Programa Viaja Mais Melhor Idade: Inclusão Social do Idoso pelo Turismo?



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Transcrição:

Programa Viaja Mais Melhor Idade: Inclusão Social do Idoso pelo Turismo? Alessandra Silva Carvalho 1 Resumo Este estudo objetiva analisar proposta do Programa Viaja Mais Melhor Idade considerado um instrumento de inclusão social do idoso, por meio da prática de viagens, conforme a política se propõe. Pretendeu-se avaliar a eficácia do Programa para reelaboração de uma sociabilidade adequada à faixa etária da chamada terceira idade. Trata-se de uma pesquisa qualitativa exploratória, apoiada nos estudos de autores como Garcia (2001), Fromer e Vieira (2003) e Souza, Jacob Filho e Souza (2006) que pesquisam sobre as questões que relacionam o envelhecimento ao lazer, particularmente, ao turismo. Foram analisadas as informações de domínio público sobre o Programa Viaja Mais Melhor Idade, além de simulações de utilização do referido programa. Observou-se que o Programa configura-se como um canal de vendas e não promovendo a inclusão social do idoso por meio do turismo, visto que os benefícios financeiros não chegam a ser atraentes para a população de baixa renda. As vantagens decorrentes do Programa são mais visíveis para as operadoras, agências e receptivos locais. Este trabalho aponta para a necessidade da revisão da aplicação do Programa para que haja coerência na relação entre a proposta e a prática. Palavras-chave: Turismo. Políticas públicas. Idosos. Viaja Mais Melhor Idade. Introdução Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (2008), a população maior de 60 anos no Brasil triplicou desde 1970 e, atualmente, ultrapassa 18 milhões de pessoas, cerca de 10% da população nacional. A expectativa para 2020 é de que essa população chegue aos 32 milhões de pessoas. Além do expressivo crescimento no número de pessoas maiores de 65 anos, hoje a expectativa de vida do brasileiro ultrapassa os 70 anos, ficando acima da média mundial que é de 65,4 anos. De acordo com a última publicação da Tábua de Mortalidade do IBGE foi destacado que os nascidos em 2007 poderão chegar aos 72,57 anos (IBGE, 2008). 1 Universidade Anhembi Morumbi. Estácio UniRadial.

Diante da alteração no tempo vivido na idade idosa, as pesquisas da gerontologia, ciência que estuda o processo de envelhecimento, vêm permitindo que se possa viver melhor a sobrevida adquirida pelos seres humanos. Há de se considerar, por outro lado, as condições relacionadas à alimentação, à habitação, ao meio ambiente, ao estresse, à poluição, entre outras que influenciam no desgaste físico e não são controladas por procedimentos médicos (GARCIA, 2001). A mudança no perfil demográfico das populações traz consigo a alteração nos estilos de vida, nos sistemas de produção e no consumo de maneira geral. O crescimento da população idosa, aliado ao aumento da sua longevidade e, conseqüentemente, do tempo livre, tem gerado condições para a sua maior valorização na sociedade contemporânea, face a sua importância para a cadeia produtiva do turismo, especificamente devido ao aumento da demanda por viagens. O Henley Centre HeadlightVision realizou uma pesquisa buscando compreender como as tendências demográficas, geográficas e políticas poderão moldar o viajante do futuro. Como resultado deste estudo identificou-se quatro tribos de viajantes, sendo que um é a terceira idade. Além disso, o relatório aponta o Brasil como um importante emissor de viajantes de idosos: Em 2020, muito mais pessoas da terceira idade poderão vir do mercado BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), já que suas classes médias tornam-se mais afluentes (FUTURE TRAVELLER TRIBES, 2006, p. 23). Os viajantes idosos possuem necessidades específicas que contrariam antigos preconceitos sobre os idosos, pois não se caracterizam como pessoas inativas, ausentes do convívio em público, dependentes financeiramente ou carentes de cuidados de saúde. Ao contrário, são consumidores ansiosos pela manutenção da sua identidade e participação ativa na sociedade, em busca de novas experiências. Demonstram ter as demandas habituais de qualquer pessoa em relação a serviços de hospedagem, alimentação e entretenimento, ou de consumo de arte, moda e cultura, entre outros fatores. Entretanto, manifestam desejos delineados por uma diferente perspectiva dos lugares visitados e dos relacionamentos estabelecidos com os anfitriões, colocando em cheque as tradicionais formas de acolhimento do turista. As características psicossociais dos idosos, aliadas às constatações e projeções demográficas, fazem deste público um segmento turístico de grande potencial (SOUZA; JACOB FILHO; SOUZA, 2006).

Face este cenário, o fenômeno do envelhecimento tem sido alvo de estudos e pesquisas, tanto no âmbito acadêmico, quanto nas organizações, em geral identificando o público idoso como mercado potencial. A nova realidade demográfica no mundo também tem influenciado o poder público, onde novas políticas e programas estão sendo definidos em função do atendimento das diversas necessidades desta parcela da população (FROMER; VIEIRA, 2003). A evolução das políticas públicas em relação à população idosa no Brasil iniciou com as questões trabalhistas, a partir da década de 1940, com a criação do sistema previdenciário e hoje a demonstração da preocupação do poder público está presente em diversas frentes, que passam por aspectos de bem estar físico, mental e social (HADDAD, 1993). No que concerne ao Turismo, a criação do Programa Viaja Mais Melhor Idade representa a identificação do idoso não apenas como possível turista, mas, sobretudo, como cidadão que pode usufruir da atividade turística enquanto fenômeno cultural e social. Este trabalho visa contribuir para a análise da eficácia do Programa enquanto instrumento de inclusão social do idoso por meio das atividades turísticas, conforme é proposto. A experiência da viagem e o idoso Os indivíduos idosos buscam uma sobrevida melhor e estão assumindo estilos de vida que evidenciam a necessidade de ocupar-se e de desempenhar um papel ativo na sociedade, embora já tenham cumprido as exigências sociais e laborais de sua vida. O tempo da aposentadoria é, atualmente, o tempo em que a pessoa pode desobrigar-se de horários rígidos para fazer opções e priorizar escolhas. (GARCIA, 2001) Atualmente os indivíduos chegam aos 60 anos de idade em condições bastante distintas daquelas de algumas décadas atrás, no que se refere à qualidade de vida. Os avanços da medicina, as inovações tecnológicas, a melhoria e a ampliação dos sistemas de infra-estrutura básica e a melhoria das condições de trabalho ao longo da vida produtiva, dentre outros fatores, propiciaram aos indivíduos, hoje, chegarem à aposentadoria em uma situação pessoal e material mais satisfatórias que a de seus pais. (FROMER; VIEIRA, 2003, p. 29-30). Segundo Salgado (1991) deve ser desenvolvido uma nova maneira de planejar a vida, para que o idoso possa encarar a velhice como mais uma etapa da vida, onde devem ter novas

ocupações, preocupações e anseios. Neste sentido, deveria se criar novas possibilidades que não o trabalho, ocupando o seu tempo livre disponível para exercer uma função social ativa nas relações em que participa. O viver compartilhado tem o dom de afastar a inércia e quanto mais participativo mais aumenta as perspectivas de uma vida mais plena e mais diversificada (GARCIA, 2001, p. 114). A realização de viagens lhe fará compreender que o tempo cronológico não é proporcional ao tempo mental (...) nessa etapa de vida, o eixo da intenção em que as vivências subjetivas, memórias, fantasias e desejos são referidos como presente, passado e futuro, será sua forma de ação para encontrar a satisfação, e as viagens poderão ser o veículo facilitador dessa pulsão. (SILVA, 2002, p. 63) De acordo Silva (2002) e Doll (2007) viajar ocupa o topo da lista de desejos dos idosos que só perde espaço quando a preocupação em relação à saúde fica em evidência. Ressalta-se que este desejo não exclui a vulnerabilidade das condições de saúde do idoso, no entanto, a prática do turismo é um fator que contribui para amenizar as patologias, especialmente psicológicas, típicas da idade, além de afastar o temor em relação à morte e de colaborar para aceitação do avanço da idade como uma mudança natural. A viagem promove o bem estar físico, mental e social, trata-se de um fenômeno social que deve ter o envolvimento da família, do Estado e da sociedade como um todo. A questão do turismo como atividade de lazer tem que ser vista como fator de desenvolvimento humano e fator de inclusão social (FRANÇA, 2004). A prática do turismo para o idoso, além de colaborar em sua inserção social, dá uma nova dimensão ao tempo e abre novas possibilidades de realizações e atualização cultural (BERZINS; RODRIGUES; RAMOS, 2001). Viajar representa melhoria de qualidade da vida, desperta o sonho à medida que cria expectativas, oferece prazeres enquanto acontece, estimula sensações novas e se prolonga através das recordações. Segundo Garcia (2001), para a pessoa idosa a opção ser melhor supera a de ter mais este é um estilo de vida do idoso que contrapõe os anseios dos consumidores mais jovens. Por já terem cumprido suas necessidade materiais básicas, estão mais atentos à percepção da relação entre as coisas e as pessoas, têm maior facilidade para perceber a importância da convivência e não apenas a acumulação de bens. O discernimento do idoso lhe permite verificar que fazer o que gosta não implica, necessariamente, em consumo desmedido.

Com o passar dos anos, o sujeito vai se tornando menos preocupado com a aquisição de produtos e de serviços, meramente, ostentatórios e caros, buscando algo que cumpra a função a que se destina, que tenha bom desempenho, mesmo que não seja de marca cristalizada mas que tenha, pelo menos, preço justo. (GARCIA, 2001, p. 102) Do ponto de vista mercadológico, o turismo segmentado ao idoso é uma alternativa de equilíbrio da sazonalidade, já que eles possuem maior disponibilidade de tempo livre. (FROMER; VIEIRA, 2003). Essa parcela da população vem se organizando gradativamente por meio de associações, clubes, eventos e demais organizações no sentido de realizar atividades que promovam sua qualidade de vida e que sejam representativas para a manutenção ou para o revigoramento de uma vida social ativa (SOUZA; JACOB FILHO; SOUZA, 2006). Segundo dados da Associação Brasileira de Clubes da Melhor Idade (ABCMI, 2009), seus associados, viajam em média três vezes ao ano, sendo que uma destas para o exterior. A indicação de amigos ou parentes é o ponto crucial na escolha dos destinos, juntamente com as informações sobre a organização da viagem. Os idosos não necessariamente viajam em grupos etários homogêneos, com roteiros pré-estabelecidos. Preferem viajar em grupos pequenos e primam mais pelo interesse comum que pela idade. Visam maior conforto do que vantagem financeira, bem como a escolha por novos destinos (SILVA, 2002). Se por um lado existe o desejo de viajar e a realização de viagens por uma parcela do universo de idosos no Brasil, por outro, destaca-se que as atividades de lazer desenvolvidas no ambiente doméstico, como descansar e assistir TV, representam 72% das atividades desenvolvidas no tempo livre do idoso (DOLL, 2007). O mesmo autor, em sua análise sobre o tópico Educação, cultura e lazer da pesquisa Idosos no Brasil - vivências, desafios e expectativas na terceira idade, realizada em 2007, pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o SESC-SP Serviço Social do Comércio São Paulo, coloca que o principal fator impeditivo para realizar o desejo de viajar está atrelado à condição financeira em que estes se encontram. Outros fatores limitantes na realização de viagens são as condições de saúde e a falta de cultura no hábito de viajar, demonstrando a necessidade de educação para o uso do tempo livre.

Políticas Públicas de Turismo no Brasil O conceito de políticas públicas, segundo Gastal e Moesch (2006), deve ser constituído por um conjunto de ações que objetivem construir o controle social sobre os bens, serviços e obras públicas, de modo que estes sejam desfrutados efetivamente por toda a sociedade. Frente ao aumento da população idosa, faz-se necessária a intervenção governamental que posicione a velhice no nível da cidadania, garantindo a dinâmica dos movimentos sociais, bem como a sua ação reivindicatória (SESC, 2003). Desses movimentos, consolidaram-se as políticas ligadas à previdência social, houve a aprovação do Estatuto do Idoso e projeta-se a políticas específicas de desenvolvimento social. Em decorrência das discussões em âmbito governamental da necessidade de seguridade social do idoso, não apenas com caráter assistencialista, que foi regulamentada em 1996 a Política Nacional do Idoso, com finalidade de assegurar os direitos sociais dos idosos, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade. A partir da implantação desta política, foi estimulada a articulação interministerial incluindo a temática do turismo (BRASIL, 1996). No que se refere ao desenvolvimento do turismo, o direito ao turismo para idosos está assegurado pelo Código Mundial de Ética do Turismo (WTO, 1999), que descreve: As atividades turísticas deverão respeitar a igualdade entre homens e mulheres. Mesmo assim, deverão ser promovidos os direitos humanos e em particular, os direitos específicos dos grupos de populações mais vulneráveis, especialmente as crianças, maiores de idade, as pessoas incapacitadas, as minorias étnicas e os povos autóctones. O SESC (Serviço Social do Comércio), que desenvolve trabalhos de inclusão do idoso desde a década de 1960, e a ABCMI (Associação Brasileira dos Clubes da Melhor Idade), presente em todas as Unidades Federais do país, são pioneiras na organização do cenário do turismo brasileiro para as pessoas idosas. Com a criação do Ministério do Turismo, em 2003, e a ampliação das discussões governamentais sobre as políticas públicas de turismo no Brasil, observou-se a necessidade de estender os programas para o atendimento de pessoas idosas, de modo a colaborar com o aumento de sua qualidade de vida e, consequentemente, com a sua inclusão social.

O Plano Nacional de Turismo PNT 2007/2010 uma Viagem de Inclusão, além do apelo ao turismo como gerador de renda, evidencia os esforços do Governo Federal para ações que possibilitem a inclusão do maior e mais diverso número de turistas pelo Brasil, difundindo-se entre todas as classes sociais. Nesse sentido, foi lançado o Programa Vai Brasil, articulado com o trade turístico, além de órgãos públicos de turismo dos estados e municípios, de modo a aproximar os ambientes de negócios relacionados à produção e à oferta de serviços. Outro foco do Programa está ligado ao incentivo do desenvolvimento de projetos que reduzam os preços de produtos turísticos para o público final, aumentando o número de viajantes e a ocupação hoteleira e dos demais serviços turísticos, propiciando a inclusão de novos grupos de consumidores, entre eles os idosos (BRASIL, 2007). Neste contexto originou-se o Programa Viaja Mais Melhor Idade, que comercializa pacotes turísticos, em parceria com a Associação Brasileira das Operadora de Turismo BRAZTOA e tem como foco fortalecer a inclusão social dos idosos por meio do turismo. O Programa conta com outros parceiros, entre eles o Ministério da Previdência, o INSS, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o Ministério do Trabalho, a Associação Brasileira dos Clubes da Melhor Idade, o Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa- SEBRAE, o Serviço Nacional do Comércio - SESC e órgãos oficiais de turismo das Unidades Federativas. O Programa Viaja Mais Melhor Idade está atrelado ao objetivo de estímulo e promoção do turismo interno, para população de renda menor, tendo como slogam O turismo de portas abertas para a melhor idade. O principal objetivo do Viaja Mais Melhor Idade é estimular o público da terceira idade a viajar pelo Brasil em períodos de baixa ocupação, configurando-se como um público alternativo para diminuição da sazonalidade das localidades turísticas. A prerrogativa para a realização destas viagens na baixa temporada é a possibilidade de acesso a preços mais acessíveis, supostamente atendendo às camadas menos favorecidas financeiramente. O Viaja Mais Melhor Idade foi lançado em Setembro de 2007, inicialmente teve como base os turistas originários de São Paulo e do Distrito Federal para 23 destinos nacionais. Atualmente, são 37 opções de destinos, tendo oferta de receptivo em 426 municípios brasileiros. Em 2008 o Programa foi ampliado e subdividido em Pacotes Turísticos e Hospedagem para melhor atender os interesses deste tipo de turista.

Os benefícios que o Programa traz para as operadoras de turismo é a possibilidade de trabalhar produtos novos, de ser um canal de distribuição para agentes de viagem, os quais assinam um termo de adesão ao Viaja Mais. Agências de viagens podem captar novos clientes, a partir do cadastro junto ao Viaja Mais, além de receber a capacitação especifica do Programa, patrocinada pelo governo federal. Os destinos, bem como os empreendimentos visitados se beneficiam com a venda para clientes na baixa temporada. As Instituições financeiras vislumbram o aumento de clientes e a melhoria na imagem institucional. Nota-se a relação mercadológica nesta breve descrição de benefícios, onde há a transferência para o público idoso da possibilidade de equilíbrio nas vendas durante o período de baixa temporada. Para o idoso os benefícios difundidos pelo Programa são a possibilidade de inclusão no cenário turístico nacional e o pagamento por meio de crédito consignado, que permite parcelar em até doze vezes o valor do pacote, com descontos efetuados diretamente na folha da aposentadoria. Observa-se que este tipo de crédito é amplamente praticado pelas instituições financeiras, independente de estar ligado ao Programa. No intuito de checar as facilidades e os benefícios do Programa foram realizadas simulações de compras, por meio dos sites, do Viaja Mais Melhor Idade e das agências e operadoras conveniadas. Preservaram-se as mesmas características consultadas no Viaja Mais Melhor Idade e nas diversas empresas cadastradas, como opções de preços e as condições dos pacotes turísticos. Foi escolhido um destino atendido pelo Programa, em um período específico, com data, horário de embarque e meio de hospedagem idênticos. O levantamento feito com as empresas que dispunham das mesmas condições de venda demonstrou que um pacote turístico com as mesmas especificidades (vôo, dia, horário, aeroporto, destino, hotel, condições de estadia, período, serviço de alimentação e passeios) pode apresentar variações de preços. A simulação foi repetida com as mesmas características do pacote e nas mesmas agências e/ou operadoras, entretanto, a consulta foi realizada diretamente nestas empresas e não mais pelo canal do Viaja Mais Melhor Idade. Foi curiosa a constatação de que existem variações nos preços das consultas dentro da mesma empresa, ou seja, uma determinada empresa oferece o mesmo serviço e utiliza dois canais de vendas, a própria empresa e o Viaja Mais Melhor Idade, e os preços praticados

podem variar dependendo do canal. Não havendo regra para esta variação, o valor cobrado pelo canal do Viaja Mais Melhor Idade pode ser igual, maior ou menor. Ser igual não levanta suspeita do comprador, entretanto, quando o valor é maior ou menor desperta estranheza. As empresas foram consultadas sobre a diferença de valores e, em síntese, quando o valor era maior a explicação foi que se tratava de um serviço especial para o idoso, no qual a qualidade e a exclusividade no atendimento para esta faixa etária eram diferenciais que justificavam a alteração no valor. Já quando o valor era menor, justificou-se a possibilidade de conseguir descontos por se tratar de pessoas maiores de 60 anos. Se não se tratasse de um Programa promovido pelo governo federal, que visa a democratização das viagens, como instrumento de inclusão social da pessoa idosa e no qual o governo deposita investimentos, talvez não houvesse o que questionar, nem o que causar espanto. Considerações finais A nova realidade da pessoa idosa é uma realidade ativa, participante e sintonizada com o mundo, pois eles não se aposentaram da vida. Nesse sentido, a questão do envelhecimento representa um desafio aos governos e aos profissionais de diversas áreas para a integração do idoso ao seu meio social. O levantamento bibliográfico realizado aponta para a emergência de repensar as necessidades da população idosa, num cenário que não seja excludente. Apontam, ainda, que viajar tem uma dimensão positiva no sentido de ampliar a rede de relações sociais, de estimular experiências e melhorar a qualidade de vida. O turismo, enquanto manifestação cultural e social pode ser um instrumento de inclusão social da pessoa idosa. O poder público deve ser facilitador da participação efetiva do idoso nas atividades turísticas, colaborando para desenvolvimento da economia das localidades turísticas, bem como para elevação da auto-estima do idoso e da cidadania. As políticas públicas voltadas para o desenvolvimento do Turismo deveriam se apoiar nas informações para estimular o exercício da cidadania e melhorar a oferta de produtos e serviços adequados aos idosos.

Observa-se que o Programa Viaja Mais Melhor Idade parece discrepante de seu objetivo original Promover a inclusão social dos idosos, aposentados e pensionistas, proporcionando-lhes oportunidades de viajar e usufruir os benefícios da atividade turística, ao mesmo tempo em que fortalece o turismo interno regionalizado, o qual fundamenta e justifica a existência do Programa e que está embutida num contexto maior de uma Política Nacional de Turismo, cujo lema é uma viagem pela inclusão. De fato, o Programa representa um canal de vendas alternativo para as agências e operadoras cadastradas que se beneficiam e se ancoram na ampla divulgação feita pelo governo, veiculada nos mais prestigiados canais de comunicação do país, além dos diversos eventos no território nacional, movimentando um montante de cifras que, efetivamente, não auxiliam na promoção da inclusão de pessoas com renda menos favorecidas, uma vez que os benefícios financeiros provenientes do programa não chegam a ser atraentes o suficiente para esta camada da população. Referências bibliográficas ABCMI. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CLUBES DA MELHOR IDADE. Quem somos. Disponível em: <http://www.melhoridade.org.br/default.aspx>. Acesso em: 25 mar. 2009. BERZINS, M. A. V. S; RODRIGUES, M. P. L; RAMOS, V. Lazer e turismo na terceira idade: um novo paradigma. I Jornada de Turismo, Meio Ambiente e Patrimônio Cultural. São Paulo: Aleph, 2001. BRASIL. Lei nº 1.948, de 3 de julho de 1996. Política Nacional do idoso. Brasília, DF, 1996. BRASIL. Plano Nacional de Turismo 2007-2010 uma viagem de inclusão. Brasília, DF, 2007. DOLL, Johannes. Educação, cultura e lazer. In: NERI, Anita Liberalesso (Org.). Idosos no Brasil: vivências, desafios e expectativas na terceira idade. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, Edições SESCSP, 2007. FRANÇA, Jéssika Paiva. Lazer e turismo com inclusão social da pessoa idosa. 2004. Disponível em: <http://www.girus.com.br/artigos/visualiza.php?cod=163>. Acesso em: 26 fev 2007. FROMER, Betty; VIEIRA, Débora Dutra. Turismo e terceira idade. Coleção ABC do Turismo. São Paulo: Aleph, 2003.

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