculos que seguem, percebese que a segunda oferece a TV de 29 à vista a um preço inferior a seus concorrentes, enquanto, a primeira não proporciona desconto, na compra à vista, ao consumidor quando o mesmo é solicitado, dando uma ilusão de que a mesma tenha juros menores que seus concorrentes. Como exemplo, trabalhar-se-á com a aquisição da TV 29, em cinco vezes com entrada ( uma mais quatro): 5

Cálculo de juros na loja B; P = A ( P/A, i, n) 1599,00 359,70 = 359,70 (P/A, i, 4) 1239,30 = 359,70 (P/A, i, 4) i = 6,25% Cálculo de juros da loja C; P = A ( P/A, i, n) 1599,00 312,00 = 312,00 (P/A, i, 4) 1247,00 = 312,00 (P/A, i, 4) i = 0,032% 6

Cálculo de juros da loja C, com o desconto à vista a mais fornecido devido a solicitação do consumidor; P = A ( P/A, i, n) 1372,00 312,00 = 312,00 (P/A, i, 4) 1060,00 = 312,00 (P/A, i, 4) i = 6,87% Supondo que a loja B desse um desconto à vista igual a seu concorrente, a loja C, e mantendo o valor das prestações no crédito. P = A ( P/A, i, n) 1372,00 359,70 = 359,70 (P/A, i, 4) 1012,30 = 359,70 (P/A, i, 4) i = 15,71% 7

O motivo dessa diferença entre os descontos fornecidos, ou não, pelas lojas, pode ser proveniente desde um possível problema de fluxo de caixa, estoque excessivo, e ou divergências nas estratégias de vendas (obter lucro com a quantidade vendida, mesmo com margem menor), fazendo com que os preços fossem menores que os da concorrência. Entretanto, pode-se pensar o oposto, por que as demais lojas têm preços maiores, principalmente no que se refere aos valores das prestações. Portanto, muitas lojas, como a B, preferem vender a prazo, não concedendo desconto na venda à vista, assim, além de vender o bem, estará vendendo o crédito, e consequentemente auferindo lucro com o pagamento de juros. Ao comparar os valores da venda à vista, nas lojas B e C, tomando por base o menor valor monetário oferecido na venda à vista (R$ 1.372,00 da loja C), com as maiores prestações (R$ 359,70 da loja B), observa-se valores de juros extremamente elevados que chegariam a 15,71% a.m. Além disso, conforme as tabelas em anexo, verifica-se que o desconto divulgado pelas lojas, na venda à vista, geralmente, é inferior ao desconto que pode ser concedido pelas mesmas, caso solicitado pelo cliente, na venda a prazo o desconto não é concedido. Na loja D, por exemplo, o preço anunciado para TV 29 era de R$ 1.599,00, no entanto, com o desconto na compra à vista, o preço a ser pago é de R$ 1.500,00, portanto, o juro anunciado, para pagamento em cinco parcelas era de 4,41%, porém, constatou-se que a taxa de juro real é de 8,02%. Observa-se que, antes do pedido maior de desconto no preço à vista, ocorre um sutil aumento dos juros cobrados, por conseguinte, o mesmo ocorre quando aumenta o número de parcelas de pagamento, diferindo também a taxa de juros cobrada para o produto de maior e menor valor monetário. Após a solicitação de desconto por parte do consumidor, percebe-se que os juros convergem a uma mesma taxa em cada loja, ocorrendo uma similaridade de valores entre as lojas. Dessa forma, é possível perceber, através dos cálculos realizados, que o juro zero, como o anunciado nas lojas, não existe. 6. Afinal, por que a prazo? Após a análise do perfil dos consumidores em relação à forma de pagamento, bem como a real taxa de juros cobrada pelo varejo de eletrodomésticos, torna-se possível responder e complementar as indagações iniciais, a respeito dos motivos impulsionadores da compra a prazo, buscando entender por que as pessoas privilegiam a compra a prazo. Além disso, procura-se propor alternativas para não incorrer em elevados juros na aquisição dos bens. Primeira: necessidade de obter um bem. Nesse caso o consumidor não possui outra opção, a não ser a aquisição do produto ou serviço. Caso não seja possível conseguir um empréstimo, com juros menores aos estipulados pela loja, deve-se pesquisar e calcular os juros a serem pagos e optar pelas menores taxas. Segunda: satisfação imediata de possuir o bem. Nesse caso, surgem novos questionamentos - quanto vale essa satisfação? O consumidor está disposto a pagar juros exorbitantes para reafirmar seu ego? A melhor solução é conter os impulsos, os quais são reforçados pelas atividades de marketing. Dessa forma, o consumidor deve efetuar uma compra comparada, buscando novas opções de compra, com preços mais baixos. Terceira: dificuldade de economizar. Em um mundo consumista, as pessoas são doutrinadas a pensarem somente no presente, havendo dificuldade de pensar a longo prazo, e poupar o dinheiro para um infortúnio, um imprevisto, ou mesmo para a aquisição de um bem de maior valor monetário. Em face ao exposto, torna-se adequado resguardar uma parcela do dinheiro recebido sem um propósito imediato, pois com o tempo perceber-se-á o real benefício de investimentos a longo prazo. Isso possibilitará ao investidor realizar bons 8

negócios, conseguindo descontos na compra à vista de um bem. Quarta: acreditar que está realizando um bom negócio. Essa consiste em uma das maiores ilusões do consumidor, uma vez que não existe compra a prazo sem juros. Geralmente, quando é anunciado sem juros, na realidade, o juro embutido é ainda maior do que quando o mesmo é anunciado, tendo em vista que o comerciante estará obtendo rendimentos duplamente. Na maioria das vezes (como na loja B), a loja procura vender preço, iludindo o comprador com o slogan diversas vezes sem juros. Nesses casos, o consumidor deve negociar o valor do bem, pesquisando os melhores métodos de garantir um bom negócio. Quinta: pagamento diluído, não representando um gasto excessivo. Nesse caso, o sentimento de perda imediata obscurece o verdadeiro sentido do prejuízo financeiro na compra a prazo. É possível, através da poupança, adquirir um maior número de itens com menos dinheiro, para isso, deve-se evitar os juros, privilegiando a compra à vista, com desconto. Dessa forma, pode-se investir em aplicações financeiras para comprar o bem futuramente, tendo em vista que as poupanças rendem de 5 à 15 vezes menos que os juros pagos na compra a prazo. 7. Considerações finais Após a análise dos dados, e das afirmações iniciais, percebe-se que as taxas de juros são realmente extorsivas, tendo em vista que a taxa anunciada pelas lojas não condiz com a real taxa de juros cobrada pelas mesmas. Verificou-se, na loja D, que a taxa de juro anunciada para TV 29, no pagamento em cinco parcelas, era de 4,41%, no entanto, a real taxa de juros cobrada é de 8,02%, considerando os descontos concedidos na compra à vista. Também é possível perceber a tendência das lojas em ganhar dinheiro duas vezes: com a venda do bem e a venda do dinheiro (ou financiamento com taxas elevadas). Em face ao exposto, reafirma-se que o pagamento à vista é mais benéfico, para a situação financeira do consumidor, que o pagamento a prazo. Entretanto, o que se percebe é um enorme volume de compras a prazo em relação ao à vista, fazendo com que o financiamento de bens de consumo seja um excelente negócio. Porém, a culpa dos juros altos, não é exclusiva dos agentes financiadores, mas da política econômica adotada pelo Estado, que oportuniza essa lucrativa forma de auferir renda. A alta taxa de juros pagos pelo consumidor não pode ser justificada, o mesmo deve estar ciente dos juros cobrados, iniciando a mudança, uma vez que esse é o principal prejudicado com os juros abusivos cobrados. Logo, o consumidor consciente deve sempre se questionar: Por que a prazo? Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE PESQUISA. Critério de classificação econômica Brasil. Disponível em: <http://www.abep.org/codigosguias/abep_cceb.pdf.>acesso em: 14 mar. 2006. BREALEY, R. A. & MYERS, S. C. Princípios de Finanças Empresariais. 5. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 1998. CASAROTTO, N. & KOPITTKE, B. H. Análise de Investimentos. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2000. LAKATOS, E. M. & MARCONI, M. de A. Metodologia do Trabalho Científico: Procedimentos Básicos, Pesquisas Bibliográfica,Projeto e Relatório, Publicações e Trabalhos Científicos. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. LOVELOCK, C. Product Plus: Produto + Serviço = Vantagem Competitiva. São Paulo: Makron Books, 1995. OLIVEIRA, S. L. Tratado de Metodologia Científica: Projetos de Pesquisas, TGI, TCC, Monografias, Dissertações e Teses. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 1999. 9

OLIVEIRA, M. J. R. A Armadilha do Crediário. Disponível em:<http://www.vidaeconomica.com.br/gui.htm>. Acesso em: 14 mar. 2006. PUCCINI, A. L. Matemática Financeira Objetiva e Aplicada. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. TUCKER, R. B. Agregando Valor ao seu Cliente. São Paulo: Makron Books, 1997. VERAS, L. L. Matemática Financeira: Uso de Calculadoras Financeiras, Aplicações ao Mercado Financeiro, Introdução à Engenharia Econômica, 300 Exercícios Resolvidos e Propostos com Respostas. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2001. WEILBACHER, W. M. Marketing de Marcas. São Paulo: Makron Books, 1994. 10

ANEXO Loja A Loja B Produto À Nº de Valor Juro Juro À Nº Valor Juro Juro real Base vista vezes prestação loja real Base vista vezes prestação loja 12X 188 4,66% 6,93% 5 359,70 6,25% 6,25% TV 29 1699 1499 1+11X 167 3,16% 5,78% 1599 1599 10 204,05 5,88% 5,88% 15 157,71 6,27% 6,27% 479 445 12X 60 6,90% 8,31% TV 14 1+11X 53 5,63% 7,28% 1+7X 74 6,56% 9,12% Continuação... Loja C Loja D Produto À Nº de Valor Juro Juro À Nº Valor Juro Base vista vezes prestação loja real Base vista vezes prestação loja Juro real 5 312,00 0,03% 6,87% 5 348,00 4,41% 8,02% TV 29 1559 1372 10 195,00 5,36% 8,83% 1599 1500 10 209,00 6,52% 8,27% 15 160,00 7,00% 9,49% 15 168,00 7,44% 8,68% 5 92,00 0,11% 7,52% 5 109,00 6,90% 10,61% TV 14 459 400 10 56,00 4,72% 8,41% 479 450 10 59,00 4,97% 6,60% 15 46,00 6,56% 9,21% 15 50,00 7,32% 8,52% Continuação... Loja E Produto Base À vista Nº de vezes Valor prestação Juro loja Juro real 5 326,00 0,97% 3,66% TV 29 1599 1519 10 210,00 6,65% 8,05% 15 149,00 5,27% 6,18% 5 101,97 8,09% 11,95% TV 14 439 412 10 63,00 9,11% 10,99% 15 48,10 8,25% 9,52% Fonte: Pesquisa Tabela 2 Cálculo da real taxa de juros cobrada Tabela criada a partir da consulta ao comércio, utilizadas para realização dos cálculos, análise e fornecimento de dados para a conclusão. Considerou-se, para análise, o pagamento parcelado com uma entrada no ato da aquisição. Na loja A, não havia pagamento no número de parcelas requeridas. Na loja E não havia a mesma marca, porém a pesquisa foi efetuada com uma marca similar. Na loja B a TV de 14 não era feita parcelada, bem como não era consentido um desconto no pagamento à vista na TV de 29. 11