fi^ 9+3 111111111111111111111111111111111111111 *317834* MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO PROCURADORIA GERAL DE JUSTIC;A PROCURADORIA CIVEL Primeira Camara Civel Agravo de Instrumento n 0078067-8 Agravante : Sul America Aetna Seguros e Previdencia S/A Agravado : C. Freios Comercio -Ltda. e Outros Relator: Exmo. Sr. Des. Jose No de Paula Guimaraes MPPE NOCU^ NQTO:3 N Auto: J:io Q 120pj.PARECER Trata-se de agravo de instrumento interposto por Sul America Aetna Seguros e Previdencia S/A, inconformada com a decisao interlocutoria que concedeu tutela antecipada no sentido de determinar a manutengao do vinculo contratual que foi rescindido unilateralmente pelo ora agravante em desfavor dos agravados. Primeiramente, alegou o carater oneroso, bilateral e aleatorio do contrato, transcrevendo os artigos 1.432 e 1.433 do Codigo Civil. Posteriormente, explicitou caracteristicas especificas do seguro de saude, informando que "o objetivo do seguro saude nao a especificamente a garantia da saude do segurado, e sim a garantia das despesas com a sua saude, observados que sejam os limites maximos estipulados no respective contrato, e observadas as exclusoes e inclusoes neste previstos, em estrita consonancia com o artigo 1.460 do Codigo Civil". 1
Mencionando o art. 54 do Codigo de Defesa do Consumidor, o agravante afirma que o referido dispositivo legal admite clausulas limitativas e restritivas do direito do consumidor, desde que feitas com destaque e permitam sua facil e imediata compreensao. Em defesa do estipulado na clausula 23.1, a qual admite a rescisao unilateral do contrato em questao, mediante a alteragao de algumas situacoes faticas, informa a agravante que a rescisao foi realizada nos termos estipulados pelas partes e especificados na referida clausula. Assim, no entendimento da agravante, o cancelamento da apolice nao a nulo ou abusivo, nem contraria o disposto nos artigos 51 e 54 do Codigo de Defesa do Consumidor. contratual, 25/26. Finaliza mencionando o principio da liberdade pugnando pela modificagao da decisao interlocutoria de fls. 0 efeito suspensivo requerido foi indeferido pela decisao de fls. 50. Intimada, a agravada apresentou suas contra-razoes as fis. 59/61,contrariando todas as alegag6es ofertadas pelo agravante. Ante a existencia de interesse de incapazes, vieram com vista ao Ministerio Publico. os autos 0 recurso a tempestivo e adequado. 0 cerne da questao gira em torno do que foi estipulado na clausula 23.1, do contrato firmado entre as partes: "0 seguro sera cancelado, obrigatoriamente, mediante aviso previo de, no minimo, 30 (trinta) dias, se a composicao do Grupo Segurado ou a natureza dos riscos vierem a sofrer alterag6es tais que tornem inviavel a sua manutengdo pela Seguradora."
8.078/90) : Dispoe o Codigo de Defesa do Consumidor (Lei "Art. 51 - Sao nulas de pleno direito, entre outras, as clausulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e servigos que: (...) XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor; (...). Art. 54. Contrato de adesao a aquele cujas clausulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou servigos, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteudo. (...) 40 As clausulas que implicarem limitacao de direito do consumidor deverao ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e facil compreensao." 0 caso ora em aprego enquadra-se exatamente no que restou prescrito pelos dispositivos legais supra mencionados. Ora, a clausula 23.1 a expressa ao admitir o cancelamento unilateral do contrato, nao havendo igual possibilidade aos segurados ora agravados. Acrescente-se, como ja restou salientado pela decisao interlocutoria recorrida, que a mencionada clausula foi redigida com letras minusculas e sem o devido destaque.
Assim, considerando o que dispoem os arts. 51, XI e 54, 40, ambos do Codigo de Defesa do Consumidor, a clausula contratual em questao a abusiva e nula de pleno direito. Entretanto, a sua nulidade nao compromete a validade das demais clausulas do contrato. Segundo Helio Zaguetto Gama: "As clausulas abusivas sao aquelas que, inseridas num contrato, possam contaminar o necesssrio equilibrio ou possam, se utilizadas, causar uma lesao contratual a parte a quem desfavoregam. (...) A presenga de uma clausula abusiva nao invalida inteiramente o contrato, exceto quando, de sua ausencia, apesar dos esforcos de integragao das demais normas contratuais, vier ocorrer onus excessivo para qualquer das partes. Assim, cabers ao interpretador do contrato verificar se, abstraindo-se a aplicagao da clausula abusiva, poders ele permanecer com as doses de equilibrio que a boa ordem juridica recomende, em especial tendo em vista a inexistencia de possibilidade de lesoes contratuais, do respeito ao consumidor e da equidade de direitos dele resultantes " (in Curso de Direito do Consumidor, Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 108 e 109) Por fim, resta a analise da existencia dos pressupostos legais autorizadores da concessao do provimento antecipado previstos no art. 273 do CPC, quais sejam: prova inequivoca da verossimilhanga das alegagoes, fundado receio de dano irreparavel ou de dificil reparagao, reversibilidade do provimento antecipado. Com relagao a questao da verossimilhanga das alegagoes, entendo que existern nos autos provas inequivocas do direito da parte agravada. Ora, foi juntada aos autos copia do contrato
de seguro saude empresarial de n 05468, firmado entre as partes, no qual restou estabelecida a clausula 23.1, anteriormente transcrita. Referida clausula, considerada abusiva nos termos da Iei, e a prova inequivoca do direito dos agravados a manutengdo do vinculo contratual. No que se refere ao receio de dano irreparavel ou de dificil reparacao, este reside no fato de que a saude dos segurados, ora agravados, restou subitamente desprotegida, ja que, em caso de doenga, ficariam sem o auxilio do seguro-saude pelo qual contribuiram financeiramente. Por fim, quanto a reversibilidade do provimento antecipado, esta restou salientada na decisao agravada, que considerou nao existir perigo de irreversibilidade em virtude da possibilidade contratual e legal de reajuste e majoragao do premio cobrado. Ante o exposto, considerando a existencia dos requisitos exigidos a concessao da tutela antecipado, o parecer a no sentido de se negar provimento ao recurso, com a manutengao da decisao interlocutoria recorrida. Recife, 07 de margo de 2.005 MARIA FABIAN EIRO DO VALLE ESTIMA PROC ADORA DE JUSTIt A (CONVOCADA) 5