Decifra-me ou te devoro: o que afinal é desenvolvimento sustentável? Departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal de São Carlos,



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Transcrição:

Decifra-me ou te devoro: o que afinal é desenvolvimento sustentável? Silvio Eduardo Alvarez Candido a, Farid Eid b Departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal de São Carlos, Rodovia Washington Luis, km 235, 13565-905, São Carlos, SP, Brasil.. s.candido@dep.ufscar.br farid@ufscar.br Palavras-chave: Desenvolvimento, sustentabilidade, polissemia. ABSTRACT Beside the world mobilization with the emergence of the environmental issue, multiple challenges are faced to convert the discourses into action. We suggest that the understanding of the multiple theoretical interpretations about sustainable development and their analysis based on the idea of polisemy may be helpful to understand these difficulties. Different worldviews are incorporated to the idea of sustainable development resulting in symbolic conflicts. Understanding these conflicts is crucial to enhance action and move toward a new paradigm of development. RESUMO O trabalho analisa diferentes interpretações teóricas sobre o conceito de desenvolvimento à luz da noção de polissemia. Apesar da crescente mobilização mundial frente à emergência da questão ambiental, verifica-se a existência de dificuldades em transformar discursos em práticas. Essas dificuldades estão ilustradas nas diferentes concepções sobre desenvolvimento sustentável, que foram identificadas e apresentadas por meio de uma revisão da literatura sobre o tema. A partir do entendimento sobre diferentes vertentes teóricas, é possível interpretar diferentes concepções a respeito do desenvolvimento sustentável e visualizar a plasticidade desse conceito. 1

1. INTRODUÇÃO Apesar de diversos pensadores terem previsto que a expansão do modo de produção capitalista seria acompanhada da degradação da natureza, as sociedades pouco fizeram para lidar com o desafio até a primeira metade do século XX. Nesse período da história humana, a preocupação com o meio ambiente simplesmente não fazia sentido para a grande maioria da população do mundo. O espantoso crescimento da população e da economia mundial no último século, entretanto, veio acompanhado de níveis de degradação nunca antes atingidos que fizeram com que, gradativamente, a população se despertasse em relação ao assunto. Em paralelo a esse processo, observa-se o surgimento de um diálogo sobre o tema entre as lideranças mundiais. Desde a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), principal facilitador de relações de cooperação entre as nações para a resolução dos desafios ambientais globais, diversas conferências foram realizadas e convenções definidas buscando superar o desafio ambiental. Dentre as Conferências, destaca-se a Conferência Mundial das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, duas décadas após a primeira conferência mundial sobre meio ambiente promovida pela ONU, a de Estocolmo. O encontro reuniu um número sem precedentes de representantes dos governos, da sociedade civil e do setor privado para avaliar o progresso desde Estocolmo e elaborar estratégias para compatibilizar o desenvolvimento econômico e social com a preservação do meio ambiente em todos os países. Diretrizes para o desenvolvimento de planos de proteção do meio ambiente por governos dos países do mundo foram criadas com base no princípio de responsabilidades comuns, mas diferenciadas entre os países centrais e periféricos do capitalismo global. 2

Entretanto, apesar de alguns sucessos na mobilização mundial, como, por exemplo, no caso do Protocolo de Montreal da Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio, muitas dificuldades para que os discursos se traduzam em prática ainda são vivenciadas. A Declaração de Malmö, publicada em 2000, indica bem a preocupação da ONU com a velocidade com que o ambiente e a base de recursos naturais se deterioram e a preocupante discrepância entre os compromissos assumidos pelos países e as ações efetivamente tomadas. Além de carecermos de muitos conhecimentos sobre como solucionar os desafios ou simplesmente nos adaptar às mudanças que são irreversíveis, muitas dificuldades enfrentadas para que ações concretas sejam tomadas pertencem à esfera política. Essas dificuldades podem ser mais bem compreendidas por meio da análise sobre os diferentes entendimentos em relação a um conceito que se difundiu rapidamente a partir da publicação do relatório Nosso Futuro Comum, em 1987, pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento: o de desenvolvimento sustentável. Assim, o presente artigo se propõe a reunir as diferentes explicações teóricas sobre esse conceito e interpretá-lo com base na idéia de polissemia (BOURDIEU, 1989). 2. METODOLOGIA Primeiramente, foi realizado um levantamento sistemático amplo da literatura sobre meio ambiente e desenvolvimento. Artigos publicados a partir de 1990 foram buscados em bases de dados nacionais (Scielo, Google Acadêmico) e internacionais (Web of Science, Science Direct, Google Scholar). As publicações foram selecionadas de acordo com sua importância e relevância para o cumprimento dos objetivos propostos pelo trabalho. A partir da leitura desses artigos foi possível identificar outras referências importantes para identificar as diferentes visões sobre o conceito de desenvolvimento sustentável. 3

Foi possível identificar a existência de três importantes concepções teóricas sobre o conceito: (i) de economistas ortodoxos, principalmente os das correntes neoliberais; (ii) de representantes de outras tradições das ciências sociais, identificadas aqui como desenvolvimento alternativo (SANTOS & RODRIGUÉZ, 2002); (iii) de teóricos da Economia Ecológica. Perante o vasto número de publicações sobre o tema no período pesquisado, buscou-se representar a visão de autores seminais e representativos de cada vertente. Por último, na conclusão, essas diferentes visões sobre o desenvolvimento foram interpretadas com base no conceito de polissemia, de Pierre Bourdieu (BOURDIEU, 1989). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Desenvolvimento como crescimento econômico: as teses da sustentabilidade fraca e forte Para os autores da teoria econômica neoliberal, os problemas sociais enfrentados nas economias capitalistas decorrem sempre de um crescimento econômico insuficiente. Entende-se que somente o estímulo ao crescimento econômico pode fazer com que sociedades desprivilegiadas pela história conquistem uma melhor qualidade de vida para seus cidadãos. Esse processo de desenvolvimento é sempre árduo. Primeiramente, porque as economias enfrentam sempre um dilema entre eficiência e eqüidade. O crescimento econômico demanda poupança e, portanto, certo nível de concentração de renda (MANKIW, 1998). Entretanto, para os defensores desta concepção, essa desigualdade é passageira, já que, a partir de um determinado grau de crescimento, a renda tende a ser distribuída de maneira mais igualitária (KUZNETS, 1955). Daí a velha máxima 4

neoliberal: é necessário fazer o bolo crescer para depois dividi-lo, representada na curva de Kuznets. Em segundo lugar, o processo de desenvolvimento exige outros sacrifícios sociais. Por exemplo, faz parte do receituário neoliberal a manutenção de níveis relativamente baixos de gastos em educação e saúde por parte dos governos, ou a indicação de que os trabalhadores devem abrir mão de seus direitos trabalhistas. Isso porque gastos sociais como esses acabam reduzindo a capacidade de investimento do sistema econômico e, portanto, dificultando o desenvolvimento. Assim, a visão do desenvolvimento como sinônimo de crescimento econômico implica em ações para estimular o suposto desenvolvimento de localidades por meio de medidas estritamente econômicas. Essas políticas de promoção se tornaram comuns no período que sucedeu a Segunda Guerra Mundial, estavam associadas a um contexto em que a recuperação dos países capitalistas era urgente. Por esta ótica, os programas de desenvolvimento se caracterizam por serem implantados de cima para baixo, por ações planejadas por agências nacionais e internacionais e sem a participação das comunidades afetadas (SANTOS & RODRIGUÉZ, 2002). Ainda muito comuns, essas ações enfatizam a aceleração do crescimento econômico, deixando de lado outros importantes objetivos sociais, econômicos e políticos. Todavia essa concepção de desenvolvimento passou a ser duramente criticada a partir dos anos 1970 com o advento da preocupação com a degradação do meio ambiente. A idéia de que a finitude dos recursos naturais poderia limitar as possibilidades de crescimento das economias se opunha diretamente com a idéia de que o enriquecimento econômico era o remédio que curaria todos os males da humanidade. A publicação de Os limites do crescimento, preparado por um grupo interdisciplinar de pesquisadores do Massachussetts Institute of Technology para o Clube de Roma, em 1972, foi um marco 5

desse momento de inflexão do pensamento econômico do último século. O estudo indicava para a inviabilidade do modelo de desenvolvimento proposto pelos teóricos neoliberais. As críticas ambientalistas geraram reações dos economistas neoliberais. Duas propostas diferentes para o desenvolvimento sustentável surgiram. Essas duas propostas acabaram sendo qualificadas como sustentabilidade fraca e forte, sendo que ambas reafirmam a visão de desenvolvimento como crescimento econômico. Para os adeptos da sustentabilidade fraca reforça a visão do crescimento como desenvolvimento, de acordo com a qual a ampliação do sistema econômico gera alterações qualitativas da sociedade. A lógica utilizada é a mesma da parábola (VEIGA, 2006) do bolo (ver GROSSMAN & KRUEGER, 1995). Busca-se conservar a capacidade da sociedade de produzir por meio da conservação do capital total, confiando-se no desenvolvimento da ciência e da tecnologia para remediar a escassez ou o comprometimento de produtos ou serviços ambientais. Na visão desses economistas, os desastres ecológicos podem ser uma excelente oportunidade de negócios. O otimismo tecnológico dos defensores do conceito de sustentabilidade fraca, entretanto, não é compartilhado por todos os economistas da corrente neoliberal. A vertente conhecida como Economia do Meio Ambiente busca formas de conservar os produtos e serviços ambientais para conservar a capacidade do homem de produzir ao invés de confiar que o desenvolvimento tecnológico decorre do crescimento econômico. Defende-se a noção conhecida como sustentabilidade forte, entendendo que é necessário conservar o capital natural e não o capital total (VEIGA, 2006). Para os adeptos da Economia do Meio Ambiente, o não reconhecimento do valor dos recursos naturais é visto como uma imperfeição do mercado que deve ser sanada. 6

Assim, para que se construa uma economia sustentável, os bens e serviços ambientais devem ser valorados e comercializados no mercado. Essa valoração não deve ser feita apenas com relação ao valor de uso dos serviços e recursos pelos seres humanos, mas também pelos valores intrínsecos dos diferentes recursos, independentemente de sua relação com os seres humanos (MARQUES & COMUNE, 1997). Apesar de ter ganhado rapidamente grande popularidade, essa abordagem tem enfrentado dificuldades para atribuir valores monetários à natureza. De acordo com Veiga (2006), muitos economistas do meio ambiente atribuem a culpa por essa situação às limitações das ciências naturais para estimar valores financeiros aos bens e serviços ambientais. Além de adeptos incondicionais do livre mercado, tanto os defensores do conceito de sustentabilidade fraca quanto os de sustentabilidade forte defendem que o Estado tem um papel chave na regulamentação dos impactos ambientais (BURZSTYN, 1994). Isso porque o Estado deve ser responsável por impedir que os desastres se dêem antes que haja tecnologia disponível para resolvê-los (no caso dos otimistas tecnológicos) ou antes que as imperfeições do mercado sejam corrigidas (no caso dos economistas do meio ambiente). 3.2. O desenvolvimento alternativo e o conceito de sustentabilidade Buscando contrapor à visão neoliberal, representantes de outras correntes de pensamento econômico e de outras tradições das ciências sociais têm buscado elaborar novas abordagens para a construção do conceito de desenvolvimento. De acordo com Sachs (2004), experiências positivas e negativas, assim como mudanças nas configurações políticas do mundo e nas modas intelectuais têm sido incorporadas a idéia de desenvolvimento. Um sinal disso é o surgimento de indicadores de desenvolvimento 7

que incorporam outros aspectos além do econômico, medido tradicionalmente pelo PNB per capita, como Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), adotado pela ONU. O debate sobre a questão socioambiental, desde os anos 1970, foi um dos fatores que propiciou a formação do campo do desenvolvimento alternativo. Como já apresentado, o pressuposto de que o sistema econômico é aberto no que concerne à fronteira de recursos naturais foi fortemente questionado. Com a publicação do Relatório Nosso Futuro Comum, em 1987, o conceito de desenvolvimento sustentável passou a se legitimar (SNEDDON et al, 2005). De acordo com esse relatório, o termo se refere ao atendimento das "necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras para atender suas necessidades" (BRUNDTLAND, 1987, p. 9). Para entender a visão de desenvolvimento sustentável dos autores dessa corrente é necessário entender antes como, de uma maneira geral, se entende o desenvolvimento (SNEDDON et al, 2005). Para tanto, uma das principais referências é o economista e filósofo indiano Amartya Sen, ganhador do Nobel de economia em 1998. Em seu livro Desenvolvimento como liberdade (2000), Sen defende que a essência do desenvolvimento deve ser encontrada nas pessoas. Segundo tal concepção, para que haja melhoria nas condições de vida, as pessoas devem se tornar mais livres para exercerem efetivamente sua condição de agentes. A expansão da liberdade é vista, por essa abordagem, como o principal fim e o principal meio do desenvolvimento. O desenvolvimento consiste na eliminação das privações de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente sua condição de agente. (SEN, 2000, p. 10). Seguindo a filosofia de Aristóteles, o autor esclarece que a riqueza não pode ser considerada o fim do desenvolvimento. Isso porque ela não proporciona nada além dos meios para que as pessoas levem o tipo de vida que, por alguma razão, escolheram valorizar. 8

Para Sen, as diferentes liberdades da vida de uma pessoa possuem um papel ao mesmo tempo constitutivo e instrumental. Isso porque as liberdades são importantes por si mesmas, já que o homem aprecia naturalmente a possibilidade de ser livre. As mesmo tempo, a liberdade possui um papel instrumental ao garantir a condição de agente das pessoas, dando possibilidades para elas cuidarem de si mesmas e influenciar o mundo em que vivem. O papel instrumental das liberdades se relaciona à interdependência entre diferentes tipos de liberdades da vida de uma pessoa. O baixo nível de renda, por exemplo, pode ser uma razão fundamental para que essas pessoas sejam analfabetas e desfrutem de más condições de saúde. Assim, as facilidades financeiras possuem um caráter instrumental, podendo estar inter-relacionadas a oportunidades sociais, como as ligadas à saúde e a educação. Por outro lado, melhor educação e condições de saúde ajudam a auferir rendas mais elevadas. Sen destaca cinco tipos de liberdades que merecem ênfase na perspectiva instrumental. Essas liberdades ajudam a salientar algumas questões políticas específicas que requerem atenção especial, considerando o contexto histórico atual, apesar de não ser uma lista definitiva. São elas: as liberdades políticas, as facilidades econômicas, as oportunidades sociais, garantias de transparência e a segurança protetora. Devido às interdependências entre as liberdades é que o processo de desenvolvimento é tão complexo. O desenvolvimento só é possível quando são criadas condições que ampliam o conjunto das liberdades, e não só uma ou outra liberdade em particular. Em síntese, na visão de Sen o crescimento econômico não basta para se atingir o desenvolvimento. A abordagem do desenvolvimento humano traz implicações importantes para a compreensão sobre desenvolvimento sustentável. Anand & Sen (2000) criticam a 9

concepção de desenvolvimento sustentável apresentada no relatório Nosso Futuro Comum pela Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU. De acordo com os autores, o relatório fala em necessidades e evidencia as limitações impostas pela tecnologia e a organização social na capacidade de o meio ambiente suprir nossas necessidades futuras. Entretanto, na visão de desenvolvimento humano, não é a capacidade de produção que deve ser nosso legado para gerações futuras. Para os autores, o que precisa ser conservado é a habilidade das futuras gerações em viver vidas plenas, ou seja, da capacidade de criar bem-estar e não um ou outro recurso particular. Assim, o conceito de desenvolvimento sustentável não deve antecipar a forma de vida que as pessoas terão no futuro, devendo-se considerar a possibilidade de elas adotarem rumos diferentes (Anand & Sen, 2000). Sobre as políticas de desenvolvimento visando construir experiências exitosas de sustentabilidade, Anand & Sen (2000) fazem duas considerações de grande relevância. Primeiramente, destacam que nossa ansiedade (Anand & Sen, 2000) em proteger as futuras gerações não pode passar por cima das terríveis privações existentes no mundo de hoje. Não teria sentido legar oportunidades como as que a maioria das pessoas dos dias de hoje desfrutam. Também não há sentido que a missão da sustentabilidade seja deixada inteiramente para o mercado, sendo que essa deve ser uma responsabilidade, sobretudo, dos Estados. A abordagem do desenvolvimento como expansão de liberdades tem ganhado influência. Além de Sen, outros autores como Martha Nussbaum vem contribuindo no aprofundamento do debate teórico sobre a economia do desenvolvimento. Prova disso é que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) publica anualmente relatórios de desenvolvimento humano, baseados nessas idéias. 3.3. O desenvolvimento sustentável na perspectiva da Economia Ecológica 10

O sistema econômico sempre foi visto pela teoria convencional como isolado, não mantendo trocas de energia com o ambiente. Nesse caso, o meio ambiente é considerado uma fonte de matérias-primas e depósito de resíduos infinitos (DALY, 1996 e 2004). Entretanto, a partir dos anos 1970, essa hipótese foi rebatida com base nas leis da termodinâmica por Nicholas Georgescu-Roegen (GEORGESCU-ROEGEN, 1971). É com base nas idéias de Georgescu-Roegen que foi fundada a Economia Ecológica. Essa vertente do pensamento econômico incorpora a idéia de que o processo econômico está submetido às leis da termodinâmica. O funcionamento dos ciclos ecológicos possibilita que o planeta mantenha baixos níveis de dissipação de energia. Isso se dá por meio de um processo de homeostase ecológica, que suaviza a dissipação de matéria e energia por reciclagem de materiais (CAVALCANTI, 1997). Entretanto, o sistema econômico, um sistema aberto, é uma estrutura dissipativa (que gera aumento na entropia), distante do equilíbrio termodinâmico (CAVALCANTI, 1997). Com isso, as atividades econômicas alteram os ciclos naturais e modificam a dinâmica de autoregulação do ecossistema terrestre. Na visão da Economia Ecológica, a atual crise socioambiental se deve aos centenas de anos de uma ciência especializada e reducionista que impediu com que o homem entendesse ou administrasse as interações com a natureza (ISEE, 2009). Assim, buscase integrar a ciência econômica com a ecologia para que sociedades sustentáveis sejam criadas. Ao contrário dos adeptos do conceito denominado sustentabilidade fraca, a Economia Ecológica adota uma postura conservadora em relação ao potencial da tecnologia em resolver os desafios ambientais. Busca-se minimizar o risco de um colapso ecológico, 11

admitindo-se a incerteza em relação às possibilidades tecnológicas, como ilustra a Tabela 1. Herman Daly, um dos fundadores da Economia Ecológica, defende uma Economia do Estado Estacionário. A Economia Estacionária busca determinar o ponto ótimo de utilização dos recursos naturais com base em uma população constante de pessoas e artefatos (DALY, 1996 e 2004). Para Daly, a economia deve se desenvolver qualitativamente com base no conhecimento, na tecnologia, na organização, na distribuição de renda e na alocação dos recursos, sem que haja crescimento. Para Daly, não faz sentido falar em crescimento sustentável, dadas as atuais proporções do sistema econômico contemporâneo (DALY, 2004). Riscos das possíveis políticas tecnológicas Políticas tecnológicas otimistas Políticas tecnológicas pessimistas Fonte: Constanza, 1989. Se os otimistas estiverem certos Alto Moderado Estado real do mundo Se os pessimistas estiverem errados Catástrofe Tolerável Tabela 1. Avaliação dos riscos do otimismo e do pessimismo tecnológico. Daly critica a Comissão das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), que considerava em 2004 ser necessária uma expansão de 5 a 10 vezes na economia mundial para eliminar a desigualdade (DALY, 2004). Assim como outros economistas ecológicos, Daly reconhece a enorme capacidade do homem de gerar novas soluções para os problemas, entretanto, adota uma postura heterodoxa devido ao risco de se pressupor que os novos conhecimentos irão abolir velhos limites mais rapidamente do que descobrir novos (DALY, 1996). 4. CONCLUSÕES A noção de desenvolvimento sustentável tem sido usada indiscriminadamente em nosso cotidiano e em muitos trabalhos de cunho acadêmico. Entretanto, analisando a literatura 12

sobre o tema, averiguamos que não há consenso a respeito do que é desenvolvimento sustentável e de como ele pode ser atingido. A sustentabilidade foi incorporada ao discurso de diferentes vertentes do pensamento sobre o desenvolvimento e surgiram novos campos de estudo buscando explicá-la. Essa situação pode ser interpretada com base no conceito de polissemia de Pierre Bourdieu. De acordo com Bourdieu (1989), um termo é considerado polissêmico quando diferentes atores sociais compartilham somente parcialmente o entendimento sobre ele. Esse compartilhamento parcial permite um mínimo de acordo inicial entre os interlocutores evitando uma crise na relação entre eles. Entretanto, na medida em que esses interlocutores interagem, um conflito simbólico surge e acaba dificultando sobremaneira o entendimento entre as diversas partes. Assim, nos últimos anos, o advento da questão ambiental conduziu a formação de um novo campo (BOURDIEU, 1989) em torno da idéia de desenvolvimento sustentável. Com base em um entendimento mínimo comum a respeito do tema, os componentes desse campo contribuíram para a sua difusão pelo planeta. Entretanto, passado algum tempo, os diferentes atores do campo buscam agora legitimar sua noção do que é desenvolvimento sustentável por meio de um conflito simbólico que ocorre em diversas instâncias sociais. Daí as dificuldades recentes em transformar discurso em prática, expressas, por exemplo, na Declaração de Malmö. É essencial que o entendimento sobre esses diferentes significados acerca do desenvolvimento sustentável ganhe permeabilidade na sociedade. Essa, dentre outras discussões, deve deixar de ser monopólio dos tecnocratas, burocratas e acadêmicos, para alcançar a praça do mercado (SACHS, 2001). 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 13

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