Processo nº 2004.61.05.004277-0 EMBDO: ELEKTRO, ANEEL E UNIÃO. Chamo o feito à ordem, a fim de retificar a decisão proferida a fls. 234/239. Assim, onde se lê... das localidades sob a jurisdição desta Seção judiciária, leia-se das localidades sob a jurisdição desta 5ª subseção judiciária.
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Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.
A alteração levada a termo não se compactua com a natureza dos interesses tutelados na ação civil pública, que são indivisíveis.
Ainda no mesmo livro, o nobre Jurista aponta um caso típico e mostra que poderá haver ferimento nos princípios constitucionais da isonomia e da inafastabilidade da jurisdição. Tomemos como exemplo uma ação civil pública proposta perante a vara central da Infância e da Juventude da capital de São Paulo tendo por objetivo impedir que determinado canal de televisão exiba um programa de conteúdo impróprio para o horário proposto. Julgada procedente a demanda, o programa somente não poderia ser veiculado na região central de São Paulo, limite em que o Juiz prolator exerce sua competência territorial. Assim, em princípio, o programa seria impróprio para a população do centro, mas não para a de pinheiros, da penha ou de santo Amaro. De igual sorte a ação proposta na capital de São Paulo visando a impedir a venda de um medicamento considerado prejudicial a saúde. A procedência da demanda somente atingiria a comarca de São Paulo, sendo certo, no entanto, que o remédio poderia continuar a ser vendido em Osasco ou Guarulhos (por exemplo). A situações, à evidência, são absurdas e revelam, com a devida vênia, violação ao princípio constitucional da isonomia, trazido pelo art. 5º, caput, da Magna Carta: se o objeto é indivisível e seu dano é social, não é possível limitar-se os efeitos da coisa julgada nos moldes propostos pela Lei 9.494/1997, sob pena de criarmos classes diferenciadas de lesados por um mesmo fato. Em outras palavras, admitir-se a constitucionalidade do dispositivo em comento implicaria permitir que pessoas que possuam exatamente a mesma situação jurídica venham a ser tratadas desigualmente o que se sabe a disparate. Demais disso, em nosso entendimento a alteração trazida pela malfadada lei 9.494/1997 fere o princípio da inafastabilidade da jurisdição consagrado no artigo 5º, XXXV, da Constituição Federal na medida em que torna praticamente impossível o controle de danos a interesses
metaindividuais que alcancem regiões, Estados ou o próprio país, ante a necessidade da propositura de uma ação em cada comarca, cerceando, destarte, o acesso a justiça cuja democratização foi um dos grandes méritos da Assembléia Nacional Constituinte. Imaginemos que se a decisão ficar como está e beneficiar somente os consumidores que se encontram no território da 5ª subseção judiciária estaria se ferindo frontalmente o princípio da isonomia, uma vez que estaríamos tratando de forma diferenciada os consumidores de Limeira mesmo estando estes na mesma situação jurídica que os consumidores de Campinas. Mesmo após a vigência da lei 9.494/97 foram concedidas várias liminares de âmbito nacional com argumentos muito fortes como mostra o Jurista JOÃO BATISTA DE ALMEIDA em seu livro ASPECTOS CONTROVERTIDOS DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA, pág. 124: Posteriormente, surgiu a Lei 9.494/97, que alterou o art. 16 da LACP, para dizer que a sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator. Já na vigência desta lei diversas liminares foram deferidas com efeito em todo o território nacional, com fortíssimos argumentos para assim proceder: a)o critério determinante da extensão da eficácia da coisa julgada material reside na amplitude e na indivisibilidade do dano ou ameaça de dano que se pretende evitar. Assim se o dano tem amplitude nacional a eficácia da coisa julgada material será necessariamente erga omnes, em todo território nacional; b)se o interesse em jogo é indivisível, difuso, não é possível limitar os efeitos da coisa julgada a determinado território; c)no caso de ato editado por autoridade com competência nacional, com área de atuação em todo o território do País a liminar deve ter essa extensão não se justificando a propositura de tantas ações quantas forem as seções judiciárias. Cumpre ressaltar que os argumentos dos itens b e c foram proferidos no voto do eminente Desembargador Federal NEWTON DE LUCCA do Tribunal Federal da 3ª Região no Agravo de Instrumento 98.03.017990-0. Exatamente como no caso em epígrafe ocorreu no item c acima transcrito, pois um ato editado pela Aneel, que tem atuação em todo o território nacional deveria ensejar liminar ao menos para o Estado de São Paulo, ou seja, para a Seção Judiciária de São Paulo.
A norma editada pela Ré Aneel gerou danos em todo o país sendo que os efeitos da liminar concedida deveria alcançar todos os consumidores que estejam compreendidos na relação danosa gerada pela Aneel, ou pelo menos para todos os consumidores da ELEKTRO. Portanto, o artigo 16 da Lei de Ação civil pública, não se aplica as ações que versem sobre direitos individuais homogêneos e assim explica ADA PELEGRINE GRINOVER, uma das autoras do anteprojeto do CDC no livro Código de Defesa do Consumidor Comentado, pág. 851: Neste sentido o STJ já decidiu: Em conclusão: a)o art. 16 da LACP não se aplica à coisa julgada nas ações coletivas em defesa de interesses individuais homogêneos; b)aplica-se a coisa julgada nas ações em defesa de interesses difusos e coletivos, mas o acréscimo introduzido pela medida provisória é inoperante, porquanto é a própria lei especial que amplia os limites da competência territorial nos processos coletivos, ao âmbito nacional ou regional; c)de qualquer modo, o que determina o âmbito de abrangência da coisa julgada é o pedido, e não a competência. Esta nada mais é do que uma relação de adequação entre o processo e o juiz. Sendo o pedido amplo (erga omnes), o juiz competente o será para julgar a respeito de todo o objeto do processo; d)em conseqüência, a nova redação do dispositivo é totalmente ineficaz. DJ DATA:02/04/2001 PG:00263
Nesta decisão em seu voto o Nobre Relator citou um parecer da eminente Jurista ADA PELEGRINE GRINOVER e assim se destaca: Neste Sentido, os ensinamentos da renomada professora Ada Pelegrine Grinover (A Ação Civil Pública e a defesa dos interesses individuais homogêneos in Revista de Direito do Consumidor Pareceres, v. 5., p. 206-229) em questão análoga: Ainda neste sentido decidiu o Superior Tribunal de Justiça:
Como se vê não é a extensão territorial do órgão prolator (TRF) que determina o alcance da liminar deferida e sim a extensão do dano causado e a indivisibilidade do objeto em questão. COMO DEVERIA SER INTERPRETADO O ART. 16 DA LACP SE FOSSE UTILIZADO NO CASO EM TELA.
Como demonstrado pelo acórdão acima transcrito está claro que o limite territorial do órgão prolator é o limite do território do tribunal com competência para processar e julgar os recursos advindos da ação principal. CONCLUSÃO Pode-se concluir com a fundamentação em tela que não se pode amesquinhar os limites da ação coletiva sob pena de se amontoarem processos e mais processos com o mesmo teor, no judiciário brasileiro, com decisões totalmente conflitantes.
DO PEDIDO DA EMBARGANTE Que as contradições e obscuridades apontadas, temas que constaram expressamente da decisão, sejam reconsideradas e modificadas, integralmente, para que os efeitos da liminar alcancem todos os consumidores das distribuidoras de energia dentro do território do órgão prolator (TRF) e todos os consumidores da co-ré ELEKTRO em todas as suas 228 cidades atendidas, mesmo que isso venha a modificar o princípio dispositivo da r. decisão de fls. 234/239 e 242 ora embargada.