REFLEXÕES SOBRE PRÁTICAS DE LETRAMENTO(S) E PROCESSOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM NO CURSO DA DISTORÇÃO IDADE- SÉRIE CDIS



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Transcrição:

REFLEXÕES SOBRE PRÁTICAS DE LETRAMENTO(S) E PROCESSOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM NO CURSO DA DISTORÇÃO IDADE- SÉRIE CDIS 1 Ana Paula Carvalho 2 Vanda Barbosa 3 Vângela Vasconcelos Resumo: Neste trabalho investigamos as práticas de letramentos no curso de formação continuada da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF), destinado aos professores da Correção da Distorção Idade e Série (CDIS). Refletimos a respeito da formação continuada como um momento de busca de caminhos possíveis que atendam as necessidades e dificuldades do processo de ensino e aprendizagem que os cursistas enfrentam em sua prática pedagógica atualmente, tendo em vista o perfil desafiador dos estudantes que se encontram na CDIS. Assim, para que haja uma ressignificação na prática docente, é necessário um olhar sensível para a contribuição do curso CDIS no que tange à prática pedagógica. Palavras chave: CDIS letramentos formação continuada prática pedagógica processos de aprendizagem 1. Introdução Este trabalho foi desenvolvido com o intuito de investigar as práticas de letramentos e os processos de ensino e aprendizagem da formação continuada destinada aos professores das turmas de Correção da Distorção Idade-Série (CDIS), da Secretaria de Educação do Distrito Federal, em Sobradinho-DF. O curso é composto de encontros presenciais semanais, coordenado pela formadora da Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação, nos quais são discutidos temas relacionados ao fazer pedagógico. Além dos encontros presenciais, está previsto, também, o acompanhamento pedagógico com levantamento das necessidades de aprendizagem dos estudantes, bem como oficinas direcionadas ao que foi diagnosticado com propostas de intervenções pedagógicas. Além disso, há estudos complementares, individuais e elaboração de sequências didáticas e material pedagógico. Além dos encontros presenciais e do acompanhamento pedagógico os professores devem elaborar e implementar um projeto interdisciplinar na escola. Página 99

1 Professora da Secretaria de Educação do Distrito Federal, graduada em Pedagogia. anaphtc@hotmail.com 2 Professora da Secretaria de Educação do Distrito Federal, graduada em Letras pelo UNICEUB e pós- graduada em Letras pela UnB. vandinha_barbosa@hotmail.com 3 Professora da Secretaria de Educação do Distrito Federal, graduada em Letras pelo UNICEUB, mestre em Linguística pela UnB. vanfontenele@gmail.com O objetivo do curso da CDIS é atender os alunos com defasagem idade-série de forma diferenciada, tendo em vista a sua inadequação ao sistema vigente. As atividades propostas estão, a princípio, dentro de uma visão sócio-construtivista do processo ensino e aprendizagem, na qual alunos e professores constroem juntos o conhecimento em sala de aula, por meio de uma relação interdependente, apoiada no interesse e na participação ativa dos alunos, e da atuação do professor como mediador entre os alunos e o conhecimento social e historicamente construído. A análise do curso da CDIS sob o ponto de vista da coordenação intermediária da Secretaria de Educação propiciou uma reflexão acerca da troca de experiências entre os (as) professores (as) de diferentes escolas, com situações semelhantes, possibilitando uma ressignificação da prática docente, por meio de um novo olhar, tanto das coordenadoras intermediárias, bem como dos (as) professores (as) da CDIS. 2. Formação continuada Nesta secção, discutimos a formação continuada no contexto educacional em que a profissão docente se desenvolve. Segundo Imbernón (2010), até o início da década de 1970, na maioria dos países latinos, embora houvesse formas esporádicas de momentos de formação, ainda não havia uma análise da formação do professor como campo de conhecimento. Foi a partir dessa década que uma série de estudos para determinar as atitudes dos professores em relação aos programas de formação continuada foi iniciada. Sparks e Horsley (1990 apud IMBERNÓN, 2010) reconheceram na década de 1970, o início da era da formação continuada, que Página 100

se consolidaria nos anos de 1980, e permanece até os dias atuais. No contexto educacional do Distrito Federal, a Secretaria de Educação do Distrito Federal oferece cursos de formação continuada por meio da Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação (EAPE) aos Professores da Correção da Distorção Idade-série a fim de subsidiar os (as) professores (as) da rede de educação pública em sala de aula. Isso por que o saber-fazer é aprendizagem contínua do (a) professor (a) e de seu autoconhecimento crítico ao longo de sua vida. Conforme aponta Apple (2008, p. 83), O estudo do conhecimento educacional é um estudo ideológico, a investigação do que determinados grupos sociais e classes, em determinadas instituições e em determinados momentos históricos, consideram conhecimento legítimo (seja esse conhecimento do tipo lógico que, como ou para ). É, mais do que isso, uma forma de investigação orientada criticamente, no sentido que escolhe em concentrar-se em como esse conhecimento, de acordo com sua distribuição nas escolas, pode contribuir para um desenvolvimento cognitivo e vocacional que fortaleça ou reforce os arranjos institucionais existentes (e em geral problemáticos) na sociedade. Devemos, nesse sentido, nos atentar para questões acerca do conhecimento, que é disseminado nos cursos de formação continuada, e os princípios de seleção, organização, distribuição e avaliação desse conhecimento. Nessa perspectiva, destacamos o papel da formação continuada como um potencial para o desenvolvimento profissional do (a) professor (a). Espera-se do/a professor/a uma ação de questionamento e de criticidade em sua profissão, com vistas à superação de práticas tradicionais de ensino, por meio da apropriação e revisão das práticas pedagógicas. Segundo Nóvoa (1992, p. 25), esta formação não se constrói apenas por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas), mas sim, por meio do trabalho, de reflexividade crítica sobre as práticas e da (re)construção permanente de uma identidade pessoal. 3. Letramento(s) Atualmente, encontramos várias concepções acerca do termo letramento Página 101

(s). Segundo Street (1999, p. 1), o termo letramento refere-se às práticas sociais e conceitos de leitura e escrita. Estes conceitos dependem do contexto, da natureza da formação social e não podem ser isolados ou tratados como neutros, ou meramente técnicos, isto porque a natureza das práticas sociais tem seus usos e consequências. Rios (2009, p. 1) entende letramento como atos socioculutrais concretos que são constituídos por pelo menos uma das seguintes atividades escrita, leitura e fala em torno/sobre o texto escrito. Assim, as práticas de letramento, como qualquer outra prática social, são permeadas por relações de poder e ideologia e podem tanto contribuir para a manutenção hegemônica das classes dominantes, como para a emancipação dos atores sociais. Práticas de letramento são situações em que o texto escrito/oral/multimodal é um instrumento de interação, porque integra a própria natureza da interlocução e a produção de sentido. Tais práticas envolvem não somente um processo de socialização da linguagem como também se constituem como um meio de incorporação de representações individuais, sociais e culturais dos atores sociais. Textos, como materializações do discurso, são parte de eventos sociais e, por isso, podem ter efeitos causais sobre modos de ser, de inter-agir e de representar o mundo. Barton e Hamilton (2000) afirmam que toda atividade de letramento é situada e indicativa de práticas sociais mais amplas. Portanto, uma análise crítica das práticas de letramento na CDIS poderá nos ajudar a investigar a relação entre a formação continuada e as práticas pedagógicas. Para Barton e Hamilton (2000, p. 8), as práticas de letramento são moldadas por regras sociais que regulam o uso e a distribuição de textos, prescrevendo quem poderá produzir e ter acesso a eles. Segundo Barton (1994), as práticas de letramento são modos culturais gerais de uso do letramento, aos quais as pessoas recorrem em um evento de letramento. Os autores nos esclarecem a razão pela qual investigam as práticas de letramento: Nosso interesse consiste em práticas sociais nas quais o letramento tem seu papel, por isso a unidade básica de uma teoria do letramento é aquela de práticas de letramento[...] Em um sentido mais simples as práticas de letramento são o que as pessoas fazem com letramento [...] Isso inclui a consciência das pessoas sobre letramento, as construções de letramento e os discursos de Página 102

letramento, como as pessoas falam e constroem sentidos sobre letramento (BARTON; HAMILTON, 2000, p. 7). As práticas de letramento e os eventos de letramento são conceitos-chave para compreendermos letramento como um fenômeno social. Barton e Hamilton (2000) definem eventos de letramento como atividades em que o letramento tem o seu papel, e acrescentam: eventos são episódios observáveis que emergem das práticas e são moldados por elas (BARTON; HAMILTON, 2000, p. 8). Segundo Street (2012, p. 75), a expressão eventos de letramento é um conceito útil porque capacita pesquisadores, e também praticantes, a focalizar uma situação particular onde as coisas vão acontecendo e pode-se vê-las enquanto acontecem. Nesse sentido, analisamos eventos de letramento no curso da CDIS em diferentes situações particulares, ligando os eventos às atividades de natureza social e cultural as práticas de letramento. Essas concepções a respeito das práticas de letramento(s) nos possibilitarão analisar os eventos de letramento presentes no curso da CDIS, pois eles estão diretamente relacionados à reflexão acerca da formação continuada de professores (as) e de toda a comunidade. 4. O processo de ensino e aprendizagem da CDIS Descrevemos, a seguir, o relato de uma das aulas ministradas no Curso da CDIS e seus eventos de letramento. Nesse encontro tivemos a oportunidade de trabalhar com o seguinte tema: Pesquisa em Educação : uma prática escolar. Sou um professor pesquisador. Sou um professor pesquisador? O encontro foi desenvolvido de acordo com os seguintes objetivos: Desenvolver as sensibilidades por meio do olhar sensível como ferramenta de construção de conhecimentos e formação do professor pesquisador. Despertar o olhar da observação das diferenças na sala de aula. Perceber, nos desafios interpostos pelas inter-relações em sala de aula, a necessidade do uso da investigação como recurso didático de pesquisa-ação. Página 103

Inicialmente a formadora realizou uma acolhida com a leitura compartilhada do texto: Ver... vendo de Otto Lara Rezende, do qual retiramos o seguinte trecho: De tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é... Logo em seguida, no momento de socialização, realizou-se uma discussão e perguntas sobre o texto pela Formadora do Curso, tais como: Quando você fixa o olhar em algo diferente, como um ponto de observação. Que olhar você tem quando vê as nuvens do Céu? Quando vê uma folha seca no chão? Quando vê pessoas com diferentes maneiras de aprendizagens em sala de aula? E agora com um monóculo, como você vê tudo isso? São questões desafiadoras para o professor, prosseguiu a Formadora: Este é um momento de grande importância, pois é quando faz o professor refletir sobre o seu trabalho pedagógico realizado em sala de aula. Após estes questionamentos da formadora, pudemos constatar que foi um dos momentos em que os professores apresentaram uma real preocupação no fazer pedagógico: Como vou trabalhar esse determinado assunto em sala de aula? O que e como devo ensinar? O que o aluno deve aprender? Para que serve este curso e para quem? É para nos ensinar o que já sabemos... dar aula? Vale a pena essa Formação? mesmo sem estruturas de políticas públicas? Indagou um professor de Anos Finais. Segundo Bauman, em uma entrevista a revista Nova Escola A escola precisa que seus professores tenham capacidades intelectuais d promover uma prática docente que promova ao menos a igualdade. No que diz respeito a CDIS, é esse talvez seja o cerne da prática pedagógica, tendo em vista a completa exclusão dos alunos defasados em idade-série. Ao observarmos as falas dos professores e da Formadora, percebemos a grande valia do momento em que a mediadora-formadora e professores, discorrem sobre a importância da observação como ferramenta básica para a construção de um olhar pedagógico sensível e da importância de desenvolvê-lo em sala de aula. Esse olhar pode (re) direcionar o professor com relação ao fazer pedagógico por meio de uma reorganização de estratégias pedagógicas significativas para os Página 104

alunos atendidos nas turmas de CDIS. Em seguida à discussão sobre o texto, houve uma apresentação de slides com as questões: Há em sua constituição docente um professor pesquisador? Que aspectos de sua prática pedagógica constituem problemas que merecem investigação? Que benefícios a investigação desses problemas poderá trazer para a reorganização de seu trabalho pedagógico? Em resposta a estes questionamentos acima, um professor de Geografia relatou a seguinte experiência: Eu pensava que fazer pesquisa era algo muito distante da sala de aula, até o dia em que levei meus alunos ao Parque Jequitibás para um simples passeio ecológico. Fui, então, motivado por um colega a registrar e apresentar um projeto sobre o meu trabalho em um Congresso. Assim como este professor mudou o olhar para o seu fazer pedagógico, podemos afirmar que, durante o compartilhamento dessa experiência com os demais professores do Curso, outros professores se sentiram motivados a registrar suas experiências, mudando seu olhar pedagógico. 5. Considerações finais As práticas de leitura, discussão e reflexão acerca do tema trabalhado em uma aula do Curso da CDIS foram de extrema relevância para a formação e desenvolvimento dos professores cursistas. Além disso, a troca de experiências foi de grande importância e valorização para o trabalho realizado pelos professores em sala de aula. Vale ressaltar também que o papel da mediadora formadora, fomentando discussões conseguiu instigar os professores a desenvolver um olhar de professor pesquisador para com a prática pedagógica dos mesmos. Formadora e cursistas no processo de saber aprender - fazer pedagógico, ou seja, professores cursistas e formadora aprendendo, fazendo juntos. Aproveitamos, também, para ressaltarmos a respeito da importância da Formação Continuada para aqueles professores que têm a intenção, ou seja, querer fazer e mudar sua prática docente. Falamos, ainda, da importância de ser um professor-pesquisador, investigador e que se assim for, talvez tenhamos no futuro um número considerável de aprendizes com características de grandes pensadores. Página 105

... Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória que dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses... José Manuel Moran REFERÊNCIAS APPLE, M. W. Ideologia e Currículo. Trad. Vinicius Figueira. São Paulo: Artmed, 2008. BARTON, D. Literacy: an introduction to the ecology of written language. Oxford, Reino Unido: Blackwell, 1994. BARTON, D.; HAMILTON, M. Literacy Practices. In: BARTON, D.; HAMILTON, M.; IVANIC, R. (Orgs.). Situated literacies: reading and writing in context. Londres: Routledge, 2000, p. 7-15. BARTON, D.; HAMILTON, M. Local literacies: reading and writing in one community. Londres; Nova York: Routledge, 1998. BAUMAN, Z. Nós hipotecamos o futuro http://www.youtube.com/watch?v=ocpd1pldkoq acesso em 05/10/2013 IMBERNÓN, F. Formação continuada de professores. Porto Alegre: Artmed, 2010. MACEDO, R. S. Compreender/mediar a formação: o fundante da educação. Brasília: Liber Livro, 2010. NÓVOA, A. Os professores e a sua formação. Trad. Graça Cunha, Cândida Espanha e Conceição Afonso. Lisboa: Dom Quixote, 1992. SACRISTÁN, J. G. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Ernane F. da Fonseca Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2000. STREET, B. Eventos de letramento e práticas de letramento: teoria e prática nos novos estudos do letramento. In: MAGALHÃES, I. (Org.). Discursos e práticas de letramento. Campinas-SP: Mercado das Letras, 2012, pp. 69-92. STREET, B. Social literacies: critical approaches to literacy in development, ethnography and education. Londres/Nova York: Longman, 1999. VASCONCELOS, V. Práticas de letramento docente na coordenação pedagógica. 2013. 108 f. Dissertação (Mestrado) Universidade de Brasília, Brasília. 2013. Página 106

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