217 ISSN 1983-0505 Junho, 2009 Belém, PA



Documentos relacionados
ENSAIO COMPARATIVO AVANÇADO DE ARROZ DE VÁRZEAS EM MINAS GERAIS: ANO AGRÍCOLA 2004/2005

Referências Bibliográficas

Rendimento de Grãos de Híbridos Comerciais de Milho nas Regiões Sul, Centro-Sul e Leste Maranhense

Recomendações para o Controle Químico da Mancha Branca do Milho

Aplicação de Nitrogênio em Cobertura no Feijoeiro Irrigado*

AVALIAÇÃO DE ACESSOS DE MANDIOCA DE MESA EM PARACATU-MG

Graviola: Nutrição, calagem e adubação 36. Apresentação. Objetivo

AVALIAÇÃO DE GENÓTIPOS DE ALGODÃO NO CERRADO DA BAHIA, SAFRA 2008/09. 1 INTRODUÇÃO

Pesquisas em Andamento pelas Fundações e Embrapa sobre os Temas Indicados pelo Fórum do Ano Passado

CALAGEM PARA O FEIJÃO-CAUPI [Vigna unguiculata (L.) WALP], CV. BR3 TRACUATEUA, EM SOLO ÁCIDO DE SALVATERRA, MARAJÓ, PARÁ

V Semana de Ciência e Tecnologia IFMG - campus Bambuí V Jornada Científica 19 a 24 de novembro de 2012

PRODUTIVIDADE DO FEIJOEIRO COMUM EM FUNÇÃO DA SATURAÇÃO POR BASES DO SOLO E DA GESSAGEM. Acadêmico PVIC/UEG do Curso de Agronomia, UnU Ipameri - UEG.

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

RELATÓRIO TÉCNICO. Avaliação do comportamento de HÍBRIDOS DE MILHO semeados em 3 épocas na região Parecis de Mato Grosso.

Influência do Espaçamento de Plantio de Milho na Produtividade de Silagem.

150 ISSN Sete Lagoas, MG Dezembro, 2007

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

Há sempre resposta à adubação de manutenção do eucalipto? Um estudo de caso em Porto Velho (RO)

DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS BIOLCHIM NA CULTURA DA MANGA. Bruno Martins Pereira Paulo Henrique S. Santos

EFICIENCIA DE SISTEMAS DE APLICAÇÃO DE VINHAÇA VISANDO ECONOMIA E CONSCIENCIA AMBIENTAL

Estudo da dose de resposta de cobertura (N.K) na cultura do milho safrinha-mt Consultoria Pesquisa Agricultura de Precisão

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO SECRETARIA DE APOIO RURAL E COOPERATIVISMO SERVIÇO NACIONAL DE PROTEÇÃO DE CULTIVARES ANEXO VIII

Desempenho de cultivares e populações de cenoura em cultivo orgânico no Distrito Federal.

ORIENTAÇÕES SOBRE SEGURO, PROAGRO E RENEGOCIAÇÃO DE DÍVIDAS

2.2 - SÃO PAULO, PARANÁ, ESPÍRITO SANTO, BAHIA E RONDÔNIA.

COMPORTAMENTO DE GENÓTIPOS DE FEIJOEIRO AO ATAQUE DE Bemisia tabaci (Genn.) BIÓTIPO B (HEMIPTERA: ALEYRODIDAE)

DESENVOLVIMENTO VEGETATIVO DE MUDAS DE CAFEEIRO SOB DOSES DE CAMA DE FRANGO E ESTERCO BOVINO CURTIDO

10 AVALIAÇÃO DE CULTIVARES DE SOJA

Avaliação da germinação de sementes de fragmentos florestais receptadas em redes visando recomposição da flora local

AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA DE HÍBRIDOS DE MANDIOCA À MANCHA-PARDA, QUEIMA DAS FOLHAS E MANCHA-BRANCA

RELATÓRIO FINAL. AVALIAÇÃO DO PRODUTO CELLERON-SEEDS e CELLERON-FOLHA NA CULTURA DO MILHO CULTIVADO EM SEGUNDA SAFRA

Variedades de Cana-de-Açúcar Pragas e Doenças: Eng. Agr. Gustavo de Almeida Nogueira Canaoeste

Análise da Época de Semeadura do Algodoeiro em Mato Grosso com Base na Precipitação Provável

CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS ATRAVÉS DE HERBICIDAS EM CONDIÇÕES DE SAFRINHA

Palavras-Chave: Tratamento de resíduos sólidos orgânicos; adubo orgânico, sustentabilidade.

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DA RECUPERAÇÃO DE UMA ÁREA DEGRADADA POR EFLUENTE INDUSTRIAL

O uso de pó de rocha fosfática para o desenvolvimento da agricultura familiar no Semi-Árido brasileiro.

ENSAIOS DE ALGODOEIROS DE FIBRAS COLORIDAS NO VALE DO IUIU 1 INTRODUÇÃO

Avaliação da influência de coberturas mortas sobre o desenvolvimento da cultura da alface na região de Fernandópolis- SP.

APLICAÇÃO FOLIAR DE ZINCO NO FEIJOEIRO COM EMPREGO DE DIFERENTES FONTES E DOSES

Ficha de Divulgação n.º 15 /2013. ENSAIO DE PRODUÇÃO DE Sterlitzia reginae PARA FLOR DE CORTE AO AR LIVRE NO ALGARVE

CALAGEM, GESSAGEM E AO MANEJO DA ADUBAÇÃO (SAFRAS 2011 E

Data: ABN. Cafés especiais do Brasil consolidam novos mercados

AMOSTRAGEM DE SOLO PARA AVALIAÇÃO DA FERTILIDADE 1 INTRODUÇÃO

DIAGNOSE FOLIAR NAS CULTURAS DO CAJU E CAQUI. III Simpósio Brasileiro sobre Nutrição de Plantas Aplicada em Sistemas de Alta Produtividade

INFLUÊNCIA DA ADUBAÇÃO ORGÂNICA NOS ATRIBUTOS FÍSICOS DE UM NEOSSOLO QUARTZARÊNICO CULTIVADO COM EUCALIPTO.

Avaliação agronômica de variedades de cana-de-açúcar, cultivadas na região de Bambuí em Minas Gerais

Aregião de Cerrados no Brasil Central, ao longo

Olericultura. A Cultura do Morango. Nome Cultura do Morango Produto Informação Tecnológica Data Janeiro Preço - Linha Olericultura Resenha

A necessidade do profissional em projetos de recuperação de áreas degradadas

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

Produtos - Saúde Pública / Raticidas / Klerat

Responsabilidade Técnica: Setor de Negócios e Mercado - SNM

DEPRESSÃO POR ENDOGAMIA EM DOENÇAS FOLIARES DA MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz)

Biologia floral do meloeiro em função de doses de nitrogênio em ambiente protegido.

DESSECAÇÃO DE BRAQUIÁRIA COM GLYPHOSATE SOB DIFERENTES VOLUMES DE CALDA RESUMO

A biofortificação de cultivos para combater a desnutrição e melhorar a segurança alimentar na América Latina e Caribe.

PRODUÇÃO DE MUDAS PRÉ BROTADAS (MPB) DE CANA-DE-AÇUCAR EM DIFERENTE ESTRATÉGIAS DE IRRIGAÇÃO

RELATÓRIO TÈCNICO. Técnico: João Adolfo Kasper. Período de Viagem:19/06/2005 á 25/06/2005

COMPORTAMENTO GERMINATIVO DE DIFERENTES CULTIVARES DE GIRASSOL SUBMETIDAS NO REGIME DE SEQUEIRO

Utilização de jato de água e ar no controle de cochonilhas farinhentas em videira

MINAS, IDEB E PROVA BRASIL

PROGRAMA FITOSSANITÁRIO DE MATO GROSSO DO SUL RELATÓRIO SEMANAL DE 27 DE JANEIRO A 03 DE FEVEREIRO DE 2014

MELHORAMENTO DE PLANTAS AUTÓGAMAS POR HIBRIDAÇÃO

Biomassa Microbiana em Cultivo de Alface sob Diferentes Adubações Orgânicas e Manejo da Adubação Verde

PRODUÇÃO DE PORTA-ENXERTO DE MANGUEIRA EM SUBSTRATO COMPOSTO POR RESÍDUOS DA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA

Ensino Médio 2º ano classe: Prof. Gustavo Nome: nº. Lista de Exercícios 1ª Lei de Mendel, exceções e Sistema ABO e Rh

PERFIL EMPREENDEDOR DOS APICULTORES DO MUNICIPIO DE PRUDENTÓPOLIS

INFLUÊNCIA DO USO DE ÁGUA RESIDUÁRIA E DOSES DE FÓSFORO NA ÁREA FOLIAR DO PINHÃO MANSO

Protocolo. nº 073/2012 FORMULÁRIO PARA CADASTRO DE PROJETO DE PESQUISA E EXTENSÃO

CIRCULAR TÉCNICA N o 159 JUNHO 1988 PREPARO DE SOLOS EM ÁREAS ACIDENTADAS

ATRATIVIDADE DE CULTIVARES DE FEIJÃO-CAUPI PARA ALIMENTAÇÃO DE MOSCA-BRANCA

MARGENS ESTREITAS PARA O PRODUTOR DE ALGODÃO

MUNDO. -CIAT existe mais de 38 mil genótipos de. Phaseolus vulgaris L.; -Outras coleções: EUA, México e Inglaterra. - Elevado número de cultivares;

CAPÍTULO 1 Introduzindo SIG

Seleção Participativa de Variedades de. Mandioca. na Agricultura Familiar

MANUAL DE VENDAS SEGURO COLHEITA GARANTIDA

QUALIDADE PÓS-COLHEITA DE MAMÃO PAPAIA COMERCIALIZADOS NO MUNICÍPIO DE ARACAJU

COMPORTAMENTO DE HÍBRIDOS EXPERIMENTAIS DE MILHO EM CONDIÇÕES DE ESTRESSES DE SECA

REAJUSTE DE MENSALIDADE INFORMAÇÕES INDISPENSÁVEIS AO CONSUMIDOR

CARACTERÍSTICAS DAS CULTIVARES DE ARROZ IRRIGADO INDICADAS PARA SEMEIO NA SAFRA 2009/10 EM RORAIMA

Panorama Geral da Ovinocultura no Mundo e no Brasil

Eficiência dos Dessecantes Paraquat e Diquat na Antecipação da Colheita do Milho.

ZONEAMENTO EDAFOCLIMÁTICO DA CULTURA DO COCO INTRODUÇÃO

CULTIVO AGROECOLÓGICO DE TOMATE CEREJA COM ADUBAÇÃO VERDE INTERCALAR 1

IBAPE - XII COBREAP - CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE AVALIAÇÕES E PERÍCIAS, BELO HORIZONTE/MG

CONCURSO PÚBLICO PARA PROVIMENTO DE CARGO EFETIVO PROFESSOR DE ENSINO BÁSICO, TÉCNICO E TECNOLÓGICO Edital 23/2015 Campus Rio Pomba FOLHA DE PROVA

PLANTIOS FLORESTAIS E SISTEMAS AGROFLORESTAIS: ALTERNATIVAS PARA O AUMENTO O DE EMPREGO E RENDA NA PROPRIEDADE RURAL RESUMO

Tabela 01 Mundo Soja Área, produção e produtividade Safra 2009/10 a 2013/14

Recomendação de Adubação N, P e K....para os estados do RS e SC

REDUÇAO POPULACIONAL DO BICUDO DO ALGODEIRO (ANTHONOMUS GRANDIS) AO ADOTAR O PLANO ESTRATÉGICO DE CONTROLE

PÓL Ó O L O DE E UVA V DE E ME M S E A E E VI V N I HO NO O ES E T S A T DO DO ES E P S ÍR Í IT I O O SAN A TO T

PRODUÇÃO DO MORANGUEIRO A PARTIR DE MUDAS COM DIFERENTES ORIGENS

MILHO TRANSCÊNICO: CADA VEZ MAIS PRESE

Caramuru Alimentos Ltda, Rod. BR 060 Km 388 s/n Zona Rural, C.E.P: Rio Verde/GO zeronaldo@caramuru.com

CIÊNCIAS BIOLÓGICAS. Fonte: O Estado de S.Paulo, 10/12/ 97.

Bases do manejo integrado de pragas em cana-de-açúcar. Leila Luci Dinardo-Miranda

Documento apresentado para discussão. II Encontro Nacional de Produtores e Usuários de Informações Sociais, Econômicas e Territoriais

Transcrição:

Comunicado Técnico 217 ISSN 1983-0505 Junho, 2009 Belém, PA Foto: Arquivo Embrapa Comportamento da Cultivar de Arroz BRS Aroma em Terra Firme no Estado do Pará Altevir de Matos Lopes 1 Introdução O arroz aromático possui qualidades semelhantes aos tipos convencionais do cereal e não apresenta dificuldades de manejo durante o processo produtivo e de beneficiamento. Com isso, pode ser tranquilamente incorporado às atividades tanto do produtor quanto da agroindústria. Antes de entrar em definitivo nesse nicho, contudo, alguns aspectos como qualidade do grão, capacidade produtiva e tolerância a pragas e doenças devem ser cuidadosamente analisados. Esse aroma natural é uma característica hereditária e as variedades que o possuem são conhecidas como aromáticas. Elas sintetizam componentes químicos voláteis aromáticos em concentrações maiores que nas variedades comuns e que passam a ser perceptíveis não somente nos grãos cozidos, mas também nas próprias plantas no campo. Vários compostos parecem estar relacionados ao perfume do arroz, mas especialmente um, o 2-acetil-1-pirol, tem-se mostrado como o mais importante, dando ao arroz uma característica adicional muito apreciada (JENNINGS et al., 1979). Variedades com características aromáticas têm participado como genitoras em cruzamentos do programa de melhoramento de arroz da Embrapa, mas como fonte de outras características. Em um desses cruzamentos realizados em 1991, participou a cultivar Basmati 370, que produz o arroz aromático atualmente preferido mundialmente e que foi introduzida como fonte de genes de resistência à brusone (ARAÚJO; PRABHU, 2002). Entre várias linhagens selecionadas nesses cruzamentos e introduzidas em rede nacional de avaliação conduzida pela Embrapa com a colaboração de outras instituições parceiras, três possuíam a característica aromática, herdada da Basmati 370. Uma delas, identificada como CNA 8934, por suas boas características agronômicas, está sendo lançada com 1 Engenheiro Agrônomo, Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas, Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Belém, PA. altevir@cpatu.embrapa.br

2 Comportamento da Cultivar de Arroz BRS Aroma em Terra Firme no Estado do Pará a denominação de BRS Aroma, como uma opção aos orizicultores brasileiros que preferirem a produção de um arroz que poderá ser comercializado como um produto diferenciado, em atendimento a nichos especiais do mercado. Metodologia A BRS Aroma originou-se de um cruzamento múltiplo que envolveu a combinação de dois híbridos simples CNA6874 / Basmati370 // CNA6682 / Lebonnet. Em um deles, foi envolvida uma fonte de resistência à brusone, a Basmati 370, conhecida também por suas características aromáticas e, no outro, a Lebonnet, cultivar americana de arroz irrigado, de reconhecida qualidade culinária. Os outros dois genitores foram linhagens de alta produtividade e adaptadas às condições de terras altas: CNA 6874 e CNA 6682, que correspondem, respectivamente, aos registros, no Banco Ativo do Germoplasma (BAG) da Embrapa Arroz e Feijão das linhagens CNAx-1754R-31-B-1 e CT6196-33-11-2-5-B. A primeira delas, selecionada em Rondonópolis, MT, tem como genitores a TOx1785-19-18, introduzida do IITA (Nigéria) e a IAC 164, cultivar que já foi amplamente cultivada no País, ambas de reconhecida resistência à seca. A segunda foi introduzida pelo Centro Internacional de Agricultura Tropical (Ciat), da Colômbia, e foi selecionada de cruzamentos que envolviam apenas genitores adaptados às condições do sequeiro: IRAT 216 ou Rio Verde (Col 1 x M312A), IRAT 124 e RHS 107-2-1-2TB-1JM. O prefixo RHS deste último genitor significa resistência horizontal à seca, designação do programa de melhoramento do instituto mexicano Inifap, na década de 1980. As gerações F 2 a F 6, do cruzamento CNA6874 /Basmati 370//CNA6682/Lebonnet, foram submetidas a processos de seleção na sede da Embrapa Arroz e Feijão, GO, durante os anos de 1992 a 1998, combinando fases de seleção massal dentro de progênies (F 2 e F 3 ) e de planta individual (F 4 e F 5 ) com avaliação de progênies e seleção. Entre as linhagens selecionadas em F6, três apresentavam adicionalmente característica aromática e foram incluídas, em 1999, em um ensaio de observação (EO), conduzido no Estado do Pará, em Altamira. As três linhagens apresentaram bom comportamento e foram selecionadas para participarem, no ano seguinte, do ensaio comparativo preliminar de rendimento (ECP), também conduzido em rede estadual em Alenquer e Redenção. Após análise conjunta desses ECPs, entre as 12 linhagens selecionadas considerando os aspectos de produtividade e resistência às doenças e ao acamamento, além de qualidade de grãos para participarem dos ensaios de avaliação do valor de cultivo e uso (VCUs) de 2001 e 2002, encontravam-se três linhagens aromáticas. O desempenho dessas linhagens foi avaliado nos municípios paraenses de Alenquer, Altamira, Belterra, Capitão Poço e Paragominas, em solos de terra firme. Os resultados desses VCUs no Pará e de outros estados das regiões Centro-Oeste, Norte e Meio-Norte permitiram eliminar duas das três linhagens. A linhagem selecionada, a CNAx5347-4-M1-M-1-7, foi registrada no BAG como CNA 8934. Seus resultados permitiram decidir pelo seu lançamento, sendo registrada e protegida junto ao serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), com o nome de BRS Aroma (CASTRO et al., 2003). Os ensaios de avaliação do valor de cultivo e uso (VCUs) foram conduzidos, nos anos de 2001 e 2002, nos municípios de Alenquer (Latitude 01º 56 30, Longitude 54º 44 18, Altitude 52 m); Altamira (Latitude 03º 12 12, Longitude 52º 12 23, Altitude 109 m); Belterra (Latitude 02º 38 11, Longitude 54º 56 14, Altitude 152 m); Capitão Poço (Latitude 01º 44 47, Longitude 47º 03 34, Altitude 73 m) e Paragominas (Latitude 02º 59 45, Longitude 47º 21 10, Altitude 90 m). Os solos nas áreas dos ensaios, nos municípios, foram classificados como: Alenquer (Vertissolo Cromado Órtico), Altamira (Terra Roxa Estruturada), Belterra (Latossolo Amarelo Distrófico), Capitão Poço (Latossolo Amarelo Distrófico) e Paragominas (Latossolo Amarelo Eutrófico). Segundo a classificação de Köppen, os tipos climáticos naqueles municípios foram definidos como: Alenquer (Ami), Altamira (Awi), Belterra (Ami), Capitão Poço (Ami) e Paragominas (Awi). O ensaio foi constituído de 28 tratamentos, e o delineamento experimental utilizado foi o de Blocos ao Acaso com quatro repetições. Cada parcela era constituída de cinco linhas de 5 m de comprimento, com

Comportamento da Cultivar de Arroz BRS Aroma em Terra Firme no Estado do Pará 3 espaçamento de 20 cm entre sulcos, com densidade de 60 sementes por metro, sendo a área útil representada pelas três fileiras centrais. Em virtude da baixa fertilidade natural do solo, houve adubação de base com 300 kg da formulação NPK 05-30-15 e a adubação de cobertura foi efetuada com a formulação NK 30-00-20, na proporção de 100 kg/ha, no início dos primórdios florais (40 dias). O controle de ervas daninhas (folhas estreitas) foi efetuado com aplicação de Ronstar (Oxadiazon), na semeadura, e de DMA 806 (2-4, D), para controle de folhas largas. O controle de lagartas e percevejos foi efetuado com uso do inseticida Carbaril. As plantas, de cada parcela experimental, foram colhidas uma semana após terem apresentado 95 % das panículas maduras (22 % de umidade). Após a colheita, as plantas foram trilhadas manualmente e as sementes pesadas após estarem secas (13 % de umidade) e limpas, para a determinação do rendimento de grãos. Nos ensaios, com base na área útil da parcela, (IN- TERNATIONAL RICE RESEARCH INSTITUTE, 1996) foram coletados os seguintes dados: a) Número de dias para o florescimento: contados a partir da semeadura, até a data em que ocorresse a floração em 50 % das plantas da parcela. b) Altura das plantas: distância, em cm, medida da superfície do solo até a extremidade da panícula do colmo principal da planta, na época da maturação. c) Grau de acamamento: foi determinado com uma escala de 1 a 9, atribuindo as seguintes notas: 1 - sem acamamento, inclinação em torno de 90º em relação ao solo; 5 50 % de plantas acamadas e 9 extremo acamamento, plantas praticamente deitadas sobre o solo. d) Avaliação de doenças: brusone, mancha-parda, escaldadura das folhas, de acordo com o Sistema de Avaliação Padrão para Arroz do IRRI (1= Resistente e 9 = Suscetível). e) Produção de grãos: peso obtido em gramas por parcela e transformado, posteriormente, em kg/ha, após a secagem dos grãos até, aproximadamente, 13 % de umidade. Resultados e discussão A análise c o n j u n t a de variância da característica produtividade de grãos mostrou que não houve diferença significativa para a interação genótipo x ambiente. Houve diferença significativa entre os tratamentos, embora não tenha sido detectada diferença significativa entre a cultivar BRS Aroma e a testemunha BRS Primavera (CRUZ; REGAZZI, 2001). Os resultados mostram que houve diferença significativa entre os genótipos para a característica produtividade, ao nível de 5 % de probabilidade (Tukey). Essa diferença é fundamental para o sucesso do programa de melhoramento de arroz (RAMALHO et al., 2000). A produtividade média de grãos da BRS Aroma foi de 3.300 kg/ha, não diferindo estatisticamente da produtividade da cultivar testemunha BRS Primavera (3.351 kg/ha), considerando estimativas de médias da análise conjunta de todos os ensaios conduzidos. Na Tabela 1, encontram-se os dados das características de produtividade, floração média, altura de planta e acamamento. Como pode ser verificado, a BRS Aroma possui um ciclo da semeadura à floração (72 dias) com 5 dias superior ao ciclo da BRS Primavera (66 dias). As alturas médias de plantas foram semelhantes, embora a cultivar BRS Aroma não tenha acamado, quando comparada com a cultivar BRS Primavera. Tabela 1. Valores médios para produtividade (PROD), floração média (FLO), altura de planta (ALT) e acamamento (ACA) obtidos nos ensaios realizados em 2001 e 2002. Local PROD. (kg/ha) FLO (dias) ALT (cm) ACA (1-9) Alenquer 2.914 71,2 116,7 1,5 Altamira 3.378 72,5 123,8 1,0 Belterra 3.867 70,9 119,1 1,5 Capitão Poço 2.485 71,3 94,8 1,0 Paragominas 3.856 73,9 105,9 1,0 Média 3.300 72,0 110,0 1,2 A cultivar BRS Aroma tem ciclo precoce que, dependendo da região de cultivo, encerra seu ciclo com 90 a 100 dias entre plantio e colheita, dotada de grãos lisos classificados como longo-finos. A BRS Aroma apresentou um ciclo 5 dias mais tardio que o da BRS Primavera, podendo ser considerado como precoce.

4 Comportamento da Cultivar de Arroz BRS Aroma em Terra Firme no Estado do Pará Sua altura de planta (110 cm) é similar à da BRS Primavera, entretanto, acama menos do que esta, o que representa uma importante vantagem. Tabela 2. Valores médios registrados para reação das plantas à brusone na folha (BF), brusone na panícula (BP), mancha-parda (MP), escaldadura da folhas (EF) e mancha-dos-grãos (MG) obtidos nos ensaios realizados, expressos numa escala de 1 (resistente) a 9 (suscetível). Local BF BP MP EF MG Alenquer 1,0 1,0 2,0 2,0 1,0 Altamira 1,0 1,0 2,0 2,0 1,0 Belterra 1,0 1,0 2,0 2,0 1,0 Capitão Poço 1,0 1,0 3,0 3,0 3,0 Paragominas 1,0 1,0 1,0 3,0 1,0 Média 1,0 1,0 2,0 2,4 1,4 Quanto à reação às doenças, destaca-se o seu desempenho frente à brusone, principal doença do arroz de terras altas (Tabela 2). Em relação às outras doenças, a BRS Aroma apresentou reação à escaldadura, mancha-parda e mancha-de-grãos, Iigeiramente mais resistente que a BRS Primavera. No ensaio de DHE (Distinguibilidade, Homogeneidade e Estabilidade), realizado na sede da Embrapa Arroz e Feijão, as características estabelecidas estão apresentadas na Tabela 3. Tabela 3. Características fenológicas e agronômicas da cultivar BRS Aroma. Característica Ângulo da folha bandeira Cor da folha Comprimento da panícula Presença de aristas Cor do apículo dos grãos na maturação Cor das glumelas Grau de degranação natural Forma do grão descascado Classe de grão Peso de mil sementes Descritor Ereta Verde normal 26,5 cm Ausente Branca Palha Intermediário Alongada Longo-fino 21,5 g Quanto ao rendimento de grãos inteiros, característica mais importante para a indústria de beneficiamento, a BRS Aroma mostrou-se similar à BRS Primavera (Tabela 4). Quanto à dimensão de seus grãos, comprimento e largura, ela também é similar à BRS Primavera, mas, quanto à intensidade de centro branco, que se refere às manchas opacas que surgem em função da disposição amorfa das moléculas de amido, observou-se que o comportamento da BRS Aroma é ligeiramente inferior à testemunha. O teor de amilose (TA) e temperatura de gelatinização da BRS Aroma são ligeiramente mais altos do que os da BRS Primavera, mas ainda se situam dentro dos níveis intermediários e indicativos de um desempenho desejado no cozimento, fato confirmado nos testes de panela que revelaram um produto que, ao ser cozido, apresenta-se enxuto, solto e macio, tão bom quanto o da BRS Primavera, padrão de qualidade reconhecido e valorizado. Tabela 4. Valores médios para rendimento de grãos inteiros (INT), comprimento dos grãos (C), largura dos grãos (L), centro branco (CB), teor de amilose (TA) e temperatura de gelatinização (TG). Cultivar INT C L CB TA TG BRS Aroma 53,0 7,1 2,0 2,8 24,9 3,8 BRS Primavera Média dos Ensaios 50,6 7,0 2,1 2,1 24,3 4,6 56,4 6,5 2,5 2,4 24,8 4,2 No Brasil, o interesse por este tipo de arroz é ainda muito pequeno. Certamente, a principal razão é o total desconhecimento da maioria dos consumidores sobre sua existência. Em alguns supermercados dos grandes centros, já se pode encontrar esse produto nas prateleiras, entretanto, de origem importada e com preço geralmente elevado. A Europa e os Estados Unidos têm aumentado seu interesse pelo arroz aromático e esse produto tem representado em torno de 10 % do comércio internacional do arroz, com o preço chegando a três vezes maior que o do arroz comum (NARULA; CHAUDHARY, 2001). O aroma natural e o sabor delicado desses produtos fazem com que tenham boa aceitação em diversos locais do planeta. No Brasil, a procura por esse tipo de arroz ainda é pequena porque a oferta ocorre apenas com produtos importados em mercados mais sofisticados. Em uma amostragem aleatória de consumidores de Goiânia e em uma verificação por

Comportamento da Cultivar de Arroz BRS Aroma em Terra Firme no Estado do Pará 5 meio de uma análise sensorial de como o produto era percebido, a maioria dos entrevistados (73 %) observou que o arroz aromático tinha um perfume diferente do arroz comum e associaram o cheiro a algum produto já conhecido, como ervas, pipoca, etc. (FERREIRA et al., 2003). Dentre as variedades de arroz naturalmente aromatizado, o Basmati, cultivado sobretudo na Índia e no Paquistão, é o mais comum e apreciado, seguido pelo Jasmine (ou Hom Mali), da Tailândia. Nas Filipinas, foi efetuado melhoramento genético para obtenção da variedade Milagrosa (SANTOS et al., 1980). Nos Estados Unidos, foram desenvolvidas e já são cultivadas variedades de arroz aromático (RUTGER; BRYANT, 2004). Conclusões a) A BRS Aroma pode ser cultivada em condições do sistema de produção em terra firme (ou terra alta) no Estado do Pará. b) A BRS Aroma é uma cultivar precoce, de grãos lisos, classificados como longo-finos e sem presença de aristas. c) A BRS Aroma apresenta altura de planta similar à da BRS Primavera, mas é mais resistente ao acamamento do que esta. d) O rendimento de engenho, o comprimento e a largura dos grãos da BRS Aroma são similares aos da BRS Primavera. Referências ARAÚJO, L. G.; PRABHU, A. S. Somaclones da cultivar de arroz aromático Basmati-370 resistentes à brusone. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, DF, v. 37, n. 8, p. 801-808, ago. 2002. CASTRO, E. M.; MORAIS, O. P.; PEREIRA, J. A.; LOPES, A. M.; UTUMI, M. M; FERREIRA, C. M.; BRESEGHELLO, F.; PRABHU, A. S.; SOUZA, N. R. G.; FONSECA, J. R.; VANDERLEI, J. C.; NEVES, P. C. F.; CHAVES, R. Q.; BASSINELLO, P. Z. ; SOARES, A. A.; COLASANTE, L. O. BRS Aroma: Cultivar de Arroz de Terras Altas de Grãos Aromáticos. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2003. 4 p. (Embrapa Arroz e Feijão. Comunicado técnico, 71). CRUZ C. D.; REGAZZI A. J. Modelos biométricos aplicados ao melhoramento genético. 2.ed. rev. Viçosa, MG: UFV, 2001. 390 p. FERREIRA, C. M.; NEVES, P. C. F.; CHAVES, R. Q.; BASSINELLO, P. Z. Arroz aromático: uma nova opção de arroz para o mercado. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão. 2003. 4 p. (Embrapa Arroz e Feijão. Comunicado técnico, 60). INTERNATIONAL RICE RESEARCH INSTITUTE. Standard evaluation system for rice. 4th edition, Los Baños, 1996. 54 p. JENNINGS, P. R.; COFFMAN, W. R.; KAUFFMAN, H. E. Rice improvement. Los Baños: IRRI, 1979. 186 p. NARULA, A.; CHAUDHARY, R. C. Current status and future of the famous aromatic rice variety Khao Dawk Mali in Thailand. In: CHAUDHARY, R. C.; TRAN, D. V.; DUFFY, R. (Eds.). Specialty rices of the world: breeding, production and marketing. Rome: FAO; Enfield: Science Publishers, 2001. p. 163-174. RaMALHO, M. A. P.; ABREU, A. de F. B.; Santos, j. b. dos. Melhoramento de espécies autógamas. In: nass, l. l.; valois, a. c. c.; melo, i. s. de; valadares-inglis, m. c. (ed.). recursos genéticos e melhoramento de plantas. rondonópolis: fundação mt, 2001. p. 201-230. RUTGER, J. N.; BRYANT, R. J. Registration of Aromatic SE Rice Germplasm. Crop Science, v. 44, p. 363-364. 2004. SANTOS, I. S.; ASENCION, A. B.; BREWBAKER, L. W.; VILLEGAS, C. T. Improvement of Aromatic Milagrosa Rice Variety Through Mutation Breeding. Philippine Nuclear Journal, v. 5, n.1, p. 360-364. 1980.

Comunicado Técnico, 217 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na: Embrapa Amazônia Oriental Endereço: Tv. Dr. Enéas Pinheiro, s/n. Caixa Postal 48. CEP 66095-100 - Belém, PA. Fone: (91) 3204-1000 Fax: (91) 3276-9845 E-mail: sac@cpatu.embrapa.br http://www.cpatu.embrapa.br 1 a edição. Versão eletrônica (2009) Comitê Local Presidente: Moacyr Bernardino Dias-Filho de Editoração: Secretário-Executivo: Walkymário de Paulo Lemos Membros: Adelina do Socorro Serrão Belém, Ana Carolina Martins de Queiroz, Célia Regina Tremacoldi, Luciane Chedid Melo Borges, Vanessa Fuzinatto Dall Agnol Revisão Técnica: Expediente: Anna Cristina Lanna - Embrapa Arroz Feijão Supervisão editorial e revisão de texto: Luciane Chedid Normalização bibliográfica: Adelina Belém Editoração eletrônica: Euclides Pereira dos Santos Filho CGPE 8292