Ensino Religioso, Gênero e Sexualidade em Santa Catarina, Brasil



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Transcrição:

Fazendo Gênero 8 - Corpo, Violência e Poder Florianópolis, de 25 a 28 de agosto de 2008 Ensino Religioso, Gênero e Sexualidade em Santa Catarina, Brasil Tânia Welter (UDESC) Ensino Religioso, gênero, sexualidade ST 30 - Religião, gênero e diversidade sexual 1. Formação acadêmica O projeto Ensino Religioso e Gênero em Santa Catarina visava prioritariamente observar como tem sendo implantado o Ensino Religioso (ER) nas séries finais do Ensino Fundamental das escolas públicas de Santa Catarina, tendo como foco de análise a forma como questões relativas a gênero e sexualidade tem sido abordadas nestas disciplinas. Como objetivo específico, se pretendia: 1. Mapear as faculdades e universidades catarinenses onde são ministrados cursos Magister e/ou de graduação em Ciências da Religião, assim como cursos de Teologia e cursos de especialização que capacitem professor@s para ministrar a disciplina de Ensino Religioso. 2. Fazer um levantamento do currículo destes cursos: disciplinas e bibliografia de referência usada em sala de aula. 3. Analisar como as questões relativas a gênero e sexualidade são tratadas na formação dos professores de Ensino Religioso. Para conhecer o processo de formação dos professores de Ensino Religioso em Santa Catarina realizou-se uma pesquisa de campo utilizando a metodologia qualitativa. Além da participação em eventos, reuniões de associações específicas realizou-se, entre setembro de 2007 e junho de 2008, conversas informais e entrevistas semi-estruturadas com lideranças estaduais e nacionais de instituições como ASPERSC 1, FONAPER 2, CONER/SC 3 e Secretaria Estadual da Educação; com professores e coordenadores de Cursos de Ciências da Religião ofertados, a partir de 1996, por Fundações de Ensino Superior em parceria com a Secretaria Estadual de Educação; com autores de projetos de Cursos de Ciências da Religião em processo de elaboração ou de regulamentação; com professores do Ensino Religioso vinculados a Rede Estadual e Municipal de Ensino; além de graduados e graduandos em Ciências da Religião (UNISUL 4, UNOESC 5, UNC 6, FURB 7 e UNIVILLE 8 ). A partir destes contatos, foi possível conhecer os diversos aspectos histórico-políticos do processo de constituição da disciplina, ora conhecida como Ensino Religioso e ofertada nas séries finais do Ensino Fundamental, vinculados ao processo de formação do professor da disciplina. Thomé (2007) afirmou que, desde a Constituição Federal de 1946, o Ensino Religioso é considerado dever do Estado. Embora a constituição federal defina isso, até o final da década de 1960, o aspecto da confessionalidade esteve muito presente no percurso histórico do Ensino

2 Religioso na educação brasileira e de Santa Catarina. A década de 1970 ficou marcada pelo desejo de eliminar o enfoque catequético do Ensino Religioso. Com articulação do CIER 9, a Rede Estadual de Educação implanta um Programa de Educação Religiosa Escolar (ERE) de caráter ecumênico desde a pré-escola até o 2 grau. Num primeiro momento era o CIER quem definia os critérios para seleção e credenciamento do professor do ERE. Na década de 80 o decreto n 13.692/81 dá competência as confissões religiosas para realizarem a qualificação dos professores de ERE. Estes eram Admitidos em Caráter Temporário. Thomé ressaltou que, até 1996, a formação dos docentes de ERE encontrava-se restrita aos cursos de aprofundamento, aperfeiçoamento, encontros, eventos e reuniões oferecidos pelo CIER e pela Secretaria de Educação. Em 1996 foi promulgada a LDBEN n 9394/96 que legislava em seu artigo 33 que o Ensino Religioso constitui-se disciplina dos horários normais das escolas públicas, de matrícula facultativa ao aluno e que seria oferecida sem ônus aos cofres públicos, podendo ser de caráter confessional ou interconfessional (Anais IV SECAER, p.146). A Lei n 9475/1997 alterou este artigo e o Ensino Religioso passou a ser considerado disciplina escolar, de matricula facultativa para o educando, integrante da formação básica do cidadão, e reconhecido como uma das áreas do conhecimento (...) que assegura o respeito a diversidade cultural religiosa do Brasil, vedando qualquer forma de proselitismos. Esta lei assegurou que os sistemas de ensino deveriam ouvir a entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para definição dos conteúdos do Ensino Religioso (idem: 147). A partir destas alterações, o CIER (Igrejas Cristãs) fomentou a constituição do CONER (Igrejas Cristãs e não cristãs) que atualmente acompanha estas discussões, bem como auxilia na regulamentação deste componente curricular. Anterior a esta mudança na legislação, em 1995 a Secretaria Estadual de Educação de Santa Catarina firmou uma parceria com as Fundações Educacionais (de cunho comunitário) para capacitar professores que, prioritariamente, atuavam na Rede Pública Estadual e criou, para tanto, o Projeto Magister 10. Em 1995, o curso de Licenciatura Plena em Ciências da Religião (Projeto Magister) foi ofertado na FURB. O mesmo curso foi ofertado pela UNISUL 11 e pela UNIVILLE a partir do ano de 1996. No caso da UNISUL, o referido curso foi ofertado em diversos campus e em convênio com outras Fundações de Ensino Superior - UNISUL (campus de Tubarão e Palhoça), UNISUL/UNOESC (campus Xanxerê) e UNISUL/UNC (campus de Curitibanos). O projeto do curso foi elaborado pelo Pe. Antônio Gerônimo Herdt, que estava vinculado a UNISUL, e foi coordenado por este inclusive na forma de convênio com outras instituições (no caso, UNOESC e UNC). Nestas instituições havia, no entanto, um/a coordenador/a local. O projeto inicial do curso previa um total 2250 hs/aula, ministradas em seis semestres, estágio supervisionado e elaboração de

3 TCC. As disciplinas previstas para este curso eram: Sociologia (Geral e da Educação), Psicologia (Geral e da Educação), Filosofia, Língua Portuguesa, Metodologia Científica, Educação Física, Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso, Cosmovisão das Religiões e Movimentos Religiosos, Ações Comunitárias, Metodologia do Ensino do 1 e 2 graus, Antropologia Religiosa, Ética em Ciências da Religião, Seminário da Formação Humanística, Prática de Ensino (Estágio), Religiosidade Popular, Mística e Fé, além de disciplinas com fundamentação cristã, como Introdução a Bíblia, Teologia, Antigo Testamento, Novo Testamento e Exegese. Com a alteração promovida pelas Leis LDBEN n 9394/96 e 9475/1997, o projeto inicial do Curso de Licenciatura em Ciências da Religião ofertado na UNISUL e em convênio com UNOESC e UNC, que estava se desenvolvendo em algumas unidades, sofreu uma adequação para contemplar uma formação acadêmica não proselitista. De um curso com fundamentação cristológica ( Deus se revela em Jesus Cristo ) passou-se a enfatizar valores éticos humanos como liberdade, amor, paz, comunhão, respeito, igualdade, perdão, tendo como objeto prioritário a compreensão da busca do transcendente e do sentido da vida, que dão critérios e segurança ao exercício responsável de valores universais. Diante desta nova concepção, as disciplinas de fundamentação cristológica foram substituídas por disciplinas mais abrangentes, como Introdução aos Textos Sagrados, Teologia Comparada, Textos Sagrados, Hermenêutica dos Textos Sagrados e Cultura e Tradições Religiosas (HERDT, A.G. Adequação do currículo pleno do Curso de Ciências da Religião. Tubarão, 1997). O Decreto n 3.882/2005, que regulamentou o ER nas escolas de Ensino Fundamental da Rede Pública Estadual, esclareceu que o objetivo do ER é possibilitar ao educando o conhecimento das diversas culturas e tradições religiosas para maior abertura e compromisso consigo mesmo, com o outro, com o mundo e com o transcendente, de forma reflexiva e integrada ao contexto de SC. Além disso, deve subsidiar o entendimento do fenômeno religioso a partir do conhecimento das culturas e tradições religiosas presentes no convívio social dos alunos, como a finalidade de se educarem e promoverem uma educação para o diálogo inter-cultural e a paz como compromisso histórico diante da vida e do transcendente (Fonte: Anais do IV SECAER, 2007, p. 149). O decreto determinou também que a habilitação dos professores de Ensino Religioso será obtida mediante curso de Licenciatura Plena em Ensino Religioso. Em outubro de 2007, a Coordenadora Estadual do ER em Santa Catarina informou que há mil, trezentos e onze escolas na Rede Estadual de Ensino e Santa Catarina que possuem o ER como disciplina obrigatória, mas que menos de trinta por cento (30%) dos docentes desta disciplina da Rede Estadual de Ensino possui a habilitação exigida e menos ainda são concursados (apenas 282) 12, sendo que a maioria atua sob regime de Acordo em Caráter Temporário (ACT). Observase grande rotatividade de profissionais nesta disciplina. A carga horária exígua destinada à

4 disciplina - uma aula semanal (nas quatro séries finais do Ensino Fundamental) de 50 minutos, sendo freqüente a mesma ter entre 30 e 40 minutos, leva o professor de ER a assumir, conjuntamente, outras disciplinas e até mais de uma escola para atingir uma renda razoável. A coordenadora observa ainda a ausência de investimento em cursos de formação continuada em ER, poucos incentivos para elaboração de subsídios pedagógico-didáticos e falta de esclarecimento da população em relação ao ER. A organização dos professores de ER e os professores, por sua vez, reclamam da falta de investimento e de reconhecimento da disciplina por parte dos órgãos competentes e pelos demais docentes. Até 2008 haviam sido formados em torno de 350 licenciados em Ciências da Religião, Licenciatura em Ensino Religioso, sendo assim distribuídos: UNISUL (2 turmas), UNISUL/UNC (1 turma), UNISUL/UNOESC (1 turma), UNIVILLE (2 turmas), FURB (3 turmas). No primeiro semestre de 2008, estava em funcionamento apenas dois cursos de Licenciatura em Ciências da Religião na UNIVILLE, uma turma em fase final e e na FURB com duas turmas (4ª e 7ª fase), ambas com previsão de abertura de novas turmas para o segundo semestre. O grupo de estudantes destes cursos é formado por uma maioria de mulheres, vinculadas à Igreja Católica ou à instituições cristãs e atuando como professores do ER nas redes públicas de ensino. Os docentes, embora sejam majoritariamente vinculados à Instituições Cristãs, atuam em instituições de nível superior, privadas ou fundações. Em alguns casos, o corpo docente destes cursos é composto pelos mesmos profissionais e ministram disciplinas nas diversas instituições (UNISUL, UNC, UNIVILLE, UNOESC e FURB). Há previsão de abertura de três novos cursos de Licenciatura em Ciências da Religião: a) UNIPLAC 13 (Lages), em fase de aprovação nas instâncias superiores, havia previsão para início na modalidade Ensino a Distância - março de 2008; b) UNOCHAPECÓ 14 (Chapecó), previsão para início no segundo semestre de 2008, c) USJ 15 (São José), previsão para início no segundo semestre de 2008. 2. Congressos e Seminários Diversos eventos (seminários, congressos) são organizados pelas associações de professores de Ensino Religioso, a nível estadual (ASPERSC) e a nível federal (FONAPER), como forma de reunir os profissionais com vistas à fomentar a própria organização política dos membros 16, socialização dos conhecimentos e capacitação dos presentes. Embora ocorra outros eventos mais pontuais e localizados, há dois eventos já consolidados, com periodicidade bi-anuais e alcance maior 17 : é o caso do Seminário Catarinense de Ensino Religioso (SECAER), que está em sua quarta edição (2007) e surgiu como iniciativa dos egressos do Cursos Superiores em Ciências da Religião (FURB) e o Congresso Nacional de Ensino Religioso (CONERE), também bianual e, assim como o

5 evento anterior, objetiva promover espaços de discussão, construção, articulação e divulgação de estudos, pesquisas e trabalhos relacionados às temáticas do Ensino Religioso. No ano do 2007, tanto o IV SECAER, como o IV CONERE, enfatizaram os dez anos da Lei n 9475/97 (artigo 33 da atual LDBEN) que consolidou o ER. O local do evento é escolhido estrategicamente numa instituição de nível superior com vistas a incentivar a implantação do Curso de Ciências da Religião ou sua valorização. Outro aspecto de suma importância é o destaque dado, nas conferências, mesasredonas, apresentação de trabalhos, comentários entre os eventos, lançamentos de livros, exposição e venda de livros, revistas, periódicos e matérias didáticos dos dois eventos, à produção e à cientificidade do Ensino Religioso, em contraposição a perspectiva catequética e proselitista do período anterior. 3. Temática de gênero e sexualidade na formação acadêmica Analisando as ementas das disciplinas dos Cursos de Licenciatura em Ciências da Religião, constatou-se que não há previsão de disciplinas específicas ou inclusão de temáticas como gênero e sexualidade na formação destes licenciados. Na prática, estas temáticas são abordadas especialmente nas disciplinas de Ciências Humanas, como Sociologia e Psicologia, em eventos específicos ou apropriadas como fundamentação teórica de alguns Trabalhos de Conclusão de Curso. Exemplos desta apropriação em TCC (UNISUL/UNOESC 1996-2000): Sexualidade e Televisão, Gravidez na adolescência e A mulher na Igreja. 4. Algumas considerações O ER é uma disciplina de ofertamento obrigatório, por parte do Estado, nas séries finais do Ensino Fundamental nas escolas públicas e, de caráter optativo, por parte do educando. Na prática, poucas escolas informam aos alunos este caráter e a disciplina torna-se obrigatória para o educando. Embora haja uma orientação temática nos Planos Curriculares, a disciplina de ER possibilita uma abertura para diálogo de assuntos como amizade, namoro, sexualidade, reprodução, gênero, entre outros. Observou-se que, em geral, os educandos gostam das aulas de ER, especialmente quando há abertura por parte do educador para discussão de temáticas de interesse dos educandos. Com a legislação de 1997, que regulamentou o ER, e a exigência do docente habilitado em Ciências da Religião, ocorreu uma modificação não só nos conteúdos abordados, como no perfil do educador do seminarista, religioso e pastor, formado numa perspectiva religiosa específica, ao licenciado em Ciências da Religião ou outro curso, formado numa perspectiva acadêmica e científica. Outra diferença foi observada pela coordenadora estadual do ER e o presidente da ASPERSC, agora entre aqueles que são licenciados em Ciências da Religião e os que não são. No

primeiro grupo há maior investimento no preparo de aulas numa perspectiva mais abrangente de religiosidade, para além da perspectiva cristã, enquanto no último grupo a perspectiva é a cristã. 6 1 Associação dos Professores de Ensino Religioso do Estado de Santa Catarina. A ASPERSC foi criada em 2003 durante a realização do II Seminário Catarinense de Ensino Religioso em Lages. 2 Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. Organização surgida no dia 26 de setembro de 1995, em Florianópolis-SC, juntamente com a vigésima nona Assembléia Ordinária do Conselho de Igrejas para a Educação Religiosa (CIER, Conselho de Igrejas para o Ensino Religioso) de Santa Catarina, que comemorava seus vinte e cinco anos de existência. Representantes de Santa Catarina na diretoria atual (2006-2008) do FONAPER: Lílian B. Oliveira (coordenadora, Blumenau), Simone R. Koch (secretária, Blumenau), Cecília Hess (Conselho Fiscal, UNIVILLE/Joinvile), Dolores Fontanive (Conselho fiscal, GERED/Rio do Sul) (Fonte: FONAPER, acesso 03.10.2007 ao site www.fonaper.com.br). 3 O Conselho do Ensino Religioso do Estado de Santa Catarina. Este conselho surgiu a partir da nova redação do Artigo 33 da LDB 9394/1996, que legislava sobre o ofertamento da disciplina de Ensino Religioso, conforme Lei 9475/1997. O CONER/SC foi fundado em 1998 como entidade civil representativa das diferentes denominações religiosas no Estado de Santa Catarina e que representam diferentes Tradições Religiosas. As diferentes denominações religiosas, reunidas no CONER/SC, assumem o compromisso e se envolverem com a educação dentro dos sistemas de Ensino, especialmente na área do Ensino Religioso. A atual diretoria está composta por Pe. Elias Della Giustina (diretorpresidente), Pr. Daltro G. Tomm (Diretor-administrativo), Sra Magali K. Beirão (diretora-secretária), Pr. Roberto D. Cidral (secretário-executivo) e Ione Fiorino Thomé (representante da SED) (Fonte: Folheto de divulgação CONER/SC). 4 Universidade do Sul de Santa Catarina 5 Universidade do Oeste de Santa Catarina. 6 Universidade do Contestado. 7 Universidade Regional de Blumenau. 8 Universidade da Região de Joinville. 9 Conselho Interconfessional para Educação Religiosa. 10 Graduação ofertada para estudantes que atuavam no Magistério Público da Rede Estadual em regime especial aulas concentradas nos finais de semana e nos recessos escolares. O pagamento das mensalidades destes estudantes ficou a cargo da Secretaria Estadual da Educação (SED), que auxiliava estes estudantes-professores com auxílio para deslocamento, compra de materiais pedagógicos e alimentação. 11 Curso de ciências da Religião Habilitação Licenciatura do 1 e do 2 graus em Educação Religiosa Escolar. 12 Em 2002 ocorreu o primeiro concurso para efetivação de professores de ER na Rede Estadual de Ensino de SC, sendo o requisito básico Licenciatura em Ensino Religioso. 13 Universidade do Planalto Catarinense. 14 Universidade Comunitária Regional de Chapecó. 15 Universidade de São José. 16 Por exemplo, em cada Seminário ou Congresso ocorrem as assembléias para eleição da nova diretoria, avaliação da gestão, novas filiações, decisões políticas, encaminhamentos reivindicatórios e outros. 17 Grande parte dos participantes são licenciando ou licenciados em Ciências da Religião ou docentes de ER, mas participam também professores de Ensino Superior vinculados a instituições católicas e luteranas, Coordenadores estaduais e municipais do Ensino Religioso, representantes dos CONER e CIER estaduais, além de educadores das Séries Iniciais e Finais do Ensino Fundamental e interessados na temática do Ensino Religioso.