Boletim informativo: Brasil em Foco

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Transcrição:

mar/02 dez/02 set/03 jun/04 mar/05 dez/05 set/06 jun/07 mar/08 dez/08 set/09 jun/10 mar/02 dez/02 set/03 jun/04 mar/05 dez/05 set/06 jun/07 mar/08 dez/08 set/09 jun/10 Edição 3 Boletim informativo: Brasil em Foco Introdução Fevereiro/2011 O crescente acesso ao crédito, somado a melhora no mercado de trabalho brasileiro levanta algumas preocupações quanto ao futuro: inflação e, principalmente, nível de endividamento do brasileiro. Esses pontos de preocupação podem se transformar em um grande círculo vicioso e prejudicar o bom andamento econômico e tem que ser administrado a tempo antes que assuma proporções maiores que poderiam inclusive, gerar uma sensação de descontrole. Dessa forma, o boletim desse trimestre trás a tona como estão esses dados e alerta para a necessidade do contínuo acompanhamento dos seus reflexos e as implicações de eventuais políticas de ajuste. Boa leitura e até o próximo trimestre! Panorama Macroeconômico uma visão geral Para entender os pontos de preocupação que trataremos mais adiante (e que é o foco desse boletim), é importante ter em mente como andam alguns dados macroeconômicos, a ver: Nos últimos anos, a economia brasileira foi favorecida pela melhora do mercado de trabalho, com aumento da população ocupada com carteira assinada e aumento da renda. 11.000 10.500 10.000 9.500 9.000 8.500 8.000 7.500 7.000 6.500 6.000 População ocupada com carteira assinada (1.000 habitantes) 1.600 1.500 1.400 1.300 1.200 1.100 1.000 900 800 Rendimento médio nominal habitualmente recebido pela População Ocupada (1.000 habitantes) Fonte: IBGE Ademais, políticas monetária e fiscal expansionistas e a melhora da economia inclusive com períodos de redução de juros favoreceram crescimento do mercado de crédito, com aumento do volume e do prazo dos empréstimos (além de políticas próprias voltadas, por exemplo, para habitação).

dez/01 set/02 jun/03 mar/04 dez/04 set/05 jun/06 mar/07 dez/07 set/08 jun/09 mar/10 dez/10 dez/01 set/02 jun/03 mar/04 dez/04 set/05 jun/06 mar/07 dez/07 set/08 jun/09 mar/10 dez/10 BOLETIM INFORMATIVO: BRASIL EM FOCO PÁGINA 2 210 Oferta de crédito - concessões acumuladas (R$ bilhões) 500 Prazo médio de concessão de crédito (dias corridos) 190 170 150 450 400 130 350 110 90 70 300 250 50 200 Fonte: Banco Central do Brasil A conjugação desses fatores trouxe, por consequência, aumento do consumo, tanto de produtos chamados de itens de primeira necessidade (alimentação e saúde) como de outros itens como despesas pessoais (salão de cabeleireiro, passeios, etc) e bens duráveis. O aumento da demanda, entretanto, não foi acompanhado pelo crescimento da oferta, dado, inclusive, pela demora maior para maturar os investimentos em produção industrial ou aumento da área de plantio agrícola. Fonte: IBGE Ademais, as Classes C, D e E entraram com mais força no mercado consumidor incentivado pela melhora do emprego, renda e crédito e, assim, a oferta e demanda sofreram maior descompasso ao longo do último ano, corroborando, portanto, junto com alguns outros fatores externos, com a retomada de pressões inflacionárias na economia.

PÁGINA 3 Fonte: IBGE Consequentemente, no final do ano de 2010 a autoridade monetária (Banco Central do Brasil) passou a adotar novas políticas como tentativa de restrição de crédito e, no começo de 2011, passou a elevar os juros básicos da economia. Contudo, mesmo com medidas adotadas para combater a inflação permanece uma preocupação o endividamento do brasileiro que tem dois fatores de inquietação: o nível já atingido de endividamento e as consequências de aperto monetário nas condições atuais desses consumidores. Nível de endividamento do brasileiro Com a melhora da economia, renda e crédito, o brasileiro partiu em busca da realização de seus sonhos de consumo. Conforme apresentado no primeiro boletim Brasil em Foco, conforme os brasileiros ascendem socialmente, também escalam novos patamares de consumo. Fonte: Brasil em Foco 1ª edição Entretanto, com a melhora do crédito e condições de pagamento aumentou-se também o nível de endividamento do brasileiro que é o tamanho da dívida das famílias em relação à renda acumulada no período.

PÁGINA 4 Segundo estudo divulgado pela Tendências Consultoria, o nível de endividamento do brasileiro em dezembro/2010 era de 46,9%. Em janeiro/2004, início da série, o Brasil registrava 18,4% de nível de endividamento 1. Fonte: Tendências Consultoria O Banco Central, entretanto, propõe outro conceito para o cálculo do nível de endividamento que é o conceito de renda disponível baseado na estimativa de Massa Salarial Ampliada Disponível (MSAD). O MSAD agrega a massa de rendimentos do trabalho e os benefícios previdenciários e de programas oficiais de proteção social e subtrai os recolhimentos referentes o imposto de renda e às contribuições previdenciárias. Fonte: BCB Relatório de inflação Setembro/2010 E, por essa forma de cálculo, o BCB disse que em julho de 2010 o nível de endividamento do brasileiro atingiu 39,1% (ante 44,4% indicado pela Tendências Consultoria). Entretanto, uma coisa é fato: mesmo com metodologias diferentes todas mostram que o nível de endividamento do brasileiro exibe trajetória contínua de crescimento nos anos recentes, corroborando, portanto, com a preocupação exposta no início do Boletim. 1 A Tendências Consultoria utiliza para cálculo do nível de endividamento a relação entre o saldo de crédito com recursos livres destinados a pessoas físicas mais o saldo de crédito habitacional com recursos direcionados e a massa de renda das famílias acumuladas em 12 meses (obtida através da soma entre a massa salarial, o total de transferências previdenciárias e as transferências governamentais sociais).

PÁGINA 5 Contudo, cabe destacar um ponto relevante: conforme os dados mostrados no quadro acima do Banco Central do Brasil, por ora, o comprometimento da renda do brasileiro, mesmo com aumento do nível de endividamento, permanece controlado. Isso significa que, no momento, mesmo que o brasileiro tenha aumentado as suas dívidas, o aumento da renda e a expansão dos períodos para pagamento dos empréstimos fizeram com que o tamanho da dívida fosse diluída o que, de alguma forma, é um ponto extremamente favorável ao risco de endividamento apresentado. Por outro lado, no entanto, mesmo com a diluição da dívida o processo inflacionário que se afigura no presente momento pode fazer com que itens básicos como alimentação passe a necessitar de uma parte maior da renda disponível e, assim, uma parte menor ficaria disponível para pagamento das dívidas e, assim, podemos começar a observar elevação do nível de inadimplência que, em grandes proporções, elevaria o risco dos empréstimos e o tornaria mais caro, levando assim a economia a registrar, em condições extremas, um ciclo vicioso que pode nos levar a um processo de menor crescimento (pois com toda a renda comprometida, não há consumo que se sustente, assim, tem-se que reduzir produção o que significa corte de empregos, redução da renda, dificuldade de pagamento das contas e assim por diante). Fonte: ASSEC Essa preocupação fez com que fosse necessária uma maior intervenção do Banco Central em tornar a política monetária mais restritiva, adotando medidas macroprudenciais para controlar os riscos de crédito abundante, o que permitiria também uma menor pressão a necessidade de reajustar mais acentuadamente a taxa de juros, para contornar uma inflação que já dá sinais de elevação. Cabe destacar também que o brasileiro tem a educação financeira pouco desenvolvida e, assim, nesse momento de maior renda disponível, infelizmente, não é constatado elevação da poupança conforme seria desejável. Futuro Para 2011 a perspectiva, é de que a relação crédito/massa salarial continue a exibir incrementos, porém, a um ritmo inferior ao observado em 2010, em virtude da expectativa de desaceleração no estoque de crédito às pessoas físicas (dado aperto monetário em curso e de medidas restritivas ao crédito). Essa posição também é defendida por alguns analistas e outras consultorias.

PÁGINA 6 Não esqueça... A análise do endividamento do brasileiro, que entra no radar de diversos analistas nesse momento, deve ser feita com grande atenção dado que: O aumento do nível de endividamento deve permanecer nos próximos anos, porém, boa parte do crescimento tende a ser decorrente dos financiamentos imobiliários que têm apresentado crescimento constante (e motivado também por políticas nacionais de incentivo à moradia); Fonte: BCB Relatório de inflação Setembro/2010 O aumento do crédito tomado pelas famílias é diferente do aumento no nível de endividamento uma vez que, com taxas menores e prazos maiores, o peso do crédito se dilui no orçamento familiar e, portanto, olhar somente o crédito pode incumbir em risco à análise; As estatísticas sobre esse assunto ainda são incipientes, portanto, passíveis de mudança. Ademais, a comparação desses dados com diversos países do mundo pode ser prejudicada já que a forma de cálculo para olhar o nível de endividamento ainda está em desenvolvimento pelos estudiosos no Brasil. Com efeito, fica difícil comparar o endividamento no Brasil com o de nações desenvolvidas, onde a utilização do crédito é mais alavancada, ou seja, os bancos tendem a emprestar mais pois as garantias oferecidas são maiores. Cabe destacar que o endividamento do consumidor americano atinge 120% de sua renda, mas diluído por um prazo maior e a juros bastante inferiores aos praticados no Brasil.