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Transcrição:

CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE FACULDADE CENECISTA DE CAPIVARI FACECAP - PEDAGOGIA - O ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS E A SUA ARTICULAÇÃO COM A EDUCAÇÃO INFANTIL: A NECESSIDADE DE UMA NOVA PROPOSTA PEDAGÓGICA CAROLINA DE PONTES CAMPOS Capivari, SP 2011

CAMPANHA NACIONAL DAS ESCOLAS DA COMUNIDADE FACULDADE CENECISTA DE CAPIVARI FACECAP - PEDAGOGIA - O ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS E A SUA ARTICULAÇÃO COM A EDUCAÇÃO INFANTIL: A NECESSIDADE DE UMA NOVA PROPOSTA PEDAGÓGICA Monografia de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de Pedagogia da FACECAP/CNEC Capivari, para obtenção do título de Pedagogo, sob a orientação da Profa. Dra. Maria de Lourdes Pinheiro. CAROLINA DE PONTES CAMPOS Capivari, SP 2011

FICHA CATALOGRÁFICA Campos, Carolina de Pontes O ensino fundamental de nove anos e a sua articulação com a educação infantil: a necessidade de uma nova proposta pedagógica / Carolina de Pontes Campos. Capivari-SP: CNEC, 2011. 36p. Orientadora: Profa. Dra. Maria de Lourdes Pinheiro Monografia apresentada ao curso de Pedagogia. 1. Educação Infantil. 2. Ensino Fundamental. 3. Proposta Pedagógica. I. Título CDD 372

A cada idade corresponde uma forma de vida que tem valor, equilíbrio, coerência que merece ser respeitada e levada a sério; a cada idade correspondem problemas e conflitos reais (...), pois o tempo todo, ela (a criança) teve de enfrentar situações novas (...). Temos de incentivá-la a gostar da sua idade, a desfrutar do seu presente. George Snyders

CAMPOS, Carolina de Pontes. O Ensino Fundamental de nove anos e sua articulação com a Educação Infantil: a necessidade de uma nova Proposta Pedagógica. Monografia de Conclusão de Curso. Curso de Pedagogia. Faculdade Cenecista de Capivari CNEC. 36p., 2011. RESUMO A partir da lei que julga necessária a ampliação do Ensino Fundamental para nove anos de duração, faz-se necessário, também, a elaboração de uma nova Proposta Pedagógica, a fim de incluir no novo sistema crianças de seis anos de idade. Nesse novo modelo de ensino deve haver articulações entre as etapas, para que não haja fragmentação no ensino e na aprendizagem, evitando que o processo de adaptação não se torne uma dificuldade que possa influenciar no processo de desenvolvimento da criança. Além da aprendizagem e desenvolvimento é necessário atentar ainda para a diversidade cultural, social e individual dos alunos. Palavras-chave: 1. Educação Infantil. 2. Ensino Fundamental. 3. Proposta Pedagógica.

SUMÁRIO INTRODUÇÃO...7 1. O PAPEL DA ESCOLA NO INÍCIO DA VIDA ESCOLAR DA CRIANÇA...10 1.1 A Proposta Pedagógica...12 1.2 Educação Infantil...14 1.3 Ensino Fundamental...16 2. O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NOS PRIMEIROS ANOS NA ESCOLA...19 2.1 A teoria do desenvolvimento infantil de Vigotski...19 2.2 Aprendizagem e desenvolvimento...22 2.3 A importância do lúdico para o desenvolvimento infantil na escola...24 3. A NECESSIDADE DE UMA NOVA PROPOSTA PEDAGÓGICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS...26 3.1 Parâmetro Nacional de Qualidade para a Educação Infantil...26 3.2 Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de nove anos...28 3.3 A linguagem escrita...30 3.3.1 Letramento e alfabetização...32 CONSIDERAÇÕES FINAIS...34 REFERÊNCIAS...35

INTRODUÇÃO Este trabalho aborda a questão da necessidade de uma nova proposta pedagógica para o Ensino Fundamental de nove anos, que esteja articulada com a Educação Infantil, de modo a garantir o desenvolvimento contínuo das crianças, sem a interrupção com a passagem de um ciclo para o outro. A Lei nº 11.274/2006 (de obrigatoriedade de matrícula da criança de seis anos no Ensino Fundamental, com ampliação do Ensino Fundamental para nove anos), implica na elaboração de uma nova proposta pedagógica, bem como em um novo currículo, e isso também se reflete na necessidade de uma melhora na qualidade da formação e aperfeiçoamento de professores, para, assim, serem capazes de dar conta de novos desafios. Diante da questão de uma nova proposta pedagógica para o Ensino Fundamental com duração de nove anos, deu-se a escolha deste tema, sobretudo devido ao interesse de conhecer quais as dificuldades de adaptação da criança ao ciclo seguinte, tendo ainda a finalidade de saber como o professor deve se comportar diante das diversas situações que poderá encontrar no caminho, já que buscamos, através da formação acadêmica, ser profissionais na área da educação. Em vista disso, o Parecer CNE/CEB nº 11/2010, que discute as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de nove anos, aponta que a qualidade da educação entre as décadas 70 e 80 do século XX baseava-se nas condições do funcionamento da escola. Na década de 90, porém, voltou-se para os resultados obtidos no rendimento dos alunos. Assim, os objetivos da educação nos anos iniciais da criança busca alcançar e proporcionar o desenvolvimento do educando, assegurando-lhe a formação comum para que possa progredir no trabalho e nos estudos posteriores. Em relação à trajetória do Ensino Fundamental obrigatório no país, o Parecer observa que, no Brasil, a Constituição de 1934 foi a primeira a determinar a obrigatoriedade do Ensino Primário ou Fundamental, com duração de quatro anos. A Constituição de 1967, por sua vez, ampliou para oito anos esta obrigatoriedade, que foi estabelecida pela Lei nº 5.692/71, ao fixar novas diretrizes e bases para o ensino de primeiro e segundo graus, modificando a estrutura do ensino (unificando o curso primário e o ginásio em um único curso, o Primeiro Grau, com duração de oito anos). Pela nova Lei de Diretrizes e Bases e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96), o Primeiro Grau passou a chamar-se Ensino Fundamental, também com duração mínima de oito 7

anos. Entretanto, em 2006, a Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, alterou a redação da LDB, ampliando para nove anos o Ensino Fundamental (EF), com matrícula obrigatória a partir dos seis anos de idade. A ideia central da proposta de duração de nove anos para o Ensino Fundamental é que a inclusão definitiva das crianças de seis anos nessa etapa educacional pode oferecer melhores e maiores oportunidades de aprendizagem no período de escolarização obrigatória e assegurar que, ingressando mais cedo no sistema de ensino, elas prossigam nos estudos alcançando maior nível de escolaridade. No entanto, o Parecer CNE/CEB nº 11/2010 ressalta que a falta de articulação entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental tem criado barreiras que dificultam a trajetória escolar. De acordo com o Parecer, para que tal dificuldade seja superada é preciso que o Ensino Fundamental passe a incorporar algumas práticas que integram historicamente a Educação Infantil. Conforme o Parecer, os alunos, ao mudarem do professor generalista dos anos iniciais para os professores especialistas dos diferentes componentes curriculares, costumam se ressentir diante das muitas exigências que têm de atender, feitas pelo grande número de docentes dos anos finais (BRASIL, 2010, p.20). Dessa maneira, na passagem da criança da Educação Infantil para o Ensino Fundamental não se deve ignorar os conhecimentos adquiridos por ela. Em função disso, a entrada no Ensino Fundamental para as crianças de seis anos deve garantir-lhes aprendizagem e desenvolvimento, atentando-se ainda para a diversidade cultural, social e individual dos alunos. Segundo o Parecer, na perspectiva da continuidade do processo educativo proporcionado pelo alargamento da Educação Básica, o Ensino Fundamental deve adotar formas de trabalho que proporcionem maior mobilidade às crianças na sala de aula, ao mesmo tempo em que passa a sistematizar mais os conhecimentos escolares. Neste sentido, o trabalho tem como objetivo refletir sobre as atuais adaptações curriculares propostas para a Educação Infantil e para os anos iniciais do Ensino Fundamental; identificar quais as dificuldades de adaptação que a criança pode encontrar na passagem da Educação Infantil para o Ensino Fundamental; e discutir propostas que auxiliem a criança na transição entre os ciclos. Para o desenvolvimento da pesquisa foi escolhido como procedimento metodológico a pesquisa bibliográfica, com consulta à Lei de Diretrizes e Bases, a Pareceres e Resoluções, além de obras de diversos autores, para entender o que tem sido proposto pelo governo através das Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental com duração de nove anos e 8

sua articulação com a Educação Infantil. Para tanto, no primeiro capítulo será abordada a importância da proposta pedagógica para nortear a escola quanto ao planejamento do ensino a ser usado em ambas as etapas estudadas, bem como a questão da nomenclatura proposta pedagógica adotada neste trabalho. O segundo capítulo trará a teoria de Vigotski quanto ao desenvolvimento da criança em idade escolar, abordando, principalmente, os anos iniciais. O autor foi escolhido, por abordar em sua teoria a questão da aprendizagem e do desenvolvimento, que são mencionados neste trabalho. Os documentos oficiais, elaborados pelo Ministério da Educação (MEC), compõem o terceiro capítulo, uma vez que, para a elaboração da nova proposta pedagógica é necessário que se leve em conta a realidade dos alunos, da escola e da sociedade, adequando-a ao sistema de ensino para a obtenção do sucesso na educação das crianças. 9

1. O PAPEL DA ESCOLA NO INÍCIO DA VIDA ESCOLAR DA CRIANÇA Todo indivíduo é inserido ao grupo social e à sociedade desde o seu nascimento e, através das culturas de cada sociedade, ele adquire seus primeiros conhecimentos e aprendizagens. O processo educativo da criança antecede a fase escolar, pois uma criança desde o nascimento, ao falar as primeiras palavras e ao dar os primeiros passos, assimila conhecimentos através do contato com o mundo, e vai, então, agregando esses conhecimentos e valores que são importantes para o início da vida escolar. A experiência escolar insere-se em um processo continuo de desenvolvimento do sujeito que se iniciou antes de sua entrada na instituição. Todas as experiências vividas na escola ganharão significado quando articuladas com o processo global de desenvolvimento do indivíduo e não quando concebidas como um aglomerado de experiências independentes, vividas exclusivamente no âmbito escolar. (LIMA, 2006, p.6). Atentando-se a esses conhecimentos e valores, a escola tem como papel dar continuidade ao processo educacional da criança, levando em conta a particularidade de cada uma, acrescentando a esses conhecimentos novos conceitos, aprendizagens e valores, mas sem deixar que isso se torne um processo passivo, onde apenas se ensina, mas ativo, pois, desse modo, quando aprende desenvolve potencialidades, capacidade de pensar e ver o mundo a partir de seus olhos, e também de transmitir seus conhecimentos e valores, ou seja, um processo de ensinar e aprender. Entretanto, devido a diferentes culturas, cada criança tem sua singularidade; ensinar o educando tem sido uma tarefa complexa que requer do agente educador comprometimento, profissionalismo e qualificação. Ensinar e educar as crianças têm sido tarefa deixada pelos pais ao professor. Espera-se cada vez mais da escola. De certa forma, a responsabilidade da educação básica da criança tem sido do professor e da escola, distanciando, assim, a figura de exemplo dos pais para a criança, pois, por passarem a maior parte do tempo na escola, as crianças têm tomado o professor como espelho do ser humano adulto. As crianças são seres sociais que têm uma história, fazem parte de uma classe social, estabelecem relações, tem uma linguagem e ocupam espaços geográficos. Essas crianças são cidadãs de pouca idade, sujeitos sociais e históricos, criadores e praticantes de culturas, 10

condição essa que exige que a escola atue no sentido de favorecer seu crescimento e formação. É na escola que se constrói parte da identidade do indivíduo, nela adquirem-se os modelos de aprendizagem, a aquisição dos princípios éticos e morais. A escola deposita na criança expectativas em relação ao futuro e suas próprias potencialidades. Partindo desse ponto, qual seria o papel da escola no início da vida escolar da criança? Qual deveria ser? Qual tem sido? A escola como instituição de ensino deve oferecer possibilidades de aprendizagens iguais para todos os alunos, mas respeitando as particularidades de cada um. O desafio da escola é educar as crianças, proporcionando-lhes um desenvolvimento humano, cultural e cognitivo, de modo que adquiram condições para enfrentar as exigências do mundo, objetivo esse que exige constante esforço. Num sentido mais amplo, o papel da escola é garantir a construção de uma nação, através da formação de sujeitos capacitados a fazer parte desse processo de construção. A escola deve promover, para todos, o domínio do conhecimento e o desenvolvimento de capacidades cognitivas e afetivas, para a inserção no mundo e a construção da cidadania. Nos anos iniciais, além de fonte de cultura e aprendizado, a escola tem um grande papel, o de acolher, pois para cada criança, no início dessa nova fase da vida, é necessário um tipo de cuidado. Assim, como diz Vigotski (1998, p.105), aprendizagem e desenvolvimento caminham juntos, então a escola deve garantir à criança esse aprendizado e desenvolvimento, respeitando sempre o tempo dela. Desenvolver a linguagem na forma escrita é o principal papel da escola para esses anos iniciais da criança. Fora da escola, junto da família, o desenvolvimento da linguagem oral foi aprendido e desenvolvido de acordo com as necessidades de comunicação, mas é papel do educador trabalhar com a linguagem já adquirida. A fim de ajudar nos processos de introdução das linguagens oral e escrita, as situações de aprendizagem devem ser sequenciadas e articuladas, necessitando, assim, um planejamento educacional. As escolas e/ou instituições de ensino que agrupam as crianças nas fases iniciais de desenvolvimento, requerem um planejamento anual de atividades e conteúdos, o Planejamento Escolar. Este, por sua vez, só será eficiente se elaborado por meio de processos participativos, dos profissionais da escola, da família, dos alunos e da comunidade, 11

priorizando sempre o atendimento aos interesses e as necessidades dos alunos (BRASIL, 2010). 1.1 A Proposta Pedagógica Planejamento é uma antecipação da prática, de como prever e programar as ações e os resultados. A organização do planejamento escolar dá-se pelos planos e projetos da escola, são as ideias que irão direcionar as ações. O que é previsto no planejamento escolar são atividades de ensino e aprendizagem que toda instituição elabora, tomando-se por base a realidade dos envolvidos, alunos e educadores, com o objetivo de atender a todos e garantir os resultados esperados. Por isso, valores, atitudes, conteúdos e modos de agir fazem parte dos aspectos analisados no planejamento escolar. Sendo o planejamento escolar um processo contínuo, requer reflexão e ação, pois, mediante a análise da realidade, buscam-se alternativas para possíveis problemas, que podem levar à revisão dos planos e projetos para a correção das ações. Esse processo pode antecipar a prática prevendo resultados, mas não determiná-los, uma vez que os resultados são obtidos ao longo do processo de desenvolvimento do planejamento. O planejamento escolar fundamenta-se, assim, numa análise diagnosticada da realidade da escola; com definição de metas e objetivos, soluções para os problemas e dificuldades, de acordo com a política e as diretrizes do sistema escolar; e análise dos resultados previstos e apontamento de novos rumos. Portanto, o planejamento escolar consiste numa atividade de previsão da ação a ser realizada, implicando definição de necessidades a atender, objetivos a atingir dentro das possibilidades, procedimentos e recursos a serem empregados, tempo de execução e formas de avaliação (LIBÂNEO, 2004, p.149). Para Libâneo (2004), o projeto pedagógico-curricular resume-se em um documento composto das ações, diretrizes, objetivos e processo educativo a ser desenvolvido na escola. Esse documento é elaborado diante das culturas, crenças, valores, significados, modos de pensar e agir das pessoas que o elaboram, visando à intervenção e à transformação, recriando essa cultura e projetando a cultura organizacional que se deseja. Na intenção de atender os interesses educacionais, na elaboração do projeto pedagógico-curricular os envolvidos são questionados: qual tipo de escola querem, que 12

objetivos e metas atendem às necessidades e expectativas da comunidade para formar alunos para a cidadania e como avaliar o projeto em andamento, na prática ação-reflexão-ação. O projeto pedagógico-curricular é inacabado, pois no início do ano letivo inicia-se a elaboração e, conforme as necessidades, adequam-se as ações e objetivos, isso em função dos fatos inesperados, pelo fato de a escola tratar-se de uma instituição que lida direta e indiretamente com pessoas. Diretamente entre os envolvidos (alunos e educadores) e indiretamente com a comunidade, região e país. A ação pedagógica para a elaboração do projeto pedagógico-curricular orienta o trabalho educativo para finalidades sociais e políticas, objetivadas pelos educadores dando direção aos estudos. O termo curricular que compõe o projeto pedagógico diz respeito à posição cultural da escola diante do que a sociedade produz. A escola seleciona a cultura produzida pela sociedade e reproduz na forma de ensino. A proposta curricular é, assim, a projeção dos objetivos, orientações e diretrizes operacionais previstas no projeto pedagógico. Mas, ao pôr em prática o projeto pedagógico, o currículo também realimenta e modifica o projeto pedagógico. Supõese, portanto, uma estreita articulação entre o projeto pedagógico e a proposta curricular, de modo a promover um entrecruzamento dos objetivos e estratégias para o ensino formulados a partir de necessidades e exigências da sociedade e do aluno com base em critérios filosóficos, políticos, culturais, pedagógicos, com as experiências educacionais a serem promovidas aos alunos por meio do currículo. (LIBÂNEO, 2004, p 155). De acordo com Libâneo (2004), tal proposta pode ser denominada das seguintes formas: Projeto Educativo, Projeto Pedagógico, Projeto Político-Pedagógico, Projeto Pedagógico Curricular ou Plano de Escola. Sem denominação única, há várias formas de nomear o que Libâneo trata como Projeto Pedagógico Curricular, que, ao longo desse trabalho, será referido como Proposta Pedagógica, em que importa o processo de açãoreflexão-ação que a escola elabora envolvendo todos os seus integrantes. Para Veiga (1998), a elaboração do projeto pedagógico requer reflexão sobre os objetivos a serem alcançados, para, então, deixar claro seu papel social, definição de caminhos, formas operacionais e ações a serem realizadas por todos os envolvidos, sendo sua construção mediante a observação do dia-a-dia, documentando o não-documentado, procurando atender os problemas ocorridos na sala de aula. Ainda para Veiga (1998), há dois momentos em que julga necessária a observação: a concepção e a execução. Avaliar a concepção para garantir que a execução ocorrerá da 13

maneira esperada, e avaliar também a execução para verificar se houve falhas na concepção e, então, reorganizá-las. Dessa forma, o projeto pedagógico não é só um conjunto de planos isolados, e sim um processo que reflete a realidade da escola. (...) a primeira ação que me parece fundamental para nortear a organização do trabalho da escola é a construção do projeto pedagógico assentado na concepção de sociedade, educação e escola que vise a emancipação humana. Ao ser claramente delineado, discutido e assumido coletivamente ele se constitui como processo. E ao se constituir como processo, o projeto político-pedagógico reforça o trabalho integrado e organizado da equipe escolar, enaltecendo a sua função primordial de coordenar a ação educativa da escola para que ela atinja o seu objetivo políticopedagógico. (VEIGA, 1998, p.157). De acordo com a Lei nº 9.394/96, cada escola é responsável por elaborar sua proposta pedagógica, colocá-la em prática, tendo como objetivo refletir sobre sua intencionalidade educativa. Veiga (1998), por sua vez, trata o projeto político-pedagógico da escola como sua identidade, o que a diferencia das demais, por conter no projeto as intenções específicas de cada escola. Portanto, o projeto pedagógico vem desde uma reflexão conjunta à ação coletiva, a fim de atender o que determina a lei: formar cidadãos. 1.2 Educação Infantil A Educação Infantil (EI) hoje é oferecida para as crianças de zero a cinco anos de idade, e se trata de um ensino não obrigatório, podendo ser particular ou privado, e também municipal. Na EI a maior dificuldade tem sido a adaptação da criança com o espaço escolar, no acolhimento, pois é o momento em que as crianças sairão do ambiente familiar para passar um longo período no ambiente escolar. Nas crianças, acostumadas com a presença dos pais, é comum a resistência à escola no início. A EI é considerada um complemento à ação das famílias, então, falar em adaptação contradiz o conceito de acolhimento. A adaptação da criança no espaço escolar dá-se com o tempo e naturalmente, mas no primeiro contato a criança tem de ser acolhida, para não gerar frustrações futuras com a primeira impressão da escola como apenas instituição de ensino. (BRASIL, 2010, p.12). 14

Adaptação é um esforço que a criança faz para estar bem no espaço coletivo, onde relações, regras e limites são diferentes dos já apresentados a elas no espaço familiar. Considerando a adaptação sob o aspecto da necessidade de acolher, procurar o bem estar, o conforto emocional e físico, amplia-se o papel e a responsabilidade da escola nesse processo. O acolhimento implica nos aspectos: da família fazer parte da educação da criança juntamente com a escola; do professor que recebe diferentes crianças e tem de atender a todas; das crianças que entrarão em contatos com outras crianças que estarão no mesmo processo de acolhimento ou que já se encontram na instituição; e da escola, nos aspectos, organizacional e de gestão. A escola, assim como toda instituição, possui regras. A forma com que as crianças lidam com as regras variam no decorrer do processo de desenvolvimento. Cada criança precisa de seu tempo para adaptar-se a essas mudanças, para que a ela fiquem claro os diferentes espaços, o escolar e o familiar, e justamente esse processo corresponde à EI, aos anos iniciais da fase escolar. A EI não faz parte do ensino obrigatório, mas da decisão dos pais sobre a vida da criança; porém, depois de toda a apresentação aqui contida sobre a EI, mostra como ela é importante para o início da vida escolar da criança. De acordo com propostas sócio-construtivistas, a escola tem como papel possibilitar à criança descobrir, explorar e desenvolver as habilidades do seu corpo e da sua mente, tendo como objetivo buscar a integração da criança através do desenvolvimento dos aspectos biológicos, psicológicos e sócio-culturais para prepará-la para a continuidade do processo educacional (BRASIL, 2004, p. 11). Em relação à apropriação dos conceitos e conteúdos para a criança de cada faixa etária, em seu correspondente nível de ensino, é primordial trabalhar conceitos desconhecidos pelas crianças relacionando-os com o cotidiano, já que a criança precisa tomar conhecimento de certos conceitos, mas sempre atentando para o desenvolvimento, pois essa fase é marcada pela facilidade que a criança desenvolve em criar, imaginar e fantasiar as coisas. A participação do educador na vida das crianças nesse período, da EI, é bastante intensa, desse modo, os conhecimentos não podem ser confusos e fragmentados, precisam ser organizados e integrados (BRASIL, 2010, p.11). A escola tem de oportunizar situações para a construção da criança como cidadão, por meio da aquisição de conteúdos, relacionamentos com crianças da mesma idade e nível intelectual, como forma de troca de conhecimentos acumulados. 15

A escola tem de propor o desenvolvimento da criança como um todo, através dos vários aspectos e de cada faixa etária, com um conteúdo lógico e sequencial. A criança de até cinco anos de idade precisa explorar fisicamente, socialmente e psicologicamente, estimulando a linguagem oral como forma de comunicação, além do desenvolvimento na criança de conceitos básicos como: orientação espacial e corporal, organização do tempo e do ritmo e coordenação motora, preparando para a introdução da linguagem escrita no ciclo seguinte (BRASIL, 2010, p.7). O desenvolvimento das linguagens como forma de comunicação é o principal fator de preocupação por parte dos educadores da EI, ficando, assim, a alfabetização tarefa dos professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental. 1.3 Ensino Fundamental - anos iniciais A criança de seis anos, hoje ingressante no Ensino Fundamental (EF) de nove anos, vindas de um processo acolhedor da Educação Infantil, agora mais familiarizadas com o ambiente escolar, com os valores e conceitos básicos de cidadania e de como viver em uma sociedade, iniciarão uma nova fase onde uma nova proposta pedagógica irá incluí-las num sistema de ensino mais abrangente, propondo-lhes novos conceitos, conteúdos mais direcionados, desenvolvendo uma visão mais ampla do conhecimento. Nessa nova fase, ela iniciará o processo de alfabetização, que hoje é estendido entre os três primeiros anos do EF, independente da instituição, seja ela particular ou privada, municipal ou estadual (BRASIL, 2010, p.21). A criança que participou do processo de interação com a escola na EI, que não é um ensino obrigatório, pode ter vantagens sobre as outras que foram inseridas diretamente no EF, no que diz respeito à adaptação, pois passaram pelo processo de acolhimento por parte da escola e já terão a noção do que se trata e do que será proposto a ela, o adiantamento dessa fase pode favorecer resultados no início da alfabetização (BRASIL, 2010, p.23). A alfabetização dá espaço à construção mental da criança, devido à capacidade de melhor comunicação e maior interesse sobre todas as coisas. Nessa nova fase, o ensino privilegia a construção do conhecimento e dos conteúdos transversais, a melhor relação com o ambiente social, no convívio de crianças da mesma idade e nível intelectual. 16

Possibilitar à criança o acesso à leitura e escrita não é suficiente para que elas se alfabetizem, a alfabetização constitui-se num processo sistemático com aspectos textuais, funcionais e gráficos da linguagem escrita e sua representação (BRASIL, 2009a). Conforme o Plano Nacional de Educação 1 (PNE, Lei nº 10.172/2001, meta 2 para o Ensino Fundamental) é necessário oferecer maiores oportunidades de aprendizagem no período de escolarização obrigatória e assegurar que, ingressando mais cedo no sistema de ensino, as crianças prossigam nos estudos, alcançando maior nível de escolaridade (BRASIL, 2001, p.13). A Lei nº 11.274/06, que estabelece o ingresso com seis anos de idade no EF, tem como objetivo manter a criança por um tempo maior na escola, assegurar maiores oportunidades para aprender, possibilitando com isso um aprendizado mais amplo. A intenção da escola é formar cidadãos capazes de tomar decisões e posições a partir de análises feitas por elas próprias, possibilitar o domínio do próprio corpo e dos acontecimentos e ensinar valores a partir do cotidiano da sala de aula e do espaço escolar. No primeiro ciclo do Ensino Fundamental, do qual fazem parte os três primeiros anos, não basta garantir o acesso à leitura e à escrita, mas desenvolver na criança a capacidade de torná-la leitora e produtora de textos. Essa ampliação no sistema de ensino que introduz um ano no EF tem por finalidade possibilitar maior sucesso na alfabetização, pois esse ano foi inserido como o primeiro ano do EF, dando maior tempo à criança para inserir-se no processo de alfabetização. Os domínios da escrita e da leitura, além de instrumentos básicos para a vida, são condições necessárias para a continuidade na vida escolar, pois é através dessas modalidades fundamentais que se dá o sucesso na progressão escolar. Então, a elaboração de uma proposta pedagógica deve prever objetivos a serem alcançados, para cada ano escolar. A qualidade da escola, de acordo com a nova proposta pedagógica, não trata somente em passar informações aos alunos, mas depende também da qualidade do profissional. O grande desafio é o de utilizar e como utilizar temas transversais com essas crianças, de pouca idade, de forma educativa. O EF é a base para uma educação integrada a todos os aspectos do desenvolvimento da criança. 1 O PNE, então aprovado pela Lei nº 10.172/2001, teve vigência de dez anos. Há um projeto de lei que cria um novo Plano Nacional de Educação (PNE) para vigorar de 2011 a 2020, enviado pelo governo federal ao Congresso em 15 de dezembro de 2010 para apreciação. O novo PNE apresenta dez diretrizes objetivas e 20 metas, seguidas das estratégias específicas de concretização. 17

A partir da Lei nº 11.274/2006, que obriga a matrícula da criança de seis anos no EF de nove anos de duração, uma nova proposta pedagógica foi imposta, por não se tratar apenas da transferência dos conteúdos e atividades da antiga primeira série, mas sim conceber uma nova estrutura na organização dos conteúdos para o novo perfil de aluno. Por isso, acrescentou-se um ano no início do EF, abrangendo crianças de seis a quatorze anos e não crianças de sete a quatorze anos de idade, tal como era antes. Incluir crianças de seis anos no EF pode levar a uma escolarização mais construtiva e trazer benefícios ao aluno. Entretanto, o objetivo de uma maior aprendizagem não depende somente do aumento da permanência da criança na escola, mas sim de como esse tempo será usado. Na faixa etária ingressante no EF, a criança destaca-se pela imaginação e a curiosidade em aprender, através do brincar ela faz uso das múltiplas linguagens em desenvolvimento e aprende através das brincadeiras. Assim, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil fornecem elementos importantes para a revisão da proposta pedagógica do Ensino Fundamental, entre eles: As Propostas Pedagógicas (...) devem promover em suas práticas de educação e cuidados a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos linguísticos e sociais da criança, entendendo que ela é um ser total, completo e indivisível. Dessa forma, sentir, brincar, expressar-se, relacionar-se, mover-se, organizar-se, agir e responsabilizar-se são partes do todo de cada indivíduo (...). (BRASIL, 2004, p. 14). Portanto, é necessário assegurar à criança que a escola não é somente um espaço que a mantém em contato apenas com o conhecimento, mas também um espaço de aprendizagem e desenvolvimento como um todo, por meio de ações prazerosas e brincadeiras, mostrando assim que, além de deveres, tem direitos, fazendo com que se sinta bem no ambiente escolar. 18

2. O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NOS PRIMEIROS ANOS NA ESCOLA A idade escolar é uma fase de grande importância para o desenvolvimento da criança. Devido à entrada na escola, é nessa fase que a criança começa a estabelecer vínculos fora da família. A escola passa a exercer sobre ela uma influência social, cultural e afetiva, necessária ao seu desenvolvimento (FERREIRA; RIES, 2002, p.107). A escola passa a fazer parte do contínuo processo de desenvolvimento da criança, uma vez que passará grande parte desse processo longe de casa e do aconchego dos pais. Para algumas crianças, a escola pode ser o primeiro contato que ela terá com crianças de mesma idade e contato regular com outro adulto, além da família. Então, a escola passa a ter um importante papel nesse estágio do desenvolvimento da criança. Num primeiro momento, a escola passa a ter grande importância para o desenvolvimento social e ao mesmo tempo individual da criança. Social, por propor a ela o convívio com um grande número de pessoas a ela apresentada e que farão parte de seu dia a dia por um longo período, e individual por trabalhar a sua individualidade quando lhe proporciona fazer novas escolhas diante do que lhe é proposto, num espaço coletivo. Os pais constituem a base do comportamento da criança em casa e na escola os professores dão continuidade, daí, então, a importância de bons profissionais na área da educação, uma vez que a criança pode aprender, observando o comportamento dos adultos, influenciando-as tanto como os pais em casa. As crianças aprendem as habilidades sociais com outras pessoas, tomam como exemplo o adulto próximo a ela, com o qual ela mantém intenso contato e que fará parte de seu processo de desenvolvimento. À medida que as crianças aprendem com os adultos, descobrem também pela tentativa e pelo erro, descobrindo por si mesmas. 2.1 A teoria do desenvolvimento infantil de Vigotski Na perspectiva de Vigotski, Luria e Leontiev (1998, p.10), o desenvolvimento humano está profundamente relacionado ao contexto sócio-cultural em que se está inserido, ocorrendo de maneira dinâmica. Assim, a criança constrói seus pensamentos ao longo do tempo, num espaço que é histórico e social. 19

A teoria histórico-cultural de Vigotski (1998) assim é chamada por definir que o ser humano se constrói historicamente, a partir das relações sociais e com o meio. O desenvolvimento dá-se de fora para dentro. Entende-se por desenvolvimento o processo contínuo da evolução humana ao longo de toda a vida, evolução essa nos diversos aspectos: afetivo, cognitivo, social e motor. Vigotski (1998) enfatizava o processo histórico-cultural e o papel da linguagem no desenvolvimento do indivíduo, a aquisição de conhecimentos pelas suas interações. O autor buscava sempre caracterizar os aspectos tipicamente humanos do conhecimento e elaborar hipóteses de como as características humanas se formam ao longo da vida do indivíduo. Até mesmo as características individuais do sujeito provêm das relações sociais. A relação entre o desenvolvimento e aprendizagem dá-se pelo fato de o ser humano viver em meio social desde o seu nascimento. Conclui-se, então, que desenvolvimento e aprendizagem caminham juntos. Para Vigotski (1998), a interação do homem com o ambiente é mediada por instrumentos e signos. Os signos (linguagem, escrita, números) e os instrumentos são criados pela sociedade, de acordo com as necessidades da cultura e da época. A internalização desses signos leva ao desenvolvimento cultural, provocando transformações no comportamento do indivíduo. Assim, a sociedade e a cultura influenciam diretamente no desenvolvimento individual do ser humano (VIGOTSKI, 1998, p.10). Na escola, o processo de desenvolvimento deve levar sempre em conta o que a criança já assimilou com aprendizagens anteriores. O desenvolvimento infantil precede a idade escolar e a aquisição da fala, pois conhecimentos e aprendizagens fazem parte da rotina de todo indivíduo. A partir do primeiro ano de vida a criança já demonstra indícios de aprendizagens intelectuais (BUHLER, 1930 apud VIGOTSKI, 1998), portanto o uso de instrumentos não é o único aspecto que promove o desenvolvimento da criança. Nessa fase, do primeiro ano de vida, ela desenvolve também, organicamente, movimentos sistemáticos, a percepção, a cognição e a habilidade com as mãos. Ainda para Buhler (1930 apud VIGOTSKI, 1998), o desenvolvimento cognitivo corresponde à fase inicial de desenvolvimento, em que faz parte o raciocínio técnico procedendo à fala inteligente. Entende-se por raciocínio técnico o início da inteligência prática na criança, e por fala inteligente a formação de frases, conceitos, diferente das palavras repetidas sem fundamento pela criança (VIGOTSKI, 1998, p.28). Nos estudos feitos por Wolfgang Kohler (1925 apud VIGOTSKI, 1998), sobre a inteligência prática, este afirma que o raciocínio prático da criança assemelha-se com o 20

pensamento adulto, enfatizando também o papel dominante da experiência social no desenvolvimento humano. A experiência social leva a criança em formação ao processo de imitação, a criança imita o adulto na forma como lida com instrumentos, sugerindo que as ações repetidas acumulam-se, levando a assimilação em situações futuras, em que possam novamente ser realizadas, confirmando o processo de aprendizagem (VIGOTSKI, 1998, p.29). Essa assimilação e adaptação das ações, adquiridas pela repetição, estão ligadas a ação mecânica dos movimentos, podendo não ser considerada uma aprendizagem por alguns estudiosos da época de Vigotski (como Shapiro e Gerke). Para eles, a experiência social leva à aprendizagem motora e não intelectual, pois acreditam que as crianças até certa idade não são capazes de assimilar e processar a aprendizagem. Mas a fala contradiz essa teoria, pois a criança aprende a falar através da repetição das palavras; depois de organizadas as funções psicológicas, ela é capaz de comunicar-se através da fala (VIGOTSKI, 1998, p.30). A fala é desenvolvida na criança independente de todas as outras atividades práticas que utilizam signos mediadores. A inteligência prática e a fala são tratadas como fenômenos que ocorrem independentemente, pois tais processos dissociam-se e podem ocorrer simultaneamente. Então, (...) o momento de maior significado no curso do desenvolvimento intelectual, que dá origem às formas puramente humanas de inteligência prática e abstrata, acontece quando a fala e a atividade prática, então duas linhas completamente independentes de desenvolvimento, convergem. (VIGOTSKI, 1998, p.33). Na tentativa de controlar o comportamento a criança controla também o ambiente através da fala, produzindo novas relações com o meio. A fala pode surgir espontaneamente, assim como as ações. A fala da criança começa a se tornar intelectual geralmente aos dois anos de idade, como função simbólica, tornando o pensamento verbal, sempre mediado por significados fornecidos através da linguagem. Esse impulso é dado pela inserção da criança no meio cultural, diga-se na escola, com a interação de adultos mais capazes, da cultura que já dispõe da linguagem estruturada. Vigotski destaca a importância da cultura; para ele, a importância de um ambiente estruturado fornece ao indivíduo elementos com significados culturais. 21

A fala da criança é tão importante quanto à ação para atingir um objetivo. As crianças não ficam simplesmente falando o que elas estão fazendo; sua fala e ação fazem parte de uma mesma função psicológica complexa, dirigida para a solução do problema em questão. Quanto mais complexa a ação exigida pela situação e menos direta a solução, maior a importância que a fala adquire na operação como um todo. Às vezes a fala adquire uma importância tão vital que, se não for permitido seu uso, as crianças pequenas não são capazes de resolver a situação (VIGOTSKI, 1998, p.34). O uso de instrumentos associados à fala leva ao desenvolvimento da percepção, das sensações sensório-motoras e da atenção, afetando psicologicamente o comportamento da criança (VIGOTSKI, 1998, p.43). 2.2 Aprendizagem e desenvolvimento O aprendizado na criança precede a idade escolar. Porém, os dois tipos de aprendizado, o escolar e o não-escolar, são importantes, o primeiro por ser o primeiro contato e o segundo por ser voltado à assimilação de fundamentos do conhecimento científico. O primeiro nível de desenvolvimento diz respeito às funções mentais da criança, é o chamado por Vigotski de Nível de Desenvolvimento Real, é quando a criança apresenta a capacidade mental em desenvolver tarefas por si mesmas, utilizando de funções já amadurecidas, produtos finais do desenvolvimento (VIGOTSKI, 1998, p.112). O outro nível de desenvolvimento é chamado de Zona de Desenvolvimento Proximal, quando as crianças precisam de um mediador, uma pessoa que tenha mais idade ou mais experiência, para auxiliá-la naquilo que ainda está em processo de maturação (VIGOTSKI, 1998, p.113). A aprendizagem tem um papel fundamental para o desenvolvimento do saber, do conhecimento. Todo e qualquer processo de aprendizagem é ensino-aprendizagem. Vigotski explica esta conexão entre desenvolvimento e aprendizagem através da zona de desenvolvimento proximal (distância entre os níveis de desenvolvimento potencial e nível de desenvolvimento real), um espaço dinâmico entre os problemas que uma criança pode resolver sozinha (nível de desenvolvimento real) e os que deverá resolver com a ajuda de outro sujeito mais capaz no momento (nível de desenvolvimento potencial), para, em seguida, chegar a dominá-los por si mesma, evoluindo, assim, para um nível superior de conhecimento, de aprendizado e, consequentemente, de desenvolvimento, ou seja, aquilo que era potencial torna-se real. 22

O desenvolvimento natural da criança depende da aprendizagem que se dá por meio de internalizações de conceitos, à medida que a ela são propostos. Planejar a aprendizagem da criança no meio escolar, portanto, depende não só da proposta pedagógica da instituição, mas de como se desenvolve na prática da sala de aula. São as aprendizagens que ocorrem na zona de desenvolvimento proximal que fazem com que a criança se desenvolva. A função do educador é favorecer e mediar essa aprendizagem com o mundo, pois é através das relações com os outros indivíduos e com o meio que a criança constrói suas próprias condições para se desenvolver. Levando em consideração a assimilação da aprendizagem pelo processo de imitação, só é considerado por Vigotski desenvolvimento mental aquilo que a criança é capaz de realizar sozinha, a criança só consegue imitar as ações que fazem parte daquele nível de desenvolvimento. Então, através da imitação, as crianças também se desenvolvem intelectualmente. Apesar de possuírem cursos diferentes, em certo momento, por volta de dois anos de idade, pensamento e linguagem se cruzam e, consequentemente, o pensamento torna-se verbal e a fala torna-se racional; com isso, a capacidade de atribuir significados aos objetos, aos elementos que circundam o sujeito, acontece devido às suas experiências anteriores. Esse é um momento de grande importância no desenvolvimento do sujeito; o significado é a convergência do pensamento e da linguagem, e é também nesta convergência que surge a palavra (VIGOTSKI, 1998, p.115). Os significados das palavras estabelecem a mediação simbólica para o indivíduo com o mundo, é no significado da palavra que a fala e o pensamento se unem em pensamento verbal e a fala racional. Para Vigotski, o pensamento e a linguagem iniciam-se pela fala social, passando pela fala egocêntrica, atingindo a fala interior que é o pensamento reflexivo. Essa relação com o meio é a mediação, o elemento que proporciona o aprendizado. Para Vigotski (1998), é através dos instrumentos (capacidade de agir sobre a natureza transformando-a em benefício próprio) e dos signos (capacidade de atribuir significados) que acontece esta relação/interação do sujeito com o meio e a consequente internalização/apropriação da cultura. O professor, em sala de aula, tem de esforçar-se para desenvolver na criança o que está faltando em seu desenvolvimento. Através do aprendizado é que a criança vai desenvolver-se, assim o bom aprendizado é somente aquele que se adianta ao desenvolvimento (VIGOTSKI, 1998, p.116). 23

É em idade escolar que a criança vai organizar os pensamentos, como fala interior, ideias, tornando-as função mental. As interações da criança com o meio e com as pessoas desenvolvem a fala interior e o pensamento reflexivo, essas mesmas interações levam ao desenvolvimento do comportamento voluntário, vindo a confirmar o que realmente a criança assimilou como aprendizagem. Para Vigotski (1998, p.118), o aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas. A escola deve atentar-se ao fato de como os conhecimentos são propostos para as crianças, já que esse aprendizado é assimilado e internalizado pela criança, conhecimento esse que a constituirá. A criança desenvolve a linguagem na forma escrita na escola, na EI os primeiros sinais aparecem quando as letras adquirem suas formas e no EF dando inicio à alfabetização; pode haver indícios de alguma tentativa da introdução da escrita no período que antecede a fase escolar, mas a criança ainda não consegue assimilar a fala como linguagem escrita, sendo esse, geralmente, um papel da escola. Assim, a escola tem de ser para a criança um ambiente estimulante, valorizando sempre as invenções e descobertas, pois estas fazem parte do desenvolvimento, possibilitando à criança o conhecimento, de maneira que a mantenha sempre motivada a adquirir novos conhecimentos. O professor tem de ser um guia, capaz de estimular as crianças a fazerem suas próprias descobertas através de mediações, desenvolvendo, assim, a capacidade de pensar, criar e comunicar-se. Para Vigotski, fica claro a importância da linguagem (escrita e oral) no desenvolvimento da criança, que até certa idade faz-se totalmente dependente das mediações dos adultos à sua volta. É através da linguagem que a criança estabelece a comunicação, a interação e a relação com as pessoas e com o meio. 2.3 A importância do lúdico para o desenvolvimento da criança na escola As brincadeiras e o desenho também são atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e a autonomia da criança em desenvolvimento. Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo poder se comunicar por meio 24

de gestos, sons e mais tarde, representar determinado papel na brincadeira, faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras, as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da interação, da experimentação e da utilização de regras e papeis sociais. (LOPES, 2006, p.110). A introdução do lúdico na escola tem como proposta desenvolver uma alfabetização significativa, incorporando conhecimentos através das características do conhecimento de mundo, sem impor às crianças o conhecimento ou exigir-lhe a aprendizagem, pois assim ela assimilará o conhecimento de forma prazerosa, despertando a curiosidade e a vontade de aprender. O lúdico pode ser utilizado como uma forma de ensino, fazendo parte da proposta pedagógica as brincadeiras e jogos, uma vez que podem desenvolver diferentes atividades que contribuem para a ampliação do conhecimento e seus significados, garantindo a aprendizagem de forma prazerosa. 25

3. A NECESSIDADE DE UMA NOVA PROPOSTA PEDAGÓGICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS O Ministério da Educação (MEC), assim como todo órgão institucional, propõe metas, objetivos e prazos para as conclusões das mesmas. Com o objetivo de auxiliar a escola na execução da proposta pedagógica, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) têm como objetivo oferecer à criança pleno acesso aos recursos culturais, com o propósito de formar cidadãos participativos, reflexivos e autônomos, conhecedores de seus direitos e deveres. (BRASIL, 2006a). Os PCNs são referenciais para a renovação e elaboração da proposta pedagógica, que cada escola elabora de acordo com sua realidade cultural e social. A importância de seu conhecimento, para o professor, reflete-se em suas ações, em rever objetivos e conteúdos, formas de execução das atividades propostas, expectativas de aprendizagem, maneiras de avaliar e refletir sobre a prática pedagógica, preparar uma aula de acordo com a sala, discutir com a equipe a participação dos alunos, identificar, produzir e solicitar novos materiais para que signifiquem a aprendizagem. A base nacional comum que compõe os PCNs tem como objetivo propor a igualdade de oportunidade a todos, por ser um referencial básico de fácil aplicação e monitoramento. Porém, na elaboração da proposta pedagógica a instituição de ensino tem de levar em conta diferenças, diversidades e desigualdades culturais regionais, orientando o sistema de educação, no que se refere à organização e funcionamento das instituições de ensino. Fizeram parte da elaboração dos PCNs profissionais responsáveis pelo ensino de qualidade, que propõem bases e referenciais como ponto de partida para a prática, tendo como profissionais envolvidos secretários, conselheiros, técnicos, especialistas e professores. 3.1 Parâmetro Nacional de Qualidade para a Educação Infantil A Lei nº 11.114, de 16 de maio de 2005, altera artigos da Lei 9.394/1996, com o objetivo de tornar obrigatório o início do Ensino Fundamental aos seis anos de idade, de forma que as crianças com idades entre 0 e 6 anos incluem-se na Educação Infantil. A qualidade do ensino na Educação Infantil está diretamente ligada à formação mínima exigida dos professores, que pode diferenciar-se de acordo com a região, uma vez que 26

o município ou o estado possa ser responsável por oferecer a educação para crianças entre 0 e 6 anos de idade. Assumindo sua parcela de responsabilidade na condução dos processos educacionais, cada entidade integrante do poder público em cada uma das esferas administrativas desenvolve as competências específicas necessárias e realiza uma série de ações. Sendo obrigações legais, caracterizam-se como parâmetros a serem usados como referencia na avaliação da qualidade da atuação dos respectivos órgãos pertencentes aos sistemas de ensino. (BRASIL, 2006b, p.13). De acordo com o Parâmetro Nacional de Qualidade para a Educação Infantil (BRASIL, 2006a), esta deve contribuir para o desenvolvimento integral da criança, em seus aspectos físico, intelectual, psicológico e social, complementando a ação da família e da comunidade. A mesma é facultativa, sendo, então, a matrícula no sistema de ensino infantil não obrigatória. A criança é um ser social e histórico que está instituído na sociedade e faz parte da história, da história da escola e da cultura presente. Então, toda e qualquer experiência anterior da criança deve ser levada em conta para seu desenvolvimento. Conforme o Parecer CNE/CEB nº 22/98, de 17 de dezembro de 1998, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil definem para todos os sistemas estaduais e/ou municipais de educação: - 1 professor para 6 a 8 bebês de 0 a 2 anos; - 1 professor para cada 15 crianças de 3 anos; - 1 professor para cada 20 crianças de 4 a 6 anos. O Parecer é, também, claro quanto à nomenclatura que engloba a Educação Infantil, que pode ser oferecida em creches, pré-escola, classes e centros de educação infantil. (BRASIL, 2006a). Os profissionais que trabalham na Educação Infantil devem valorizar igualmente as atividades básicas e pedagógicas. Fazem parte das atividades básicas da criança a alimentação, higiene e o descanso. As atividades pedagógicas seriam, então, aquelas que desenvolvem e estimulam a aprendizagem: jogos coletivos, desenho, música, brincadeiras, leitura de historias entre outras contidas na proposta pedagógica. 27