MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA 2.453 DISTRITO FEDERAL RELATOR AUTOR(A/S)(ES) PROC.(A/S)(ES) RÉU(É)(S) PROC.(A/S)(ES) RÉU(É)(S) PROC.(A/S)(ES) : MIN. MARCO AURÉLIO :ESTADO DO CEARÁ :PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO CEARÁ :UNIÃO :ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO :FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO - FNDE :PROCURADOR-GERAL FEDERAL DECISÃO SISTEMA INTEGRADO DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DO GOVERNO FEDERAL E CADASTRO ÚNICO DE CONVÊNIOS INSCRIÇÃO DE UNIDADE DA FEDERAÇÃO AUSÊNCIA DE OBSERVÂNCIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL LIMINAR DEFERIDA. 1. O Gabinete prestou as seguintes informações: O Estado do Ceará formalizou ação sob o rito ordinário contra a União e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação FNDE visando obstar a inscrição da Secretaria de Estado de Educação SEDUC/CE no Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal SIAF e no Cadastro Único de Convênios CAUC em razão da prestação de contas final relativa ao Convênio SIAFI nº 314195 (nº original 6.273/1996), além de ver declaradas como cumpridas as obrigações do mencionado Órgão local previstas no aludido acordo. Segundo narra, em 27 de novembro de 1996, a SEDUC/CE
celebrou com o FNDE o Convênio nº 6.273/1996, no qual preconizado o aporte de recursos federais, no valor de R$ 3.682.000,00 (três milhões, seiscentos e oitenta e dois mil reais), para suplementar a manutenção e o desenvolvimento do ensino fundamental em escolas públicas da rede municipal. Detectada a apresentação parcial das contas, diz haver o FNDE, por meio do Ofício nº 1/2014, orientado o órgão local a manter contato com o ex-dirigente dessa Entidade, visando ao saneamento da pendência ou a devolução dos recursos [...], ou, na impossibilidade de fazê-lo, adotar as medidas legais visando ao resguardo do patrimônio público. Destaca, com base nas regras contidas no convênio, incumbir à SEDUC/CE intermediar o recebimento da prestação de contas pelos municípios envolvidos e o encaminhamento ao ente federal. Consoante esclarece, notificou, em abril de 2011, todos os ex-gestores municipais para o envio dos dados ou a devolução dos recursos. Assevera a expedição do Ofício nº 1.662/2014 ao Ministério Público Federal visando a adoção das providências cíveis e criminais pertinentes, no que foi instaurado o Inquérito Criminal nº 1.15.000.001336/2014-5. Sustenta haver adotado todas as medidas que lhe cabiam, insuficientes a evitar a inscrição da Secretaria nos cadastros federais de inadimplência. Reporta-se à previsão contida na cláusula sétima do Convênio nº 6.273/1996, no que estipulada a abertura de tomada de contas especial no caso de descumprimento das obrigações dispostas no acordo. Cita o decidido pelo Pleno no referendo à tutela antecipada deferida na Ação Cível Originária nº 2.131, relator ministro Celso de Mello, para justificar a impossibilidade de registro no SIAFI e no CAUC antes de apreciada, pelo Tribunal de Contas da União, a tomada de contas especial. Noticia haver apresentado, em 30 de maio de 2014, pedido de resolução do conflito perante a Câmara de Conciliação e Arbitragem da Administração Federal, pendente de apreciação. Entende configurada a competência do Supremo, presente 2
o disposto no artigo 102, inciso I, alínea f, da Carta da República. Evoca o pronunciamento formalizado na Ação Cautelar nº 2.973, relatora ministra Cármen Lúcia. Tacha de ilegal a inscrição da SEDUC/CE no SIAFI e no CAUC. Sob o ângulo do risco, alega a inviabilidade de recebimento de recursos da União na pendência da restrição junto aos referidos cadastros federais. Requer, em sede de antecipação de tutela, seja determinada a retirada da restrição lançada em nome da SEDUC/CE do rol de inadimplentes do SIAFI e do CAUC, impedindo-se os réus de proceder à nova inscrição em razão do Convênio nº 6.273/1996, além de impor ao FNDE que restrinja a tomada de contas a ser eventualmente instaurada às unidades executoras do mencionado acordo, sob pena de multa diária de R$ 20.000,00 (vinte mil reais). Pede, alfim, a confirmação da providência e a declaração de cumprimento das obrigações pactuadas pela SEDUC/CE no referido convênio, especialmente a prevista na Cláusula Quarta, inciso II, alínea e. O processo está concluso para apreciação da medida liminar. 2. A inserção de unidade da Federação no Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal SIAF e no Cadastro Único de Convênios CAUC, como inadimplente, é ato que implica consequências gravosas para o ente público, entre as quais a proibição de recebimento de transferências voluntárias da União. O óbice pode resultar na paralisação de serviços públicos essenciais e de projetos fundamentais para a população local. Conforme fiz ver, ao deferir a liminar na Ação Cautelar nº 259/AP, de minha relatoria, referendada pelo Pleno em 19 de agosto de 2004, há de buscar-se posição de equilíbrio, muito embora seja necessária a adoção de medidas para compelir a Administração Pública ao cumprimento das obrigações assumidas. Presentes as dificuldades operacionais advindas dessas medidas de bloqueio, é tempo de atentar para os reiterados pronunciamentos do Supremo, implementando a glosa no caso, ainda mais considerada a falta 3
de instauração do procedimento de tomada de contas especial. Confiram trecho da ementa do julgado no qual o Pleno, em 18 de abril de 2013, referendou tutela antecipada implementada pelo relator, ministro Celso de Mello, na Ação Cível Originária nº 2.131/MT, envolvido assunto análogo: E M E N T A: SIAFI/CAUC RISCO DE INCLUSÃO, NESSE CADASTRO FEDERAL, DO ESTADO DE MATO GROSSO POSSIBILIDADE DE IMPOSIÇÃO, AO ESTADO- MEMBRO, DE LIMITAÇÕES DE ORDEM JURÍDICA, ANTES DO JULGAMENTO DE TOMADA DE CONTAS ESPECIAL REPERCUSSÃO GERAL DA MATÉRIA (RE 607.420-RG/PI, REL. MIN. ROSA WEBER) EXISTÊNCIA DE PLAUSIBILIDADE JURÍDICA OCORRÊNCIA, NA ESPÉCIE, DE SITUAÇÃO CONFIGURADORA DE PERICULUM IN MORA RISCO À CONTINUIDADE DA EXECUÇÃO, NO PLANO LOCAL, DE POLÍTICAS PÚBLICAS LITÍGIO QUE SE SUBMETE À ESFERA DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL HARMONIA E EQUILÍBRIO NAS RELAÇÕES INSTITUCIONAIS ENTRE OS ESTADOS-MEMBROS E A UNIÃO FEDERAL O PAPEL DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL COMO TRIBUNAL DA FEDERAÇÃO POSSIBILIDADE, NA ESPÉCIE, DE CONFLITO FEDERATIVO TUTELA ANTECIPATÓRIA DEFERIDA DECISÃO DO RELATOR REFERENDADA PELO PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. [ ] BLOQUEIO DE RECURSOS FEDERAIS CUJA EFETIVAÇÃO PODE COMPROMETER A EXECUÇÃO, NO ÂMBITO LOCAL, DE PROGRAMA ESTRUTURADO PARA VIABILIZAR A IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS. - O Supremo Tribunal Federal, nos casos de inscrição de entidades estatais, de pessoas administrativas ou de empresas 4
governamentais em cadastros de inadimplentes, organizados e mantidos pela União, tem ordenado a liberação e o repasse de verbas federais (ou, então, determinado o afastamento de restrições impostas à celebração de operações de crédito em geral ou à obtenção de garantias), sempre com o propósito de neutralizar a ocorrência de risco que possa comprometer, de modo grave e/ou irreversível, a continuidade da execução de políticas públicas ou a prestação de serviços essenciais à coletividade. Precedentes. No mesmo sentido, há outras decisões do Colegiado Maior: Agravo Regimental na Medida Cautelar na Ação Cível Originária nº 1.803/DF, relatora ministra Cármen Lúcia, julgado em 13 de junho de 2012, e Agravo Regimental na Medida Cautelar na Ação Cautelar nº 1.700/SE, relator ministro Ricardo Lewandowski, apreciado em 10 de abril de 2008. Descabe, contudo, consideradas as partes envolvidas no Convênio nº 6.273/1996 FNDE e Estado do Ceará, restringir eventual tomada de contas apenas às unidades executoras, ou seja, aos municípios beneficiados com os recursos oriundos do ajuste. As obrigações previstas no acordo vinculam tão somente os entes que compuseram a relação contratual, não podendo alcançar terceiros. 3. Defiro parcialmente a liminar pretendida para determinar aos réus a retirada da restrição alusiva à Secretaria de Educação do Estado do Ceará constante do Cadastro Único de Convênio CAUC e do Sistema Integrado de Administração Financeira SIAFI, concernente à execução do Convênio SIAFI nº 314195 (nº original 6.273/1996), até que encerrada eventual tomada de contas especial pelo Tribunal de Contas da União. 4. À Primeira Turma, para referendo desta decisão. 5. Citem os réus. 5
6. Vindo ao processo a manifestação, colham o parecer da Procuradoria Geral da República. 7. Publiquem. Brasília, 18 de junho de 2014. Ministro MARCO AURÉLIO Relator 6