DIAGNÓSTICO DE OSTEOMIELITE ASSOCIADA A ÚLCERAS POR PRESSÃO (UP)



Documentos relacionados
Protocolo de manejo de úlceras por pressão (UP)

INFECÇÃO POR Staphylococcus aureus

Uso de antibióticos no tratamento das feridas. Dra Tâmea Pôssa

INFECÇÃO EM SÍTIO CIRÚRGICO

PROF.DR.JOÃO ROBERTO ANTONIO

PROTOCOLO MÉDICO. Assunto: Osteomielite. Especialidade: Infectologia. Autor: Cláudio de Cerqueira Cotrim Neto e Equipe GIPEA

Neuropatia Diabética e o Pé Diabético

MORBIDADE FEBRIL PUERPERAL. Professora Marília da Glória Martins

Meningite Bacteriana

TERAPÊUTICA ANTIBIÓTICA EMPÍRICA DA FEBRE NEUTROPÉNICA

B BRAUN. Askina Calgitrol Ag. Curativo de Alginato e Prata para Feridas. SHARING EXPERTISE

TEMA: OXIGENOTERAPIA HIPERBÁRICA (OHB) NO TRATAMENTO DE ÚLCERA CRÔNICA INFECTADA EM PÉ DIABÉTICO

Conceito básicos e cadeia epidemiológica de transmissão de infecção.

Modelo de Texto de Bula. betametasona (como 17-valerato)... 1mg (0,1% p/p) veículo: (carbopol, álcool isopropílico e água purificada q.s.p)...

O QUE ESPERAR DA CONSULTA

Pesquisa sobre Segurança do Paciente em Hospitais (HSOPSC)

Fundo Brasileiro para a Biodiversidade FUNBIO

PROTOCOLO DE ABORDAGEM E TRATAMENTO DA SEPSE GRAVE E CHOQUE SÉPTICO DAS UNIDADES DE PRONTO ATENDIMENTO (UPA)/ ISGH

HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ HOSPITAL UNIVERSITÁRIO WALTER CANTÍDIO - HUWC MATERNIDADE ESCOLA ASSIS CHATEAUBRIAND - MEAC

CARCINOMA MAMÁRIO COM METÁSTASE PULMONAR EM FELINO RELATO DE CASO

PROGRAMA DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR-HNSC NORMAS E ROTINAS TÉCNICO-OPERACIONAIS CIH/HNSC/GHC

INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO

PROTOCOLO MÉDICO. Assunto: Infecção do sítio cirúrgico. Especialidade: Infectologia. Autor: Cláudio de Cerqueira Cotrim Neto e Equipe GIPEA

PRECAUÇÕES FRENTE ÀS BACTÉRIAS MULTIRRESISTENTES.

Bactérias Multirresistentes: Como eu controlo?

30 de Abril 5ª feira Algoritmo de investigação: TVP e Embolia Pulmonar. Scores de Wells

Dengue NS1 Antígeno: Uma Nova Abordagem Diagnóstica

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

Resultados de 5 anos da Estratégia Multimodal, para melhoria da Higiene das Mãos. Elaine Pina Elena Noriega DGS/DQS/DGQ/PPCIRA

Hospital vinculado a fundação

PNEUMONIA. Internações por Pneumonia segundo regiões no Brasil, 2003

RETALHOS LIVRES PARA O COTOVELO E ANTEBRAÇO

Úlcera venosa da perna Resumo de diretriz NHG M16 (agosto 2010)

Cuidados de Saúde Integrados, Agendas Partilhadas. Pedro Beja Afonso Presidente do Conselho de Administração

Soluções para a Segurança do Paciente

Diagnóstico Microbiológico

GUIA DE COLETA DE AMOSTRAS

ABORDAGEM DO RN COM FATOR DE RISCO PARA SEPSE PRECOCE

ÁREAS DE ESTÁGIO. O aluno poderá dar maior ênfase a uma determinada opção, dentro da área ou entre áreas, COM MÁXIMO DE 40% DA CARGA HORÁRIA.

INFECÇÕES EM CIRURGIA PLÁSTICA

POLÍTICA DE PREVENÇÃO DE INCÊNDIO E QUEIMADURAS EM CIRURGIA

PERFIL BACTERIOLÓGICO DAS MÃOS DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE DO CENTRO CIRÚRGICO E DO PÓS-OPERATÓRIO DO HOSPITAL GERAL DE PALMAS

Gastroenterocolite Aguda

Teste seus conhecimentos: Caça-Palavras

Seminário Metástases Pulmonares

Jorge Alberto S. Ferreira e Ane Elise B. Silva

Valor total do protocolo diferente do valor total das guias Protocolo 1199 Outros

Diretrizes Assistenciais PREVENÇÃO DA DOENÇA ESTREPTOCÓCICA NEONATAL

3. Administre antibióticos de amplo espectro, de preferência bactericidas, em dose máxima e sem correção de dose para insuficiência renal ou

Quando somente a limpeza (Irrigação Simples) não é suficiente para remover contaminantes e tecidos necrosados das feridas Desbridamentos...

TICOS NO TRAUMA ABDOMINAL: Quando e como?

Normas Adotadas no Laboratório de Microbiologia

TEMA: CINACALCETE SEVELAMER NO TRATAMENTO DO DISTÚRBIO DO METABOLISMO ÓSSEO E MINERAL DA DOENÇA RENAL CRÔNICA

Programa de Controle da Dengue/SC

Modelos de Probabilidade e Inferência Estatística

AVALIAÇÂO E MANEJO DOMICILIAR Do

CONDUTA NAS INFECÇÕES DE SÍTIO CIRURGICO. Quadro 1. Fatores de Risco para Infecções do Sitio Cirúrgico.CIRÚR Cirurgias Ginecológicas

Gyno-Icaden nitrato de isoconazol. Informação importante! Leia com atenção!

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO


I CURSO DE CONDUTAS MÉDICAS NAS INTERCORRÊNCIAS EM PACIENTES INTERNADOS

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO COORDENADORIA DE CONTROLE E INFECÇÃO HOSPITALAR Uso de Antimicrobianos Vancomicina

30/05/2016 DISTORÇÃO ARQUITETURAL DISTORÇÃO ARQUITETURAL. DÚVIDAS DO DIA-A-DIA DISTORÇÃO ARQUITETURAL e ASSIMETRIAS Como vencer este desafio?

A implementação de diretrizes clínicas na atenção à saúde: experiências internacionais e o caso. da saúde suplementar no Brasil

COMO GERENCIAR O RISCO NO BLOCO OPERATÓRIO? Solange Scaramuzza Rosângela A Oliveira

Cisto Poplíteo ANATOMIA

PREVENÇÃO DE INFECÇÃO EM SÍTIO CIRÚRGICO (ISC)

Tratamento da dependência do uso de drogas

INFECÇÕES EM NEONATOLOGIA

MARCADORES CARDÍACOS

Nursing Activities Score

OTOPLASTIA (CIRURGIA ESTÉTICA DAS ORELHAS)

Data: 20/12/2013 NOTA TÉCNICA 259/2013. Medicamento Material Procedimento Cobertura X

Monitorização da Qualidade em Serviços de Saúde

Oncologia. Oncologia. Oncologia 16/8/2011 PRINCÍPIOS DA CIRURGIA ONCOLÓGICA EM CÃES E GATOS. Patologia. Onkos tumor. Logia estudo

PNEUMONIAS COMUNITÁRIAS

RESPOSTA RÁPIDA 315/2014 Informações sobre Mirtazapina e Quetiapina no tratamento da depressão

UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO COMISSÃO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR MANUAL DE ANTISSÉPTICOS PADRONIZADOS DO HC/UFTM

Estado de Mato Grosso Município de Tangará da Serra Assessoria Jurídica - Fone (0xx65)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO HOSPITAL DE CLÍNICAS COMISSÃO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR PROTOCOLOS DE CONTROLE DE INFECÇÃO

Enfermagem em Oncologia e Cuidados Paliativos

PARECER COREN-SP 042/2014 CT PRCI nº 5441/2014 Tickets nºs , e

TOPLANINA teicoplanina 400 mg Liófilo injetável

Atualização das Diretrizes Brasileiras para o rastreamento do câncer do colo do útero

Data: 27/03/2014. NTRR 54/2014 a. Medicamento x Material Procedimento Cobertura

Drª Viviane Maria de Carvalho Hessel Dias Infectologista Presidente da Associação Paranaense de Controle de Infecção Hospitalar 27/09/2013

BAYCUTEN N I) IDENTIFICAÇÃO DO MEDICAMENTO. clotrimazol acetato de dexametasona

Prof. Dr. Jorge Luiz Nobre Rodrigues Dpto de Saúde Comunitária da UFC Faculdade de Medicina

OFICINA DE. São Paulo, julho de 2012 INSTRUMENTAÇÃO. RGICA: responsabilidade compartilhada. Prof a Dr a Rachel de Carvalho rachel@einstein.

Antibioticoterapia NA UTI. Sammylle Gomes de Castro PERC

Pneumonia e Derrame Pleural Protocolo Clínico de Pediatria

CURATIVO DE LESÃO POR ERISIPELA. Enfª (s) Estomaterapeutas: Graciete S. Marques e Dayse C. Nascimento

M.Sc. Prof.ª Viviane Marques Fonoaudióloga, Neurofisiologista e Mestre em Fonoaudiologia Coordenadora da Pós-graduação em Fonoaudiologia Hospitalar

PROFILAXIA CIRÚRGICA. Valquíria Alves

POLÍTICAS DE SAÚDE EM QUEIMADOS

Como a palavra mesmo sugere, osteointegração é fazer parte de, ou harmônico com os tecidos biológicos.

SUSCEPTIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS DE BACTÉRIAS ISOLADAS EM CÃES COM OTITE EXTERNA

Transcrição:

PROGRAMA DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR-HNSC NORMAS E ROTINAS TÉCNICO-OPERACIONAIS CIH/HNSC/GHC NRTO 01/2014 DIAGNÓSTICO DE OSTEOMIELITE ASSOCIADA A ÚLCERAS POR PRESSÃO (UP) Patrícia Reis Pereira Médica Infectologista CIH-HNSC Renato Cassol Méd. Infectol. e Coord. do CIH-HNSC Nelson Fuhrmeister Roessler Méd. Medicina Interna HNSC Edilson Silva Machado Méd. ortopedista Cuidados Paliativos HNSC Josimar Cândido dos Santos Méd. ortopedista Cuidados Paliativos HNSC

Diagnóstico de Osteomielite Associada a Úlceras Por Pressão (UP) Introdução: Úlceras de pressão (UP) são lesões comuns e variam de simples eritema a infecções mais profundas com possível acometimento ósseo. O espectro de acometimento tecidual das UP deve ser estadiado para que o tratamento, tanto em tempo quanto em espectro, seja adequado. Infecção: As infecções das UP podem ser divididas em superficiais e profundas, diferindo no manejo da infecção. As infecções superficiais devem ser tratadas com curativos locais, com ou sem antibióticos tópicos. Superficiais: curativos locais* e debridamento do tecido necrótico. (algoritmo 1) Profundas: incluem celulite, osteomielite, bacteremia e necessitam de antibioticoterapia sistêmica. *Solicitar consultoria do grupo de curativos a critério da equipe assistente

Algoritmo de manejo das úlceras de pressão de difícil resolução: Úlcera sem resolução apesar de tratamento local Não Evidência de infecção Sim 2 semanas de cuidados locais Infecção local ATB tópicos Celulite ATB sistêmicos Sepse/bacteremia ATB sistêmico Resolução Sem melhora em 2-4 semanas Celulite/sepse persistente Sem osteomielite ATB baseado nos culturais Avaliação de osteomielite: RNM, VSG, PCR Osteomielite BX óssea para AP e cultura** ATB sistêmicos cirúrgico Avaliação cirurgia plástica*** ** Avaliação cirúrgica para debridamento juntamente com a biópsia óssea ***Avaliação da cirurgia plástica para realização de procedimentos

Úlcera de pressão com osteomielite associada: Osteomielite por contiguidade pode ocorrer em pacientes com UP profundas. Este diagnóstico deve ser suspeitado em pacientes com úlceras profundas, extensas ou com exposição óssea. As principais bactérias envolvidas nesta infecção são S. aureus, S. coagulase negativa, bacilos aeróbios Gram negativos e ocasionalmente estreptococos, enterococos, fungos e micobactérias podem estar presentes. O estabelecimento do diagnóstico de osteomielite é essencial, uma vez que a infecção requer antibioticoterapia prolongada com ou sem intervenção cirúrgica para desbridamento de sequestro ósseo. O diagnóstico etiológico de osteomielite é feito com o isolamento de micro-organismos em biópsia óssea obtida através de técnica estéril, e achados histológicos de inflamação e osteonecrose. Juntamente com o diagnóstico microbiológico e histológico, métodos radiológicos (RX, TC e RNM) e laboratoriais (PCR, VSG, HMG e HMCs) podem ser usados. PCR, VSG e leucocitose não são específicas para diagnóstico e leucocitose pode estar ausente em osteomielite crônica. Biópsia óssea (aberta ou percutânea): A biópsia aberta é preferível à biópsia por agulha. Em úlceras de decúbito, o debridamento deve ser realizado no mesmo momento da biópsia óssea. Preferencialmente deve ser realizada antes do início da antibioticoterapia ou com 48-72h após sua suspensão. Devem ser obtidos pelo menos dois fragmentos ósseos (6 tem melhor sensibilidade) para a realização de Gram e cultura para bactérias, micobactérias e fungos e histopatologia. Os fragmentos devem ser armazenados em água destilada para os cultivos e em formol para o anatomopatológico. Não devem ser realizadas culturas de úlceras rasas ou de fístulas. Terapia guiada por germe (sensibilidade dependente ajustar para função renal): Germe Antimicrobiano MSSA Oxacilina 2 g IV 4/4 horas MRSA Vancomicina - dose: ver NRTO CIH P. aeruginosa e outros gram - Cefepime 2g IV 8/8 horas S. coagulase - Vancomicina - dose: ver NRTO CIH Duração da terapia antimicrobiana: A duração da terapia antimicrobiana deve ser mantida por pelo menos 6 semanas conjuntamente com ressecção do tecido afetado, acompanhamento da cirurgia plástica e ortopedia.

Referências: Infectious complications of pressure ulcers. Imad Tleyjeh, MD, MSc. Dan Berlowitz, MD, MPH. Larry M Baddour, MD, FIDSA. 2013, UpToDate. Practice Guidelines for the Diagnosis and Management of Skin and Soft-Tissue Infections Dennis L. Stevens, Alan L. Bisno, Henry F. Chambers, E. Dale Everett, Patchen Dellinger, Ellie J. C. Goldstein, Sherwood L. Gorbach, Jan V. Hirschmann, Edward L. Kaplan, Jose G. Montoya, and James C. Wade. Pressure ulcers: Epidemiology, pathogenesis, clinical manifestations, and staging. Dan Berlowitz, MD, MPH. 2013, UpToDate. Treatment of pressure ulcers. Dan Berlowitz, MD, MPH. 2013, UpToDate. Treatment of Pressure Ulcers. AHCPR Clinical Practice Guidelines, No. 15.Treatment of Pressure Ulcers Guideline Panel. Rockville (MD): Agency for Health Care Policy and Research (AHCPR); 1994 Dec. Overview of osteomyelitis in adults. Tahaniyat Lalani, MBBS, MHS. 2013, UpToDate. Appoach to imaging modalities in the setting of suspected osteomyelitis. Mary Hochman, MD, MBA. 2013, UpToDate.