A INFLUÊNCIA FAMILIAR E AMBIENTAL EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM TRANSTORNO MENTAL Cynthia Carvalho Jorge 1 Josiane Silvestro 2 Juliane Steffens 3 Karina Yuli Haida 4 Nelsi Salete Tonini 5 INTRODUÇÃO: A família é o primeiro grupo social ao qual fazemos parte. Esta, como sendo a unidade central da vida do sujeito, deve acolher este, permitindo o desenvolvimento de suas habilidades, experiências, vivências e novas relações humanas. Esta instituição é o meio em que a pessoa recebe todo o apoio afetivo, psicológico, valores humanos e éticos, como também, diversos fatores necessários para o seu desenvolvimento integral, tanto físico quanto mental (GONZALES, 1999; OLIVEIRA e JORGE, 1998). A instituição familiar é à base do convívio social das pessoas. É ela que habilita o ser humano para enfrentar o mundo exterior, ingressando-o decisivamente em uma comunidade, onde este terá relações e interações sociais e desse modo constituirá novas famílias. O surgimento da doença mental é avassalador para a relação familiar, em especial quando se manifesta em crianças e adolescentes. Frequentemente ocasiona mudanças na dinâmica da família e gera perturbações que podem atingir o vínculo do casal, o desempenho dos papéis de pai e mãe e o relacionamento entre os irmãos, colocando o grupo no 1 Graduanda da 3ª série do Curso de Psicologia da UNIPAR Universidade Paranaense Campus Cascavel. Bolsista do PIBIC. 2 Graduanda da 3ª série do Curso de Psicologia da UNIPAR Universidade Paranaense Campus Cascavel. Bolsista do PIBIC 3 Graduanda da 3ª série do Curso de Enfermagem da UNIPAR Universidade Paranaense Campus Cascavel. Bolsista do PIBIC. 4 Graduanda da 3ª série do Curso de Enfermagem da UNIPAR Universidade Paranaense Campus Cascavel. Bolsista do PIBIC 5 Enfermeira. Doutora em enfermagem Psiquiátrica pela USP Ribeirão Preto. Docente do Curso de Enfermagem da UNIPAR/UNIOESTE. Orientadora do PIBIC. 1
enfrentamento de situações adversas. Não se pode desvincular o indivíduo do meio em que vive, uma vez que a família, como grupo, previne, tolera, e corrige problemas de saúde. Desse modo, não se pode separar a doença do contexto familiar e por ser um elemento tão imprescindível, a família deve ser compreendida como uma aliada da equipe de saúde, atuando como um recurso na promoção do conforto, para o paciente adquirir confiança e, assim, investir na sua recuperação (KAPLAN, SADOCK, GREBB, 2007). Grande parte das pesquisas tem direcionado o foco nos processos individuais de comportamento que determinam a saúde mental, deixando às margens o fato de que a manutenção ou a alteração da saúde também sofre influências do meio, e que estas podem gerar modificações no desenvolvimento da criança. Os transtornos na saúde mental na infância e na adolescência possuem tanto impacto imediato nas crianças e suas famílias, quanto podem ser fatores desencadeantes de problemas psíquicos e sociais ao longo da vida. (HALPERN & FIGUEIRAS, 2004). Há diversos fatores de riscos que podem interferir no desenvolvimento de doenças no período infanto-juvenil. Em primeiro lugar a interação da criança (ser biológico), em relação com o meio social imediato (família), sendo que é a partir desta, que se originará uma série de fatores, eventos e relacionamentos, que darão ênfase a uma segunda característica, a qual é constituída pelas relações deste primeiro conceito com o meio ambiente, por meio do tempo (HALPERN & FIGUEIRAS, 2004). Alguns profissionais de saúde começaram a dar-se conta da necessidade de reconhecer a família como um membro integrante do cuidado prestado ao seu familiar doente, o que influi favoravelmente no prognóstico da doença. No entanto, parece difícil cuidar da família do ser portador de doença mental, sem ter uma compreensão prévia do significado de vivenciar esta doença. Isto porque, até bem poucos anos atrás, os profissionais de saúde e as políticas de saúde mental não eram voltadas para as famílias, como um grupo capaz de ajudar na recuperação do seu familiar doente e também necessitando de ajuda (OLIVEIRA, 2000). A atenção à saúde mental infantil, como parte integrante da assistência à saúde integral da criança, ainda constitui desafio na organização 2
do atendimento cotidiano. As questões relativas à identificação dos problemas prioritários a serem enfrentados, aos planejamentos terapêuticos racionalmente efetuados e à organização de serviços, que permitam tornar concretas as questões relativas à operacionalização das propostas de trabalho, ainda necessitam ser amplamente discutidas pelos vários grupos de atores sociais interessados na melhoria desse tipo de atenção (LAURIDSEN & TANAKA, 1999). A presença de uma pessoa com transtorno mental produz um impacto nos outros membros da família, tendo em vista que, os familiares ficam sobrecarregados por demandas que envolvem a função de acompanhar seus membros adoecidos e cuidar deles. Essa sobrecarga familiar é sentida não somente nos aspectos emocional e físico, mas também nos encargos econômicos. Em geral, os pacientes psiquiátricos apresentam grandes obstáculos para produzir economicamente, o que implica uma situação de dependência da família. São altos os custos para se manter uma pessoa nesta situação, além de limitar o acesso do cuidador no mercado de trabalho, devido às restrições de horários disponíveis (MELMAN, 2002). O comportamento imprevisível da pessoa debilita as expectativas sociais e origina incertezas e dificuldades no grupo familiar e na sociedade (NAVARINI & HIRDES, 2008). Quando as famílias estão equilibradas emocionalmente, pode ocorrer remissão de alguns sintomas da doença de seu familiar, porque desta forma elas interagem positivamente com os seus membros, acolhendo as recaídas e não se sentindo culpadas. O componente essencial destas mudanças é ajudá-los a olhar além da sua dor. Ajudá-los a reconhecer e apreciar o absurdo da vida. É essencial que eles aprendam não apenas a tolerar, mas também a aproveitar a ansiedade e a dor que tornam a vida real. As famílias devem considerar suas experiências de vida, para que possam crescer individual e coletivamente; independente dos sentimentos que as oprimem, devem criar um ambiente calmo e sadio para dividirem suas ansiedades (OLIVEIRA, 2000). OBJETIVOS: O presente estudo tem como objetivo identificar estressores psicossociais no ambiente familiar que podem intensificar ou contribuir para o surgimento de sintomas psiquiátricos mais comuns na criança ou adolescente, 3
bem como, conhecer o perfil das famílias das crianças e adolescentes atendidos no CAPSi, destacando a importância da visita domiciliar no tratamento das crianças e adolescentes atendidos nesta instituição, e assim, subsidiar os profissionais do CAPSi com informações relevantes da estrutura familiar para melhoria do acompanhamento das crianças e adolescentes. MATERIAL E MÉTODO: Trata-se de um estudo exploratório descritivo de abordagem qualitativa. A amostra do estudo constituirá 15 familiares que fazem parte do dia-a-dia do portador de transtorno mental atendido no Centro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi) do município de Cascavel, e obedecerá aos seguintes critérios de inclusão: ter diagnóstico de transtorno psiquiátrico; estar freqüentando o serviço a mais de um ano. Para a análise dos dados foi seguido o caminho metodológico: ordenação, classificação e análise final dos dados. Para a realização deste estudo foi desenvolvida pesquisa bibliográfica, a qual consiste no exame da literatura científica, para levantamento e análise do que já se produziu sobre determinado tema (neste caso, sobre a influência familiar e ambiental em crianças e adolescentes com transtorno mental), descrevendo os meios e métodos utilizados para a realização desta pesquisa, bem como a pesquisa de campo que se constituirá em entrevista com os familiares para atender os objetivos do estudo. RESULTADOS: De acordo com Sameroff et al (1987), há diversos aspectos relacionados ao ambiente que determinam a saúde mental na criança, dentre eles estão: história de doença mental materna; níveis elevados de ansiedade materna; perspectivas parentais limitadas; interação limitada entre a criança e a mãe; chefe da família sem ocupação qualificada; baixa escolaridade materna; família de grupos étnicos minoritários; famílias monoparentais; presença de eventos estressantes; famílias com quatro ou mais filhos. Conforme o autor, o efeito múltiplo de todos estes riscos aumenta em 24 vezes a probabilidade de uma criança e um adolescente desenvolver algum tipo de transtorno mental. Harland et al. (2002) apresenta em seus estudos uma relação significativa entre características familiares e o risco de problemas emocionais e de comportamento na criança, sendo o desemprego na família e a separação recente dos pais os aspectos 4
essenciais nesse aumento de risco. Ao se vincularem ao CAPS, podemos notar que o serviço passa a ser a rede social destas famílias que, até então, não contavam com um espaço para as suas necessidades (SLUZKI, 1997). O CAPS deve também prever atividades de suporte social que visem ao exercício de direitos civis através da formação de associação de usuários ou familiares. É através das associações que os familiares poderão ser ouvidos nas várias instâncias que visem à participação social, como o Conselho Municipal de Saúde (RIBEIRO, 2003). CONCLUSÃO: Com o intuito de identificar os estressores psicossociais no ambiente familiar que podem contribuir para o surgimento de transtornos psiquiátricos em crianças e adolescentes, encontramos em diversos estudos a importância da família no acompanhamento do portador de sofrimento psíquico, as formas de lidar com a doença, e os preconceitos que enfrentam na sociedade e na própria família, que ainda não conseguem aceitar pessoas que tenham um comportamento diferente. O CAPSi desempenha um papel importante para os familiares como um espaço de acolhimento e seguimento das crianças e adolescentes proporcionando então uma nova maneira de conviver, permitindo trocas afetivas. Em nossa investigação pretendemos junto aos familiares apreender a necessidade de ampliar recursos que modifiquem e melhorem a maneira como o portador de transtorno mental é visualizado pela comunidade. Conhecer as estratégias individuais de como lidar com o seu doente e desvelar atitudes e comportamentos que possam agravar ou intensificar os sinais e sintomas dos transtornos mentais nessa clientela. REFERÊNCIAS: ELSEN, I. Cuidado familiar: uma proposta inicial de sistematização conceitual. In: Elsen I, Marcon SS, Silva MRS, organizadoras. O viver em família e sua interface com a saúde e a doença. Maringá: EDUEM; 2004. p.19-28. FERRARI, M,. KALOUSTIAN, S.M. Introdução. In: Kaloustian SM, organizador. Família brasileira, a base de tudo. São Paulo: Cortez; 1994. p.11-5. 5
GONZALES, R.M.B. (1999). A auto-percepção - um trajeto vivenciado por enfermeiras. In: Gonzales, R.M.B., BECK, C.L.C., Denardin, M.L. Cenários de cuidado: Aplicação de teorias de enfermagem. Santa Maria. Ed. Pallotti. 15-60. HALPERN, R. & FIGUEIRAS, A.C.M. Influências ambientais na saúde mental da criança. Jornal de Pediatria. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0021755720040003000 13&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. Acessado em abril de 2010. KAPLAN, H.I, SADOCK, B.J, GREBB, J.A. Compêndio de psiquiatria clínica. 9ª ed. Porto Alegre (RS): Artes Médicas; 2007. LAURIDSEN, E. P.P.; TANAKA, O. Y. Morbidade referida e busca de ajuda nos transtornos mentais na infância e adolescência. Rev. Saúde Pública. Vol 33. No. 6. São Paulo. Dec. 1999. MORENO, V. Familiares de portadores de transtorno mental: vivenciando o cuidado em um centro de atenção psicossocial. Rev. Esc. Enferm. USP. Vol. 43. No. 3. São Paulo. Set. 2009. OLIVEIRA, A.M.N de. Compreendendo o significado de vivenciar a doença na família: um estudo fenomenológico e hermenêutico [dissertação]. Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós- Graduação em Enfermagem; 2000. OLIVEIRA, M.M.B. de, Jorge, M.S.B. (1998). Doente mental e sua relação com a família. In: V ENCONTRO DE PESQUISADORES EM SAÚDE MENTAL E IV ENCONTRO DE ESPECIALISTAS EM ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA, Ribeirão Preto - SP. Anais. 379-88. PITTA, A.M.F, organizador. Reabilitação psicossocial no Brasil. 2ª ed. São Paulo (SP): Hucitec; 2001. RIBEIRO, M. B. S. Estudo de características familiares de usuários de uma associação civil para a reabilitação psicossocial [dissertação]. Botucatu: Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista; 2003. SAMEROFF A. J, SEIFER R., BAROCAS R., ZAX M., GREENSPAN, S. Intelligence quotient scores of 4-year-old children: social- environmental risk factors. Pediatrics. 1987; 79 (3): 343-50. SLUZKI, C.E. A rede social na prática sistêmica: alternativas terapêuticas. São Paulo: Casa do Psicólogo; 1997. 6