PARECER N. 14.443 CRM. Sociedade de Economia Mista. Incorporação de vantagem. Empregado cedido à Adiministração direta. Convenção Coletiva. LC 10098/94. O presente expediente administrativo tem origem na Secretaria de Energia, Minas e Comunicações, a partir de encaminhamento feito pela Companhia Riograndense de Mineração CRM -, sendo solicitada manifestação desta Procuradoria-Geral do Estado acerca da pretensão de empregado de incorporar percentual de função gratificada exercida junto à administração direta do Estado do Rio Grande do Sul, com base em regra constante de Convenção Coletiva de Trabalho. Do expediente administrativo EA 000014-17.82/05-6 - consta Ofício DA n. 056/05 onde é relatada a situação posta pelo empregado JOSE EURIDES MACHADO, o qual, estando cedido à administração direta há cerca de 13 anos, visa incorporar à sua remuneração o valor correspondente à CCE-12 pelo exercício, no período de 11/10/1995 a 31/12/1998, de 1178 dias de função gratificada junto à Secretaria da Fazenda. Em manifestação da Assessoria Jurídica da própria CRM fls. 17 a 23 opina-se pela impossibilidade de ser acolhida a pretensão posto que não cumpridas as exigências contidas na regulação coletiva, bem como por não ser este servidor público estatutário, mas empregado público, não podendo pleitear direito constante de norma jurídica que se destina exclusivamente àquele, como aquela presente no Estatuto do Servidor Público do Estado LC 10098/94. O interessado retifica o pedido fl. 24 acostando consulta realizada a bacharel em Direito fls. 25 a 28 - informando tratar-se de pedido de incorporação de função gratificada, à razão de 60%, correspondente a três biênios de exercício da mesma, da remuneração da FG de Coordenador de Assessoria, Padrão FG-VI mais Gratificação de Representação de 75% do valor do CC IV, em razão de tê-la exercido pelo prazo de 1080 dias, com base em Certidão anexada a fl. 30. A Divisão de Recursos Humanos DRH da CRM informa que todas as cedências do empregado foram realizadas com ônus para a Companhia fl. 46. Já a Assessoria Jurídica da Secretaria de Energia, Minas e Comunicações se manifesta fls. 48 a 52 pela viabilidade do pedido, sugerindo, entretanto, o encaminhamento para esta Procuradoria-Geral do Estado, o que acolhido pelo Secretário de Estado da Pasta. É o Relatório. A questão posta pela Secretaria de Estado solicitante diz com a possibilidade de empregado de companhia estatal Companhia Riograndense de 1
Mineração (CRM), cedido à administração direta, incorporar aos seus vencimentos o valor correspondente a acréscimos salariais decorrentes da ocupação de posições de confiança junto ao ente público. Para o tratamento da dúvida é mister ter-se presente que o interessado mantém vínculo de trabalho com ente da administração indireta do Estado, sendo, assim, empregado público submetido ao regime celetista. Nesta qualidade foi cedido à administração direta estadual de 1991 à 1999, ao município de Eldorado do Sul de 2001 a 2004 e ao Poder Legislativo estadual de março a junho de 2005. No âmbito da administração estadual exerceu diversas posições de confiança e pretende, com base em norma constante de Convenção Coletiva de Trabalho, ver incorporado à sua remuneração percentual de função gratificada exercida junto à Secretaria da Fazenda, além de verba de representação. Ora, a questão põe em evidência as relações entre a administração direta e indireta do ente público, sobretudo quanto à cedência de empregados desta àquela, assim como relativamente à aplicação de normas consensualmente estabelecidas em regulação coletiva de trabalho. No caso analisado é preciso ter presente que o empregado mantém com a sociedade de economia mista vínculo laboral que se vincula às regras celetistas. Neste âmbito tem alguns aspectos da relação de trabalho estabelecidos por meio de normas coletivas veiculadas por Convenção Coletiva. Não se lhes aplica, por conseqüência, as regras dirigidas aos servidores públicos que mantêm vínculo estatutário com o Estado. Assim, o empregado público, quando cedido à administração direta, não tem o seu vínculo trabalhista alterado, mantendo sua natureza celetista, uma vez que a situação de cedência se constitui em função de confiança sob a forma de comissionamento trabalhista, o que inviabiliza a pretensão a ter incorporados tais valores ao salário do empregado quando do seu retorno à origem, como reiterado por esta Procuradoria-Geral do Estado no Parecer 13336/02. No caso particular, o pleito considera a existência de norma coletiva que veicula requisitos necessários para que se promova a incorporação de comissionamento trabalhista, embora nomeado como função gratificada, ao salário do trabalhador. Ora, sendo a Convenção Coletiva espécie de norma jurídica consensualmente estabelecida entre empregadores e trabalhadores, sua abrangência diz respeito apenas àquela categoria de trabalhadores e no âmbito do agente econômico empregador nela representados. Na espécie, as regras constantes da norma coletiva acordada incidem apenas aos empregados da empresa participante do instrumento normativo, no caso a CRM, e relativamente à relação de trabalho havida entre as partes, não se estendendo a situações excepcionais, como no caso de cedência de trabalhadores. São abrangidos pelo instrumento apenas as categorias econômica e de trabalhadores que participaram da negociação e no âmbito dos agentes econômicos envolvidos e, assim, a incorporação prevista na cláusula segunda da Convenção Coletiva deve ser entendida como dizendo respeito àquelas funções gratificadas como comissionamento trabalhista - exercidas no âmbito do próprio agente econômico. 2
Ou seja, as regras coletivas de trabalho não se projetam sobre relações laborais diversas daquelas mantidas entre as partes convenentes. Portanto, a regra expressa na Cláusula Segunda do acordo diz com a possibilidade de incorporação de função gratificada no âmbito da própria CRM e não a valores percebidos a título de comissionamento trabalhista por parte de empregado cedido. Caso contrário estar-se-ia abrindo a possibilidade de criarse, via regramento consensual, uma nova hipótese de incorporação desconhecida da legislação estatutária que rege as relações de pessoal no âmbito da Administração Pública. E, na CRM, o empregado, como informado a fl. 16, apenas percebeu comissionamento trabalhista no período de janeiro a agosto de 1995, o que demonstra não ter o mesmo cumprido com os pressupostos estabelecidos por dita regra convencional. Além disso, é de se ter presente que as regras que prevêem a possibilidade de incorporação de valores à remuneração dos servidores públicos dizem respeito àqueles submetidos ao denominado regime estatutário, não podendo ser transferidas aos empregados públicos por intermédio de tais instrumentos normativos, mesmo porque à Administração Pública impõe-se o respeito ao princípio da legalidade, inscrito no art. 37 da CF/88 e reproduzido no art. 19 da Carta Estadual de 1989. Como bem salientado pela manifestação de fls. 17-22, em sua ementa, a função gratificada, para ser integrada à verba salarial do empregado, deve observar os requisitos previstos na convenção coletiva de trabalho do respectivo órgão onde ocorra a prestação laboral. Por outro lado, imprestável para suportar o pedido o argumento esposado pelo bacharel signatário da consulta de fls. 25-28, no que se refere a considerar as sociedades de economia mista como identificadas com o seu acionista controlador, o Estado, o que nos conduziria a fazer desaparecer a distinção entre a personalidade do sócio e aquela da empresa da qual faz parte, mesmo como acionista majoritário. Ainda, inservíveis os argumentos que entendem possam advir prejuízos ao empregado que, cedido, tenha exercido FG, como pretendido na manifestação da Assessoria Jurídica da Secretaria de Minas, Energia e Comunicações, de fls. 48 a 52. Ora, não se pode pretender aplicar regra peculiar às relações laborais no âmbito da companhia para abranger situações que se constituíram durante o período de cedência apenas, e tão só, sob a justificativa de que esta tenha se constituído por interesse da própria Administração. Por fim, não há que se falar, também, em manutenção da estabilidade financeira, uma vez que a própria orientação jurisprudencial da jurisdição trabalhista veicula a necessidade de a percepção da FG ter se dado por um período de 10 anos ou mais, como se lê da Súmula n. 372 (DJ de 20.04.2005 - ex-orientação Jurisprudencial n. 45 da SDI-1) do Tribunal Superior do Trabalho. Conclui-se, assim, que a pretensão apresentada não reúne condições para prosperar uma vez que o interessado a embasa em norma constante de convenção coletiva de trabalho que, como demonstrado, regula as relações laborais que se dão exclusivamente no âmbito do agente econômico convenente e seus trabalhadores, e não podem transcender tais limites sob pena de estar-se 3
constituindo situações jurídicas em face de atores que não estiveram presentes na negociação coletiva e estabelecendo direitos, benefícios ou privilégios estranhos ao regime laboral a que se vincula o trabalhador. É o parecer. Porto Alegre, 12 de agosto de 2005. JOSE LUIS BOLZAN DE MORAIS PROCURADOR DO ESTADO EA 000014-17.82/05-6 4
Processo nº 000014-17.82/05-6 Acolho as conclusões do PARECER nº 14.443, da Procuradoria de Pessoal, de autoria do Procurador do Estado Doutor JOSE LUIS BOLZAN DE MORAIS. Restitua-se o expediente ao Excelentíssimo Senhor Secretário de Estado de Energia, Minas e Comunicações. Em 06 de fevereiro de 2006. Helena Maria Silva Coelho, Procuradora-Geral do Estado.