PETECO UM PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO PET RELATO DE EXPERIÊNCIA Maria Izabel Gallão (Departamento de Biologia Centro de Ciências/UFC) Victorya Vieira Gois (Bolsista do PET Biologia UFC MEC/ SESu) Filipe Rolim Farias (Bolsista do PET Biologia UFC MEC/ SESu) Patrícia Bruna Leite Mendes (Bolsista do PET Biologia UFC MEC/ SESu) Lilian Glória Xavier de Sousa (Bolsista do PET Biologia UFC MEC/ SESu) Larissa Batalha Santos Silva (Bolsista do PET Biologia UFC MEC/ SESu) Leonardo Henrique Coimbra Vieira (Bolsista do PET Biologia UFC MEC/ SESu) Resumo A prática da Educação Ambiental vem ganhando espaço dentro das escolas, pois entende-se que ela pode influenciar na formação de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres na sociedade, principalmente na seara ambiental. Além de permitir aos professores e alunos uma mudança na prática do ensino-aprendizagem tradicional, pois, com a educação ambiental, as metodologias didáticas, que, apesar de não serem novas, são pouco utilizadas, entram em cena. O Programa de Educação Tutorial do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Ceará (PET/Biologia/UFC) tem, como projeto de extensão, o PETeco, um Projeto de Educação Ambiental, que realiza, nas escolas publicas de Fortaleza/CE, atividades voltadas para a educação ambiental e incentiva essa prática junto com o grupo gestor de cada escola visitada. Palavras-chave: Educação Ambiental, Metodologias Didáticas, Ensino, Formação. Introdução Com o crescimento da população, o acúmulo de lixo e a degradação ambiental crescem de forma vertiginosa. E, apenas recentemente, o homem percebeu que a solução é não gerar resíduo, e sim desenvolver técnicas que eliminem o desperdício, contribuindo para o desenvolvimento sustentável (VALLE, 2002). A prática da Educação Ambiental (EA), por si só, não resolverá os complexos problemas ambientais planetários, mas pode influenciar na formação de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres de cidadania ambiental e para que sejam capazes de buscarem alternativas de solução para os problemas socioambientais (REIGOTA, 2006). 7304
De acordo com a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9.795/99, Art.2º), A EA é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente de forma articulada em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal. Os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) propõem como um dos temas transversais Meio Ambiente referindo-se às questões ambientais, que vêm sendo considerados como de grande importância para a sociedade, pois o futuro da humanidade depende desta conscientização, da necessidade de um relacionamento saudável entre o homem (ser social) e a natureza que o cerca. Para tanto, no âmbito escolar, segundo Sato (2004), as técnicas como jogos, atividades fora de sala de aula, simulações, teatros ou produções de materiais pedagógicos são fortemente recomendadas para o desenvolvimento da EA, pois possibilitam trazer para a sala de aula situações reais que muitas vezes são impossíveis de serem vivenciadas. De fato, o processo de ensino-aprendizagem nas escolas está fadado a utilizar métodos bem tradicionais de ensino, visto que são mais fáceis e cômodos de serem aplicados. Ocorre que hoje há uma necessidade maior de trabalhos e atividades que chamem atenção dos alunos, que incentivem a participação deles. A EA aparece em cena como uma grande aliada para auxiliar, de certa forma, algumas mudanças e melhorias na educação. As metodologias didáticas, que não são novas, mas que muito pouco são usadas, como o teatro, o jogo didático, as atividades grupais, as simulações, as oficinas pedagógicas, muito têm a acrescentar e a facilitar o processo de ensino aprendizagem, no qual alunos e professores trabalham juntos na construção do conhecimento, assim como corrobora Carvalho (2000), o papel da escola é dotar as pessoas de condições teóricas e práticas para que elas utilizem, transformem e compreendam o mundo da forma mais responsável possível. Dessa forma, o Programa de Educação Tutorial do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Ceará tem como projeto de extensão o PETeco, que se trata de um projeto de educação ambiental, com o objetivo de despertar nos alunos, nos professores e na comunidade em geral o interesse em colaborar com o processo de conservação do meio ambiente, propondo e executando atividades práticas e fáceis de serem aplicadas, incentivando os alunos à adoção de posturas e hábitos de proteção ao ambiente, seja em casa, seja na escola, seja aonde eles forem, tornando-os assim multiplicadores e divulgadores de boas práticas ecológicas passíveis de aplicação em casa e nos demais locais por eles frequentados. 7305
Metodologia e desenvolvimento O Projeto de Educação Ambiental PETeco, no ano de 2013, foi desenvolvido com alunos do Ensino Fundamental de uma Escola Pública Estadual de Fortaleza e contou com a participação de professores do Ensino Médio. As atividades ocorreram em dias previamente agendados com a escola e a turma. Para orientação e execução das atividades foi elaborada, durante todo o planejamento do projeto, uma cartilha de orientação para os professores. Para isso, foi feito um levantamento bibliográfico sobre conceitos, abordagens e atividades práticas relacionadas com cada bloco temático que a compõe. A elaboração deste material contou com orientação e pesquisa de uma aluna da Pós-Graduação. Os alunos do ensino fundamental II, cursando 8º e 9º ano, foram o público alvo deste projeto, entende-se esse público alvo como possíveis disseminadores de opinião. A iniciativa de desenvolver o PETeco nessa escola veio de dois professores da própria escola que souberam sobre os projetos e atividades do PET/Biologia/UFC e entraram em contato com os petianos. O objetivo desse contato foi para solicitar parceria para a realização de algumas atividades na escola em questão, visto que, em um período pósférias, as árvores da escola haviam sido cortadas e até então não havia sido plantada mais nenhuma outra árvore. Os professores também observaram o grande acúmulo de lixo em um determinado terreno da escola, que inicialmente destinara-se para a construção de uma horta escolar orgânica. Os professores sentiram a necessidade de realizar atividades voltadas para a conservação e a preservação do meio ambiente, principalmente no ambiente escolar, visto que a escola estava muito precária em relação a esses assuntos. Dessa forma, as atividades foram desenvolvidas durante todo o ano de 2013 seguindo um cronograma pré-estabelecido, organizado juntamente com o grupo gestor da escola e planejado pelos alunos bolsistas e não-bolsistas que compõem o PET/Biologia/UFC e que cursam as modalidades de licenciatura e bacharelado do curso de Ciências Biológicas/UFC. As atividades planejadas foram desenvolvidas relacionando dois grandes grupos: Lixo e Meio Ambiente, e em cada uma das quatro atividades realizadas, um grupo de em média cinco petianos ficou responsável por aplicar a atividade na escola. Na primeira atividade, compreender quais as diferenças entre os tipos de lixo e qual o tempo de decomposição de cada um deles, permite-se que haja uma 7306
conscientização sobre o destino adequado do lixo e das implicações do destino inadequado. Dessa forma, foram abordados os seguintes conceitos: tipos de lixo; tempo de decomposição do lixo; destinos adequados do lixo; e política dos 3R s (Reduzir, Reutilizar, Reciclar). Esta última foi um dos temas constantes durante toda a execução das atividades do PETeco na escola. Nesta atividade foi realizada uma gincana, dividiram-se os alunos em equipes, e foi entregue para cada equipe alguns materiais como garrafa pet, borracha, papel, chiclete, e foi pedido para que eles colocassem em ordem crescente de tempo de decomposição, para assim ser possível observar o que eles já sabiam sobre esse assunto, para, posteriormente, fazer possíveis correções, modificações e acréscimos à fala dos alunos. Após o momento da gincana, foi debatido com os alunos sobre o destino correto do lixo, explicando as diferenças entre lixão, aterro controlado e aterro sanitário. Foram expostas também algumas curiosidades sobre o descarte inadequado de alguns tipos de lixo, como o hospitalar e o industrial, por exemplo, a fim de mostrar aos alunos o que pode acontecer caso esses sejam descartados de forma incorreta. Ainda neste dia, foi feito um momento de conscientização com os alunos, falando da política dos 3R s (Reduzir, Reutilizar, Reciclar). Essa atividade visou incentivar os alunos à diminuição do consumo excessivo, a reutilizar os materiais que são descartados, mas que podem ser utilizados, e a sugerir a prática da coleta seletiva do lixo tanto na escola quanto na casa dos alunos, para assim ajudar e facilitar o trabalho dos inúmeros trabalhadores coletores de lixo reciclável. Essa primeira atividade teve uma duração de 80 minutos. Durante a gincana, foi possível observar o debate dos alunos entre si, discutindo sobre cada tipo de material e seu tempo de decomposição. A coleta seletiva do lixo é fundamental para a facilitação do destino adequado do lixo bem como para o seu reaproveitamento e reciclagem. Separar o lixo evita que materiais que possam ser reaproveitados percam o proveito inviabilizando o processo pela mistura e contaminação por lixos inaproveitáveis, para tanto, no segundo dia de atividade. Foi realizado junto com os alunos participantes da atividade de educação ambiental um mutirão de coleta e separação do lixo encontrado na escola, principalmente no lugar que foi destinado para o plantio da horta orgânica escolar, e, em seguida, a pesagem desse lixo. A atividade foi realizada da seguinte forma: os alunos foram providos de luvas e lhes foi recomendado que viessem com roupas adequadas (calças compridas, tênis, blusas de manga comprida, boné). Ao cabo deste momento, o 7307
lixo foi separado em papel, plástico, metal e madeira. Em um segundo momento, os alunos voltaram para a sala de aula, portando o lixo já coletado e separado em sacolas plásticas, os quais foram pesados. Cada sacola recebeu um valor em fração referente à porcentagem de lixo encontrada. O objetivo era saber qual a maior fração de lixo produzida e se correspondia ao lixo produzido por eles. Além disso, relacionar com assuntos de matemática como fração e porcentagem, dando ao projeto caráter interdisciplinar. Essa atividade de coleta, separação e pesagem do lixo foi de grande importância para mostrar aos alunos e sensibilizá-los ao quanto de lixo era produzido na escola e a seu descarte inadequado. Ainda no segundo dia de atividade, a fim de formalizar a atividade e de deixá-la registrada, foi realizada a oficina de confecção de cartazes informativos para ser fixados em toda a escola, principalmente em pontos estratégicos. Nessa oficina, os alunos montaram cartazes com frases de efeito sensibilizador para a manutenção de uma escola limpa e para a destinação correta do lixo. A atividade em especial foi realizada em uma manhã de um sábado, teve uma duração média de 130 minutos. Foi possível observar grandes quantidades de papel de oficio, folhas de caderno nos cestos de lixo das salas de aula, e, nos corredores, havia muitos papeis de bombons e canudos de pirulito. O professor acrescentou que é uma prática muito comum dos alunos jogarem esse tipo de material da janela das salas de aula, ele acrescentou ainda que muito do lixo encontrado no terreno destinado a horta escolar era jogado pelos moradores da região, achando que a área fosse um terreno abandonado. Pensar na problemática do lixo é, antes de tudo, pensar em como e por que produzimos a quantidade de lixo que produzimos. E foi por isso que elaboramos a atividade dos 3 R s, com o objetivo de informar e conscientizar sobre a diferença entre o reduzir, o reutilizar e o reciclar. Portanto a temática dos 3R s foi o tema abordado no terceiro dia de atividade, no qual os petianos e os alunos discutiram entre si, em uma roda de conversas, diversas maneiras fáceis e aplicáveis desses três princípios no cotidiano deles. A fim de fixar o conteúdo e mostrar aos alunos a facilidade de reutilizar os materiais que constantemente vão para o lixo, mas que poderiam ser reutilizados, foi realizada também neste dia uma oficina de reutilização com os alunos, utilizando alguns dos materiais que foram coletados na atividade anterior. Os alunos ficaram livres para reutilizar o que quisessem e fazer novos objetos de acordo com a criatividade e imaginação de cada um. 7308
O PET Biologia levou também, para auxiliar nessa atividade, materiais como cola branca, cola quente, cola colorida, tesouras, canetinhas, papeis de presente, E.V.A, entre outros materiais. Essa atividade teve uma duração média de 100 minutos. Dela, os alunos saíram empolgadíssimos com seus porta-trecos, jogos de dama, bilboquês, entre outros, avisaram ainda que ensinariam aos seus amigos e familiares a reutilizar os materiais que podem ter esse determinado fim, e que, dessa forma, auxiliariam na preservação do meio ambiente. Na quarta e última atividade, foi passado o filme Wall-e para os alunos, que retrata como possivelmente estará a Terra daqui a alguns anos, assim como a busca incessante de um robô por alguma vida na planeta, no caso, uma planta. Esse filme foi utilizado como forma de auxiliar no debate sobre algumas questões ambientais, como consumo excessivo, alienação, e, dessa forma, retomar a política dos 3R s. Essa última atividade teve uma duração média de 120 minutos. O filme escolhido foi exibido como complemento a todos os assuntos tratados anteriormente sobre o lixo. No debate realizado com os alunos após o filme foi possível observar como inicialmente os alunos são calados e tímidos para exporem suas ideias, devido ao fato de na sala de aula eles não serem acostumados a falar o que pensam e o que acham sobre determinados assuntos. Foi possível também, após um grande incentivo por parte dos petianos, escutar dos alunos o que eles achavam sobre tudo o que está acontecendo com o mundo, o que está acontecendo ao redor deles, ouvir suas opiniões e instigar a participação de muitos deles. As atividades nessa determinada escola foram realizadas a cada dois meses, contava em média com 20 alunos, em sua maioria alunos do 9º ano do ensino fundamental II. As atividades foram desenvolvidas de forma lúdica, criativa e sempre se iniciaram a partir de uma metodologia de ensino chamada de brainstorming, que segundo Vilarinho (1985) se encaixa em um método de ensino socializado: o objetivo principal é o trabalho de grupo, com vistas à interação social e mental proveniente dessa modalidade de tarefa. A preocupação máxima é a integração do educando ao meio social e a troca de experiências significativas em níveis cognitivos e afetivos. O brainstorming é baseado em uma abordagem expositiva dialogada, na qual os alunos participam dando sua opinião, falando o que sabem sobre determinado assunto da aula. Assim as atividades se iniciavam com uma conversa com alunos, de forma a sondar o que eles já sabiam e traziam consigo sobre o assunto, para que, dessa 7309
forma, houvesse uma maior aproximação dos alunos com os ministrantes das atividades, com o assunto a ser abordado, criando assim um vinculo com cada aluno participante, deixando-os mais confortáveis para participar das atividades. Considerações Finais Foi notório observar a participação dos alunos da escola nas atividades propostas, sempre participavam em média de 20 alunos e as atividades fluíram muito bem. Foi possível observar, durante todas as atividades, um grande interesse por parte dos alunos já que todas elas foram trabalhadas no contra turno da escola com os alunos, permitindo assim que não atrapalhasse o curso normal de suas aulas e deixando um espaço aberto para que somente aqueles que realmente quisessem participar tivessem o tempo disponível para tal. A presença do PETeco na escola com essas atividades permitiu a criação de um espaço para conversas, perguntas, debates e discussões entre eles e os petianos, o que foi positivo, pois muitas vezes os alunos não têm espaço na sala de aula para debaterem e discutirem assuntos pertinentes. Um dos pontos negativos notados é que, de acordo com a política da escola, havia uma rotatividade muito grande por parte dos alunos, ou seja, a cada atividade novos alunos estavam presentes, o que por diversas vezes impossibilitou o bom acompanhamento das atividades, dessa forma, fazia-se necessária a retomada dos assuntos e das atividades feitas anteriormente para situar esses novos alunos. A E.A. pode ajudar a construir novas formas e possibilidades de relações sociais e de estilos de vida, baseadas em valores éticos e humanitários, e de relações mais justas entre os seres humanos e entre esses e os demais seres vivos. Educar significa, em primeiro lugar, autotransformar-se, pois a educação ambiental precisa ser transformadora, educativa, cultural, informativa, política, formativa e, acima de tudo, emancipatória (LOUREIRO, 2006). O PETeco, realizado no ano de 2013, trouxe bons resultados tanto para os alunos petianos quanto para os professores da escola na qual foi trabalhado. Neste ano de 2014, o PETeco está inserido em mais uma escola de Fortaleza, trabalhando com uma nova turma fixa de 30 alunos do ensino fundamental, levando educação ambiental, renovação, aplicação das metodologias didáticas e, principalmente, criando, na sala de aula, um espaço de convivência, troca de idéias e aprendizado. 7310
Referências CARVALHO, R. E. Removendo barreiras à aprendizagem. Porto Alegre: 2000. LOUREIRO, C.F.B. Trajetória e Fundamentos da Educação Ambiental. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2006. REIGOTA, M. O que é Educação Ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2006. SATO, M. Educação Ambiental. São Carlos: RiMa, 2004. VALLE, C. E. Qualidade Ambiental: ISO 14000. 10. ed. São Paulo: SENAC, 2002. VILARINHO, L. R. G. Didática: Temas Selecionados. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1985. 7311