EaD: a hermenêutica do ser social no processo de ensino-aprendizagem. Carlos Renato Cerqueira (IF-Sudeste/Barbacena) Marília Geralda Christófaro (UCAM/RJ) RESUMO O trabalho, a ser apresentado, investiga o comportamento das pessoas, como ser social, no processo de ensino-aprendizagem na modalidade de Educação à Distância EaD. O objetivo é verbalizar e interpretar o fenômeno das representações sociais, no contexto histórico-social, reproduzidas pelo discurso da sociedade da informação na modalidade de Educação à Distância. A construção teórica do trabalho analisa os temas fenômeno das representações sociais; contexto histórico-social; sociedade da informação; Educação à Distância sob o enfoque da psicologia social, da sociologia e da educação em sentido estrito. O referencial teórico que busca apoio no fenômeno da Teoria das Representações, sob a ótica da EaD, interpreta os personagens desse universo (professor-aluno-computador) como agentes sociais. As representações criadas pela interação e a comunicação entre esses agentes sociais estabelecem a ligação entre o mundo intelectual e o mundo social. (MOSCOVICI, 2007) A partir desse convívio entre o intelectual e o social, há a modelagem das relações sociais entre os indivíduos no meio em que vivem, concedendo-lhes um pensamento social incorporado ao universo consensual. Ao estudar o processo de ensino-aprendizagem na EaD, a orientação é conceituar e localizar os agentes no contexto histórico-social da sociedade emergente sociedade da informação. Busca-se pelo entendimento das teias de interdependência que se firmam entre Tecnologias de Informação e Comunicação TIC s, homem social e apropriação do conhecimento. Tais questões, encontram o referencial teórico na sociologia estudada por ELIAS (1994) e na EaD analisada por PONTES (2004). Face à necessidade e ao desenvolvimento da pesquisa, pretende-se demonstrar que EaD consiste no avanço do processo de ensino-aprendizagem a partir dos reflexos do pensamento social. A defesa, da EaD, é gerar um ensinar/aprender atrelado ao conhecimento a partir dos laços das TIC s caracterizado pela realidade social. Palavras-chave: Representações sociais, Sociedade da informação, Educação à distância INTRODUÇÃO O estudo sobre a EaD foi concebido a partir de 2011 através da tutoria na UFSJ, em São João Del Rei. Tentar entender como se processava o ensino-aprendizagem através de um processo didático-pedagógico que envolvia alunos e professores sem obediência de espaço e tempo, foi o ponto de partida. 403
Para minha companheira de estudo, o desafio foi maior, entender como se processavam esses indivíduos no contexto social, implicava em um estudo subjetivo, de conhecimento e inquietação. Estudar e pesquisar a EaD, hoje, significa traçar uma linha entre o mundo objetivo e subjetivo do conhecimento. Significa entender seus sujeitos: aluno-professor-computador como sujeitos que interferem nas ações e condutas sociais. A linguagem da EaD associa seu discurso à formação de um sujeito, que componha a sociedade e nela atue como profissional, ao processo de integração social a partir de uma análise histórico-social. Compactuar com Elias (1994) quando indica que as pessoas não aprendem simplesmente através de processos objetivos de pensamento significou traçar a possibilidade que o ensinar e o aprender podem quebrar os paradigmas da Educação quando se fala em construção do conhecimento por meio das Tecnologias de Informação e Comunicação. As interações que surgem ao longo do processo de ensino-aprendizagem, na EaD, dão suporte ao contexto de que a Educação sofre influência de seu meio e estabelece a relação desse sujeito com sua realidade e com sua sociedade. Sob esse enfoque, a entrelinha apresentada traça a investigação do comportamento das pessoas, como ser social, no processo de ensino-aprendizagem na modalidade de Educação à Distância EaD. O texto apresenta o conceito da EaD no processo de ensino-aprendizagem, traça as abordagens indicando suas características no contexto da Educação. Situa as concepções que Sociedade da Informação direciona aos novos rumos da Educação e seus sujeitos e por fim, é faz-se um breve estudo a respeito da busca constante em atrelar a EaD na formação e transformação da sociedade através do processo de ensinoaprendizagem. O CONCEITO DA EAD NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM. A representação que a Educação à Distância insere ao ensino-aprendizagem, faz incorporar sua figura no pensar de Nóvoa (1998) quando reconhece que a arena educativa precisa de mudanças. Assim, desenvolve-se o pensamento para a concepção de uma escola nova que aponta características que envolvam aceitação do outro, reconhecimento na pluralidade dos sentidos que compreenda os limites da sua interpretação e da sua ação no mundo. (NÓVOA, 1998, p.21) 404
Seguindo a Teoria Desenvolvimental de Davydov 1, Libâneo tece que a escola de hoje ensine aos alunos a orientar-se independentemente na informação científica e em qualquer outra, ou seja, que os ensine a pensar, mediante um ensino que impulsione o desenvolvimento mental. (DAVYDOV,1988 apud Libâneo, 2004, p.115) Com base na Teoria Desenvolvimental de Davydov desenvolve, conclui-se que o objetivo do ensino é ensinar aos estudantes as habilidades de aprenderem por si mesmos, ou seja, a pensar que evidenciam as metas para que a aprendizagem se desenvolva sob os aspectos da necessidade, da emoção, da ação, das relações sociais e da linguagem. (DAVYDOV,1988 apud Libâneo, 2004, p. 121) Pontes (2004) completa esse raciocínio de Libâneo (2004) ao fazer considerações a respeito das habilidades que devem ser criadas e desenvolvidas pelos alunos para que possam, enfim, aprenderem por si mesmos. Ainda em Pontes, há de se considerar que para explicar a aprendizagem ocorrida na EaD, os ensinamentos da Teoria de Ausubel 2 indicam que a aprendizagem significativa representa um caminho extremamente razoável com as exigências de uma formação contínua e continuada imposta pela sociedade da informação. (PONTES, 2004, p. 21) O aprendizado autônomo do aluno é conferido como uma das características específicas da EaD tomando por análise a relação do professor e a (re) significação das práticas pedagógicas conforme Pontes (2004) determina: A formação desse novo professor exige (...) mudanças significativas que envolvem novos conceitos sobre aprender, ensinar, habilidades, competências, tempos e espaços de aprendizagem. Além disso, também não pode mais se limitar às teorias que não dão conta de explicitar e de promover a aprendizagem escolar, que passam a ser vista como processo ativo e construtivo. ( p.28) O texto prossegue assinalando as mudanças que a EaD promove na arena educativa ao enfatizar a desterritorialização temporal e espacial do saber. Justifica-se, esse evento, pela atuação, no processo de ensino-aprendizagem, das Tecnologias de Informação e Comunicação 1 Teoria do Ensino Desenvolvimental de Davydov definida por Libâneo como relevante na formação teórica dos professores, da necessidade de adquirirem maio efetividade no uso das instrumentalidades do trabalho docente e da importância dos contextos culturais e institucionais em que se dão o ensino e a aprendizagem. (LIBÂNEO, 2004, n.24, p.113-147) 2 Teoria de Ausubel, citada por Pontes esclarece que existem dois tipos de aprendizagem: a aprendizagem por descoberta e a aprendizagem por percepção. A aprendizagem por descoberta ocorre quando o aprendiz é levado a encontrar, sozinho, o significado de um ou mais conceitos que se encontram imersos no conteúdo total a ser aprendido; na aprendizagem por recepção, o material é apresentado ao sujeito em sua forma pronta, final e acabada. (BRITO,2001 apud PONTES, 2004, p. 21) 405
como um mecanismo de resistência e inclusão, condição indispensável para a sobrevivência do indivíduo na nova Sociedade. (PONTES, 2004, p. 13-14) O discurso da Educação na Modalidade à Distância envolve seus agentes, conforme dito por Valente (2005), à formação de um ensino-aprendizagem voltado ao construcionismo contextualizado. [...] construcionismo o aprendiz engajado na construção de um produto significativo, usando a informática; e contextualizado o produto construído relacionado com a realidade do aprendiz. (VALENTE,2005, p. 55) (grifos nossos) A partir de tais características apontadas como fontes de manutenção às mudanças na arena educativa tendo as Tecnologias de Informação e Comunicação formalizadas na EaD, sobressaem o aluno como construtor de seu próprio conhecimento a partir da desterritorialização do saber e o professor atuando como mediador 3. Em seu desenvolvimento mental, capacidades e habilidades intelectuais a partir de uma formação construcionista e contextualizada. Por Libâneo (2004, p. 124) ensina-se que o ensino propicia a apropriação da cultura e do desenvolvimento do pensamento, Nóvoa (1998, p.31) ao determinar que a educação é norteada pelo conhecimento, saber e ensino, possibilita pensar que tanto a informação, como a comunicação e o conhecimento são recursos estratégicos e agentes que potencializados podem transformar a sociedade. Coerente, portanto, justificar a EaD como resposta da Sociedade da Informação na construção e apropriação de um ser social dotado de conhecimento. (PONTES, 2004, p.10) A EAD E A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO. Historicamente, a Sociedade da Informação teve sua origem no cenário do pós-guerra com a importância de uma sociedade que: [...] refere-se a um modo de desenvolvimento social e econômico, no qual, armazenamento, processamento, valorização, transmissão, distribuição e 3 Para Valente (2005), o modelo que melhor descreve como o mediador deve atuar é fornecido por Vygotsky. Segundo esse modelo, o mediador é efetivo quando ele age dentro da Sona Proximal de Desenvolvimento (ZDP), definida por Vygotsky como a distância entre o nível de desenvolvimento atual, determinado pela resolução de problema independente e o nível de desenvolvimento potencial determinado através da resolução de problema sob auxílio do adulto ou em colaboração com colegas mais capazes. (VYGOTSKY, 1978 apud VALENTE, 2005, p. 57) 406
disseminação de informação desempenham um papel central na atividade econômica, na geração de novos conhecimentos, na criação de riqueza, na definição da qualidade de vida e na satisfação das necessidades dos cidadãos e das suas práticas culturais. (LEGEY; ALBAGLI apud ARAÚJO, 2011, p.32) O raciocínio voltava-se à concepção sociológica aqui pensada, houve uma passagem de uma sociedade eminentemente industrial para uma sociedade pós-industrial que passou a ter interesse nas formas de comunicação para codificar o conhecimento. (PONTES, 2004, p.9) O significado da Sociedade da Informação, sob o olhar da Educação na Modalidade à Distância, reforça a importância das ferramentas que a tecnologia oferece para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem. A interação entre os sujeitos na EaD é estruturada pela relação aluno-computadorprofessor através de uma linguagem que contextualiza o conteúdo e o codifica de acordo com o nível intelectual desse aluno. Nesse processo de interação com o computador, aluno e professor assumem novas significações, ou seja, o aluno é identificado como aprendiz e professor, como mediador. A importância do mediador no processo da EaD, na contribuição de Valente (2005), é favorecer ao aprendiz a incorporação de seu conhecimento (aprendizagem) a partir de sua realidade histórico-social. No entendimento de Valente: O conhecimento é o que cada indivíduo constrói como produto do processamento da inter-relação entre o interpretar e compreender a informação. É o significado que é atribuído e representado na mente de cada indivíduo, com base nas informações advindas do meio em que ele vive. (VALENTE, 2005, p.83) A partir da explanação a respeito da Sociedade da Informação e sua colaboração para a Educação, torna-se possível determinar que a escola espaço público, ditado por Nóvoa (1998), alcança a EaD na formação de um ser social. A CONSTRUÇÃO DO SUJEITO SOCIAL NA EAD. O comportamento da Sociedade da Informação mostra o retrato de uma sociedade que através das inovações tecnológicas, representadas pelas TIC s, promovem mudanças no âmbito social e principalmente educacional. A Educação, com foco nas TIC s, traça novos rumos para o processo de ensinoaprendizagem. Esses rumos norteiam transformações nos papéis de professores e alunos no 407
sentido de mudar a maneira como as pessoas ensinam e aprendem. (STERNFELD,1996 apud OEIRAS, 2005, p. 31). Assim, as ações de alunos e professores permeiam as novas significações, segundo Oeiras: [...] o aluno deve assumir responsabilidades e atitudes mais críticas e refletidas para contribuir com a construção do seu aprendizado. Isso requer o desenvolvimento de habilidades como ter autonomia, saber criar, pensar, aprender a aprender de modo a continuar o aprimoramento de suas ideias e ações. (STERNFELD,1996 apud OEIRAS, 2005, p. 31) Mudanças no papel do professor também devem ocorrer a fim de transformá-lo de elemento centro-perguntador para um facilitador, condutor de tarefas postas em ação, estimulador, (co) participante e observador dentre outros. (OEIRAS, 2005, p.31) Fala-se do rompimento de paradigmas quando há uma nova postura de aluno e professor face às nuances da Sociedade da Informação. Fala-se, também, de um processo onde a aprendizagem se processa a partir de ação colaborativa onde: [...] se desenrola em um contexto social no qual ocorre a comunicação com os outros participantes (...) potencializam o desenvolvimento de habilidades desejáveis em qualquer profissional tais como ouvir atentamente, pensar criticamente, participar construtivamente e colaborar produtivamente para solucionar determinado problema. (OEIRAS, 2005, p. 32) Há, portanto, não somente a construção de um ser de habilidades potencializadas a partir de uma aprendizagem, como expõe a autora, mas, a atuação da aprendizagem colaborativa: [...] considerada um processo social que se desenvolve pela comunicação com outras pessoas, sendo centrada na interação entre todos os participantes, principalmente entre os alunos e não somente entre professor-aluno. (OEIRAS, 2005, p. 35) Por essa razão, a busca constante em atrelar a EaD na formação e transformação da sociedade através do processo de ensino-aprendizagem. Pela definição - A EaD, no sentido fundamental da expressão, é o que ocorre quando o ensinante e o aprendente estão separados (no tempo e no espaço) apresentada por Pontes (2005) confirma-se que o processo de ensino-aprendizagem fundamenta-se pelo aprimoramento das representações que essa modalidade de ensino enseja na sociedade. (CHAVES, 1999 apud PONTES, 2004, p. 49) A EaD nesse momento abarca a função de liderar um imenso processo de integração (ELIAS, 1994, p. 136) entre o mundo intelectual e o mundo social. (MOSCOVICI, 2007) 408
CONSIDERAÇÕES FINAIS Apresentar a EaD como uma modalidade de ensino e traçar seu elo face as mudanças nas configurações sociais, ainda é um assunto que necessita de um resgate histórico, social e também, cultural para ser melhor compreendido. Nas entrelinhas, conceitos e definições orientaram a interpretação da interação existente entre aluno-professor-computador situando-os no processo de ensino-aprendizagem da EaD. Outro ponto norteado foi a influência que Sociedade da Informação exerceu para o fortalecimento das TIC s na proposta de mudanças na arena educativa. Portanto, considerar que o assunto encontra-se em desenvolvimento é traçar a visão de que a Educação e a Sociedade estão alinhadas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, Sinay Santos Silva de. Cultura Informacional, representações sociais e educação à distância: um estudo de caso na EaD da UFMG. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Ciência da Informação, Programa de Pósgraduação em Ciência da Informação. Belo Horizonte, Minas Gerais, 2011. 239p. DRUMOND, P. N. Matemática na Educação à Distância. UCB. Universidade Católica Brasileira. 2008. http://www.ucb.br/sites/100/103/tcc/22008/priscilanunesdrumond.pdf ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. Organizado por Michael Schroter; tradução, Vera Ribeiro; revisão técnica e notas, Renato Janine Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed., 1994 LIBÂNEO, José Carlos. A aprendizagem escolar e a formação de professores na perspectiva da psicologia histórico-cultural e da teoria da atividade. Educar, Curitiba, n.24, p.113-147, 2004. Editora UFPR. NÓVOA, Antônio. Relação escola-sociedade: novas respostas para um velho problema. IN: SERBINO, Raquel e outros. (orgs.). Formação de professores. São Paulo: UNESP, 1998. p. 19-39. OEIRAS, Janne Yukiko Yoshikawa. Design de ferramentas de comunicação para elaboração em ambientes de educação à distância. Tese (Doutorado). Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Computação. Campinas, SP,2005. 182p. PONTES, Aldo Nascimento. A educação baseada no ciberespaço: um estudo de caso de um ambiente para EaD. Dissertação (Mestrado). Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação. Campinas, SP, 2004. 260p. 409
VALENTE, José Armando. A espiral da espiral de aprendizagem: o processo de compreensão do papel das tecnologias de informação e comunicação na educação. Tese (Livre Docência). Universidade Estadual de Campinas, SP, 2005. 209p. 410