Autoria: Samir Adamoglu de Oliveira, Kleber Cuissi Canuto, Fabricio Baron Mussi



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Práxis e Seus Mediadores na 'Estratégia como Prática Social': o Papel do Uso das Tecnologias na Consolidação da Prática Estratégica RESUMO Autoria: Samir Adamoglu de Oliveira, Kleber Cuissi Canuto, Fabricio Baron Mussi Embora se incentive para que possibilidades de diálogos entre áreas fundamentais dos Estudos Organizacionais em Administração sejam qualitativa e quantitativamente expandidas nos seus potenciais explicativos (JARZABKOWSKI; MATTHIESEN, 2007), há ainda certas lacunas nas teorias existentes para que tais integrações possam acontecer. Um exemplo de lacuna dessa natureza concerne os temas da Estratégia e da Tecnologia, quando se analisa um questionamento recorrente na academia: qual o papel do uso das tecnologias no strategizing das organizações? É instigado por essa dúvida que o presente ensaio teórico objetiva realizar uma análise focada nas acepções estratégicas das pesquisas empíricas retratadas em Orlikowski (1992) e Schultze e Orlikowski (2004), na tentativa de construir uma ponte que ligue explicativamente melhor os temas da Estratégia e da Tecnologia a partir de uma concepção de práticas sociais, aproveitando-se da convergência epistemológica e teóricometodológica das abordagens da 'Estratégia como Prática' e da 'Tecnologias-na-Prática', aqui adotadas. Ao final, evidencia-se que o uso de tecnologias nas organizações atua como mediador da práxis dos praticantes da estratégia na apropriação e representação das práticas que sustentam uma estratégia organizacional, ao mesmo tempo em que o uso desse ferramental tecnológico deriva do pensar e agir estratégicos dos praticantes. 1. INTRODUÇÃO As pesquisas de Chen e Hirschheim (2004) apontam para a predominância (81%) da pesquisa positivista no campo de Sistemas de Informação. Orlikowski e Baroudi (1991) também criticam o domínio de estudos positivistas na área de tecnologia, sugerindo abordagens mais interpretativistas, assim como recomenda Ciborra (1997) com relação aos estudos de alinhamento entre estratégia e tecnologias. Um dos avanços nesse contexto foi realizado por Callon (1991), Monteiro (2000) e Santos (2006) ao propor o uso da Actor- Network-Theory (ANT) para a pesquisa de alinhamento entre estratégia e tecnologia. No campo da estratégia destaca-se também as contribuições de Whittington (2006), Jarzabkowski (2004) e Johnson et al. (2007) que sugeriram um certo redirecionamento dos estudos da área enfatizando, dentre outros aspectos, a necessidade de examinar de modo mais próximo as práticas que dão sustentação a estratégia da organização, ou seja, de observar a estratégia na prática não se prendendo as relações de causa-e-efeito até então priorizadas. Outra contribuição destes últimos consiste no argumento de cunho metodológico que as recomendações exigem, nas quais o pesquisador deve aproximar-se do campo, observando mais de um nível de análise, fazendo uso, por exemplo, de uma abordagem de natureza mais etnometodológica. Desta forma, é dentro desta última perspectiva teórica citada que este estudo pretende-se debruçar. A partir da virada prática na Teoria Social ocorrida dos anos 1980 em diante (SCHATZKI; KNORR CETINA; SAVIGNY, 2001), diversas áreas presentes no campo da Administração passam a incorporar elementos e concepções de pensadores edificadores desse retorno à razão prática para um melhor entendimento da realidade das organizações. Os teóricos desse movimento científico a citar, Anthony Giddens, Pierre Bourdieu, Michel de Certeau, Stephen Turner, Andreas Reckwitz, Theodore R. Schatzki, dentre outros, argumentam (embora existam diferenças cruciais entre as visões destes) em favor de uma perspectiva integradora dos pólos explicativos do individualismo metodológico e da 1

sociologia estrutural, intermediada pelas práticas sociais sustentadas em um coletivo, de modo a fazer jus tanto aos esforços dos atores individuais quanto às forças condicionantes do plano macrossocial. À luz dessa mudança, identifica-se duas áreas específicas dos Estudos Organizacionais que empreendem nos últimos 15 anos uma expansão dos seus potenciais explicativos para fenômenos a si pertinentes: a área da estratégia, e a área da tecnologia. Essas duas áreas vêm trilhando novos caminhos a partir da incorporação significativa, mas não exclusiva das concepções estruturacionistas de Anthony Giddens, de modo que são chamadas aqui para um dialogo entre as suas perspectivas 'de práticas': a abordagem da 'Estratégia como Prática' e da 'Tecnologias-na-Prática'. É crendo numa possibilidade de conversação entre essas duas abordagens que a idéia central deste ensaio teórico se sustenta, sendo sobremaneira embasada por duas das seis perguntas de pesquisa sugeridas por Whittington (2002b) no que tange aos processos de strategizing e organizing dentro da perspectiva da 'Estratégia como Prática': 4. Quais são as ferramentas e técnicas comuns dos processos de strategizing e organizing e como elas são usadas na prática? Pesquisadores estão começando a compilar inventários de ferramentas estratégicas e organizacionais comuns à esses processos (Rigby, 2001; Mallone et al., 1999). Nós também sabemos a partir da literatura institucionalista como as ferramentas de gestão são difundidas ao longo do tempo e espaço (Abrahamson, 1996; Djelic, 1998). O que nós sabemos muito pouco é como tais ferramentas são usadas na ação (Jarzabkowski, 2002). A análise profunda de Orlikowski (2002) acerca do uso do Lotus Notes em dois escritórios diferentes mostra o engajamento ativo e criativo dos colaboradores com aquele software aparentemente padrão, demonstrando uma distinção clara entre tecnologias desenhadas e tecnologias-na-prática. [...] Nós precisamos saber mais sobre tecnologias-na-prática estratégica e organizacional, e entender as demandas exigidas por estas nos seus usuários e na gama de improvisações audazes que acontecem na prática. [...] 6. Como os produtos dos processos de strategizing e organizing são comunicados e consumidos? [...] Ainda persiste uma ampla agenda de pesquisa no que tange às tecnologias de comunicação dos desenhos estratégicos e organizacionais adotados pelas empresas e as maneiras nas quais elas são consumidas ao longo da hierarquia estrutural da organização (WHITTINGTON, 2002b, p. 122-123, grifo nosso, tradução nossa). Em virtude do exposto nesses dois questionamentos de pesquisa acima salientados, o objetivo deste ensaio teórico é elucidar o papel da utilização das tecnologias na estruturação do processo de formação da estratégia organizacional, a partir da perspectiva da Tecnologiasna-Prática de Orlikowski (1992; 2000), compreendendo assim as esferas da práxis e do ferramental destacadas por Whittington (2006), de modo a responder ao seguinte questionamento: qual o papel do uso das tecnologias no strategizing das organizações? O presente ensaio teórico está estruturado da seguinte maneira: na seção 2, discorrese acerca da perspectiva da 'Estratégia como Prática' visando expor as principais concepções teórico-metodológicas desta; na seção 3, é apresentada uma leitura de natureza epistemologicamente similar à corrente da 'Estratégia como Prática' para o tema da tecnologia a perspectiva da 'Tecnologias-na-Prática', visando, a partir disso, poder compor, na seção 4, uma linguagem comum para a elaboração de uma análise envolvendo os dois temas a partir de duas pesquisas empíricas Orlikowski (1992), e Schultze e Orlikowski (2004). Com a elaboração desse laço teórico explicativo para o questionamento levantado, encerra-se o ensaio com algumas considerações, sugerindo brevemente idéias para pesquisas futuras, atentando-se ainda para suas implicações metodológicas. 2

2. ESTRATÉGIA COMO PRÁTICA SOCIAL No desenvolvimento do campo da estratégia, desde suas abordagens mais elementares nos anos 1960 até os esforços contemporâneos, identifica-se um aumento na sofisticação do seu corpo teórico, reflexo do aumento da complexidade que acompanhou o caminhar das Ciências Sociais e Humanas ao longo da segunda metade do século XX. Tal desenvolvimento foi fruto das interações entre, e integrações à diferentes correntes de pensamento das mais diversas áreas como a Economia, Sociologia, Filosofia, Psicologia e a Comunicação mediante as quais a própria Administração se viu naturalmente necessitada a fazer, visando seu fortalecimento e crescimento (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000). Especificamente nos estudos sobre estratégia, Whittington (2004) destaca que a mencionada expansão do tema reflete um retorno a razão prática pela qual a Teoria Social como um todo vem passando desde os anos 1980 (SCHATZKI; KNORR CETINA; SAVIGNY, 2001), indicando um pluralismo saudável (e imprescindível) para o enriquecimento da compreensão teórico-empírica de como ocorre um processo dinâmico e complexo da natureza da formação da estratégia, o qual possui implicações diretas em aspectos políticos, culturais, ético-morais, técnicos e estruturais nas organizações (WHITTINGTON, 2002c; WHITTINGTON et al., 2003). Esse retorno a razão prática que permite incorporações de aspectos complexos e plurais pós-modernos ao contexto das práticas racionais sendo por isso uma leitura após o modernismo, e não meramente uma leitura cética das exacerbações pós-modernas (CAMPBELL-HUNT, 2007; TSOUKAS; HATCH, 2001; WHITTINGTON, 2004) impacta, por sua vez, na agenda de pesquisa e de desenvolvimento teórico-científico que circunscreve o tema da estratégia, sendo sobretudo uma tentativa de aproximar e destacar a complementaridade de conhecimentos tidos como distantes e incomunicáveis : os conhecimentos provenientes da Academia, e os conhecimentos provenientes da realidade empírica do cotidiano das organizações (JARZABKOWSKI, 2003a; VAN DE VEN; JOHNSON, 2006; WILSON; JARZABKOWSKI, 2004). Essa preocupação com um diálogo entre teoria e realidade empírica deriva da ontologia estruturacionista giddensiana que se configura como alicerce teórico da proposta da 'Estratégia como Prática', a qual se volta exclusivamente para os potenciais constitutivos da vida social, representados na Teoria da Estruturação (GIDDENS, 2003) pelas [...] capacidades humanas genéricas e as condições fundamentais mediante as quais o curso e os resultados dos processos e eventos sociais são gerados e moldados numa multiplicidade de maneiras empiricamente discerníveis (COHEN, 1999, p. 402). Substancialmente ancorada na Teoria da Estruturação de Anthony Giddens (2003), a corrente da 'Estratégia como Prática' engaja-se no estudo de sistemas de valores e crenças intersubjetivamente compartilhados e laboralmente sustentados que se desenham na cognição dos indivíduos, compondo padrões institucionais, numa idéia de 'estrutura virtual'. Essa dita 'estrutura virtual' não apenas condiciona as ações dos indivíduos dentro da coletividade habilitando o escopo destas, como também as delimita restringindo-as no que tange aos padrões comportamentais existentes sustentados pelo grupo. Dessa forma, essa estrutura atua como meio e fim das atividades dos indivíduos, uma vez que ela tanto condiciona suas ações quanto é condicionada (reforçada ou então modificada), a partir das atividades destes, constituindo assim uma dualidade a dualidade da estrutura (GIDDENS, 2003, p. 29-33). Para a Teoria da Estruturação, o domínio básico que expressa essa recursividade inerente à constituição do tecido social que o conceito de dualidade da estrutura comporta são as práticas sociais espaciotemporalmente ordenadas e situadas, uma vez que estas (as práticas sociais) [...] não são criadas por atores sociais, mas continuamente recriadas por eles através 3

dos próprios meios pelos quais eles se expressam como atores (GIDDENS, 2003, p. 3, grifo do autor). Entende-se, assim, que: Uma 'prática' (Praktik) é um tipo de comportamento rotinizado o qual consiste em diversos elementos, interconectados uns aos outros: formas de atividades corporais, formas de atividades mentais, 'coisas' e seus usos, um background de conhecimentos na forma de entendimentos, know-how, estados de emoções e conhecimentos motivacionais [...] uma prática representa um padrão o qual pode ser preenchido por uma multiplicidade de ações isoladas e geralmente únicas que constituem a prática [...] a prática não é apenas compreensível para um agente ou para os agentes que a sustentam, ela é igualmente compreensível para observadores potenciais [...] uma prática é, portanto, uma maneira rotinizada na qual corpos se movem, objetos são manuseados, assuntos são tratados, coisas são descritas e o mundo é entendido (RECKWITZ, 2002, p. 249-250, tradução nossa). Com isso, as práticas sociais são a herança de tradições, normas, regras e rotinas geradas e repetidas nas atividades diárias, que alcançam assim o caráter de algo legítimo; práxis social, por sua vez, são as coisas efetivamente feitas, as ações laborais, ou seja, as atividades efetivamente levadas a efeito (GIDDENS, 2003; TURNER, 1994, WHITTINGTON, 2006). As práticas sociais e o conhecimento mútuo dessas práticas são concebidos como uma série de regras e normas de conduta que são utilizadas na reprodução da regularidade da práxis social, pressupondo então um conjunto de propriedades estruturais que, por serem características estruturadas de sistemas sociais, estendem-se ao longo do tempo e do espaço dada sua natureza institucionalizada. É a partir desses conceitos basilares que a 'Estratégia como Prática' percebe a estratégia não apenas como sendo um atributo das organizações, mas também como uma atividade realizada no cotidiano das pessoas que compõem esses coletivos, consolidando-se, dessa forma, como uma prática social. Assim sendo, essa corrente teórica procura explicar como atores estratégicos capazes e instruídos (praticantes) constituem e reconstituem um sistema de práticas estratégicas compartilhadas (práticas) que eles também consideram como grupo de recursos, a partir dos instrumentos e ferramentas disponíveis nas organizações para auxiliar tal processo nas atividades do cotidiano (práxis) para se fazer a estratégia da organização num constante e indissociável pensar e agir espaciotemporalmente situados, fruto da agência humana (SCHATZKI, 1996; WILSON; JARZABKOWSKI, 2004). Na 'Estratégia como Prática' tem-se uma abordagem multi-nível a partir da análise desses 3 níveis inerentes à organização (práticas/práxis/praticantes) em constante comunicação entre si (interseções A, B e C, da Figura 1) e com o ambiente 'extra-' ou 'supra-organizacional' (incluindo tanto o campo organizacional quanto o campo institucional da estratégia, representado por empresas de consultoria, escolas de estratégia, mídia específica e demais profissionais relacionados a sua manutenção e atualização) a partir da lógica de organizações como sistemas abertos e fechados (SCOTT, 2003; WHITTINGTON, 2006). Partindo desse pressuposto de que [...] a estratégia não é algo que uma organização possui, mas algo que os seus membros fazem (JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL, 2007, p. 6, tradução nossa) define-se [...] strategizing como o processo de fazer a estratégia; ou seja, é a construção desse fluxo de atividades mediante as ações e interações de múltiplos atores e as práticas nas quais eles se baseiam (2007, p. 8, tradução nossa), complementando a idéia de se enxergar as organizações como sistemas de interpretações e de construção de significados intersubjetivamente compartilhados num processo que contempla aspectos retrospectivos, presentes e projetivos sensemaking constituindo um coletivo a ser sustentado pelo corpo de práticas ali institucionalizadas sempre passíveis de desinstitucionalização (JARZABKOWSKI, 2003b) mediante a ação na práxis organizing (WEICK, 1995). 4

Figura 1 Strategizing: um modelo conceitual para analisar a 'Estratégia como Prática' Fonte: Adaptado de Jarzabkowski (2005, p. 11), e Jarzabkowski, Balogun e Seidl (2007, p. 11). É importante destacar que, ao se preocupar com uma análise que explore e teça as interligações horizontais e verticais entre esses níveis acima destacados (WHITTINGTON; JOHNSON; MELIN, 2004; WHITTINGTON, 2006), a 'Estratégia como Prática' define uma agenda dupla, a qual opta, em coerência à lógica equilibrada da Teoria da Estruturação (GIDDENS, 2003), em não privilegiar pólos analíticos de uma faceta tecnicista ou de uma faceta sociológica que componham um dado fenômeno: A pesquisa na Estratégia como Prática abraça esta preocupação: praticantes estratégicos mais eficientes e práticas mais apropriadas podem contribuir diretamente para o desempenho organizacional. Entretanto, a perspectiva prática não se resume a assuntos de desempenho ou de vantagem organizacional. O modelo prático [...] destaca aspectos da práxis, praticantes e práticas que vão além de uma agenda puramente organizacional (WHITTINGTON, 2006, p. 628, tradução nossa). [...] aceitar a estratégia como prática social envolve a recusa em privilegiar a performance da firma, em benefício da performance do campo como um todo, ou dos praticantes da estratégia individualmente (WHITTINGTON, 2004, p. 49). [...] pesquisa em 'Estratégia-como-Prática' deve explicar resultados que sejam conseqüentes para uma firma em todos os níveis, dos detalhes mais 'micro' aos mais amplos níveis institucionais, dependendo do foco da pesquisa. [...] Nosso interesse central de pesquisa foca na explicação de quem são os estrategistas, o que eles fazem e por quê e como isso tudo é conseqüente em atividades estratégicas socialmente alcançadas. Assim, muitos problemas postos na pesquisa em estratégia existente, tais como competências dinâmicas, visão baseada em recursos, visão baseada em conhecimento e teoria do processo estratégico podem ser iluminados por uma abordagem prática nos seus estudos. [...] Portanto, o campo não precisa de novas teorias por assim dizer, mas de se basear na gama de teorias existentes para explorar problemas estratégicos definidos dentro do nosso modelo conceitual, para desenvolver métodos e desenhos de pesquisa mais inovadores [...] e para avançar em explicações de como a estratégia é alcançada usando esses diferentes níveis e unidades de análise (JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL, 2007, p. 19, tradução nossa). 5

Dessa forma, evidencia-se que a corrente da 'Estratégia como Prática' não apenas reconhece a validade de diversas outras abordagens (conceitual e epistemologicamente) distintas dos seus preceitos entendendo que ela em si mesma seja resultado de uma evolução natural do campo da estratégia, como também defende o diálogo entre as abordagens que compõem essa área de estudos (como as correntes que enxergam a estratégia como conteúdo, ou como processo), posicionando-se como uma integradora, a partir do seu olhar sociológico que, de certa forma, auxilia na complementaridade temática de uma atividade essencialmente humana (WHITTINGTON, 2002a; 2007). 3. TECNOLOGIAS SOB A LENTE ESTRUTURACIONISTA A ênfase no papel das práticas sociais não se limita aos estudos organizacionais, havendo nos mesmos moldes da corrente da 'Estratégia como Prática', uma leitura estruturacionista fincada na obra de Giddens (2003) para o tema da tecnologia. Essa perspectiva, aqui traduzida como 'Tecnologias-na-Prática' (Technologies-in-practice) (ORLIKOWSKI, 2000) utiliza-se de um modelo de estruturação da tecnologia para compreender os aspectos sociológicos da tecnologia e do trabalho, e as relações entre ambos e as práticas sociais, sem, contudo, desconsiderar a faceta tecnicista do assunto. Surgida em 1992, essa leitura da tecnologia tem na obra de Wanda J. Orlikowski sua concepção e validação, ajudando a expandir as fronteiras da aplicabilidade da Teoria da Estruturação nas Ciências Sociais. Segundo essa perspectiva, as tecnologias em si não constituem práticas sociais, mas sim o uso destas é que acaba tanto por condicionar quanto por ser condicionado pelas práticas sociais surgidas e/ou existentes em uma dada realidade organizacional. Esse surgimento ou reforçar de práticas sociais compõe, por sua vez, as estruturas virtuais existentes nas mentes dos indivíduos e sustentadas intersubjetivamente, dado o aspecto recorrente da sua manifestação. Como salienta Orlikowski (2000, p. 405, tradução nossa), pelo fato de uma perspectiva estruturacionista ser [...] inerentemente dinâmica e fundamentada na ação humana contínua, ela de fato tem o potencial de explicar a emergência e as mudanças no uso das tecnologias e na própria tecnologia, imprimindo-lhe, dessa maneira, um caráter ontológico, heurístico e de sentido de realidade. Para Orlikowski (1992, p. 406), a tecnologia tanto incorpora quanto é uma instância mediadora de diversas regras e recursos que constituem a estrutura de uma organização, levando em conta, essencialmente, duas premissas básicas: há recursividade na noção de tecnologia; e a tecnologia possui uma flexibilidade interpretativa e interativa, limitada de acordo com o contexto espaciotemporal no qual ela se insere: Tecnologia é o produto da ação humana, enquanto também assume propriedades estruturais. Ou seja, a tecnologia é fisicamente construída por atores trabalhando em um dado contexto social, e a tecnologia é socialmente construída pelos atores através dos diferentes significados atribuídos a ela por estes, e os diversos atributos que eles enfatizam e usam nela. Entretanto, também é o caso de que uma vez desenvolvida e implantada, a tecnologia tende a se tornar reificada e institucionalizada, perdendo assim sua ligação com os agentes humanos que a construíram ou a deram significado, e por isso, ela aparenta ser parte das propriedades estruturais objetivadas da organização. Agência e estrutura não são independentes. É a ação constante dos agentes humanos em, habitualmente fazendo uso de uma tecnologia que a objetifica e a institucionaliza. Portanto, se agentes modificam a tecnologia fisicamente ou interpretativamente a cada vez que eles fazem uso dela, ela não assumirá a estabilidade nem o caráter de 'verdade dada como 6

certa' que é requerido para sua institucionalização (ORLIKOWSKI, 1992, p. 406, tradução nossa). A combinação desses dois pressupostos nucleares incide, por sua vez, na construção do conceito da dualidade da tecnologia, fazendo menção ao conceito de dualidade da estrutura de Giddens (2003). Nesse conceito, o caráter recursivo entre as propriedades estruturais de uma estrutura virtual (os significados atribuídos a uma tecnologia específica), as facilidades, normas e os esquemas interpretativos acessíveis a uma específica tecnologia (habilitando e limitando a maneira como os atores fazem uso dela), e a agência humana constituindo práticas sociais mediante o uso condicionado e/ou ampliado de uma tecnologia, contempla, em sua essência, as mesmas três dimensões que se encontram na dualidade da estrutura, ou na recursividade sócio-construtiva do processo de strategizing: há os usuários de uma tecnologia (similarmente aos praticantes da estratégia), com sua cognoscitividade (GIDDENS, 2003) atuando no acesso e apreensão das práticas institucionalizadas surgidas do uso de uma tecnologia (teoricamente relacionadas às práticas estratégicas), de maneira a poder representá-las (enact) reforçando-as ou modificando-as nas atividades laborais do uso cotidiano dessa tecnologia (a práxis). De acordo com Orlikowski (1992, p. 409, tradução nossa): O modelo estruturacional da tecnologia compreende os seguintes componentes: (i) agentes humanos designers, usuários e tomadores de decisão da tecnologia (ii) tecnologia artefatos materiais mediando a execução de tarefas e atividades no ambiente de trabalho (iii) propriedades institucionais das organizações, incluindo dimensões organizacionais tais como arranjos estruturais, estratégias de negócios, ideologia, cultura, mecanismos de controle, procedimentos padrão de operações, divisão do trabalho, expertise, padrões de comunicação, assim como pressões ambientais a exemplo de regulações governamentais, forças competitivas, estratégias de vendas, normas profissionais, situação do conhecimento acerca da tecnologia, e condições sócio-econômicas. Esse modelo estruturacional da tecnologia leva em conta, portanto, a 1) tecnologia como produto (fim) da ação humana resultado do seu uso e manipulação a partir da apreensão das suas práticas de uso; 2) a tecnologia como meio (mediadora) da ação humana condicionando a agência humana na práxis social, reforçando ou modificando as suas práticas de uso; 3) as condições institucionais da interação com a tecnologia constituídas pelas propriedades estruturais e institucionais dos contextos organizacionais, acessadas e apropriadas a partir da cognoscitividade dos agentes e dos estoques de conhecimento, recursos e normas intersubjetivamente compartilhados nesse coletivo; 4) e as conseqüências institucionais da interação com a tecnologia a tecnologia (enquanto meio e fim) acaba então por reforçar ou modificar as próprias estruturas institucionais de significados, dominação e legitimação da organização, já que ao conformar-se com as regras e recursos imbricados na tecnologia, os agentes humanos, despropositadamente, sustentam as estruturas institucionais nas quais a tecnologia foi desenvolvida e implantada, reverberando recursivamente no plano institucional desse coletivo. Um esquema gráfico desse modelo estruturacional da tecnologia corresponderia, portanto, ao apresentado na Figura 2: 7

Figura 2 Modelo estruturacional da perspectiva tecnologias-na-prática Fonte: Adaptado de Orlikowski (1992, p. 410) e Orlikowski et al. (1995, p. 426). É justamente pelo fato das propriedades estruturais, ao emergirem do uso da tecnologia, implicarem no condicionamento e na composição tanto das interações quanto das próprias atividades dos indivíduos nela engajados, que ocorre uma representação destas propriedades estruturais da tecnologia na recorrência das práticas sociais, incorrendo assim na expressão Tecnologias-na-Prática (technologies-in-practice), ou seja, tecnologias representadas (ou encenadas) na recorrência das práticas sociais: Juntas, as noções de estruturas emergentes e de representação propiciam uma extensão, baseada nas práticas sociais, dos modelos estruturacionais de tecnologia existentes. Essa lente prática posiciona os humanos como constituintes de estruturas no seu uso recorrente da tecnologia. Mediante o engajamento regular deles para com uma tecnologia em particular (com algumas ou mesmo com todas as propriedades inerentes a ela), em maneiras particulares e sob condições particulares, os usuários repetidamente representam um conjunto de regras e recursos que estruturam suas interações cotidianas com aquela tecnologia. A interação dos usuários com uma tecnologia é, então, recursiva na recorrência das suas práticas, os usuários moldam a estrutura da tecnologia que molda a sua utilização. Estruturas de tecnologia não são, portanto, externas ou independentes da agência humana; elas não estão lá fora, incorporadas em tecnologias simplesmente esperando para serem apropriadas pelos indivíduos. Ao contrário, elas são virtuais, emergentes da repetição das interações situadas dos indivíduos com tecnologias em particular. Essas estruturas representadas da tecnologia, as quais eu chamo tecnologias-na-prática, são o conjunto de regras e recursos que são (re)constituídos no engajamento recorrente das pessoas com as tecnologias disponíveis (ORLIKOWSKI, 2000, p. 407, grifo do autor, tradução nossa). Pelos excertos acima destacados se percebe que há evidências claras da materialidade das tecnologias, no sentido delas comporem uma realidade interobjetivamente compartilhada sendo a cognoscitividade inextricavelmente emaranhada em mediações técnicas que as tecnologias proporcionam à agência humana, ao mesmo tempo em que, provenientes do seu uso, significados são intersubjetivamente construídos e compartilhados moldando, igualmente, a cognoscitividade dos agentes (LATOUR, 1994; 1996; ORLIKOWSKI, 2006). 8

4. 'TECNOLOGIAS-NA-PRÁTICA' E O PROCESSO DE STRATEGIZING: UMA DEPENDÊNCIA MÚTUA Em sua categorização ampla das formas das práticas estratégicas nas organizações, Jarzabkowski (2005, p. 8-9, grifo nosso, tradução nossa) define que há: Primeiramente, [...] as práticas 'racionais' administrativas, que servem tipicamente ao propósito de organizar e coordenar a estratégia, tais como mecanismos de planejamento, orçamentos, previsões e construção de cenários, sistemas de controle, indicadores de desempenho e metas. Estratégia como prática está inundada de tais práticas racionais. [...] Segundo, há aquelas práticas 'discursivas' que provêm recursos lingüísticos, cognitivos e simbólicos para a interação sobre a estratégia. Este é um abrangente guarda-chuva para cobrir uma gama de práticas, das quais se destacam dois tipos principais inter-relacionados: o discurso da estratégia e as técnicas e ferramentas da estratégia que provêm uma linguagem diária para este discurso [...]. Crescentemente, pesquisas mostram que a estratégia é mediada pela linguagem que estrategistas usam, sendo esta linguagem em parte criada pelos conceitos, ferramentas e técnicas acadêmicas que povoam aulas sobre estratégia, livros texto e a mídia popular. [...] Finalmente, existem aquelas práticas que criam oportunidades para a interação e a organização entre praticantes no fazer da estratégia, tais quais reuniões, workshops, e memórias de eventos passados. [...] Tais práticas são definidas como 'episódios' que servem como mecanismos de variação e micro seleção, provocando mudanças ou reforçando estabilidade na estratégia. Individualmente, qualquer único episódio pode ser mais ou menos conseqüente, mas sendo ocorrências típicas dentro de uma organização eles têm efeitos poderosos na estabilização e mudança da atividade organizacional. Como destaca a autora, a análise desses três tipos de práticas estratégicas administrativas, discursivas, e episódicas não se configura meramente pela análise descritiva destas, mas sim nas [...] práticas-em-uso, práticas como mediadores da interação entre praticantes moldando as práticas estratégicas (JARZABKOWSKI, 2005, p. 9, tradução nossa). Na análise da sua pesquisa realizada em 1988 acerca do uso da tecnologia da informação (TI) em uma firma multinacional de consultoria de software denominada Beta Corporation, Orlikowski (1992) evidenciou, a partir da aplicação do modelo estruturacional da tecnologia (Figura 2), como o conceito de dualidade da tecnologia permitira um maior e mais dialético entendimento das interações entre tecnologia e organizações, auxiliando na compreensão dos i) limites e das oportunidades da escolha humana, ii) da capacidade agêntica de atores engajados no uso de tecnologias, iii) no desenvolvimento da própria tecnologia a partir da sua manipulação, e iv) na estrutura organizacional. A TI em questão consistia numa ferramenta para aumento da produtividade chamada CASE Computer-Aided Software Engineering, adquirida e integrada paulatinamente às operações-padrão dos consultores da Beta Corporation. Ao longo dessa análise, salienta Orlikowski (1992) que o processo de implantação e desenvolvimento adaptativo dessa ferramenta de TI na referida empresa se deu influenciando e sendo influenciada pelas práticas metodológicas de desenvolvimento de sistemas sustentadas na organização, as quais provinham, em substancial grau, os estoques de conhecimentos institucionalizados, esquemas interpretativos e todo o corpo de normas e recursos que sustentavam as atividades-padrão dos consultores envolvidos na utilização dessa TI, fazendo alusão direta às práticas estratégicas da empresa, dado o seus caráter espaciotemporalmente sustentado e intersubjetivamente compartilhado, como frisa a autora: 9

No caso da Beta, o uso irreflexivo das ferramentas de produtividade é uma maneira bastante eficiente de controlar a cognição e as ações dos consultores. O compromisso da Beta em utilizar uma abordagem [metodológica] de desenvolvimento padrão pode ser vista tanto como um aspecto da ideologia da empresa quanto da sua estratégia. As ferramentas de produtividade são claramente não apenas instrumentais (estruturando o processo de produção) mas também normativas, uma vez que elas medeiam uma realidade compartilhada dentro da Beta, produzindo uniformidade e previsibilidade no pensamento e no comportamento (ORLIKOWSKI, 1992, p. 418, tradução nossa). Para conduzir o seu trabalho de desenvolvimento de sistemas, os consultores funcionais apropriam-se de ferramentas para executar o desenvolvimento dos seus trabalhos [...]. Suas apropriações de ferramentas são influenciadas pelo contexto institucional da Beta, e pelos seus processos de socialização dentro dela [...]. Ao fazerem uso das ferramentas, as ações e percepções dos consultores funcionais acerca da realidade (dos seus trabalhos, das suas ferramentas, de si mesmos e dos seus clientes) são mediadas (habilitadas e restringidas) pelos esquemas interpretativos, normas, e recursos imbricados nas ferramentas de produtividade [...]. Executar o trabalho de desenvolvimento de sistemas por meio de ferramentas reafirma tipicamente as propriedades institucionais da Beta, da maneira como estão expressas nas suas estruturas de significação, dominação e legitimação [...]. Ocasionalmente entretanto, os consultores funcionais podem desviar nas suas apropriações das ferramentas, escolhendo por desconsiderar ou modificar a sua interação com elas. Esta ação compromete os esquemas interpretativos, normas, e recursos imbricados nas ferramentas, e, caso suficientemente vigorosa e sustentada, pode transformar as propriedades institucionais da Beta ao alterar aspectos das estruturas de dominação, significação, ou legitimação [...]. Isso pode desencadear uma mudança na estratégia empresarial, de modo que os gestores possam autorizar os consultores técnicos a modificarem as ferramentas [...]. Isto modificaria a forma de funcionamento das ferramentas [...], mas uma vez implantada, as ferramentas se institucionalizariam novamente e serviriam para as condições de trabalho dos consultores funcionais [...], ao mesmo tempo em que reproduziria o sistema institucional da Beta [...]. Este ciclo dialético de relações e interações entre consultores, propriedades institucionais da Beta, e a tecnologia continuará ao longo do tempo, porquanto as ferramentas de produtividade permanecerem um componente na estratégia em operação na Beta (ORLIKOWSKI, 1992, p. 420, grifo nosso, tradução nossa). Conforme destacado, as práticas metodológicas de desenvolvimento de sistemas representam, na realidade pesquisada, práticas sociais sustentadas nesse coletivo em específico, a partir do uso da TI em questão (a CASE), de modo que a condição habilitadora e limitadora proveniente tanto da interação com a tecnologia quanto da sua flexibilidade interpretativa na sua dualidade, compunham um instrumental para a práxis cotidiana dos indivíduos que dela se apropriavam para a realização das suas tarefas, incidindo diretamente no plano de práticas que sustentavam a estratégia organizacional no seu pensar e agir constante (WILSON; JARZABKOWSKI, 2004), uma vez que tais práticas metodológicas de desenvolvimento de sistemas influíam nitidamente na estratégia da organização, enquanto fator de desempenho desta, assim como sistemas de controle, associando-se, dessa maneira, às práticas estratégicas 'racionais' administrativas salientadas por Jarzabkowski (2005). Em outra ilustração de pesquisa empírica aplicando o modelo estruturacional da tecnologia, Schultze e Orlikowski (2004) exploraram as implicações do uso de uma tecnologia da informação (TI) de natureza 'auto-utilizável' (Internet-based, self-serve technology) nas relações inter-organizacionais de uma empresa agente geral do ramo de seguradoras de saúde chamada WebGA, mediante a análise das atividades de trabalho dos clientes dessa empresa e dos seus representantes de vendas, e as relações interpessoais entre esses dois grupos. O intuito dessa pesquisa foi evidenciar como fenômenos no nível macro 10

tais como relações inter-organizacionais são criados e recriados mediante ações tomadas por membros dessas organizações no nível micro. Nas suas constatações, i) o uso recorrente dessa plataforma de TI por parte do grupo de clientes ocasionou maior dificuldade para os representantes de vendas em construírem e manterem relações interpessoais com seus consumidores, ii) alterando também a natureza e a qualidade das informações compartilhadas pelos usuários, além de iii) comprometer a habilidade dos representantes de vendas em provirem consultorias de serviços aos consumidores, dada a redução da freqüência das interações entre esses grupos, após a adoção e institucionalização da prática de utilização dessa plataforma de TI por parte dos consumidores. Como salienta o excerto a seguir, tais mudanças tiveram repercussões diretas nas práticas estratégicas da organização: Nós descobrimos que a introdução e uso de uma tecnologia em rede que foi desenhada para provir um serviço mediante interações impessoais teve importantes implicações para as relações imbricadas compreendidas dentro de uma estratégia de serviços de uma empresa. Dado o fato das redes de relações serem representadas por meio das práticas de trabalho e das interações entre consumidores [clientes] e os provedores do serviço [representantes de vendas], o uso de uma tecnologia self-serve por parte dos consumidores levou ao distanciamento das relações no nível organizacional. Para uma empresa que confia em relações imbricadas e no capital social para a geração de sua renda, tal representação levanta sérios desafios para a viabilidade do seu modelo de negócios. Esses desafios e as conseqüências impremeditadas são passíveis de emergir a qualquer momento que empresas implantem uma TI sem considerarem as práticas no nível micro e as interações sociais que representam as suas estratégias de negócios e sua rede de relações em nível macro (SCHULTZE; ORLIKOWSKI, 2004, p. 105, grifo nosso, tradução nossa). Os mencionados desafios e as conseqüências impremeditadas do excerto acima dizem respeito à mudança nas práticas estratégicas que a WebGA realizou a partir do momento em que optou por uma complementaridade de estratégias, a qual combinava o uso online dessa plataforma de TI com a sustentação das relações interpessoais entre os seus representantes de vendas e os clientes da empresa, paralela à construção do capital social dos seus agentes. Na conclusão acima exposta, os autores dão indícios de que a dualidade da tecnologia manifestada pela construção social de práticas a partir do uso de uma dada tecnologia (a 'auto-utilização' do pacote de serviços da empresa por parte dos seus clientes acessando autonomamente a plataforma de TI) repercute diretamente tanto na estratégia quanto na estrutura da organização analisada, devido à mudança das atividades da práxis tanto dos seus representantes de vendas quanto dos consumidores dos serviços da empresa e seus agentes, modificando as práticas anteriormente existentes e sustentadas por esses dois grupos distintos mas relacionados de atores, associando-se, dessa maneira, aos três grupos de práticas estratégicas salientadas por Jarzabkowski (2005): as racionais-administrativas pelo impacto econômico-financeiro que tal mudança na práxis repercutiu na estratégia da empresa, as discursivas pela mudança na natureza da comunicação e interação entre os consumidores dos pacotes de serviços da empresa WebGA e a maneira com que esta costumeiramente os ofertava, e as episódicas pela mudança na práxis cotidiana dos representantes de vendas e dos agentes da empresa seguradora, que tiveram de modificar a natureza prática das suas interações visando uma saída para a auto-suficiência dos consumidores, que agora não necessitavam mais de intermediadores para a aquisição dos pacotes de serviços da WebGa. A partir da distinção não-mutuamente excludente elaborada por Jarzabkowski (2005) de quais seriam, em essência, as práticas estratégicas de uma organização, e associando-se os corolários das pesquisas de Orlikowski (1992) e Schultze e Orlikowski (2004), pode-se vislumbrar uma dependência mútua para a criação e recriação das práticas estratégicas a partir 11

do uso do ferramental tecnológico existente em uma realidade organizacional, constituindo este último um mediador da práxis dos praticantes da estratégia na apropriação e representação/modificação das práticas sociais que sustentam uma estratégia organizacional, ao mesmo tempo em que o uso desse ferramental tecnológico deriva das propriedades estruturais de significação, dominação e legitimação da organização, igualmente apropriadas e reforçadas/modificadas no pensar e agir estratégicos dos praticantes da estratégia nas organizações eis a ponte 'Tecnologias-na-Prática' e 'Estratégia como Prática'. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Um vez que o uso de tecnologias constitui práticas sociais sustentadas em um coletivo organizacional (ORLIKOWSKI, 1992; 2000), acredita-se que o laço teórico aqui desenvolvido lança luz sobre a relação existente entre a formação, implementação e consolidação da prática estratégica e sua comunicação e disseminação mediante o uso das tecnologias existentes dentro das organizações, tendo estas o papel de sustentar, sobretudo, a práxis operacional da realização dos objetivos estratégicos (a práxis da prática estratégica), dado o caráter ferramental e de mediação das tecnologias (Information and Communication Technologies ICTs em geral, por exemplo), ao mesmo tempo em que estas últimas necessitam ter um propósito para sua utilização: um norte estratégico. Além disso, acredita-se que a aproximação teórica entre as perspectivas da 'Estratégia como Prática' (WHITTINGTON, 2006; 2007) e da 'Tecnologias-na-Prática' (ORLIKOWSKI, 2000) auxiliaria na ênfase do papel das práticas sociais no entendimento das rotinas e atividades estratégicas das organizações, modificando-as e/ou consolidando-as sob a lógica estruturacionista (GIDDENS, 2003) pertinente às duas perspectivas teóricas, bem como poderia conceder mais robustez ao entendimento do posicionamento estratégico da tecnologia para a obtenção dos resultados de uma estratégia elaborada. Em termos mais ontológicos, uma melhor compreensão do papel das tecnologias disponíveis (em mercado) e existentes numa realidade organizacional poderia chamar atenção dos seus gestores para a relevância de investimentos em aquisição/desenvolvimento de tecnologias e de treinamentos para os usuários destas, tendo em vista os objetivos estratégicos desejados. É evidente que o referencial exposto para compor os laços teóricos e os exemplos de achados empíricos da salientada relação entre o uso das tecnologias e a prática estratégica não esgotam os temas. Assim sendo, propostas de pesquisas empíricas que levem adiante o intuito de se evidenciar essas relações sob outros contextos cultural-cognitivos como o da realidade organizacional brasileira e do campo da estratégia no Brasil podem ser esboçados enquanto problemas de pesquisa diretamente derivados dos questionamentos e apontamentos suscitados por Whittington (2002b; 2004), Whittington, Pettigrew e Thomas (2002d) e Jarzabkowski (2005), respeitando-se, obviamente, as especificidades metodológicas multi-níveis e multimétodos que o tema das práticas congrega (BALOGUN; HUFF; JOHNSON, 2003; CAMPBELL-HUNT, 2007; DE LA VILLE; MOUNOUD, 2003; JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL, 2007; JARZABKOWSKI; MATTHIESEN, 2007; POZZEBON; PINSONNEAULT, 2005; TSOUKAS; HATCH, 2001). REFERÊNCIAS BALOGUN, J.; HUFF, A. S.; JOHNSON, P. Three responses to the methodological challenges of studying strategizing. Journal of Management Studies, v. 40, n. 1, p. 197-224, 2003. 12

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