As identidades do Ensino Religioso nas escolas municipais de Assis-SP a partir do projeto Educação Para a Paz



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Transcrição:

As identidades do Ensino Religioso nas escolas municipais de Assis-SP a partir do projeto Educação Para a Paz Maria Cristina Floriano Bigeli Historiadora pela Faculdade de Ciências e Letras de Assis UNESP Mestranda em Educação pela Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília UNESP crisbigeli@gmail.com Breve Histórico do Ensino Religioso no Brasil O Brasil é um país de origens cristãs, pois, para os portugueses a religião católica foi a própria motivação e inspiração para a colonização dos novos territórios conquistados durante as grandes navegações, fazendo com que a obra de colonização e a obra missionária se confundissem entre si. Além disso, o projeto de colonização do território brasileiro incluía a conquista dos gentios à fé católica, sendo a Igreja a maior interessada na educação dos povos conquistados. Dessa forma, ela iniciou e intensificou a sua ação pelas mãos dos jesuítas, que tinham a missão de evangelizar os gentios 1. Durante o século XVI [...] a formação escolar privilegia a alfabetização, a catequese, o estudo de gramática, botânica e latim. A cartilha e a doutrina constituem os principais recursos 2. É neste século que encontramos os primeiros documentos legais que legislam sobre o ER. As Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, promulgadas em 1707, davam poder aos párocos acerca do ensino e da formação religiosa dos escravos e das crianças do sexo masculino. Porém, o descobrimento do novo território já o incluía 3 dentro do regime de Padroado 4, quando a Bula do Papa Nicolau V para Afonso, rei de Portugal, considerava que viagens de exploração às regiões meridionais teriam natureza missionária 5. O regime de Padroado [...] servia como um instrumento político em que os Reis de Portugal recebiam do Papa direitos e prerrogativas sobre a Igreja e sua administração 1 FIGUEIREDO, Anísia de Paulo. Ensino Religioso no Brasil: tendências, conquistas, perspectivas. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. 2 CALMON (1963) p. 367-375, apud FIGUEIREDO (Ver nota 1) p. 22, 3 Sobre a legislação vigente no período que engloba as grandes navegações, ver nota 1, p. 19-22. 4 Padroado é a outorga, pela Igreja de Roma, de certo grau de controle sobre uma Igreja local ou nacional, a um administrador civil, em apreço de seu zelo, dedicação e esforços para difundir a religião e como estímulo para futuras boas obras. De certo modo o espírito do Padroado pode ser assim resumido: aquilo que é construído pelo administrador, pode ser controlado por ele. (BRUNEAU, 1974, p. 31, apud FISCHMANN, Roseli. Ensino religioso em escolas públicas: subsídios para o estudo da identidade nacional e o direito do outro. Nova Escola, São Paulo, v. 167, p. 1-31, 2003, p. 1). 5 Ver nota 4.

eclesiástica, recebendo recursos para isso, tendo como meta principal a conversão dos gentios e expansão do catolicismo romano conduzindo todo o processo de formação religiosa do povo brasileiro, tendo o Ensino Religioso como um dos elementos de sua sustentação ideológica 6. As Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia traduziam as tendências teológicas daquele momento específico, onde os jesuítas tinham a função de intelectuais da formação religiosa 7. Nesse período, não se falava ainda do ensino religioso como uma disciplina, tratava-se de uma formação religiosa. 8 Para Ronaldo Vainfas 9, os jesuítas contribuíam para a manutenção do status quo, vinculando ideologias religiosas que teriam como principal função a submissão dos escravos e a catalisação de conflitos sociais. Os religiosos influenciaram e foram influenciados por idéias pedagógicas que estavam a serviço de uma pedagogia da dominação. Assim, durante o período colonial, podemos caracterizar o ER no Brasil sendo [...] efetivado como cristianização por delegação pontifícia, justificativa do poder estabelecido. 10. Podemos compreendê-lo como o ensino da própria religião católica, ao se cumprirem os acordos entre a Igreja Católica e o Monarca de Portugal e em conseqüência do regime de Padroado. Entre os anos de 1750 e 1777, a colônia passou por mudanças implantadas pelo Marquês de Pombal. Enquanto Pombal queria reerguer Portugal, os jesuítas preocupavam-se com a fé católica. Em 1759, eles são expulsos da colônia. Os jesuítas, como na Europa, são tomados como bodes expiatórios para justificar a necessidade de uma nova ordem política, impulsionada pelas teorias iluministas. 11. Esses religiosos eram vistos por Pombal como culturalmente retrógrados, ambiciosos e poderosos. Desta forma, a permanência destes em território brasileiro atrapalharia o projeto de reerguer a metrópole. Entretanto, Portugal e, conseqüentemente, a colônia não romperam com a Igreja. 6 FIGUEIREDO, Anísia de Paulo. Ensino Religioso: perspectivas pedagógicas. 2ª edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. 7 GRAMSCI, apud PORTELLI, Hugues. Gramsci e a Questão Religiosa. São Paulo: Paulinas, 1984. 8 RANQUETAT JUNIOR, 2007, p. 14, apud BERTONI, José Carlos. Da Legislação à Prática Docente: o Ensino Religioso nas Escolas Municipais de Santos. Dissertação (Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura)- Universidade Presbiteriana Mackenzie. São Paulo, 2008, p. 23. 9 VAINFAS, Ronaldo. Ideologia e Escravidão: os letrados e a sociedade escravista no Brasil colonial. Petrópolis, RJ: Vozes, 1986. Deus Contra Palmares: representações senhoriais e idéias jesuíticas. In: REIS, João José e GOMES, Flávio dos Santos (org.). Liberdade por um Fio: história dos quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. 10 Ver nota 1, p. 9. 11 Ver nota 1, p. 24.

Com a expulsão dos jesuítas, a educação no Brasil passa por transformações radicais. A reforma pombalina no setor de ensino apresenta um novo modelo de educação, impregnado da filosofia iluminista, que passa a ser caracterizada como laicização e modernização do ensino, em oposição à formação clássica dos jesuítas. 12 Mas, mesmo assim, o ER no período continua sendo o ensino da religião católica, dirigido aos indígenas e escravos. Essa catequização das classes subalternas tem seu texto próprio extraído das Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia [...]. Em nenhum momento tal texto contempla a palavra africana ou suas expressões de fé e religiosidade. 13 No século seguinte, a Coroa portuguesa elaborou a Constituição do Imperador de 1824. Esta determinava que a religião católica fosse a única a ser ensinada nas escolas durante as aulas de ER, uma vez que era reconhecida como a religião oficial do Império. Porém, no Art. 5º dessa Constituição, há uma pequena abertura para a prática de outras religiões, desde que fossem praticadas em lugares designados e sem que detivessem caráter doutrinário. Nesse período, o Padroado interferia diretamente nas legislações de ensino. O decreto de 15 de outubro de 1827 determina que os professores ensinarão, além das disciplinas comuns e mais gerais, [...] os princípios da moral christã e da doutrina da religião e cathólica e apostólica romana [...] 14. Durante o século XIX, o ER, então, é efetivado sob o protecionismo do Estado. Na prática, continua sendo visto como a catequese dentro da escola. Para os escravos, que não tinham acesso à educação dentro da instituição de ensino, as aulas de ER eram dadas dentro dos próprios quilombos. Não aprendiam nada além da doutrina cristã. O ER não consta na primeira Constituição republicana, de 1891, pelo fato de o Estado se tornar laico, ou seja, sem nenhuma religião oficial. Assumiu-se na Constituição do Regime Republicano no Brasil a Educação de compreensão laica. Tal compreensão era decorrente da interpretação francesa de então, que tomou como princípio da liberdade religiosa a neutralidade escolar, entendida como ausência de qualquer tipo de informação religiosa. Portanto, a expressão de que seria o ensino leigo, presente na Constituição, foi assumida por muitos legisladores do regime republicanos no Brasil como um ensino irreligioso, ateu, laicista, sem a presença de elementos oriundos 12 Ver nota 1, página 29. 13 Ver nota 1, página 30. 14 BONAVIDES, Paulo e AMARAL, Roberto. Textos políticos da história do Brasil. Brasília. Senado Federal, 1996, v. 1, p. 142.

das crenças dos cidadãos que freqüentavam as escolas mantidas pelo Estado. 15 Com a laicização do Estado, os colégios particulares tomaram a liberdade de praticar culto e ministrar o ER, surgindo assim escolas protestantes, como as administradas por Igrejas Metodistas e Presbiterianas. Nos anos em que não teve ER nas escolas públicas, a Igreja Católica e os intelectuais ligados a ela incentivaram a proliferação de escolas paroquiais e colégios católicos. Os intelectuais de tendência tradicionalista, tais como Carlos de Laet, Eduardo Prado, Afonso Celso, Felício Santos e Joaquim Nabuco, criticaram o laicismo dentro da escola pública, alegando que isto era algo negativo e irrealizável 16. Os anos de 1910 a 1930 foram marcados por um grande esforço da Igreja Católica, como instituição, para aproximar-se do Estado, apesar de algumas reações oposicionistas da Maçonaria. Nesse período houve a tentativa de organizar partidos católicos, como a Liga Eleitoral Católica (LEC), visando orientar os fiéis na escolha de candidatos a cargos políticos no processo constitucional de 1934 a 1946. A Igreja Católica formulou programa contemplando uma lista de questões que, segundo ela, seriam fundamentais e apresentou aos políticos interessados em apoiá-la. Entre os pontos polêmicos no campo da Educação estava o ER [...]. 17 No ano de 1928, em Minas Gerais, o Governador promulgou a Lei 1.092/28, que reintroduziu o ER nas escolas oficiais do estado. Contudo, somente o Decreto de 30 de abril 1931, intitulado Sobre o ensino religioso 18, voltou a admitir as aulas de religião dentro da escola pública em todo o território brasileiro. Mas, essas seriam permitidas somente a partir da confissão do aluno ou do interesse dos pais ou responsáveis. A partir da Constituição de 1934 19, o ER é readmitido como disciplina obrigatória na escola pública, todavia perante a confissão do aluno e de matrícula facultativa. Na Constituição de 1937 20, a disciplina continua obrigatória, porém, não exige a freqüência compulsória dos alunos e nem obriga os professores a ensiná-la. Em 1941 foi promulgada a Lei Orgânica do Ensino Secundário, a qual Gustavo 15 JUNQUEIRA, Sérgio R. A. CORRÊA, Rosa L. T. HOLANDA, Ângela M. R. Ensino Religioso: aspectos legal e curricular. 1ª ed Coleção temas do ensino religioso. São Paulo: Paulinas, 2007, p. 18. 16 Ver nota 8. 17 Ver nota 15, p. 21-22. 18 BRASIL. Decreto (1931) Sobre o Ensino Religioso 30 de abril de 1931, http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/fontes_escritas/5_gov_vargas/decreto%2019.941-1931sobre%20o%20ensino%20religioso.htm>. Acesso em: 26 out. 2010. 19 BRASIL. Constituição (1934) Constituição dos Estados Unidos do Brasil 16 de julho de 1934. Brasília DF: Fundação Projeto Rondom Minter, 1996. 20 BRASIL. Constituição (1937) Constituição dos Estados Unidos do Brasil 10 de novembro de 1937. Brasília DF: Fundação Projeto Rondom Minter, 1996.

Capanema preparou pessoalmente. Nela, ele incluiu a instrução religiosa no currículo do ensino secundário, entre as disciplinas de educação geral e, na versão final, determinou em seu artigo que o ensino de religião constituiria parte integrante da educação da adolescência 21. Na Constituição de 1946 22, o capítulo que versa sobre a Educação também ficou sob a responsabilidade de Gustavo Capanema. Naquele, a questão do ER como um dever do Estado para com a liberdade religiosa de quem freqüenta a escola é retomada. A Constituição de 1967 não trouxe nada de novo no campo da religião e nem foi alvo de discussões e de grandes debates. A Constituição de 1988 23, vigente hoje, traz no Art. 210 praticamente a mesma redação do parágrafo IV do Art. 168 da Constituição de 1967, apenas a expressão de que o ER fará parte dos horários normais das escolas oficiais de grau primário e médio foi modificada para escolas públicas de ensino fundamental. O ER é introduzido na Lei de Diretrizes e Bases de 1961 24 da forma mais antiga que tal ensino foi concebido: confessional. Essa Lei enfatiza que o Estado não é responsável por investimentos financeiros e nem por contratação de profissionais para as aulas dessa disciplina, sendo que o registro destes será realizado perante a autoridade religiosa respectiva. Em outras palavras, dá-se uma abertura ao proselitismo. A perspectiva confessional orienta o ER nos Estados segundo a catequese na escola. A partir dessa compreensão, os Estados da Federação, por meio de suas Constituições Estaduais e a legislação para a Educação, assumiriam a mesma proposição, tendo como característica a inexistência de um programa específico. Os professores o faziam por doação, pois não eram remunerados por esse trabalho. 25 Durante a Ditadura Militar, o ER foi inserido nos horários regulares, compondo com as disciplinas de Educação Moral e Cívica, Artes e Educação Física. Expressa na Lei nº 5692/71 26. Essa foi uma das formas que o regime encontrou para obter mais apoio aos seus interesses. 21 Ver nota 15, p. 24. 22 BRASIL. Constituição (1946) Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 18 de setembro de 1946. Rio de Janeiro: Diário Oficial da União, DF, 22 set. 1946. 23 BRASIL. Constituição (1988) Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília DF: Senado Federal, 1988. 24 BRASIL. Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei 4.024 de 20 de dezembro de 1961. Brasília - DF: Diário Oficial da União de 27 dez. 1961. 25 Ver nota 15, p. 32-33. 26 BRASIL. LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei 5.692/71. In DAVIES, Nicholas. Legislação Educacional Federal Básica. São Paulo: Cortez Editora, 2004.

Durante a década de 1970, as Secretarias Estaduais de Educação reestruturaram o ER por meio de diálogos com entidades religiosas. Isso resultou numa elaboração de diferenciação entre o ER e a catequese entre as décadas de 1970 e 1990. Com o fim da Ditadura Militar, o ER passou a ser de interesse tanto da Igreja Católica quanto de outros setores da sociedade, entre eles, outras entidades religiosas e de pessoas ligadas à educação. As emendas populares por iniciativa de entidades da sociedade civil encaminhadas aos Constituintes no biênio 1987/1988, demonstram a atuação vitoriosa dos defensores do Ensino Religioso contra os defensores da educação laica nas escolas públicas. A emenda popular que continha o apoio à laicidade recebeu 280 mil assinaturas, enquanto que o apoio à manutenção do Ensino Religioso nas escolas públicas foi subscrito por 800 mil pessoas. 27 A Lei de Diretrizes e Bases 9394/96 28 redige a definição de ER para as escolas públicas de ensino fundamental nas modalidades confessional e interconfessional, deixando claro que será aplicado sem ônus para os cofres públicos, o que implica em dificuldades para a organização de um projeto pedagógico dentro da escola. As interpretações acerca dessa lei ficaram em aberto, causando inúmeras possibilidades de formas de o ER ser ministrado. Então, em julho de 1997 ocorreu algo inédito. O artigo 33 da lei 9394/96, que se refere ao ER, foi modificado mediante ampla mobilização de representantes de entidades religiosas. Pressionado por líderes religiosos, especialmente os ligados à Igreja Católica, institucionalmente representados pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), nos primeiros meses de 1997, o presidente Fernando Henrique Cardoso pediu a um dos deputados da base parlamentar governista que elaborasse um Projeto de Lei, a ser apreciado pelo Congresso Nacional, cuja intenção fosse, única e exclusivamente, a de retirar a expressão sem ônus para os cofres públicos que então constava no art. 33 da LDB. 29 Já, segundo Zimmermann 30, a lei foi modificada de forma a extinguir o caráter de doutrinação religiosa presente nas interpretações do artigo 33 da LDB e para que o ER não se confundisse com o ensino de uma ou mais religiões, passando a reconhecer a 27 CUNHA, 2006, p. 4 apud BERTONI (Ver nota 8) p. 29. 28 BRASIL. LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei 9.394/96. 3ª. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. 29 BRANDÃO, Carlos da Fonseca. LDB passo a passo: Lei de diretrizes e bases da educação nacional, Lei nº 9394/96 comentada e interpretada, artigo por artigo. 4ª. ed. São Paulo: Avercamp, 2010, p. 91, grifo do autor 30 ZIMMERMANN, 1998 apud FONAPER. Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Religioso. São Paulo: Mundo Mirim, 2009.

disciplina como parte integrante da formação plena do cidadão, assegurando respeito à sociedade cultural e religiosamente diversa, proibindo qualquer forma de doutrinação. Junqueira, Corrêa e Holanda 31 apontam que a nova redação do art. 33 focaliza o ER como disciplina escolar, entendendo-o como uma área do conhecimento, com a finalidade de reler e compreender o fenômeno religioso, colocando-o como objeto disciplina. É nesse contexto que se insere hoje o ER, mostrando um grande avanço dessa disciplina na nova legislação. No Estado de São Paulo, a Constituição Estadual de 1989 32 traz em seu Art. 244 que o ER fará parte dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental. Em março de 2001 foi promulgada a Lei 10.783 33 que dispõe sobre o ER na rede pública do estado de São Paulo. Nesta lei, fica decretado que essa disciplina, de matrícula facultativa, constitui os horários normais das escolas de ensino fundamental, assegurando o respeito à diversidade cultural e religiosa e vedando o proselitismo ou qualquer tipo de hierarquização de doutrinas religiosas. No mesmo ano, no dia 27 de setembro, foi publicada a Deliberação do Conselho Estadual da Educação nº 16/2001 34 que regulamenta o Art. 33 da LDB 9394/96. No Art. 3º desta deliberação é expresso que os habilitados para ministrarem as aulas de ER no ensino fundamental sejam os licenciados em História, Ciências Sociais ou Filosofia e para as séries iniciais, consideram habilitados os licenciados em Pedagogia. Os conteúdos a serem aplicados nas aulas deveriam ser definidos de acordo com a Indicação 07/2001. Em 2002, o Governo do Estado de São Paulo, representado pelo então governador Geraldo Alckmin, publicou o Decreto nº 46.802 35, que versa sobre o ER nas escolas públicas e dá providências correlatas. Neste Decreto, ficou estabelecido que as diretrizes curriculares a serem observadas e os conteúdos a serem ministrados nas aulas de ER são aqueles definidos pelo Conselho Estadual de Educação, órgão que também deve avaliar 31 Ver nota 15, p. 45. 32 SÃO PAULO (Estado). Constituição Estadual. 1989. Disponível em <http://www.legislacao.sp.gov.br/dg280202.nsf/a2dc3f553380ee0f83256cfb00501463/46e2576658b1c52 903256d63004f305a?OpenDocument>. Acesso em 13 jun. 2011. 33 SÃO PAULO (Estado). Lei 10.783. Dispõe sobre o ensino religioso na rede pública estadual de ensino fundamental. 2001. Disponível em <http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/132260/lei-10783-01-saopaulo-sp>. Acesso em 13 jun. 2011. 34 SÃO PAULO (Estado). Deliberação CEE nº 16/2001. Regulamenta o Artº 33 da Lei 9394/96. 2001. Disponível em <http://www.ceesp.sp.gov.br/deliberacoes/de_16_01.htm> Acesso em: 16 ago. 2010. 35 SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 46.802. Dispõe sobre o Ensino Religioso nas escolas públicas estaduais de ensino fundamental e dá providências correlatas. 2002. Disponível em <http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/164559/decreto-46802-02-sao-paulo-sp> Acesso em: 24 out. 2010.

a implementação dessa disciplina nas escolas, ouvindo o Conselho de Ensino Religioso do Estado de São Paulo (CONER) e outras entidades que representem diferentes denominações religiosas. No mesmo ano, a Secretaria de Educação publicou a resolução nº 21/2002 36, pois, devido ao relatório da I Audiência Pública do Ensino Religioso, considerou-se que havia necessidade urgente de orientar os procedimentos relativos à atribuição de aulas da área de ER, o que fez que o conteúdo das aulas fosse baseado na história das religiões. O ER passou por muitos processos de transformação. O que era uma disciplina de catequização passou a ser uma disciplina obrigatória nas escolas públicas, reconhecida pela legislação. Antes, era ministrado por religiosos e voluntários leigos sem formação específica. Hoje se exige dos docentes uma formação superior especializada 37, buscando, portanto, uma abordagem sem proselitismo. Justificativa do tema escolhido O Brasil é um país de origens cristãs, mas desde 1890 é um Estado laico. Deste modo, não possui nenhuma religião oficial. Porém, o Ensino Religioso (ER), desde a reimplantação nas escolas (1931/1934) até a publicação da atual Lei de Diretrizes e Bases (1996), só conseguiu obter características laicas e definidas em termos legais a partir da publicação da Lei nº 9475/97, que passou a compreender a disciplina como uma área do conhecimento. Entretanto, O Ministério da Educação não conseguiu implantar uma política de ER que superasse a velha temática da separação Igreja-Estado, o que significou não conseguir sustentar uma proposta consistente de ER: do ponto de vista antropológico, com uma dimensão humana a ser educada; do ponto de vista epistemológico, como uma área de conhecimento com estatuto próprio [...]; e do ponto de vista político, como uma tarefa dos sistemas de ensino e não das confissões religiosas. 38 Assim, compreendemos que o ER não tem identidade definida no Brasil, pois, ainda parece representar para muitos a catequização dentro da escola e para poucos uma disciplina escolar científica. 36. Resolução SE nº 21/2002. Dispõe sobre as aulas de ensino religioso na rede estadual de ensino e dá providências correlatas. Disponível em <http://deguarulhossul.edunet.sp.gov.br/erel.htm>. Acesso em: 13 jun. 2011. 37 Apesar do art. 33 da Lei nº 9394/96 não determinar uma área de especialização para o docente de Ensino Religioso, ela está presente nas deliberações Estaduais. 38 PASSOS, João Décio. Ensino Religioso: mediações epistemológicas e finalidades pedagógicas. In SENA, Luzia (Org.) Ensino Religioso e Formação Docente: ciências da religião e ensino religioso em diálogo. São Paulo: Paulinas, 2006, p. 22

Há atualmente no Brasil [...] uma considerável pluralidade de modelos de ER, o que se desenha em função de iniciativas locais e não de uma diretriz comum e sólida, capaz de produzir uma prática docente consistente para esse ensino em âmbito nacional. 39. Por este fato, o ER é muitas vezes confundido como educação religiosa, que caberia aos pais, à família e à escolha pessoal de cada indivíduo, diferente do que deveria ser o ER nas escolas públicas brasileiras, pois, como Passos 40, entendemos que essa disciplina tem [...] a religião como um objeto de estudo, produzindo sobre este resultados compreensivos que normalmente são credenciados como ciência. tornando, assim, [...] o estudo científico das religiões [...] tão laico quanto qualquer outro inscrito na esfera das ciências que são ensinadas nas escolas [...] 41. No município de Assis, localizado a 434 km da cidade de São Paulo, encontramos menção ao ER no art. 244 da Lei Orgânica do Município 42, promulgada sob a proteção de Deus. Nesse, fica estabelecido que deva ter o ensino religioso, de matrícula facultativa, em todas as escolas municipais. Porém, nas escolas municipais, que abarcam do Jardim I ao 5º ano do Ensino Fundamental, não há a disciplina denominada Ensino Religioso. Segundo a funcionária responsável pelo Departamento de Ensino Infantil da Secretaria Municipal de Educação, há um projeto chamado Educação Para a Paz, que aborda assuntos relacionados à ética, religião, cidadania, paz, violência, etc., que faz parte do cotidiano das escolas municipais, mas de maneira transversal, e não como uma disciplina específica de religiões. Objetivos da pesquisa Temos, então, como objetivo norteador dessa pesquisa, compreender quais são as identidades do Ensino Religioso (ER) nas escolas municipais de Assis-SP. Para que este seja atingido, julgamos necessário fazer um panorama dessa disciplina dentro do processo da descentralização e da municipalização do ensino tendo como foco a cidade de Assis-SP, compreender quais são as concepções de ER para os gestores das escolas municipais de Assis-SP e entender como se configura na teoria e na prática, a partir das concepções dos referidos gestores, o projeto Educação Para a Paz dentro 39 PASSOS, João Décio. Ensino Religioso: construção de uma proposta. 1ª ed Coleção temas do ensino religioso. São Paulo: Paulinas, 2007, p. 16. 40 Ver nota 40, p. 28. 41 Ver nota 40, p. 18. 42 ASSIS (MUNICÍPIO). Lei Orgânica do Município de Assis. Disponível em <http://www.camaraassis.sp.gov.br/index2.php? pag=t0drpu9ezz1pr009t0rrpu9uut1pvgs9t0dvpu9hrt1pvgm9t1rrpu9hvt1pr1u9>. Acesso em 24 out. 2010.

das escolas municipais. Planejamento da pesquisa Para a realização da nossa pesquisa, utilizaremos um conjunto de técnicas que caracterizam a pesquisa qualitativa. A princípio, faremos uma revisão bibliográfica e adicionaremos novas referências, buscando o levantamento, a seleção e o aprofundamento em diversas publicações relacionadas ao tema da investigação. Em seguida, passaremos à pesquisa documental e histórica sobre os processos de descentralização e de municipalização do ensino fundamental na cidade de Assis-SP, nos baseando em documentos oficiais, tais como a Legislação federal, estadual e municipal, a fim de traçarmos um panorama da disciplina Ensino Religioso (ER) dentro desse contexto educacional. Feito isso, realizaremos entrevistas com os responsáveis pelo planejamento do projeto Educação Para a Paz, a fim de compreendermos quais são seus objetivos. Em seguida, passaremos para o trabalho de campo, onde selecionaremos quatro escolas municipais que se encaixem em nossos critérios, que são: a) cada escola deve representar uma região da cidade; sendo, b) duas escolas de tempo integral e duas escolas com horários formais; c) que realizem de fato o projeto Educação Para a Paz, para entrevistarmos a Direção e a Coordenação Pedagógica, a fim de compreendermos como esse projeto é efetivado. Essas entrevistas serão semi-estruturadas, pois, as informações que se quer obter, e os informantes que se quer contatar, em geral professores, diretores, orientadores, alunos e pais, são mais convenientemente abordáveis através de um instrumento mais flexível 43. Logo, utilizaremos roteiros que guiem os encontros através de tópicos fundamentais, procurando evitar saltos bruscos entre estes e permitindo que o entrevistado se aprofunde nas respostas gradativamente. Entretanto, mesmo com roteiros, essas entrevistas serão adaptadas conforme o contexto em que elas forem realizadas. Para analisarmos os dados colhidos, faremos uma análise comparativa de todos esses dados, principalmente dos discursos obtidos nas entrevistas, com a compreensão legal do ER presente no artigo 33 da LDB 9394/96 e com as formulações de teóricos que defendem essa disciplina em suas mais diversas identidades (enquanto disciplina científica; ensino confessional; dentre outras), para, assim, elaborarmos nossa redação 43 LÜDKE, Menga e ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986, p. 34.

final e compreendermos qual a identidade ou as identidades do ER nas escolas municipais da cidade de Assis-SP.