Mestre em Neurociência, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas. (In memoriam). Orientador da parte clínica.

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Transcrição:

WOLFF, Silvia Susana; ARRIECHE, Luana; SOUZA, Ana Teresa Garcia de. AULAS DE DANÇA PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES AUTISTAS SOB 0 OLHAR DOS PAIS Pelotas Universidade Federal de Pelotas(UFPEL). Professora Temporária do Curso de Licenciatura em Dança da UFPEL e orientadora do trabalho, bailarina e coreógrafa. Acadêmicas de graduação do Curso de Licenciatura em Dança da UFPEL. RESUMO O presente artigo trata de uma pesquisa a partir de entrevistas envolvendo os pais e responsáveis de crianças do espectro autista que participaram de uma intervenção com dança, com o objetivo de identificar suas expectativas com relação aos objetivos das aulas de dança ministradas pelos alunos do curso de graduação em Dança Licenciatura da Universidade Federal de Pelotas. PALAVRA-CHAVE: Dança. Autismo. Dançaterapia. ABSTRACT The present article regards a survey based on interviews involving parents and guardians of children of the autism spectrum who participated in a dance intervention, with the aim of identifying their expectations regarding the goals of dance classes developed by students of the Dance Undergraduate Course of Federal University of Pelotas. KEYWORDS: Dance. Autism. Dance therapy. Introdução A presente pesquisa foi realizada em cima de dados coletados no Núcleo de Neurodesenvolvimento da faculdade de Medicina da universidade Federal de Pelotas, cidade que apresenta um grande índice de autismo e onde ocorreu uma intervenção artístico-clínica com aulas de dança para crianças e adolescentes do espectro autista. O Projeto de Extensão orientado por Silvia Susana Wolff e Danilo Rolim de Moura 1 teve como objetivo a identificação das expectativas dos pais/responsáveis por estas crianças com relação aos objetivos das aulas de dança, que foram: aumentar o contato visual e físico, trabalhar a relação de grupo, interferir nas estereotipias e aumentar o repertório de movimentos. O Autismo é um atraso de desenvolvimento que aparece durante os primeiros três anos de vida e afeta a capacidade de comunicação e interação com os outros. As crianças do espectro autista apresentam problemas de comportamento, muitas vezes severos, como agressividade, hiperatividade e dificuldade de concentração, assim como tem comportamentos autodestrutivos e perturbadores. É comum observar em algumas crianças uma intolerância à frustração, acompanhada por acessos de raiva. Segundo Michelini Silva e James Mulick (2009), os primeiros estudos referentes à incidência de casos de autismo indicavam uma prevalência de 4 a 5 casos de autismo infantil por 10.000 nascimentos. No entanto, investigações mais recentes, estimam um aumento significativo de casos, atingindo uma média de 40 e 60 casos a cada 10.000 nascimentos. Os déficits sociais são os sintomas que se manifestam mais precocemente, incluindo, aversão ao toque e dificuldade em estabelecer ou manter contato visual, bem como na relação interpessoal, na comunicação verbal e não-verbal. 1 Mestre em Neurociência, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas. (In memoriam). Orientador da parte clínica. 1

De acordo com Isabel Oliveira: A Ccmunicação não - verbal deve estudar-se, não como uma unidade isolada, mas como uma parte inseparável do processo de comunicação. Esta pode servir para repetir, contradizer, substituir, complementar, acentuar ou regular a comunicação verbal. É a linguagem das emoções, identificadas através de inúmeros sinais como as expressões faciais, a postura, atos explícitos, gestos, que demonstram e regulam o comportamento do indivíduo. (OLIVEIRA, 2009. p.3) O movimento expressivo utiliza a relação entre a atividade motora e a emoção como veículo para que cada um possa se conhecer melhor e adquirir a consciência do eu. Para este fim utilizamos dentre os referenciais teóricos a dançaterapia. Pois, segundo Elena Cerruto A Dançaterapia nos permite trazer à tona, através dos movimentos mesmo pequenos e simples, aquilo que às vezes fica escondido dentro de nós, não expressado, reprimido. A dança terapêutica é a dança na sua forma mais simples e a linguagem das emoções profundas (CERRUTO [s.d.],p1). Como precursora da dançaterapia, Maria Fux é de grande influência na motivação desta pesquisa. Seu trabalho é reconhecido como dançaterapia, por sua criadora acreditar que a dança por si só já é terapêutica. Bailarina argentina, começou a desenvolver seu método em 1968 onde trabalhava com pessoas com deficiências físicas e psíquicas. Maria Fux compreendia seu trabalho como é possível perceber na resposta abaixo: E o que significa a formação do dançaterapeuta? Integrar o outro através do movimento criador, aquele que está limitado, tratando de dar-lhe confiança em seu corpo limitado; e resgatar por meio de estímulos com palavras que se fazem corpo, imagem que ajudam, musica linhas, cor e forma; impulsioná-los por meio disso, deixando de lado os não posso, avaliando com enorme paciência o tempo do outro para que esse encontro seja um permanente estado de AMOR, diante do outro, acreditando nele e servindo de ponte até infinito, para recuperá-lo e dar-lhe a extraordinária alegria de realizar-se com o movimento. (FUX,1996, p.93) Ainda referente a grandes nomes que utilizaram a dança como terapia, Elena Cerruto diz: [ ] Devemos fazer a experiência do c omo até que se una profundamente com a respiração. C omo, perguntaram a si mesmos María Fux, Trudy Shoop, I. Bartenieff, Anne Halprin, M. Whitehouse, M. Chace e outras precursoras que, antes mesmo de elaborarem (criarem) seus métodos, fizeram surgir o como dentro deles pesquisando o próprio sofrimento e a própria vida a fim de acharem uma ponte para encontrar os outros. ( CERRUTO, 2009,p.2) Intervenção O grupo de pesquisa que realizou a intervenção surgiu a partir de uma parceria entre o curso de Dança Licenciatura e o Núcleo de Neurodesenvolvimento da faculdade de Medicina da UFPel no Rio Grande do Sul, com o intuito de avaliar o resultado de aulas de dança para crianças e adolescentes autistas. Foram realizados estudos prévios pelos monitores e orientadores sobre o Autismo para que se desenvolvesse uma metodologia que abarcasse os objetivos das aulas de dança para este público. Após os estudos foi feita uma randomização pareada, cega para os avaliadores, formando um grupo de 40 crianças e adolescentes de até 18 anos, sendo 20 do grupo intervenção e 20 do controle, o qual, mais tarde, também recebeu a mesma intervenção. As aulas aconteceram três vezes por semana com duração de trinta minutos cada, havendo sempre três monitores para o mesmo numero de crianças, totalizando 24 seções. A necessidade da realização desta pesquisa surgiu a partir do questionamento de qual seria a visão dos pais sobre as aulas de dança, uma vez que a dança está pouco inserida neste contexto. Nesta pesquisa foi realizada uma 2

coleta de dados com a utilização de entrevistas com 17 questões abertas e fechadas como forma de instrumento. O objetivo geral do trabalho foi estudar a melhor forma de inserir a dança no espaço terapêutico com crianças do espectro autista, explorando maneiras de melhor possibilitar benefícios para as suas necessidades, sendo eles interação social, linguagem, dificuldade no uso da imaginação. Sendo assim, esta pesquisa contribuirá para a amplitude de campos abarcados pela dança na difusão do tema dança e autismo, bem como no que diz respeito aos temas inclusão e diversidade que constam como temas transversais delineados nos PCN's 2, fazendo relações com a área da saúde. Metodologia Este trabalho foi realizado através de uma entrevista com pais/responsáveis pelas crianças do espectro autista que participaram da intervenção com dança no Núcleo de Neurodesenvolvimento da faculdade de Medicina, na Universidade Federal de Pelotas, com o intuito de reconhecer possíveis mudanças no comportamento das crianças, identificar a opinião dos responsáveis sobre as aulas de dança e compreender as necessidades das crianças para melhor organizar as aulas. A duração das entrevistas foi em média 20 minutos para cada um dos entrevistados. Foram coletados dados de três pais/responsáveis do grupo controle e do mesmo número para o grupo intervenção, totalizando seis entrevistados. As entrevistas ocorreram no período da tarde entre as 14 horas e as 17 horas, no Núcleo de Neurodesenvolvimento durante os dias 11, 12, 14,15 e 18 de junho de 2012. As questões abrangiam perguntas referentes à opinião dos pais/responsáveis sobre a mudança de comportamento das crianças onde deveriam avaliar com notas de zero (0) a cinco (5), sendo zero quando não houve modificação e cinco quando houve o máximo de modificação. Com a mesma avaliação de nota foram respondidas questões que identificavam sua satisfação com as aulas de dança. Além de perguntas abertas, referentes a conhecimento sobre dança, depoimento sobre as aulas e demais observações. Resultados Os dados analisados a seguir foram coletados nas entrevistas com os responsáveis pelas crianças do espectro autista que participaram da intervenção, sendo que estes acompanharam o processo desenvolvido nas aulas através de um vidro especial o qual possibilitava que observassem o que acontecia dentro da sala sem que as crianças os vissem. As questões escolhidas para a entrevista visaram contribuir para um melhor planejamento e desenvolvimento das aulas de dança para obter uma resposta que suprisse a demanda do grupo, já que os pais são as pessoas mais próximas destas crianças e que possibilitariam uma pré-avaliação comportamental das mesmas. Portanto, Sendo o Autismo uma patologia sem cura, grandes passos têm sido dados no sentido do conhecimento e intervenção educativa nesta patologia. Sabe-se hoje, que a melhor terapêutica reside na intervenção adequada o mais precocemente possível. Trabalhar com crianças com Autismo impõe algumas estratégias e adaptações de forma a responder adequadamente às suas necessidades educativas específicas. (OLIVEIRA, 2009, p.2) 2 Parâmetros Curriculares Nacionais. No Brasil, os parâmetros curriculares nacionais são diretrizes elaboradas pelo Governo Federal que orientam a educação e são separados por disciplinas. 3

A Análise dos dados obtidos nas questões fechadas, sobre mudanças de comportamento, foi realizada considerando o numero três como média identificando uma mudança significativa do comportamento nas crianças autistas dos grupos intervenção e controle. Pode-se constatar que em uma análise do gráfico abaixo de mudanças de comportamento do grupo intervenção, houve modificação significativa no olhar, contato físico, alegria e aumento de repertório de movimentos, ultrapassando a média de três pontos. Já ao visualizar o gráfico seguinte, percebe-se que as mudanças do grupo controle não atingiu a média de três pontos, não apresentando média suficiente para ser considerada como tendo mudanças significativas. Ainda com relação às mudanças comportamentais, para análise dos gráficos foi considerado que quando fosse maior o numero de Não como resposta, seria considerado que ocorreu mudança benéfica para criança. Portanto, na tabela 1, que 4

pertence ao grupo intervenção, observou-se que as modificações ocorridas com as crianças eram benéficas a elas. (Tabela 1) (Tabela 2) Durante a analise dos dados foi constatado que a alegria alcançou maior grau de modificação, sendo um dos maiores motivadores que levam os responsáveis a acreditar na importância da continuidade de atividades envolvendo dança para crianças autistas. Esta motivação foi percebida também nas perguntas abertas. Na análise dos dados obtidos nas questões abertas, os pais relataram achar importante a realização das aulas de dança visto que contribuem com o bem estar da criança, tornando-a mais feliz. Outro aspecto citado foi que a dança auxiliou na coordenação motora e na relação interpessoal, pois as crianças passaram a ter mais contato com outras crianças. Ainda dentro das questões abertas foi perguntado para aqueles pais que disseram que as crianças gostavam de ir às aulas de dança como chegaram a tal conclusão. As respostas foram diversas, alguns perceberam isto pela mudança de 5

comportamento da criança ao chegar ao local da intervenção, ou que ela não queria ir embora ao final da aula. Alguns disseram que a criança pedia para ir às aulas. Um fato importante mencionado pelos pais/responsáveis foi que as aulas de dança tornaram a criança mais calma, visto que a criança do espectro autista tem, na maioria das vezes, a tendência a ser hiperativa ou agitada. Também foi perguntado se perceberam alguma atitude que pudesse ser relacionada às aulas de dança das quais a criança participou, nem todos perceberam alguma atitude, mas alguns reconheceram em seus filhos movimentos realizados no espaço das aulas, assim como um interesse em buscar a musica para dançar. Concluindo, foi analisado que o resultado apontado na pesquisa não é compatível com a realidade do contexto, sendo que não é possível apontar se houve realmente uma modificação tão significativa quanto indicada na pesquisa, pois se trata de uma amostra restrita perante o total de indivíduos que participaram da intervenção. Subentende-se que o resultado apontado nos gráficos refere-se ao fato de os responsáveis terem necessidade e interesse em que haja atividades com essas crianças, independente do tipo, visando uma questão quantitativa e não qualitativa. Para uma análise de resultados mais precisa sobre as modificações ocorridas nos indivíduos é indicado a criação de um instrumento avaliativo por parte dos profissionais da área da dança. Referências: CERRUTO, ELENA. Dançaterapia: Como?.2005,4f.Disponível em: <http://www.associazionesarabanda.it/pdf/articolo4.pdf>. Data de acesso: 20 de jun. de 2012 FUX, MARIA. Formação em dançaterapia. Tradução Beatriz Canabrava. - São Paulo. Summus, 1996. 96f. OLIVEIRA, I.M. Contributos de um programa baseado na dançoterapia - movimento expressivo no desenvolvimento da comunicação não verbal em crianças e jovens com perturbação do espectro do autismo. 2009, 200f. Mestrado em Educação Especial. Disponível em: < http://hdl.handle.net/10400.5/752> Data de acesso: 20 de jun. de 2012 SILVIA, MICHELINE; MULICK, JAMES. Diagnosticando o Transtorno Autista: Aspectos Fundamentais e Considerações Práticas. Psicol. cienc. prof. [online]. 2009, vol.29, n.1, pp. 116-131 Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php? pid=s141498932009000100010&script=sci_abstract> Data de acesso: 20 de jun. de 2012. 6