PERSISTÊNCIA DO ARCO AÓRTICO DIREITO EM UM CÃO - RELATO DE CASO PERSISTENT RIGHT AORTIC ARCH IN A DOG - CASE REPORT



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PERSISTÊNCIA DO ARCO AÓRTICO DIREITO EM UM CÃO - RELATO DE CASO PERSISTENT RIGHT AORTIC ARCH IN A DOG - CASE REPORT Eduardo Conceição de Oliveira 1 ; Leandro Haczkiewicz Gaiga 2 ; Lucas Marques Colomé 3 ; Rafael Stedile 3 ; Fabíola Peixoto da Silva Mello 3 ; Jorge de Mesquita Martins 4 ; Cesar Dias Freire 5. RESUMO Este trabalho descreve um caso clínico de persistência do arco aórtico direito (PAAD) em um canino de 30 dias, macho e sem raça definida. O animal apresentava sinais de regurgitação logo após a alimentação. Anomalia do anel vascular foi diagnosticada pela constrição do esôfago na base cardíaca através de esofagograma com sulfato de bário. A exploração cirúrgica diagnosticou a PAAD pela identificação do ligamento arterioso, que então foi ligado e dividido. Depois de 21 dias da cirurgia, a radiografia contrastada confirmou a regressão do megaesôfago e o proprietário informou infreqüente regurgitação depois da alimentação. Broncopneumonia por aspiração foi diagnosticada, sendo realizada a eutanásia do cão pela grave condição respiratória. Broncopneumonia também pode acontecer após a correção da PAAD devido a presença de regurgitação que ainda ocorre nas primeiras semanas depois da cirurgia. Palavras-chave: anomalia, ligamento arterioso, megaesôfago, regurgitação. ABSTRACT This work reports a case of the persistent right aortic arch (PRAA) in 30-day-old, male, mixed breed canine with signs of regurgitation following feeding. Vascular ring anomaly was diagnosed by constriction of the esophagus in heart base through barium sulphate esophagogram. Ligamentum arteriosum was identified, and existence of PRAA was confirmed, at surgical exploration. Then the ligamentum arteriosum was ligated and divided. 1 Méd. Vet. Hospital de Clínicas Veterinárias da UFRGS.E-mail: eduvetrs@pop.com.br. 2 Méd. Vet. Prof. Medicina de Cães e Gatos da Faculdade de Veterinária da UFRGS. 3 Méd. Vet. Hospital de Clínicas Veterinárias da UFRGS. 4 Méd. Vet. Hospital de Clínicas Veterinárias da UFRGS. 5 Méd. Vet..

175 Persistência do arco... Radiograph confirmed regression of megaesophagus 21 days after surgery, and dog s owner informed infrequent regurgitation after eating. Aspiration bronchopneumonia was diagnosed and the dog was euthanatized due serious condition respiratory. Bronchopneumonia can also happen afterwards correction of PRAA due presence of regurgitation that ocurr in the first weeks after of the surgery. Key words: anomaly, ligamentum arteriosum, megaesophagus, regurgitation. INTRODUÇÃO As anomalias dos anéis vasculares são alterações congênitas provocadas por defeitos na embriogênese dos arcos aórticos (RICARDO et al., 2001). Como exemplo, podemos citar a persistência do arco aórtico direito, o duplo arco aótico, artéria subclávia esquerda ou direita aberrantes e a persistência do ducto arterioso como possíveis patologias dos anéis vasculares em cães e gatos (HELPHREY, 1996). A presença destas más formações ocasiona a compressão extraluminal esofágica ao nível da base cardíaca (RICARDO et al., 2001). A constrição do esôfago provoca um megaesôfago secundário, geralmente com localização cranial a base cardíaca (JONES et al., 2000). Diante desta enfermidade, o animal apresenta regurgitações quando este passa a consumir dietas sólidas (NAM et al., 2003). Em alguns casos, o conteúdo alimentar pode ser palpado na região cervical (JOHNSON, 1994). Em virtude do distúrbio digestivo, podemos observar uma má condição corporal do animal e uma pneumonia pela aspiração da dieta regurgitada (HELPHREY, 1996). O diagnóstico é firmado pela radiografia contrastada do esôfago que irá apresentar além do megaesôfago, também uma contrição esofágica na base cardíaca (FARROW, 2003). O tratamento consiste na identificação de qual tipo de anomalia vascular está acometendo o animal, visualizada durante o procedimento cirúrgico. Posteriormente, deve ser realizado o isolamento do anel vascular para posterior secção e liberação esofágica do tecido fibroso no local da constrição (FINGEROTH, 1998). A realização precoce da cirurgia evita danos maiores ao esôfago, ou seja, possibilitará uma menor chance de megaesôfago irreversível e perda da motilidade esofágica (ARCINIEGAS et al., 1979; TWEDT, 1997). Na presença de pneumonia, esta patologia deve ser tratada antes da intervenção cirúrgica para correção do anel vascular (FINGEROTH, 1998). A persistência do arco aórtico direito (PAAD) é a anomalia do anel vascular mais encontrada em cães, diagnosticada em 95% dos casos

Oliveira, E.C. de et al. 176 (ELLISON, 1996; FINGEROTH & FOSSUM, 1997). A PAAD ocorre quando o quarto arco aórtico direito persiste ao invés do quarto arco aórtico esquerdo que formaria a aorta (JONES et al., 2000). O anel vascular é formado pela aorta que sai do ventrículo esquerdo para o lado direito cruzando o esôfago dorsalmente, pela base cardíaca e pelo ligamento arterioso que liga a artéria pulmonar à aorta (TWEDT, 1997). Esta anomalia é encontrada em mais de 95% dos casos em cães com massa corporal acima de 15 kg, sendo as raças mais predispostas o Boston Terrier, Setter Irlandês e Pastor Alemão (TWEDT, 1997; FINGEROTH, 1998). O objetivo deste trabalho é relatar um caso de persistência do arco aórtico direito num canino, abordando seu histórico, os sinais clínicos, o método de diagnóstico empregado, a técnica cirúrgica utilizada e os resultados obtidos. RELATO DO CASO Um canino, macho, sem raça definida, de massa corporal de 1,5 Kg, com 30 dias de idade foi atendido no Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Porto Alegre - RS por estar apresentando regurgitação (Figura 01). Segundo os proprietários, o cão quando alimentado com dietas líquidas não apresentava nenhum tipo de distúrbio digestivo, porém após o consumo de dietas sólidas e semi-sólidas ocorria regurgitação. Ao exame clínico demostrou boa condição corporal, mucosas rosadas, alerta e ativo, com temperatura retal de 38 C e sem comprometimento cardiopulmonar. FIGURA 01 - O canino demonstrando episódio de regurgitação após uma alimentação semi-sólida. O animal foi encaminhado para a realização de esofagograma contrastado com sulfato de bário (3mL/kg por via oral misturado à ração semi-sólida), onde visualizou-se megaesôfago cranial e caudal ao coração e constrição na base cardíaca. (Figura 02). O canino apresentou após dez minutos regurgitação do conteúdo administrado para o exame radiográfico, confirmando o histórico de regurgitação. Baseando-se nos sinais clínicos apresentados e no resultado da imagem radiográfica, o diagnóstico presuntivo foi de uma anomalia de anel vascular. Com a obtenção das imagens radiográficas, pode-

177 Persistência do arco... se observar também a ausência de alterações na área pulmonar, a qual poderiam sugerir uma pneumonia. Optou-se pela cirurgia precoce de correção do anel vascular e a utilização de dieta líquida em plano elevado como manejo alimentar. A cirurgia foi realizada quando o cão estava com 40 dias. FIGURA 02 - Radiografia contrastada do esôfago que diagnosticou megaesôfago cranial e caudal com estenose esofágica na base cardíaca. O protocolo anestésico utilizado constou de acepromazina na dose de 0,1mg/kg e meperidina na dose de 4mg/kg, ambas pela via intramuscular. A indução anestésica foi realizada com propofol (5mg/kg pela via intravenosa) e a manutenção com o uso de isoflurano vaporizado em oxigênio pela via inalatória e citrato de fentanila na dose de 5µg/kg pela via intravenosa. A preparação do animal para a cirurgia foi realizada através de uma tricotomia ampla no lado esquerdo do tórax, administração de fluidoterapia com a solução de ringer lactato e anti-sepsia com álcool-povidine-álcool. A abordagem para correção da anomalia se fez por toracotomia lateral esquerda através do quarto espaço intercostal. Os lobos pulmonares foram afastados com auxílio de gaze estéril umedecida em solução fisiológica morna. Para correção desta anomalia vascular, investigou-se qual tipo de anel vascular estava obstruindo o esôfago, através da visualização das estruturas envolvidas após cuidadosa dissecção. Observando a presença do ligamento arterioso ligando a artéria pulmonar com a aorta, diagnosticouse uma PAAD. Foi realizada a liberação do anel vascular do esôfago, ligadura do ligamento arterioso com fio de poliglactina 910 número 2-0 em cada extremidade (aorta e artéria pulmonar) para posterior secção, ocorreu a liberação esofágica do tecido fibroso no nível da constrição e a introdução oral de um cateter de Foley para dilatação do esôfago no local da compressão (Figura 03). Posteriormente, procedeu-se a toracorrafia com fio 2-0 de poliglactina 910. Para completa estabilização do paciente, foi realizada a toracocentese, estabelecendo a pressão negativa da cavidade torácica.

Oliveira, E.C. de et al. 178 cardíaca (Figura 04). Neste período, também as regurgitações tornaram-se mais esparsas. FIGURA 03 - Visualização do ligamento arterioso e o posicionamento dos fios em cada extremidade para posterior ligadura. No pós-operatório, utilizou-se cloridrato de tramadol como agente analgésico na dose de 2mg/kg e bloqueio intercostal com lidocaína 2% sem vasoconstritor nos dois espaços intercostais anteriores e nos dois posteriores a incisão. Foi utilizado também cetoprofeno na dose de 2mg/kg a cada 24 horas durante três dias consecutivos e cefalexina na dose de 30mg/kg a cada 8 horas por sete dias. O animal foi alimentado em plano elevado com dieta semi-sólida em pequenas quantidades durante o primeiro mês póscirurgia. A retirada dos pontos ocorreu após uma semana do procedimento cirúrgico. RESULTADOS E DISCUSSÃO A comparação da imagem radiográfica realizada para o diagnóstico da anomalia vascular com a radiografia contrastada realizada em 21 dias após a cirurgia, observou-se a diminuição do megaesôfago cranial e caudal a base FIGURA 04 - Esofagograma após 21 dias da cirurgia, demonstrando a redução considerável do megaesôfago. O canino retornou para reconsulta após um mês da cirurgia, devido à apatia e dificuldade respiratória. O exame clínico revelou temperatura retal de 40 C, dispnéia e crepitações pulmonares. A radiografia torácica revelou imagem radiográfica compatível com broncopneumonia. Amoxicilina foi receitada na dose de 22mg/Kg a cada oito horas durante 15 dias. Em decorrência da frustrante terapia com o antimicrobiano e pelo grave estado do cão, optou-se pela eutanásia quando o canino estava com 70 dias. Os achados da necropsia, tanto macroscópicos quanto microscópicos, confirmaram uma broncopneumonia grave. Durante a necropsia, também observou-se megaesôfago leve e a aorta em posição anômala, saindo do ventrículo esquerdo

179 Persistência do arco... pelo lado direito cruzando o esôfago dorsalmente. A utilização de antimicrobiano no pós-operatório foi recomendada de acordo com FINGEROTH (1998) de forma profilática, pois uma broncopneumonia em fase inicial pode não ser diagnosticada no exame clínico ou radiológico. A ocorrência de megaesôfago caudal a constrição, conforme TWEDT (1997), é de ocorrência rara e pode ser considerada um fator a mais como complicação da PAAD. Conforme BONAGURA & DARKE (1997), a PAAD não provoca nenhuma alteração cardiovascular no paciente acometido. Tal quadro condiz com o demonstrado pelo paciente, pois não apresentou nenhum sinal de doença ou falha cardiovascular perceptível ao exame físico e radiográfico. A presença de regurgitações, logo após o período cirúrgico, foi observada por MULDOON et al. (1997). Porém, sua ocorrência tende a diminuir com a redução do megaesôfago. Com a presença destas regurgitações, o canino apresentou uma broncopneumonia grave pela aspiração do conteúdo alimentar. A pneumonia por aspiração também foi citada por SHIRES & LIU (1981) como complicação póscirúrgica da correção da PAAD. Da mesma forma que outros relatos de correção da PAAD, a correção da anomalia propiciou a eliminação da constrição, diminuição do megaesôfago e a redução das regurgitações (MULDOON et al., 1997). CONCLUSÕES A correção precoce das anomalias vasculares propicia a redução gradual do megaesôfago, porém a presença de regurgitação ainda pode ser observada nas primeiras semanas após a cirurgia. Desta forma, na ocorrência de regurgitações, existe a possibilidade de aspiração da dieta, ocasionando a uma broncopneumonia. REFERÊNCIAS ARCINIEGAS, E.; HAIMI, M.; HERTZLER, J.H.; et al. Surgical management of congenital vascular rings. J. Thorac. Cardiovasc. Surg. v.77, n.5, p.721-727, 1979. BONAGURA, J.D., DARKE, P.G.G. Cardiopatia congênita. In: Ettinger, S.J., Feldman, E. C. Tratado de Medicina Interna Veterinária. 4ed. São Paulo: Manole, 1997. ELLISON, G.W. Correção cirúrgica do arco aórtico direito persistente. In: BOJRAB, M..J. Técnicas Atuais em

Oliveira, E.C. de et al. 180 Cirurgia de Pequenos Animais. São Paulo: Roca, 1996. FARROW, C.S. Veterinary Diagnostic Imaging the Dog and Cat. St. Louis: Mosby, 2003. FINGEROTH, J.M. Afecções cirúrgicas do esôfago. In: SLATTER, D. Manual de Cirurgia de Pequenos Animais. São Paulo: Manole, 1998. surgical correction of persistent right aortic arch in dogs: 25 cases (1980-1995). J. Am. Vet. Med. Assoc. v.10, n.2, p.1761-1763, 1997. NAM, Y.S.; LEE, C.H.; CHUNG, D.H.; et al.. Left costocervical vein malformation with anomalous ramification of aortic arch in a dog. J. Vet. Sci. v.4, n.3, p.205-208, 2003. 1312 FINGEROTH, J.M.; FOSSUM, T.W. Lateonset regurgitation associated with persistent right aortic arch in two dogs. J. Am. Vet. Med. Assoc. v.191, n.12, p.981-983, 1987. RICARDO, C.; AUGUSTO, A.; CANAVESE, S. et al. Double aortic arch in a dog (Canis familiaris): a case report. Anatom., Histol., Embryol. v.30, n.6, p.379-381, 2001. HELPHREY, M. Anomalias vasculares anelares. In: BOJRAB, M.J. Mecanismos da Moléstia na Cirurgia dos Pequenos Animais. 2ed. São Paulo: Manole, 1996. SHIRES, P.K.; LIU, W. Persistent right aortic arch in dogs: a long term follow-up after surgical correction. J. Am. Anim. Hosp. Asoc. n.17, p.773-776, 1981. JOHNSON, S.E. Diseases of the esophagus. In: Sherding, R.G. The Cat Diseases and Clinical Management. 2.ed. Philadelphia: Sauders, 1994. JONES, T.C.; HUNT, R.D.; KING, N.W. Patologia Veterinária. 6.ed. São Paulo: Manole, 2000. TWEDT, D.C. Afecções do esôfago. In: ETTINGER, S.J., FELDMAN, E.C. Tratado de Medicina Interna Veterinária. 4.ed. São Paulo: Manole, 1997. MULDOON, M.M.; BIRCHARD, S.J., ELLISON, G.W. Long-term results of