ESTUDO DA TIPOLOGIA E DA EFICÁCIA DO LANÇAMENTO DA BOLA PELA LINHA LATERAL EM FUTEBOL



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Transcrição:

ESTUDO DA TIPOLOGIA E DA EFICÁCIA DO LANÇAMENTO DA BOLA PELA LINHA LATERAL EM FUTEBOL Saúl António Teixeira Pessoa Porto, 2006

ESTUDO DA TIPOLOGIA E DA EFICÁCIA DO LANÇAMENTO DA BOLA PELA LINHA LATERAL EM FUTEBOL Monografia realizada no âmbito da disciplina de Seminário do 5º ano da Licenciatura em Desporto e Educação Física, na área de Desporto de Rendimento - Futebol, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Orientador: Prof. Doutor Júlio Garganta Saúl António Teixeira Pessoa Porto, 2006

Ficha de Catalogação Pessoa, S. (2006). Estudo da Tipologia e da Eficácia do lançamento da bola pela linha lateral em Futebol: S. Pessoa. Dissertação de Licenciatura apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. PALAVRAS-CHAVE: FUTEBOL OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DO JOGO LANÇAMENTO DA BOLA PELA LINHA LATERAL.

Índice geral ÍNDICE GERAL Índice de Figuras. Índice de Quadros... Resumo Pág. I II IV 1 INTRODUÇÃO..... 1 2 ENQUADRAMENTO E PERTINÊNCIA DO ESTUDO 3 3 REVISÃO DA LITERATURA.. 7 3.1 - Observação e análise do jogo como algo imprescindível... 7 3.2 Os lances de Bola Parada no Futebol 8 3.2.1 - O Lançamento lateral. 10 3.2.2 Enquadramento Histórico do Lançamento Lateral 10 3.2.3 A importância do Lançamento Lateral no jogo... 11 3.2.4 O Lançamento Lateral e as regras do Futebol... 12 3.2.5 A execução do Lançamento Lateral. 13 3.2.6 Tipos de Lançamento Lateral. 15 3.2.7 O Lançamento Lateral e a Posse de bola.. 17 4 OBJECTIVOS 22 4.1 Objectivo Geral... 22 4.2 Objectivos Específicos.. 22 5 METODOLOGIA... 23 5.1 Caracterização da Amostra.. 23 5.2 Observação e Registo de dados.. 23 5.3 Explicitação das Variáveis em estudo.... 24 5.4 Fiabilidade da observação 26 5.5 Procedimentos estatísticos... 27 6 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS. 28 6.1 A eficácia do lançamento da bola pela linha lateral.. 28 6.2 A eficácia e o alcance da bola. 29 6.3 A eficácia e os sectores do campo. 31 6.4 - A eficácia do lançamento associada à situação da equipa e à rapidez de execução.. 33 6.5 - A situação da equipa e a rapidez de execução.. 35 6.6 - Tipologia do lançamento lateral 35 6.7 - Tipologia do lançamento lateral e a eficácia... 37 7 CONCLUSÕES. 39 8- IMPLICAÇÕES PRÁTICAS PARA O ENSINO, O TREINO E A COMPETIÇÃO.. 41 9 - SUGESTÕES PARA FUTURAS INVESTIGAÇÕES... 44 10 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.... 45 ANEXOS... 53 - Anexo 1... I

Índice de figuras ÍNDICE DE FIGURAS Pág. Figura 1 Alcance aproximado da bola num lançamento curto... 24 Figura 2 Alcance aproximado da bola num lançamento longo.. 25 Figura 3 Ilustração da direcção dos lançamentos executados para a frente, para trás e perpendicular à linha lateral. 25 Figura 4 Divisão transversal do terreno de jogo em três sectores 26 Figura 5 Fórmula de Bellack para verificação da fiabilidade.. 27 I

Índice de quadros ÍNDICE DE QUADROS Pág. Quadro 1 Jogos observados e número de lançamentos de linha lateral por jogo 23 Quadro 2 Percentual de acordos encontrado para cada uma das variáveis 27 Quadro 3 Frequência e percentagem de lançamentos bem sucedidos (positivos) e falhados (negativos).. 28 Quadro 4 Frequência e percentagem de lançamentos consoante o alcance da bola 30 Quadro 5 Percentagem de eficácia consoante o alcance da bola. 30 Quadro 6 Frequência e percentagem de lançamentos por sector. 31 Quadro 7 Percentagem de eficácia consoante o sector do campo 32 Quadro 8 Percentagem de eficácia consoante a situação da equipa 33 Quadro 9 Percentagem de eficácia nos lançamentos consoante a rapidez de execução. 34 Quadro 10 Percentagem de lançamentos rápidos consoante a situação da equipa.. 35 Quadro 11 Frequência e respectiva percentagem nos diferentes tipos de lançamento. 37 Quadro 12 Percentagem de eficácia nos diferentes tipos de lançamento 38 II

III

Resumo RESUMO A investigação ao nível do Futebol por vezes centra-se na quantificação e qualificação das acções de jogo, com o intuito de se identificarem os factores de rendimento e posteriormente modelar o treino no sentido de aumentar a eficácia e assim melhorar a qualidade do jogo. Quando se assiste a um jogo de Futebol por vezes não se guarda a noção do elevado número de lançamentos da bola pela linha lateral. De facto, há mais paragens de jogo provocadas pela saída da bola pela linha lateral durante um jogo do que devido a qualquer outra razão. O objectivo deste trabalho é estudar o lançamento da bola pela linha lateral no que diz respeito às respectivas eficácia (manutenção da posse de bola) e tipologia. A amostra integra 1074 lançamentos da bola pela linha lateral com uma média e desvio-padrão de 53,7 ± 8,9 lances por jogo. A amplitude de variação foi de 38-71 lançamentos por jogo, retirados de vinte jogos da Superliga Portuguesa 2005/2006, através de gravação em vídeo. Durante o visionamento dos jogos procedeu-se ao registo do resultado de cada variável em estudo numa ficha elaborada para o efeito (Anexo 1) e posteriormente tratou-se os dados, utilizando o programa Microsoft Excel XP. Dos lançamentos registados, 301 não foram bem sucedidos o que representa uma percentagem de 28%, ou seja, estes lançamentos de linha lateral não contribuíram para a manutenção da posse de bola. Embora, a priori, pareça uma percentagem baixa, na realidade não é, devido à especificidade do lance em causa. Os lançamentos curtos para trás, executados rapidamente, isto é, até 8 segundos e efectuados no sector médio ou ofensivo do campo, foram os mais eficazes. Um lançamento da bola pela linha lateral é eficaz quando há golo ou a equipa que o executa fica de posse de bola após a execução. As equipas, na situação de desvantagem no marcador, tiveram mais sucesso nos lançamentos, por um lado concentram-se mais para alterarem o resultado, por outro ficam com mais espaço se o adversário recuar no terreno de jogo para defender. O lançamento da bola pela linha lateral mais usado foi o curto, perpendicular à linha lateral, embora não se tivesse revelado o mais seguro em termos da manutenção da posse de bola. Palavras-chave: FUTEBOL, OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DO JOGO, LANÇAMENTO DA BOLA PELA LINHA LATERAL. IV

Introdução 1 - INTRODUÇÃO O Futebol é o jogo desportivo colectivo mais mediático que se conhece actualmente, pois é sem dúvida o que mais pessoas mobiliza a nível mundial, não só no que se refere à quantidade de espectadores assíduos mas também ao elevado número de praticantes (Garganta, 1988; Garganta e Pinto, 1994). O jogo de Futebol é influenciado e condicionado por factores sociais, culturais, económicos, políticos, ideológicos, geográficos, climatéricos e morfofuncionais (Marques, 2000). Como se trata de um jogo desportivo com múltiplas extensões a diferentes domínios da actividade humana, a sua melhoria tem acompanhado a evolução da sociedade em geral. Neste âmbito, as exigências nos estudos de Futebol tem sido cada vez maiores e mais refinadas pelo que, apesar de ainda serem escassos, surgem como algo complexo mas apetecíveis já que deles depende a evolução do jogo (Garganta, 2002). Hoje em dia pode-se encontrar um número bastante elevado de estudos científicos sobre Futebol mas pensa-se que muito está ainda por estudar já que esta modalidade desportiva oferece um variadíssimo leque de motivos de estudo científico. Segundo Garganta (1997), analisar o jogo de Futebol através da observação de comportamentos de jogadores em jogo, em situação de competição, tem todo o interesse pois é também através destas observações que se podem modelar os exercícios de treino e de se conseguir o desejável tranfer para a competição. No jogo de Futebol há objectivos comuns, mas de sinal contrário, às duas equipas: marcar golos e evitar sofrê-los. No entanto, de acordo Reilly (1996), há poucos golos porque as equipas recorrem cada vez mais a esquemas tácticos defensivos optando claramente em dar prioridade à defesa em detrimento do ataque. Acrescenta-se ainda que a tarefa de marcar golos se torna muito difícil no Futebol, relativamente a outros jogos desportivos colectivos, por se tratar de um jogo disputado em espaço de grandes dimensões, com onze jogadores em cada equipa e com a obrigatoriedade, quase exclusivamente, ter que jogar a bola com os membros inferiores, estando estes simultaneamente implicados no equilíbrio do corpo (Garganta e Pinto, 1994). 1

Introdução Perante este panorama da dificuldade em marcar golos, os jogos são muitas vezes decididos por pequenos detalhes que desequilibram. Segundo Teodorescu (1984) a solução para tais desequilíbrios pode passar pelos lances de bola parada onde se estudam e treinam antecipadamente. Os lances de bola parada têm sido objecto de estudo na área do Futebol. Segundo Ensum et al. (2000) há várias publicações que se referem aos lances de bola parada como um meio crucial para marcar golos. Em todas as equipas de topo existem jogadores especialistas em lances de bola parada o que nos leva a pensar que os treinadores dão, de certa forma, importância a estes lances. Contudo, há um lance de bola parada, o lançamento da bola pela linha lateral, o que mais vezes aparece durante o jogo, ao qual os autores não dão a devida importância nos estudos. O presente estudo centra-se na análise do lançamento da bola pela linha lateral em Futebol, de modo a destacar a importância que este tipo de ocorrência tem para o jogo, nomeadamente para o desempenho eficaz das equipas. Apesar de a maioria das vezes não estar directamente relacionado com a marcação de golo, pode no entanto servir como meio para que uma equipa recupere a posse de bola e construir um ataque planeado uma vez que se trata de um princípio bastante evidenciado no Futebol moderno. A identificação de factores que poderão estar na origem do sucesso ou insucesso do lançamento da bola pela linha lateral poderá contribuir para a melhoria da qualidade do treino e consequentemente do jogo. Para a realização deste trabalho partiu-se do pressuposto que o lançamento da bola pela linha lateral não está a ser devidamente aproveitado e que durante o jogo alguns indicadores tais como: Tipo de lançamento, Sector do terreno de jogo, Rapidez de execução e Situação em que a equipa se encontra podem influenciar a eficácia do lançamento lateral. Apesar da escassez de literatura relativamente a estudos sobre o lançamento da bola pela linha lateral estamos convictos que iremos contribuir para o enriquecimento de saberes sobre esta particularidade do jogo através desta investigação. 2

Enquadramento e pertinência do estudo 2 ENQUADRAMENTO E PERTINÊNCIA DO ESTUDO O Futebol é praticado em todas as nações sem excepção, considera-se a modalidade desportiva mais popular a nível mundial (Reilly, 1996). Sendo um jogo desportivo colectivo, no qual os intervenientes estão dispostos em duas equipas rivais que lutam incessantemente pela conquista da posse da bola com o objectivo de a introduzirem na baliza do adversário e evitar que entre na própria baliza, as acções de jogo vão acontecendo condicionadas pelas leis do jogo internacionalmente reconhecidas (Wade, 1978; Castelo, 1996). Sendo assim, há um objectivo comum às duas equipas que se traduz na obtenção de golos com vista à obtenção da vitória. Segundo vários autores, (Bayer, 1994; Castelo, 1994, 1996; Garganta e Pinto, 1994; Queiroz, 1986; Teodorescu, 1984), o jogo de futebol evidencia dois processos perfeitamente distintos: o processo ofensivo e o processo defensivo, caracterizados, respectivamente, pela posse ou não posse da bola, funcionando como uma oposição lógica (Castelo, 1994, 101). Para Garganta e Pinto (1994), podemos nomear esses dois processos como Fases, onde as equipas possuem tarefas de sinal contrário. De acordo com a ideia dos autores, podemos ir ao encontro de Teodorescu (1984), que afirma que qualquer equipa, no decorrer do jogo, se encontra ao ataque ou à defesa. A equipa que está a defender, quando recupera a bola, passa a atacar e, por sua vez, a equipa que estava a atacar passa a defender. Esta lógica mantém-se ininterruptamente. Todavia, alguns treinadores (Frade, 2004; Freitas, 2004; Guilherme Oliveira, 2004; Mourinho, 1999; Valdano, 2001) consideram que o jogo não tem apenas duas fases, mas apresenta quatro momentos: organização defensiva e ofensiva e os momentos de transição. Segundo Garganta (1997), uma equipa encontra-se em posse da bola, sempre que um dos seus jogadores respeita pelo menos uma das seguintes condições: (I) realiza pelo menos 3 contactos consecutivos com a bola; (II) executa um passe positivo (que permite manter a posse de bola); (III) realiza um remate (finalização). Desta forma, o lapso temporal entre o momento em que um jogador recupera a posse de bola e, por exemplo, o momento do terceiro toque não é 3

Enquadramento e pertinência do estudo considerado, sendo que, o mesmo jogador não está em fase defensiva, porque tem a bola, nem em fase ofensiva, porque ainda não realizou o terceiro toque (exceptuando os casos de passe e remate). Encara-se este espaço temporal como o momento de transição defesa/ataque ou ataque/defesa. Para se conseguir um golo ou evitar que a equipa adversária marque, será necessário encontrar procedimentos técnicos específicos individuais e colectivos para ambas as fases e utilizá-los de forma eficiente. Isto só se consegue com princípios, regras, formas, bem como outros elementos, através dos quais se assegure o êxito, tanto na defesa como no ataque (Teodorescu, 1984). Comparando o Futebol com outros jogos desportivos colectivos verifica-se que há dificuldade em criar oportunidades de golo e por isso o índice de concretização é baixo (Castelo, 1992). Segundo Dufour (1993), só 10% dos ataques terminam com um remate à baliza e só 1% origina golo. Garganta (1997) também está de acordo com esta ideia, já que o Futebol, quando comparado com outros jogos desportivos colectivos, apresenta uma supremacia da defesa sobre o ataque. No Basquetebol, em média, 80% dos ataques terminam em cesto enquanto que no Futebol apenas 1% termina em golo. No Futebol existe uma relação menos favorável dos avançados em relação aos defesas nos procedimentos técnicos a executar (passe, drible, progressão etc.), onde a maioria das acções de finalização é efectuada com oposição (muitas vezes em desvantagem numérica, sendo que a percentagem de sucesso é diminuta (Catita, 1999). No jogo, defender é só meio caminho A parte mais fácil do caminho. (Amieiro, 2005: 71), por isso aparecem equipas que só pensam em não perder e defendem excessivamente não deixando jogar o adversário. Tentam proteger a baliza em detrimento de procurarem recuperar a bola (Amieiro, 2005). Estas equipas não estão interessadas em marcar golos, apenas estão interessadas em não sofrer golos. Esta circunstância permite que, não raramente no Futebol, equipas de nível inferior consigam vitórias frente a equipas de nível superior. Para Hughes (1990), o Futebol tem sofrido um percurso negativo e/ou defensivo ao longo dos anos. Uma simples estatística explica este facto. Nos sucessivos Campeonatos do Mundo desde 1954, a média de golos marcados por jogo tem vindo a diminuir consideravelmente. Se há menos golos é porque há 4

Enquadramento e pertinência do estudo menos remates à baliza, menos cruzamentos e menos jogadas perigosas. Mas isto também acontece porque a organização defensiva, nas equipas de topo, sofreu evolução ao longo dos tempos devido ao aparecimento de novas ideias, mas também de melhor qualidade de treino. As equipas de alto nível optam, cada vez mais, por padrões defensivos que assentam na defesa à zona. Esta forma de defender faz com que o campo pareça mais pequeno aos atacantes e traz vantagens na medida em que a defesa tira partido da regra do fora-de-jogo (Amieiro, 2005). Segundo o mesmo autor, nas equipas de nível inferior, em Portugal, acredita-se que existe um padrão defensivo que consta de uma mescla de marcações homem a homem com marcações individuais, resultando daí um jogo de pares onde as equipas procuram encaixar no adversário, o que dificulta a obtenção de oportunidades de golo. O ataque pode ser mais objectivo e concretizador, através da criação de um maior número de situações de finalização, tornando o Futebol mais atractivo. Para isso será necessário ter em conta o golo mas também a história deste, isto é, o processo que lhe deu origem (Basto e Garganta, 1996). Os Lances de bola parada (cantos, livres, grande penalidade e lançamentos da bola pela linha lateral) têm sido referenciados por vários autores como um recurso positivo para a obtenção de golo. De acordo com Teodorescu (1984), 25% a 50% das situações de finalização têm origem em lances de bola parada. O facto de a bola estar parada e as regras do Futebol determinarem a distância a que os defensores se devem colocar, faz com que estes não pressionem a bola e assim os atacantes podem colocar-se em posições préplaneadas prontos a finalizar. É isto que torna os lances de bola parada de extrema importância no Futebol (Hughes, 1994). As equipas de topo fazem uso mais efectivo dos lances de bola parada, isto é, criam e aproveitam de uma forma mais eficaz esse tipo de lances (Grant, 2000; Horn e Wiliams, 2002). Em 26 jogos observados, Ensum et al. (2000) contabilizaram 779 livres, 12 pontapés de grande penalidade, 266 pontapés de canto e 868 lançamentos de linha lateral no meio campo ofensivo. Nestes lances de bola parada, aconteceram 35 golos. 5

Enquadramento e pertinência do estudo Os lances de bola parada, revelam-se, portanto, como uma excelente fonte de oportunidades de golo, mas há lances de bola parada que são mais valorizados para a obtenção de golo. Dos 35 golos referidos anteriormente, 15 foram marcados através de livres, 7 através de cantos, 7 através de grandes penalidades e 6 através de lançamento da bola pela linha lateral. Um penalti ou um livre perto da área de grande penalidade dão maior probabilidade de golo do que um canto ou um lançamento pela linha lateral. Posto isto, nos estudos sobre lances de bola parada não se dá importância ao lance que mais vezes acontece durante o jogo que é o lançamento da bola pela linha lateral. Este lance, na maioria das vezes, não está directamente relacionado com a obtenção de golo, mas está relacionado com a posse de bola. Se a posse de bola é um princípio de jogo ao qual os treinadores de topo dão grande ênfase, justifica-se o estudo do lançamento da bola pela linha lateral no que diz respeito à tipologia e eficácia, sendo a eficácia, neste caso, entendida não só como a marcação de golo mas também como a manutenção da posse de bola para a construção do processo de jogo (ataque organizado) até chegar ao golo. Parece mentira, mas todos necessitamos da bola para ganhar os jogos (Valdano, 2002). Se é importante ter a bola, então será igualmente importante ter consciência de como recuperá-la e uma das formas pode ser através do lançamento da bola pela linha lateral e que nem sempre é devidamente aproveitado. 6

Revisão da literatura 3 - REVISÃO DA LITERATURA 3.1 A observação e a análise do jogo enquanto processos estruturantes do treino e do jogo O jogo de Futebol é observado e apreciado por milhões de pessoas em todo o mundo. Muitas são as que se reclamam de especialistas mas em menor número estarão as que conseguem observar e entender o jogo sem resvalarem para a parcialidade. (Garganta, 1999, 14). Por ser um jogo tão apaixonante e com tantos adeptos, não surpreende que as diferentes opiniões acerca do mesmo também proliferem. Se por exemplo se atentar nos programas televisivos sobre Futebol pode verificar-se que a maioria dos comentadores não são especialistas da modalidade, mas advogados, médicos, jornalistas, políticos, dirigentes, etc. que argumentam com base em opiniões e não em factos. No entanto, muitos treinadores também contribuem para o comentário de opinião e têm-no feito durante toda a história da modalidade (Hughes,1990). O Futebol é um jogo dinâmico e multidimensional tornando-se muito complexo para ser entendido e estudado sem sistemas de apoio à observação e análise. Sendo assim, é importante que os treinadores observem o jogo com o objectivo de avaliar a prestação dos seus jogadores (Silva, 1996). A observação é algo fundamental, não só ao nível individual mas principalmente a nível colectivo (Mourinho, 2000, cit. por Mendes, 2002, 1) e possibilita, como refere Peres (2001), a melhoria dos aspectos técnico-tácticos da equipa. Pensa-se no entanto que o fundamental é saber observar, utilizando os meios mais adequados, e analisar a informação que se retira do jogo. Segundo Hughes e Franks (1997), estudos feitos em treinadores experientes, demonstraram que estes apenas conseguem recolher 42% dos factores-chave que determinam a boa performance das equipas durante um jogo. Sendo assim, a investigação ao nível do Futebol deve centrar-se na quantificação e qualificação das acções de jogo. Deve ser através da observação sistemática dos comportamentos dos jogadores em jogo que identificamos as 7

Revisão da literatura tendências relevantes que, pela sua constância, possam contribuir para a elaboração de modelos (Queiroz, 1986). De acordo com Garganta (1999, 15) A análise sistemática de informações acerca do jogo (McGarry e Franks, 1996), permite configurar modelos de actividade dos jogadores e das equipas (Godik e Popov, 1993), que possibilitam, não só construir métodos de treino mais eficazes (Franks et al., 1983; Tagala, 1985) e estratégias de trabalho mais profícuas (Olsen, 1988), mas também indiciar tendências evolutivas (Franks e Goodman, 1986). Para se compreender o desenvolvimento do jogo bem como a relação de forças produzidas temos que identificar os comportamentos relacionados com a eficiência e eficácia dos jogadores e das equipas (Garganta e Cunha e Silva, 2000). No Futebol, invocando o princípio da especificidade, devem ser treinados os aspectos que queremos que aconteçam no jogo, mas é da observação e análise do jogo que organizamos o treino. Deste modo, há uma relação de reciprocidade entre o treino e a competição (Garganta, 1999). A observação e a análise do jogo, tanto do ponto de vista qualitativo como quantitativo, são imprescindíveis para o entendimento e evolução do mesmo. Ao mais alto nível é impensável que um treinador abdique da observação e análise do jogo uma vez que será ai que reside o farol para se orientar na implementação de um modelo de jogo, na sua equipa, mas também na recolha de informação das equipas adversárias ficando deste modo com informação preciosa para um trabalho do ponto de vista estratégico. 3.2 Os Lances de Bola Parada no Futebol Os Lances de Bola Parada (LBP) também designados por Situações de Bola Parada (Castelo, 1994; Garganta, 1997), Fragmentos Constantes do Jogo (Sledziewski e Ksionda, 1983; Wrzos, 1984; Garcia 1995), Acções Estratégicas (Garcia, 1995), Fases Estáticas (Sledziewski e Ksionda, 1983; Mombaerts, 1991) e Partes Fixas do Jogo (Teodorescu, 1984), são situações do jogo de Futebol onde uma das equipas irá proceder à marcação de um livre, pontapé de canto ou lançamento da bola pela linha lateral. Em qualquer destes caso há uma interrupção do jogo que oferece a ambas as equipas a possibilidade de se reajustarem tacticamente para resolverem o jogo a seu favor. 8

Revisão da literatura Há uma grande vantagem para a equipa que beneficia de muitos LBP durante um jogo. O facto de a bola estar parada (e por isso mais facilmente jogável), os adversários estarem obrigatoriamente a uma distância mínima de 9,15 metros (diminuindo a pressão do executor) e as equipas poderem colocar vários jogadores com determinadas características em posições de ataque favoráveis, fazem com que os LBP tenham uma elevada importância na obtenção de golos (Hughes, 1990; Castelo 1996). Alguns autores, nos seus estudos, realçam os LBP como um meio para chegar ao golo: - Garcia (1995) ao analisar os golos do campeonato do mundo, USA 94, concluiu que 39% dos golos foram concretizados a partir de fragmentos constantes de jogo; - Comucci (1981) afirma que 50% dos golos, independentemente do nível das equipas, são marcados directamente de LBP ou de acções que se lhes seguem imediatamente; - Sledziewski e Ksionda (1983) ao estudarem os golos do campeonato do mundo de Espanha 82, 45% dos golos foram obtidos em fases estáticas do jogo; - Hughes (1990), numa amostra de 202 golos referenciou 92 marcados através de LBP; - Jinshan et al. (1993) e Garcia (1995) referem 28% de golos obtidos em fases estáticas no campeonato do mundo do México86, 32% em Itália 90 e 39% no USA 94; - Olsen (1988) ao analisar os golos do campeonato do mundo México 86, concluiu que 27.5% dos golos foram marcados em fases estáticas do jogo, - Basto e Garganta (1996), num estudo sobre o processo ofensivo em equipas de alto nível, chegaram à conclusão que o ataque posicional é a forma mais utilizada para a obtenção de golo logo seguida dos LBP; - Teodorescu (1984) refere que num jogo de futebol, das situações de finalização, 25% a 50% são situações de LBP. Os LBP são assim considerados, uma boa oportunidade para se chegar ao golo e não podem ser deixados ao improviso. Todos os treinadores devem ensaiá-los nos treinos de modo a maximizar a eficiência destas soluções (Castelo, 1996; Santos, 2002). 9

Revisão da literatura A importância dos LBP aumenta à medida que os jogos se tornam mais importantes para as equipas, ou seja, entre equipas do mesmo nível competitivo, onde há um equilíbrio entre as duas equipas, os LBP tornam-se cruciais para decidir o jogo. Nos torneios, à medida que se avança para a fase final, os golos obtidos através de LBP são cada vez mais decisivos uma vez que a qualidade das equipas aumenta e o equilíbrio de forças torna-se mais evidente (Bate, 1988; Hughes, 1990, 1994; Miller, 1994; Garcia, 1995; Garganta, 1997). Há unanimidade em considerar os LBP, de uma forma geral, como acontecimentos importantes capazes de decidir um jogo. No entanto, pela literatura consultada constatamos que nos estudos sobre LBP, dá-se mais importância aos livres perto da área de grande penalidade, à grande penalidade e aos pontapés de canto. Raramente se referem os lançamentos da bola pela linha lateral uma vez que também são raros os golos obtidos através da marcação de um lançamento da bola pela linha lateral. Surge-nos assim uma inquietação uma vez que este lançamento, apesar de não estar relacionado directamente com o golo, pode estar ao serviço de um ataque posicional que segundo Basto e Garganta (1996) é a forma mais utilizada para a obtenção de golo logo seguida dos LBP. 3.2.1 - O Lançamento da bola pela linha lateral Segundo Castelo (1996), o lançamento da bola pela linha lateral é o gesto técnico de reposição da bola em jogo, executado com as mãos, que deriva da saída eventual da bola pelas linhas laterais do terreno de jogo. Para todos os efeitos, um lançamento da bola pela linha lateral é considerado como um lance de bola parada, pois o jogo é interrompido quando a bola sai pela linha lateral e, nesse tempo que precede a saída da bola, ambas as equipas ficam com a possibilidade de organizar o jogo através do reposicionamento de jogadores, acertar marcações etc.. 2.2.2 - Enquadramento Histórico do Lançamento da bola pela linha lateral Durante o Séc. XIX, nas Public Schools inglesas, o Futebol começou a emergir como modalidade com leis próprias. Não foi fácil chegar a um acordo acerca das normas do jogo. Nas diferentes escolas públicas inglesas jogavam-se 10

Revisão da literatura diferentes tipos de Futebol, consoante as características dos espaços disponíveis para o efeito. Os confrontos entre as escolas conduziram à necessidade de encontrar acordos acerca das regras do jogo o que deu origem mais tarde a dois desportos bem definidos: o Rugby e o Futebol (Coelho e Pinheiro, 2002). Em 1882, as Federações (Football Association) de Inglaterra, Pais de Gales, Irlanda e Escócia unificaram as suas regras e formaram o International Board, instituição que até hoje controla a evolução das regras do jogo a nível internacional. Desde logo foi decidido, por este organismo, que os lançamentos da bola pela linha lateral tinham que ser efectuados usando as mãos (Coelho e Pinheiro, 2002). Esta possibilidade de se jogar com as mãos é fruto da cisão entre o Rugby e o Futebol. 3.2.3 - A importância do Lançamento da bola pela linha lateral no jogo de Futebol Há mais paragens de jogo provocadas pela saída da bola pelas linhas laterais durante um jogo do que devido a qualquer outra razão, no entanto é um aspecto que se esquece de trabalhar nos jogadores profissionais ou de ensinar nos escalões mais jovens (Hughes,1994). Ensum et al. (2000) referem que em 26 jogos observados foram assinalados 868 lançamentos da bola pela linha lateral só no meio campo ofensivo e seis golos aconteceram na sequência destes lançamentos. Um bom lançamento da bola pela linha lateral corresponde a um passe perigoso. De acordo com Castelo (1996), um passe é uma acção técnico-táctica de relação de comunicação material estabelecida entre dois jogadores da mesma equipa, sendo portanto, a acção de relação colectiva mais simples de observar e executar. Segundo Hughes (1990), o lançamento da bola pela linha lateral é uma entrega a um membro da equipa e por isso deve ter as mesmas qualidades que um passe efectuado com o pé. A confiança de uma equipa adquire-se com passes precisos, não existe nenhum substituto para uma boa acção técnica de passe e não existe nenhuma estratégia que resista a passes imprecisos. O lançamento da bola pela linha lateral é uma situação de ataque de inestimável valor por ser uma execução muito simples (com as mãos) de recomeçar o jogo Castelo (1996). 11

Revisão da literatura A acção dos membros superiores assume um papel de relevo no contexto da actividade humana, quer pela extraordinária capacidade de precisão e adaptação dos movimentos da mão, quer pela diversidade e variedade de actividades do nosso quotidiano que envolvem a realização de acções intencionais para alcançar e manipular objectos (Duarte, 1995). Segundo Massada (2001), o bipedismo permanente do Homem libertou as mãos da função locomotora, permitindo o desenvolvimento de acções manipulativas delicadas. No entanto algumas facetas anatómicas da omoplata e da clavícula sugerem que o ombro do Homem está funcional e biomecanicamente mais bem adaptado para a execução dos gestos corporais em que a mão trabalha abaixo do nível da cabeça, sendo menos poderoso quando a mesma se encontra em posição contrária, isto é, acima do nível da cabeça. Deste modo pensa-se que, apesar das limitações em lançar a grandes distâncias, o lançamento lateral quando lançado a pequenas distâncias torna-se uma boa oportunidade de manutenção da posse de bola. No entanto a maior parte dos jogadores não estão suficientemente a par da importância da precisão de um lançamento da bola pela linha lateral para que a equipa mantenha a posse de bola. Quando se assiste a um jogo, ao vivo ou através da TV, por vezes não nos apercebemos do número de lançamentos da bola pela linha lateral falhados, muitas vezes o lançamento é executado e há automaticamente uma disputa de bola entre dois ou mais jogadores e quando a bola é recuperada por uma das equipas já nem pensamos quem foi que falhou o lançamento uma vez que muitos deles não oferecem perigo imediato para a equipa que defende. Intuitivamente, pensa-se que há uma percentagem significativa de lançamentos falhados, isto é, a equipa que repõe a bola em jogo com o lançamento lateral entrega-a, inadvertidamente, ao adversário. Se isto for um problema para uma equipa, certamente que poderá ser solucionado através do treino, mas para isso acontecer, em primeiro lugar os treinadores terão que identificar o problema e em segundo lugar construir exercícios de treino específicos. 3.2.4 - O Lançamento da bola pela linha lateral e as regras do Futebol Segundo as regras do jogo de Futebol, no lançamento da bola pela linha lateral, o jogador que lança tem que arremessar a bola com as duas mãos por cima da cabeça e com os pés em contacto com o solo (Reis, 1990). Sendo assim, 12

Revisão da literatura por um lado, o lançamento da bola pela linha lateral, efectuado com as mãos, pode trazer vantagens para o executante já que é a única ocasião em que um jogador, à excepção do guarda-redes, pode usar as mãos durante o jogo, mas por outro lado, as regras impõem limitações que se tornam mais evidentes quando o lançamento é efectuado para longas distâncias. Se as Leis do jogo de Futebol permitissem que o lançamento da bola pela linha lateral fosse executado com os pés trazia vantagens já que permitiria uma maior amplitude e rapidez na progressão do centro de jogo em direcção à baliza e em certas situações de jogo, o ângulo de lançamento seria mais propício à criação de situações de finalização (Castelo, 1996). Segundo Reis (1990) procede-se ao lançamento da bola pela linha lateral quando a bola ultrapassa completamente uma das linhas laterais, quer seja rente ao solo, quer seja pelo ar. Este lançamento será executado por um jogador da equipa adversária, incluindo o guarda-redes, à que tocou em último lugar a bola no local onde saiu do terreno e em qualquer direcção para dentro do campo. Depois de efectuar o lançamento, esse jogador que o executa não pode voltar a tocar na bola antes que outro jogador lhe toque. Se o lançamento for executado de uma forma incorrecta e mesmo assim a bola vá para um jogador adversário colocado dentro do terreno de jogo, o jogo não pode prosseguir uma vez que não se aplica a chamada lei da vantagem. Não pode ser marcado golo através de um lançamento da bola pela linha lateral. Num lançamento da bola pela linha lateral não há fora-de-jogo pois esta condição é uma das excepções previstas na lei XI. Provavelmente, por esta excepção à lei XI não ser trabalhada nem divulgada convenientemente, ou mesmo pelo desconhecimento por parte dos treinadores de Futebol, não é muito habitual observarem-se jogos em que se use esta possibilidade. Por vezes, no momento do lançamento lateral, aparecem os jogadores defensores em linha com o intuito de colocar os atacantes em fora-dejogo e estes não avançam pensando que estão a violar a regra do fora-de-jogo. 3.2.5 - A execução do lançamento da bola pela linha lateral De acordo com Hughes (1990), existem seis aspectos importantes na execução do lançamento da bola pela linha lateral e que nem sempre são aproveitados: Executar rapidamente, executar para um companheiro sem marcação, executar em direcção à baliza adversária, executar de forma a facilitar 13

Revisão da literatura a recepção por parte do companheiro, criar espaço para que o lançamento seja eficiente e entrar rapidamente no jogo quem o executou. Howe e Scovell (1988) são da mesma opinião ao afirmarem que há princípios básicos relativos ao lançamento da bola pela linha lateral. Em primeiro lugar deve efectuar-se rapidamente por parte do jogador mais próximo da bola a menos que exista a possibilidade de um lançamento longo para o interior da área que neste caso se requer a presença do jogador da equipa que lança mais longo. A bola deve dirigirse a qualquer jogador que esteja desmarcado. Os jogadores devem propiciar a oportunidade de receber a bola depois de um movimento inteligente como por exemplo uma simulação que surpreenda o seu marcador mais directo. A bola deve lançar-se sempre para a frente excepto quando a alternativa de lançar para outro local seja segura. Quando uma equipa beneficia de um lançamento da bola pela linha lateral, no seu próprio campo, o lançador deve lançar para a outra metade do campo para afastar o perigo da sua baliza. A bola tem que lançar-se de modo a que facilite a recepção do colega, de preferência para os pés, mas se não for possível que seja para a cabeça ou para o peito. O que lança deve entrar imediatamente no campo e estar pronto a receber a bola do companheiro que fez a recepção. Convém ter presente que um lançamento da bola pela linha lateral é um passe e por isso deve reunir os mesmos ingredientes deste: precisão, posição correcta e velocidade ou potência mais adequada (Howe e Scovell,1988). É também muito importante que os membros da equipa estejam afastados, de forma a dificultarem a marcação dos adversários e criar espaços abertos que possam ser explorados para que a bola possa ser recebida em boas condições após o lançamento. Para além disto, o jogador que recebe não pode estar muito distante do jogador que executa nem muito próximo. Executar rápido é uma vantagem, pois pode ser antes que o adversário proceda às marcações. Também pode ser uma vantagem lançar para um jogador que consiga transportar a bola rapidamente para o ataque. Por vezes as marcações dos adversários dificultam a execução do lançamento em boas condições, mas uma das soluções pode passar por devolver imediatamente a bola ao lançador que entrou rapidamente em campo após o lançamento. Para que isto aconteça, estes dois jogadores devem estar bem sincronizados. Se as equipas tiverem mais que um jogador capaz de lançar longo, isso pode ser explorado no terço ofensivo, no entanto pode estar 14

Revisão da literatura toda a gente à espera de um lançamento longo e ser executado um lançamento curto para manter a posse de bola com mais segurança. Nos lançamentos perto da baliza adversária, pode ser boa ideia concentrar jogadores na área de penalti fazendo grandes pressões em frente à baliza do adversário. Neste caso os defensores têm por missão marcar todos os jogadores atacantes que aí se encontram pressionando a bola rapidamente se for recebida por um adversário. Será por causa desta atitude defensiva que o lançador perde mais eficácia à medida que a reposição se aproxima da baliza adversária, pois é lógico que os defensores pressionem mais os atacantes nas imediações da baliza que defendem. À primeira vista parece que os defensores têm sempre vantagem, no entanto acreditamos que o treino de situações concretas poderá melhorar a eficácia dos atacantes nestas situações. Segundo Bangsbo e Peitersen (2000), uma boa ideia, para os atacantes, é colocar um jogador perto do guarda-redes para lhe restringir a visão e a liberdade de movimentos quando o lançamento for longo para o interior da área de penalti. Um lançamento da bola pela linha lateral torna-se eficaz quando proporciona um lance de perigo junto da baliza adversária ou permite à equipa que o executou a manutenção da posse de bola para um ataque posterior. 3.2.6 - Tipos de Lançamento da bola pela linha lateral De acordo com Alcaraz e Torrelles (1998), para analisar os lançamentos da bola pela linha lateral importa ter em conta a zona do terreno de jogo onde se realiza e a forma como se executa. Podemos imaginar o campo de Futebol dividido transversalmente em três sectores: Terço defensivo, terço médio e terço ofensivo. Se o lançamento é executado no terço defensivo, os objectivos são conseguir um controlo claro da bola, isto é, conseguir manter a posse de bola nem que para isso entre também o guarda-redes para se poder iniciar de forma rápida e eficaz o jogo ofensivo organizado. Se existir uma pressão forte da equipa adversária e não for avante o objectivo do controlo claro da bola, o melhor será jogar com os médios para que em poucos toques a bola seja tirada para uma zona mais avançada do campo. Se o lançamento acontece no terço médio, por se tratar de um lançamento que se realiza com as mãos, consideram-se dois aspectos importantes: Tem que ser um lançamento preciso pois não se pode lançar a grandes distâncias como com o pé. Por estas razões, a equipa 15

Revisão da literatura adversária acumula jogadores na zona de lançamento reduzindo os espaços livres necessários para controlar correctamente a bola. A equipa que lança terá que criar espaços livres para poderem manter a posse de bola controlada. Se o lançamento acontece no terço ofensivo, o que será mais perigoso para o adversário é ter um especialista em lançamentos longos e lançar com semelhanças de um pontapé de canto mas com vantagens e desvantagens relativamente a este na medida em que se pode fazer com maior precisão por se tratar de um lançamento com as mãos e não permitindo a antecipação do defensor mas também com algumas desvantagens já que a bola não faz trajectórias tensas nem se desloca tão rápido como nos cantos. Ter um jogador que lança longo, poderá obrigar a defesa contrária a tomar posições dentro da zona de remate o que fará com que haja espaços livres suficientes para jogar curto e organizar o jogo através de um lançamento curto. Também para Hughes (1994), o lançamento longo da bola pela linha lateral precisa de uma consideração táctica especial. Muitas equipas possuem pelo menos um jogador que é tecnicamente capaz de atirar a bola de uma posição lateral para a área do Guarda-Redes. Os jogadores que lançam longo não podem aproveitar o factor surpresa uma vez que toda a gente consegue ver quando é que um lançamento longo vai ser executado. É importante que o jogador que lança seja um defensor, pois assim ficam livres os médios e avançados para um máximo rendimento ofensivo. O defensor que lança deve ocupar rapidamente a sua posição defensiva. Tal como qualquer outro lançamento, é importante aperfeiçoar a forma como se realiza. Este aperfeiçoamento tem a ver com a potência que se imprime à bola em termos de velocidade e distância alcançada, direcção e momento preciso da execução, técnica de execução para não se cometer falta e a componente táctica que tem a ver com o lançar por exemplo para a frente de um companheiro que se desloca em corrida depois de uma simulação (Alcaraz e Torrelles, 1998). Em Inglaterra, Ian Hutchinson do Chelsea e Bobby Woodruff do Swindon y Crystal Palece, foram os pioneiros da ideia de lançar longo. Já na década de oitenta, Kenny Sansom, Gary Stevens do Everton e Graham Roberts, do Glasgow Rangers, mais tarde do Tottenham, figuram entre os seguidores desta ideia e 16

Revisão da literatura capazes de lançar até à marca de grande penalidade com um lançamento (Howe e Scovell, 1988). Actualmente, a nível internacional, continua a ver-se muito o lançamento longo de bola pela linha lateral. Quando executado ao primeiro poste é sempre complicado para os defensores. Normalmente as equipas que atacam dispõem, na área, os seus jogadores mais altos e mais fortes a jogar de cabeça para colocarem a bola mais perto da baliza onde poderá surgir um remate perigoso. Apesar de no jogo FCPorto SLBenfica, desta época, ter acontecido um golo decisivo resultante de um lançamento longo da bola pela linha lateral, em Portugal são poucas as equipas que optam por lançamentos longos, preferindo lançamentos curtos e seguros de modo a ficarem de posse de bola e organizarem o ataque posicional. 3.2.7 - O lançamento da bola pela linha lateral e os princípios de jogo: posse e circulação de bola. Segundo Dias (2000), a equipa que possui mais tempo a posse de bola é considerada, normalmente, a mais evoluída e mais esclarecida táctica e tecnicamente. A posse de bola possibilita alcançar o objectivo do jogo que é o golo. Por outro lado se a equipa adversária não possuir a posse de bola não alcançará o golo, assim a luta pela posse de bola sempre foi e será um factor fundamental do jogo. O princípio da posse de bola influenciou, ao longo dos tempos, toda a evolução dos meios táctico-técnicos colectivos e individuais e modelos de jogo bem como toda a dinâmica do próprio jogo. Respeitar o objectivo da posse de bola é jogar em equipa, significa evitar o risco irracional presente em alguns jogadores, através do qual se perde o esforço colectivo de uma forma extemporânea. Se as acções individuais ou as combinações tácticas utilizadas na construção e criação de situações de finalização não resultam, recomenda-se que as mesmas se reiniciem não as transformando numa lotaria (Teodorescu, 1984). A posse da bola não é um fim em si, mas tem que ser conscientemente considerada como o primeiro passo indispensável no processo ofensivo (Castelo, 1996). No Futebol de hoje, a maioria das equipas de topo trabalham o princípio da posse de bola por este ser essencial para o sucesso da equipa. 17

Revisão da literatura A minha ideia táctica principal passa por termos a noção bem clara da coisa mais importante no futebol moderno para além de marcar golos: ter a bola. (Mourinho, cit por Amieiro et al. 2006, 192). Nesta linha de ideias, a equipa que pretenda praticar um Futebol positivo, proporcionar um bom espectáculo desportivo e que acima de tudo ambicione ganhar, terá sem dúvida que cuidar os aspectos táctico-técnicos relacionados com a posse de bola. Este principio de jogo é um elemento importante na táctica do jogo e é aplicado, na maior parte dos casos, com o objectivo de atrair os adversários para uma determinada zona do campo com o fim de criar, num outro sector, espaços para efectuar o ataque à baliza adversária. É evidente que uma equipa em vantagem no marcador, quando consegue manter a posse de bola tem o jogo controlado complicando assim a tarefa ao adversário. Sendo assim, todos os meios, que uma equipa dispõem para ficar com a posse de bola, devem ser trabalhados nos treinos para posteriormente não serem descurados no jogo. Durante um jogo nem sempre se tem a bola, por isso há que fazer por recuperá-la. Segundo Ribeiro (2003), a recuperação da posse de bola resulta das acções táctico-técnicas defensivas, caracterizando-se pelas tentativas de retirar a posse de bola ao adversário, o mais rapidamente possível. O mesmo autor aponta como exemplos: o desarme e a intercepção, sendo esta última referida por Garganta (1997) como a forma mais vantajosa na procura de eficácia ofensiva. Num estudo realizado por Silva (1998), são definidas dez categorias para a recuperação da posse de bola, baseadas no protocolo apresentado por Claudino (1993): (I) Intercepção; (II) desarme; (III) pressão defensiva; (IV) mau passe; (V) má recepção; (VI) defesa do guarda-redes; (VII) falta; (VIII) após finalização; (IX) após saída de bola pelas linhas laterais; e (X) após outras situações. Uma das categorias apresentadas é após a saída da bola pelas linhas laterais, já que a equipa que beneficiou de um lançamento da bola pela linha lateral fica automaticamente na posse de bola se o respectivo lançamento for bem sucedido. Quando assistimos a um jogo de Futebol, podemos constatar que há lugar a vários lançamentos da bola pela linha lateral e que muitas vezes as equipas não os aproveitam da melhor forma. Sendo assim, quando uma equipa não se encontra em posse de bola, realiza um conjunto de comportamentos visando a aquisição da mesma. Um 18

Revisão da literatura exemplo é pressionar o adversário obrigando-o a cometer erros como por exemplo enviar a bola para fora pelas linhas laterais. No entanto, esses comportamentos só fazem sentido se a equipa depois souber fazer uso dessa posse de bola. Relativamente ao que a equipa deve fazer após conquistar a bola, Castelo (1994) e Garganta (1997) referem que todas as acções realizadas pelos jogadores se desenvolvem com base em cascatas de objectivos, hierarquizados em função da finalidade do jogo: manter a posse de bola, aproximar-se da baliza adversária, marcar golo. São vários os autores que apontam o progredir rapidamente para a baliza como comportamento fundamental após a recuperação da bola (Silva, 1998; Araújo, 1998; Castelo, 1994; Claudino, 1993). Mas segundo Garganta e Pinto (1994), o ataque pode basear-se numa atitude objectiva, mais directa e agressiva onde o risco é maior ou por outro lado optar por uma atitude menos agressiva onde transparece um jogo mais indirecto, mais lento, mais calculado, onde se valoriza a posse de bola. Surge, então, uma alternativa ao ataque imediato e desenfreado à baliza adversária, isto é, a circulação de bola, que para Teodorescu (1984) consiste em evitar o risco irracional pois o atacar rapidamente a baliza, muitas vezes torna-se numa lotaria, numa aventura, uma vez que este tipo de jogo directo se caracteriza por passes rápidos para a frente com objectivo de criar uma oportunidade para rematar. Quando há lugar a repor a bola em jogo pela marcação de um lançamento da bola pela linha lateral, o que normalmente acontece é a equipa que defende conseguir reajustar as posições defensivas dos seus jogadores e a equipa que se encontra em posse de bola não tem outro remédio se não a opção por um ataque posicional. Certamente que também há situações, embora em menor número, em que a equipa que ganhou o lançamento lateral tenha conveniência em desferir um ataque rápido, colocando a bola na frente com um lançamento longo ou um lançamento curto para um jogador que coloque a bola na frente com um passe longo com o pé. No entanto pensa-se que deve haver uma utilização equilibrada entre o jogo directo e o jogo indirecto, sem perder de vista o objectivo do jogo (marcar golo), não devendo as equipas jogar indiscriminadamente para a baliza ou para a 19

Revisão da literatura frente. Importa perceber que, em determinados momentos, pode ser importante jogar para trás ou lateralizar, no sentido de fazer oscilar os jogadores da equipa contrária e assim abrir espaços para jogar (Pereira, 2005). Sendo assim, quando se ganha um lançamento lateral, as equipas devem optar por uma das situações: manter a posse fazendo a circulação de bola ou jogar em profundidade. Segundo Pereira (2005), a melhor forma de ter a iniciativa de jogo é ter a posse de bola e, se a equipa consegue manter a posse de bola, possivelmente terá também o domínio do jogo. Algo que para mim também muito claro é que, para se assumir o jogo, é necessário ter a bola. Assumir o jogo é ter a bola e usufruir dela. (Mourinho, cit por Amieiro et al. 2006, 192). Depois de a equipa recuperar a bola tem que a saber tocar, tem que saber muito bem o que fazer com ela e não deixar cair em vão o esforço de recuperá-la (Barreto, 2003). A nossa equipa esteve sempre tranquila, nunca colocou as bolas directamente nos avançados, preferindo trocá-la e procurar o melhor caminho para a baliza (Carvalhal, in Jornal «O Jogo», 27-08-2006); Sobre o Ajax de Cruyff, (Valdano, 2001) diz-nos que com a bola circulavam, com a bola descansavam e com a bola defendiam através do não dar/ceder ao adversário. Equipas que clarifiquem bem o jogo e quando os caminhos para a baliza se encontrem congestionados, passem atrás e procurem o outro lado, e em vez de chocarem, peçam autorização para chegar até ao final, porque no futebol o final é o golo (Valdano, 1997, 144). Se a equipa que ganhou o lançamento da bola pela linha lateral pretender surpreender o adversário, com um ataque rápido antes da equipa adversária se organizar, pode fazer um lançamento longo para os atacantes mas com todas as condicionantes que este tipo de lançamento tem há sempre o risco de se perder a posse de bola. Utilizando um lançamento curto para a frente ou para trás, utiliza a solução mais prática reduzindo o risco (Robson, 1982). O principal objectivo do jogo é o golo, por isso quando uma equipa fica na posse da bola, um dos seus jogadores, deve realizar um passe em profundidade se tiver a certeza que a equipa continuará com a posse de bola, isto é, se for um 20