O JOGO DE XADREZ NA APRENDIZAGEM 1 SILVA, Gilberto Galdino 2 - UFAL DUARTE, Madileide de Oliveira 3 - UFAL Grupo de Trabalho Educação, Arte e Movimento Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo A prática do xadrez por si só estimula o desenvolvimento do autocontrole e da persistência, facilitando aos educandos o processo de estudos. Como o jogo é uma constante resolução de problemas interligados, e para evoluir em seu aprendizado é necessário que se estude muito, os seus praticantes acabam por tomar gosto pelos estudos, além de adquirir facilidades com suas estratégias assim modifica sempre suas metas de aprendizado com mais foco ao ponto almejado. O objetivo geral propunha-se apresentar à história, a origem, as estratégias do jogo de xadrez para uma turma multisseriada, com o intuito de propiciar aprendizados interdisciplinares. Os objetivos específicos: estimular o desenvolvimento do raciocínio lógico; memória, concentração; incentivar os alunos a leitura e resolução de problemas; ensinar conceitos éticos com respeito às diferenças; ampliar o interesse pelas atividades lúdicas e sociais através do jogo; compartilhar esse aprendizado com a comunidade em geral. Para análise de dados algumas leituras se fizeram necessárias para fundamentação teórica, autores como: Augusto Tirado; Wilson Silva (2005), Libéria Rodrigues Neves et al. (2010), Marcos Miranda Correia (2006), Adriano J. Rossetto Jr. et al. (2009). No âmbito metodológico foram apresentadas aulas expositivas sobre o jogo e práticas com o jogo que fizeram parte do planejamento na escola de agosto a dezembro de 2012. Competições na sala de aula entre os colegas de turma e ensaio no pátio da escola, em que as peças eram as próprias crianças, complementaram e enriqueceram o aprendizado. Foi muito gratificante o desempenho da 1 Integra a pesquisa de extensão intitulada: Mídias, jogos, artes na prática pedagógica dos estudantes do curso de pedagogia modalidade a distância da UFAL, assinada pelo Prof. Dr. Luis Paulo Leopoldo Mercado, Coordenador Institucional de Educação a Distancia da UFAL e pela profa. Ms. Madileide de Oliveira Duarte. Os bolsistas que acompanharam todo o desenvolvimento do projeto na escola foram: Gilberto Galdino da Silva e Sônia Lima da Silva, os quais apresentaram o resultado da pesquisa em formato de banner no I Alagoas CAIITE I Congresso Acadêmico Integrado de Inovação e Tecnologia, ocorrido no Centro de Convenções, Maceió/AL, período de 22 a 27 de abril de 2013. 2 Graduando da Pedagogia, modalidade a distância, polo em São José da Laje/Alagoas, Professor efetivo da educação infantil básica, atual Coordenador Pedagógica na Escola Municipal Prefeito José Nunes de Arruda, São José da Laje/Alagoas. Contato: ggsilva100limites@hotmail.com. 3 Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal de Alagoas: Professora nos cursos de Pedagogia e Letras/Espanhol Universidade Aberta do Brasil/UFAL. Integrante do Grupo de pesquisa Comunicação e Significação/UFAL. Colaboradora na Coordenadoria Institucional de Educação a Distância, Núcleo de Formação-CIED/UFAL. E-mail: madileideduarte@gmail.com.
26407 turma em aprender um jogo que para eles até então era novidade e apenas entretenimento, mas não foi obstáculo para aprimorar os conhecimentos sobre o assunto e desenvolver com entusiasmo o que foi proposto. Os objetivos: geral e específicos foram atendidos amplamente. Palavras-Chave: Xadrez. Estratégias. Aprendizagem. Interdisciplinaridade Introdução O planejamento das aulas é um das coisas mais básicas que um professor deve ter em conta. Ter um planejamento elaborado promove um melhor direcionamento ao trabalho docente. Ter uma estratégia variada faz com que o professor oportunize melhor seus alunos na dinâmica da aprendizagem. A aula de xadrez, assim como qualquer outra aula, deve ser bem elaborada, pois muitas vezes os alunos podem cair numa rotina entediante, podendo em determinados momentos, perder o interesse pela aula. Iniciativas como estas são justificadas pelos benefícios da prática do xadrez, que resulta em melhoria da concentração, do raciocínio lógico, abstrato, da capacidade de análise e síntese, memória, entre outras. A prática do xadrez por si só estimula o desenvolvimento do autocontrole e da persistência, facilitando aos estudantes o processo de estudos na escola. Como o jogo é uma constante resolução de problemas interligados, para evoluir no aprendizado tornam-se necessários aprofundamentos em leituras. Seus praticantes acabam por tomar gosto pelo estudo, além de adquirir facilidade na condução das estratégias do jogo. Tudo começou pela curiosidade em inserir numa turma multisseriada, numa escola da área rural do município de São José da Laje, Alagoas o jogo de xadrez para descobrir a dimensão da aprendizagem, os avanços e retrocessos que esta atividade causaria dentro do contexto interdisciplinar, uma vez que para os alunos o jogo era algo novo, dentro do contexto educacional, e para a comunidade, o jogo não passava de um passatempo. Referencial Teórico Apresentar à história, a origem, as estratégias do jogo de xadrez para uma turma de 1º ao 5º ano como forma de aprendizagem, tratou-se do objetivo geral como desafio. Os objetivos específicos perseguiram: o estímulo ao desenvolvimento do raciocínio lógico, aumento da memória e da capacidade de concentração, incentivo à leitura e resolução de
26408 problemas, conceitos éticos com respeito às diferenças, ampliação do interesse pelas atividades lúdicas e sociais através do jogo, compartilhamento desse aprendizado entre colegas na mesma turma, todas essas ações envolvendo, de alguma maneira, familiares e demais moradores do entorno da escola. Na educação física é utilizada a expressão cultura corporal do movimento (Correia, 2006), expressão que dialoga com a maneira como percebemos a importância da utilização do jogo no processo de ensino e aprendizagem. Movimento do corpo em sala de aula (inicialmente), movimento das peças no tabuleiro do xadrez, movimento do pensamento para alcance da vitória na partida do jogo, movimento físico e intelectual. Rossetto Jr. et al. (2010) ressalta que não importa se maior ou menor tempo, é preciso ter paciência e conhecer cada aluno, acreditando que todos, dentro de suas limitações e potencialidades físicas, motoras, cognitivas e socioafetivas podem aprender bem e com desempenho. Neves (2009) apresenta uma forma prazerosa de lidar com a ansiedade fazendo uso dos jogos no cotidiano na escola. Augusto Tirado; Wilson Silva (2005) apresentam de forma lúdica e atraente atividades com jogos que tornam o trabalho docente eficaz e interdisciplinar. Estes autores contribuíram para compreensão nos encaminhamentos do projeto na escola. Como à concepção final do projeto na escola deveria ser a apresentação/representação de um xadrez humano, se fizeram necessárias às consultas: dvd Harry Potter e a Pedra Filosofal (2001) e o livro sobre o mesmo assunto, autoria de J. K. Rowling (2000); no youtube representações do jogo, como o apresentado pela Escola Monteiro Lobato, no Rio de Janeiro (http://www.youtube.com/watch?v=7fbrybth1ta). Na enciclopédia livre Wikipédia foi possível encontrar uma diversidade de estudos cooperativos acerca do jogo de xadrez (http://pt.wikipedia.org/wiki/xadrez). Da fundamental teórica colhida nos livros às diversas mídias utilizadas para ampliação do conhecimento geral e específico sobre o assunto, a realização do projeto na escola obteve ampla participação por todos envolvidos. Metodologia Os encontros para desenvolvimento do projeto na Escola Municipal de Ensino Fundamental Rafael Lourenço da Fonseca, Fazenda Bananeira, São José da Laje ocorreram
26409 durante o 2º semestre letivo no ano de 2012, em quatro aulas semanais flexíveis e em comum acordo com a colega Sônia Lima da Silva 4. Os conteúdos trabalhados foram baseados e adaptados de acordo com o ano e com o nível da referida turma. A particularidade da escola municipal em que a proposta se desenvolveu, destacamos através de três aspectos: 1) única turma existente na escola; 2) turma multisseriada, do 1º ao 5º ano, com idades entre 6 e 12 anos; 3) apenas 20 crianças compunham a sala de aula. O primeiro aspecto: a turma ser única na escola justifica-se uma vez que a comunidade, na qual a escola estava inserida, era de área rural do interior do município de São José da Laje, comunidade pequena, e com poucas crianças na faixa escolar. O segundo aspecto: uma turma se considera multisseriada quando a mesma é composta por dois ou mais anos (série escolar), em uma única sala de aula, assistidos por um único professor. Este é o caso dos alunos matriculados na escola existente na Fazenda Bananeira. O Governo Federal Brasileiro, através das ações do Ministério da Educação, tem investido muito em programas de atenção especial as turmas multisseriadas como: Programa Escola Ativa e Educação do Campo, uma vez que no campo é onde se atende mais essas turmas (http://portal.mec.gov.br/). O terceiro aspecto: apenas 20 crianças em sala de aula. Como tínhamos como propósito final a representação de um xadrez humano algumas adaptações se fizeram extremamente necessárias como, por exemplo: redução do tabuleiro, de 64 casas para 46 casas. Retomaremos este assunto mais adiante. Os meios para o estudo e apresentação do projeto O jogo de xadrez na aprendizagem foram: aulas expositivas e práticas; jogos pré-enxadrísticos jogo da velha, gato e rato, perde ganho, imitador, futxadrez, entre outros; problemas de xadrez; competições na sala entre os colegas de turma e ensaio no pátio da escola sendo os próprios alunos as peças do xadrez, uma vez que na culminância do projeto os alunos seriam as peças na partida de xadrez humano, então todos seriam caracterizados de acordo com as peças que iriam representar. Ensaios sucessivos foram realizados para que essa representação ocorresse com segurança e conhecimento dos movimentos de cada peça e suas posições de ataque para cada lance apresentado. 4 Nos dias da realização do projeto Sônia Lima da Silva se deslocava da escola em que trabalhava para a turma de Gilberto Galdino da Silva na Fazenda Bananeira.
26410 Apresentamos um tabuleiro de xadrez e entregamos um para cada aluno, debatemos neste momento a questão de jogos competitivos. Segundo Correia (2006) os jogos competitivos tem se tornado o paradigma dominante na nossa sociedade e se enaltecido nos esportes e em grande parte da educação física, através deles é possível considerar a possibilidade de estabelecer uma visão cooperativa do mundo e das relações entre si. Houve a exibição de um vídeo com a história e origem do xadrez (https://www.youtube.com/watch?v=qyh6o7nlpyg). Os alunos prestavam atenção a cada detalhe. Um breve debate com explanação didática ocorreu para aumentar o conhecimento sobre o assunto. Identificamos com os alunos algumas palavras desconhecidas, então para ampliar o repertório dividimos a turma em dupla para que eles próprios pesquisassem o significado das palavras e expressões encontradas. Apresentamos a famosa lenda do Sissa (TIRADO; SILVA, 2005) que conta a história de um sultão que perdeu seu filho em um campo de guerra e entrou em profundo estado depressivo. Sissa, um sábio que passava pela corte, resolveu participar do concurso de inventos que acontecia no palácio, com finalidade de tirar o sultão dessa melancolia. Com sabedoria, o sábio distraiu o sultão apresentando-lhe um jogo conhecido como chaturanga (jogo de xadrez), que levou o rei a recolher-se e meditar a situação: encontrar um caminho para vencer no jogo. O jogo representava um campo de batalha e a guerra entre dois reinos. Como o rei queria ser o vencedor na batalha entre os reinos no jogo, isto fez com que reagisse à perda de seu filho no campo de guerra. E assim foram os primeiros trabalhos com os alunos da turma multisseriada. Tratamos dos movimentos básicos de cada peça e suas capturas e um primeiro contato para uma partida do xadrez, após exibição da cena 28 do filme A pedra filosofal, em que uma partida de xadrez tem a participação das personagens principais do filme, como peças distribuídas no tabuleiro de xadrez. Resultados e Discussões Para compreender o que o próprio título nos instiga O jogo de xadrez na aprendizagem, formulamos uma pergunta: de que maneira o jogo de xadrez favorece a aprendizagem dos alunos? Podemos afirmar que existe uma multiplicidade de fatores para que a aprendizagem aconteça. Dentre esses fatores trabalhar em sala de aula com o jogo de xadrez demonstrou que além do entretenimento o jogo promoveu aprendizagem interdisciplinar.
26411 Conhecer as regras do jogo de xadrez possibilitou que os educandos parassem, pensassem, refletissem e usassem estratégias para resolver seus próprios desafios diante das dificuldades. De acordo com Neves; Santiago (2009) o jogo na escola é visto por muitos ainda simplesmente para gastar o tempo e ocupar os alunos. Apesar do estranhamento inicial de pais e alguns alunos, com uso do jogo na aprendizagem em sala de aula, durante o desenvolvimento do projeto foi possível perceber mudanças nessas concepções. Quando começamos a trabalhar em sala de aula com o jogo de xadrez descobrimos pouco a pouco o quanto às aulas se tornariam mais prazerosas. Do ponto de vista pedagógico e do ponto de vista familiar e interpessoal em sala de aula. Do ponto de vista pedagógico, mediante uma relação interdisciplinar, quando trabalhamos a geografia do tabuleiro: posições verticais, horizontais e diagonais; superfície plana e não plana fazendo uso da leitura individual e em grupo, assim favorecendo algumas disciplinas como: matemática, língua portuguesa, geografia, história e arte. No relacionamento familiar e interpessoal, em casa melhorou a convivência com os irmãos e até mesmo com os colegas na sala de aula. As crianças se relacionaram muito bem com o jogo. Alguns demonstraram conhecimento da técnica por associação a outros jogos conhecidos como: dama e firo. Isso facilitou muito o trabalho, sem contar que eles tinham certa facilidade em assimilar os conhecimentos transmitidos. Apesar de ser um jogo novo para as crianças e, necessitar de atenção redobrada as técnicas desse jogo, o interesse pelo aprendizado e pela disputa foi maior. Houve orientação desde o princípio quanto ao conhecimento dos movimentos de cada peça, suas estratégias de ataque e até de recuo quando necessário. Orientação que a peça mais poderosa do tabuleiro é a rainha, uma vez que ela tem o poder de se movimentar para qualquer posição e pode ocupar ainda o lugar da torre ou do bispo para se defender ou defender o seu rei quando o mesmo se encontrar em xeque. Para atender a proposta final com a realização de um xadrez humano, e tendo em vista as especificidades da turma, algumas mudanças no tabuleiro foram necessárias. Algumas peças foram retiradas, bem como a diminuição na geografia do tabuleiro. Foram retirados de cada lado: três piões; uma torre; um cavalo e um bispo. O tabuleiro foi reduzido para 46 casas ao invés das 64 em um tabuleiro completo. A redução foi inevitável. Como trata de um exercício de aprendizagem, e tendo em vista que cada aluno foi orientado acerca do assunto,
26412 acreditamos que não cometemos erros. É o que inicialmente tratávamos no tópico Metodologia. Vídeos no youtube foram encontrados durante o planejamento dos planos de aula que contribuíram para o momento da preparação das crianças a representação da partida do xadrez humano na escola. Dentre os vídeos pesquisados, destacamos o disponibilizado pela Escola Municipal Monteiro Lobato, localizada geograficamente no Rio de Janeiro (http://www.youtube.com/watch?v=7fbrybth1ta). Ele contribuiu como uma das fontes inspiradoras para idealização do figurino. A apresentação, representação e a séria disputa da partida de xadrez humano realizouse no pátio da própria escola na Fazenda Bananeira em São José da Laje, Alagoas. Considerações Finais Considerou-se este projeto como um instrumento eficaz na aprendizagem. Foi muito gratificante o desempenho da turma em aprender um jogo, que até então era pura novidade. Não foi obstáculo o aprimoramento de conhecimentos sobre suas regras e desenvolvimento da técnica com entusiasmo até a disputa final. Diante de tantas coisas vividas e compartilhadas durante esta experiência podemos afirmar com segurança que há muitas razões pelas quais o xadrez tem um impacto positivo sobre crianças. Não possibilita às crianças apenas habilidades de pensamento e melhora sua memória, concentração e cálculo, mas as ensina a assumir a responsabilidades por suas ações assim levando-as sempre a ponderar suas reações diante de certas situações, possibilitando a tomada de decisões com mais sensatez e segurança. Há também atitudes comportamentais e atributos sociais, as crianças apertam as mãos no início do jogo e, embora não seja um silêncio absoluto durante a partida, as crianças ficam bastante tranquilas e atentas às tomadas de decisões. Do jogo à tomada de decisões pela vida a fora. REFERÊNCIAS COMO JOGAR XADREZ - Passo a Passo - Parte1/3. Enviado por Samuel Souza, carregado em 19/08/2011. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=qyh6o7nlpyg>. Acesso em 08 jul. 2012.
26413 CORREIA, Marcos Miranda. Trabalhando com jogos cooperativos: em Busca de Novos Paradigmas na Educação Física. 4ª edição, Campinas/SP: Papirus 2010. HARRY POTTER E A PEDRA FILOSOFAL. Direção: Chris Columbus. Produção: David Heyman. Escrito: Steve Kloyes. duração 152 min., col, legendado, 2001. WIKIPÉDIA a enciclopédia livre. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/xadrez>. Acesso em 10 jul. 2012. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2013. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/>, Acesso em 16 mai. 2013. NEVES, Libéria Rodrigues; SANTIAGO, Ana Lydia B. O uso dos jogos teatrais na educação: possibilidades diante do fracasso escolar. São Paulo: Papirus Editora, 2009. ROSSETTO JR, Adriano José. et al. Jogos educativos, estruturas e organização da prática. 5ª edição, São Paulo: Phorte, 2009. ROWLING, J. K. Harry Potter e a Pedra Filosofal. Tradução por Lia Wyler, Rio de Janeiro: Rocco, 2000. TIRADO, Augusto; SILVA, Wilson. Meu primeiro livro de xadrez. Curso para Escolares. 6ª edição, Curitiba: Xadrez Magistral, 2005. XADREZ HUMANO. Carregado por ingritaraissa18 em 13.11.2007. Disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=7fbrybth1ta>. Acesso em 19 jul. 2012.