O USO E DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARES EM MICRO E PEQUENAS EMPRESAS* THE USE AND DEVELOPMENT OF SOFTWARE IN MICRO AND SMALL ENTERPRISES Rodolfo Miranda Pereira 1 Tania Fatima Calvi Tait 2 Donizete Carlos Bruzarosco 3 Resumo. As Micro e Pequenas empresas representam uma porção de aproximadamente 99% das empresas brasileiras. O capital dessas empresas é bem limitado e, por tanto, não podem gastar muito no desenvolvimento de softwares. Tendo isso em vista, elas enfrentam muitos problemas para automatizarem seu sistema, pois atualmente um software requer uma quantia considerável de capital para ser desenvolvido. O presente artigo mostra as características das MPEs bem como os problemas enfrentados no desenvolvimento de software. Palavras-chaves: Desenvolvimento de Software. Micro e pequenas empresas. Tecnologia da informação. 1 Maringá Av. Colombo, 5790, 87020-900, Maringá, Paraná. E- mail: rodolfomp123@gmail.com. 1 2 Maringá Av. Colombo, 5790, 87020-900, Maringá, Paraná, E- mail: tait@din.uem.br. 3 Maringá Av. Colombo, 5790, 87020-900, Maringá, Paraná, E- mail: dcbruzar@din.uem.br. * Este artigo faz parte do Projeto de Iniciação Científica Uma análise de métricas orientadas a objeto para o desenvolvimento de software para micro e pequenas empresas desenvolvido de 2009 a 2010 na Universidade Estadual de Maringá Abstract. The Micro and Small companies represent a portion of approximately 99% of the brazilian companies. The capital of these companies is quite limited and, therefore, they can t spend much on softwares development. With this in mind, they face many problems to automate your system, because actually software requires a considerable amount of capital to be developed. This article shows the MPEs characteristics as the software development problems. Keywords: Software development. Micro and small enterprises. Information technology.
O uso e desenvolvimento de softwares em micro e pequenas empresas 1 O QUE SÃO MICRO E PEQUENAS EMPRESAS Existem algumas exigências para que uma empresa seja considerada uma Micro ou Pequena empresa (MPE) no Brasil. Atualmente, há pelo menos três definições utilizadas para o que vem a ser uma micro ou pequena empresa. A definição mais utilizada, a de INDRIUNAS (2009), é a que está na Lei Geral para Micro e Pequenas Empresas. De acordo com essa lei, as micro empresas são as que possuem um faturamento anual de, no máximo, R$ 240.000. As pequenas empresas devem faturar entre R$ 240.000,01 e R$ 2,4 milhões anualmente. Segundo NETO (2005) micro empresa são as que empregam até nove pessoas no caso do comércio e serviços, ou até dezenove, no caso dos setores industriais ou de construção. As pequenas são definidas como as que empregam de dez a quarenta e nove pessoas, no caso de comércio e serviços, e vinte a noventa e nove pessoas, no caso de indústria e empresas de construção. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES (2009), têm outro parâmetro para a concessão de créditos. Para o BNDES, uma microempresa deve ter receita bruta anual de até R$ 2,4 milhões, e uma pequena empresa entre R$ 2,4 milhões e R$ 16 milhões. Além das definições de MPEs, é importante ressaltar que um micro ou pequeno empresário é cada vez mais importante na estrutura produtiva atual, configurado como empreendedor do negócio. O presente artigo busca apresentar a situação das MPEs tanto no uso como no desenvolvimento de software. Para tanto, o artigo está dividido nas seguintes seções: Na seção 2, é apresentado o contexto das MPEs no Brasil; a seção 3 traz as características das MPEs, enquanto a seção 4 aborda a TI nas MPEs. A seção 5 apresenta a realidade de uma MPE de software. Por fim, na seção 6, são apresentadas as considerações finais. 2 O CONTEXTO DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS NO BRASIL As micro e pequenas empresas são um dos principais pilares de sustentação da economia brasileira, seja pela sua enorme capacidade geradora de empregos, seja pelo grande número de estabelecimentos desconcentrados geograficamente pelo país. Em termos numéricos, segundo KOTESKI (2005), esse grupo de empresas representa 25% do Produto Interno Bruto (PIB), gera aproximadamente 14 milhões de empregos, ou seja, 60% do emprego formal no país e representa 99% dos 6 milhões de estabelecimentos formais existentes, respondendo ainda por 99,8% das empresas que são criadas a cada ano. 3 CARACTERÍSTICAS DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS BRASILEIRAS O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE (2003), desenvolveu um amplo estudo sobre as principais características de gestão das MPE brasileiras, dentre as quais estão: Baixo volume de capital empregado; Altas taxas de natalidade e mortalidade; Presença significativa de proprietários, sócios e funcionários com laços familiares; Grande centralização do poder decisório; Não distinção da pessoa física do proprietário com a pessoa jurídica, inclusive em balanços contábeis; Registros contábeis pouco adequados; Contratação direta de mão-de-obra; Baixo nível de terceirização; Baixo emprego de tecnologias sofisticadas; Baixo investimento em inovação tecnológica; Dificuldade de acesso a financiamento de capital de giro; Dificuldade de definição dos custos fixos; Alto índice de sonegação fiscal e utilização intensa de mão-de-obra não qualificada ou sem qualificação. 4 A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO NAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS Segundo TAIT (1995) o termo tecnologia implica em uma aplicação prática do conhecimento científico ou de engenharia. Ela relata também que na definição de tecnologia estão sendo relacionados os produtos e serviços, a força técnica contra os competidores e a avaliação dos mesmos. Segunda ela, por tecnologia da informação (TI) entende-se também o uso de equipamentos, entre eles, computadores, como ferramentas auxiliares na busca dos objetivos da organização. Segundo OLIVEIRA (2008), aproximadamente 39% das MPEs brasileiras investem em tecnologia da informação. Ele cita também que existem ainda alguns mitos sobre o uso de TI em MPEs. Muitos empresários pensam que são pequenos demais para investir em TI, mas não há tamanho mínimo para que uma empresa possa se beneficiar da tecnologia. Outro erro é pensar que tecnologia é cara e inacessível para as pequenas
Pereira, Tait, Bruzarosco organizações. Hoje os custos dela vem sendo reduzidos significativamente. As principais condições para a obtenção de sucesso no uso de Tecnologia da Informação nas MPEs são a utilização de sistemas de informação e hardwares adequados as suas necessidades. Mas para que o impacto do uso da Tecnologia da Informação nas MPEs seja positivo, torna-se preciso que a aquisição desses recursos seja planejada. Os proprietários das empresas e os usuários desses recursos devem conhecer as mudanças de processos necessárias para o seu emprego, assim como as suas potencialidades e limitações, bem como das pessoas envolvidas, usando de maneira estratégica as informações geradas e disponibilizadas pelas ferramentas de TI. Segundo BERALDI (2000), a TI nas MPEs pode enxugar a empresa através da: Modernização do processo de arquivamento de papeis, fichas, pastas, folhetos, dentre outros documentos; Eliminação das atividades burocráticas, as quais podem ser realizadas facilmente no computador; Aumento da agilidade, segurança, integridade e a precisão das informações; Redução dos custos em todos os setores envolvidos; Aperfeiçoamento da administração geral da empresa, do marketing, do planejamento e controle da produção, das demonstrações financeiras, das previsões orçamentárias, das análises de investimentos e de custos. Segundo DA SILVA (2004), as MPEs no país são extremamente heterogêneas quando comparadas em alguns fatores tais como a produtividade, faturamento, lucratividade, ramo de atividade, tipo de gerenciamento, qualificação da mão-de-obra, e uso de novas tecnologias, onde é possível encontrar empresas com alto grau de desenvolvimento tecnológico. Contudo, a grande maioria das MPEs atua em setores tradicionais, absorvendo grande quantidade de mão-de-obra e utilizando pouca, ou nenhuma inovação tecnológica. Apesar das diferenças entre as MPEs, muitos dos problemas enfrentados pelas mesmas são bastante parecidos em todo o país como, por exemplo, falta de capital de giro. Na Figura 1 é apresentada a pesquisa feita pela FIESP/FIPE (2002) que indica o impacto do uso da tecnologia da informação em Micro e Pequenas Empresas. Figura 1. 1 Gráfico dos impactos da TI nas MPEs. Como pode ser visto na Figura 1, o uso de Tecnologia da Informação em MPEs melhora a empresa em quase todos os aspectos. Pode-se observar que o setor mais beneficiado, com 3,8 pontos, é o de atendimento ao cliente, o que é realmente relevante, pois uma empresa deve ter pelo menos um bom atendimento ao cliente para se diferenciar no mercado. Logo em seguida com 3,7 pontos tem-se a melhoria na qualidade da tomada de decisões. A tomada da decisão eficaz é extremamente importante para que uma empresa possa evoluir e seguir em frente no mercado. No outro extremo, com
O uso e desenvolvimento de softwares em micro e pequenas empresas apenas 2,6 pontos, temos a redução de estoques. Mesmo que esse item não seja beneficiado, significativamente não há indícios de que o uso de TI nas MPEs pode prejudicar algum aspecto da empresa. 5 MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DE SOFTWARE Uma MPE de software enfrenta as mesmas dificuldades das demais, no entanto, ao estar situada em um ramo de atividade no qual as inovações tecnológicas são rápidas e caras, as MPEs de software enfrentam desafios cada vez maiores para se manterem competitivas. As MPEs tomam algumas iniciativas em conjunto, entre elas, cita-se a organização dos APLs (Arranjos Produtivos Locais) de Software os quais contribuem para a melhoria da qualidade dos softwares produzidos, ao compartilhar técnicas e recursos. Para se ter uma pequena noção da situação das MPEs com relação ao uso de software, CHAGAS (2005) analisou uma pequena empresa de desenvolvimento de software da região de Maringá- PR, na qual detectou as seguintes situações: A empresa estudada não adota nenhum modelo de ciclo de vida; A análise de requisitos ocorre esporadicamente e é considerada precária; Não são feitos projeto arquitetural nem projeto detalhado do software; Poucas partes dos projetos possuem algum tipo de documentação; Não é utilizado nenhum software para o gerenciamento de projetos; É feito acompanhamento das atividades com base em cronogramas, mas existe uma grande dificuldade para que os cronogramas sejam cumpridos. Por outro lado, também foram detectados alguns pontos positivos, tais como: As ferramentas de desenvolvimento e de banco de dados são padronizadas. Devido às características negativas citadas, podem passar a existir problemas que de alguma forma diminuem a produtividade do processo de desenvolvimento, aumentam o custo do projeto e comprometem a qualidade do produto, como por exemplo: Erros de projeto que só são descobertos na fase de implementação; Na ausência de um programador, o projeto tem um significativo atraso devido à falha de documentação; Os cronogramas muitas vezes não são cumpridos gerando insatisfação de todas as partes envolvidas (clientes, gerentes e programadores); Perde-se muito tempo com a manutenção corretiva ou para adaptações exigidas; Insatisfação do cliente. Um dos entrevistados na pesquisa de CHAGAS (2005) avaliou cada etapa dentro do ciclo de vida do software e descreveu como: Análise de Requisitos: É realizada de maneira inadequada. Por ser informal ou em mecanismos não padronizados, algumas vezes podem faltar informações importantes para o processo de desenvolvimento. Projeto: Existe uma definição da equipe que trabalhará no projeto. É feito um cronograma que servirá como base para todo o processo. Mas nenhum projeto detalhado é feito e poucas coisas são formalizadas. Desenvolvimento: As ferramentas de desenvolvimento são padronizadas. Nem sempre a ferramenta é a versão mais atualizada, mas todos utilizam as ferramentas que a empresa adota como padrão para o desenvolvimento. Testes: O teste é feito pela equipe de suporte da empresa no final do projeto. O registro dos testes é falho, pois os dados dos testes são armazenados em planilhas que podem ser perdidas facilmente. Manutenção: A manutenção é feita pela equipe de desenvolvimento em conjunto com a equipe de suporte. A equipe de suporte recebe as solicitações dos clientes e registra em um sistema de controle de atendimentos. Posteriormente estas solicitações serão analisadas pelo programador responsável pelo sistema, que responde as solicitações como aprovadas ou não, e implementa as solicitações aprovadas para a próxima versão do sistema. Segundo CHAGAS (2005) falta também uma ferramenta que gerencie as atividades do grupo de desenvolvimento e que forneça relatórios possibilitando acompanhamento mais eficiente. Os objetivos e prazos não estão sendo atingidos de forma eficiente, mas por enquanto não houve muitos problemas com relação a isto. A partir do trabalho de CHAGAS (2005) podemos perceber a precariedade de processo de engenharia de software em uma MPE e a necessidade da customização de métodos para a sua realidade. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O tema apresentado tratou de dois elementos: o uso de software em MPEs e o desenvolvimento de software em MPEs. O uso de TI nas MPEs, e o de software, em especial, tem esbarrado ao longo dos anos nas dificuldades inerentes às MPEs tais como: Baixa
Pereira, Tait, Bruzarosco lucratividade, custo de TI considerado alto, entre outros. Entretanto, apoio de entidades como o SEBRAE possibilitam que as MPEs superem essas dificuldades e consigam fazer uso adequado dos softwares. Por outro lado, apesar das dificuldades das MPEs no desenvolvimento de software, as mesmas têm a possibilidade de produzir software de qualidade, a partir de uma série de inovações tais como uso de software livre (evitando, desta forma, gastos com softwares pagos), metodologia de desenvolvimento voltado para pequenas empresas, entre outros. A própria organização das MPEs em APLs (Arranjo Produtivos Locais) de Software pode contribuir para que as mesmas possam compartilhar recursos para se fortalecerem diante de um mercado altamente competitivo. REFERÊNCIAS BERALDI, L. C. Impacto da tecnologia da informação na gestão de pequenas empresas. Ci. Inf., Brasília, v. 29, n. 1, p. 46-50, jan./abr. 2000. BNDES,http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bnd es_pt/navegacao_suplementar/perfil/porte.html. Acesso em Abril/2009. CHAGAS, N. Melhoria do Processo de Desenvolvimento de Software em uma Pequena Empresa Utilizando a Norma NBR ISO/IEC 12207. Maringá: Conclusão do curso de Bacharelado em Informática, 2005. 56p. Cap. 4: Levantamento e Análise dos Dados Obtidos. DA SILVA, J. E. A. A TI nas micro e pequenas empresas: uma abordagem territorial. Tese de Mestrado, Natal: UFRN, 2004. FIESP/FIPE, http://www.sindlab.org/download_up/idigital2003.pdf. Pesquisa Perfil da Empresa Digital 2002. Acesso em Abril/2009. IBGE, As Micro e pequenas empresas comerciais e de serviços no Brasil: 2001. Rio de Janeiro, 2003. Coordenação de Serviços e Comércio. INDRIUNAS, L., http://empresasefinancas.hsw.uol.com.br/micro-epequenas-empresas-no-brasil1.htm. Acesso em Abril/2009. KOTESKI, M. A., Revista Fae Business, Nº 8, maio de 2004. As Micro e Pequenas Empresas no Contexto Econômico Brasileiro. NETO, J. M. O que diferencia as micro e pequenas empresas MPE das médias e grandes empresa. SEBRAE, Brasília, 2005. 15p. OLIVEIRA A., http://www.agrosoft.org.br/agropag/102303.htm. Acesso em Abril/2009. TAIT, T. F. C. A questão da tecnologia na pequena empresa. Revista Tecnológica, Maringá, n.12, p. 37-48, 9 abr. 1995.