A comunicação curta é a + forte



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Transcrição:

Redes sociais A comunicação curta é a + forte Especialistas começam a duvidar do peso da internet, dos SMS e das redes sociais nas dificuldades de escrita dos adolescentes Adriana Natali 2 Começa a ser posta em dúvida a ideia generalizada de que o uso prolongado de tecnologias da comunicação necessariamente corrói anos de esforço de alfabetização. Estudo realizado este ano pela British Academy e pela Universidade de Coventry, na Inglaterra, mostrou que crianças e jovens que recorrem regularmente à linguagem abreviada em SMS (Short Message Service, serviço de mensagem curta) têm maior capacidade de soletrar e melhores resultados em testes de fluência verbal. Para chegar à conclusão, os pesquisadores analisaram um grupo de 63 crianças, entre 8 e 12 anos. E verificaram que há relação positiva entre o uso de SMS e a alfabetização, porque a leitura de abreviaturas típicas da linguagem cifrada da internet ("kbça" em vez de "cabeça", etc.) requer alta consciência da combinação de sons. Segundo outro estudo, no entanto, a coisa pode não ser bem assim. Divulgada em agosto, uma pesquisa da agência americana New Media & Society garante que o uso de mensagens de texto altera a

capacidade de estudantes identificarem e usarem a gramática tradicional. Os pesquisadores sondaram hábitos, relacionados a mensagens de texto, da 6ª à 8ª série da Pensilvânia. Constataram que os alunos passaram a ver suas adaptações de texto para a internet como padrão para qualquer comunicação escrita. Para o consultor de marketing digital Denis Zanini é um equívoco atribuir aos celulares e às redes sociais a responsabilidade pela proficiência da escrita das crianças, já que eles são apenas os canais por onde a mensagem é encaminhada. A escrita depende da educação escolar, da feita em casa e em ambientes de convívio social. - Se ela não receber as orientações gramaticais adequadas, apresentará deficiências de escrita e leitura em qualquer tipo de texto, seja carta, artigo escolar, discurso, e-mail ou torpedo. Mídias sociais e celulares, por serem plataformas mais ágeis e imediatas, pedem escrita sucinta, condescendente com abreviações. Com boa educação, as crianças terão discernimento e habilidade para usarem a escrita adequada a cada tipo de ocasião - avalia. Convergências As professoras Dieli Vesaro Palma e Alexandra Geraldini acreditam que novos usos de tecnologias, como o de celulares para digitar e enviar escritos e não só para teclar chamadas, estimulam o desenvolvimento de novas habilidades. Doutoras em linguística aplicada e estudos da linguagem, Dieli atua no programa de estudos pós-graduados em língua portuguesa e Alessandra, do curso de letras, ambos da PUC-SP. Por e-mail, explicam que o celular e computador requerem novas competências técnicas (o manuseio do teclado, da tela e do mouse, por exemplo) e comunicativas. - Isso significa que os usuários ampliam seus conhecimentos e competências, partindo das conhecidas rumo às novas. Escrever uma mensagem de texto para celular é diferente de redigir um post a ser publicado no Facebook e redigir um e-mail a um amigo que, por sua vez, terá características diferentes de um e-mail a ser enviado a um superior hierárquico. São formas diferentes de uso da língua, não melhores nem piores, porque são novos usos linguísticos decorrentes da influência da tecnologia. Divergências Para o professor Mauro Dunder, mestre em letras pela Universidade de São Paulo (USP), a pesquisa britânica não leva em conta avanços na alfabetização e letramento em produzir usuários mais competentes do idioma. Por sua vez, a pesquisa norte-americana parte do pressuposto de que a escrita formal, gramatical, é o padrão para qualquer uso de linguagem, além de desprezar o fato de que a gramática não precede o uso. - Se um usuário do idioma que tenha vivido no século 19 pudesse ter acesso ao modo como liam e

escreviam os norte-americanos de meados do século 20 talvez fizesse a mesma constatação, a de que os mais recentes destruíram a língua que lhes fora deixada como herança - compara. Ele diz que as redes sociais têm uso próprio da língua, criam códigos e, por definição, um usuário que transite entre diferentes normas linguísticas saberá que não se digita um SMS da mesma forma como se escrevem parágrafos jornalísticos, por exemplo. - O problema está na adoção das diferentes formas em contextos aos quais não se aplicariam. Sou professor de uma escola de ensino médio e observo, in loco, alunos transferindo hábitos digitais para o texto manuscrito. Mas não creio que o número de alunos que faz isso tenha aumentado tão vertiginosamente assim - diz. Versatilidade A internet e os dispositivos computacionais móveis, em especial os smartphones, apenas potencializariam o nível de aprendizado. Uma criança de 4 anos consegue internalizar os princípios do funcionamento gramatical. Com o tempo e a escolarização, tende a adquirir detalhes e a absorver as irregularidades comuns do idioma. - Para abreviar uma palavra ou expressão cristalizada pelo uso, precisamos ter clara noção de que modo ela é grafada por inteiro. Como as mensagens que trocamos com as pessoas do nosso convívio devem ser emitidas com rapidez e velocidade, adotamos abreviações de palavras e reduções de frases, sabendo que o contexto em que são enviadas e recebidas e a intimidade entre os interlocutores são de fundamental importância no momento da interpretação, já que portadoras das intenções comunicativas dos usuários - pondera Antonio Carlos Xavier, professor de linguística da Universidade Federal de Pernambuco. Para Ricardo Fotios, professor de jornalismo da Universidade Metodista (SP), é razoável imaginar que o tipo de escrita e leitura em celulares e redes sociais deixará marcas na maneira como as pessoas se comunicam. - Antes das novidades tecnológicas atuais, o e-mail já interferiu positivamente no modo como escrevemos. Jovens preferem escrever uma mensagem, no computador ou celular, a falar ao telefone. É uma valorização inédita do texto, em detrimento de formatos bem mais atraentes pelas facilidades e pelos recursos - diz. O papel da escola é lembrar que em certos momentos devemos nos expressar de forma mais livre e, em outros, de modo mais organizado. É importante que a escola reconheça as múltiplas formas de escrever e parta do ponto em que os alunos estão no aprendizado para ajudá-los a valorizar, quando necessário, textos com diferentes níveis formais, mais complexos e estruturados.

- As redes sociais e celulares são usados para comunicação ao vivo, não está em cogitação a melhoria da escrita. O texto neles é funcional: as pessoas escrevem como uma das formas de manter o vínculo afetivo, aumentar suas redes de relacionamento, mostrar-se, fazer divulgação e promoção. A prática constante da escrita desenvolve habilidades de comunicação, de síntese, de agilidade na expressão. Como é informal, pode comprometer, se não há cuidado na escola, a organização mais estruturada, profunda de ideias e a norma culta - avalia José Manuel Moran, especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância pela USP. Adequação Luiz Antonio da Silva, professor de sociolinguística da USP, considera que há preocupação exagerada com os efeitos do avanço tecnológico na linguagem. - Não devemos nos preocupar com a evolução tecnológica, se vai prejudicar ou não o aprendizado. Ela faz parte de nosso tempo, não há como evitá-la, ela nos ajuda e facilita o dia a dia. Permitir que crianças e adolescentes deixem de praticar a escrita e a leitura pode levar à piora na leitura e escrita, porém a inovação tecnológica não leva à piora dessas práticas - completa. Flexibilidade Para Liney de Mello Gonçalves, da Faculdade de Letras da PUC Campinas, o falante ideal é aquele que consegue usar todos os registros de língua oral e escrita, do mais coloquial, uma mensagem instantânea ou uma conversa familiar, ao mais formal, uma leitura de um texto didático-científico, uma redação de vestibular ou uma conversa com uma autoridade numa solenidade. Algumas formas, diz Liney, são aprendidas com a mãe, outras na escola, com o professor, que não pode conformar-se com o fato de o aluno ter um único registro, aquele que traz de casa, que pode impedir sua ascensão socio-econômicoprofissional. - Não tenho nada contra a língua usada pelos usuários da internet. Mas ela virá a transformar as regras gramaticais. A mudança linguística é inevitável, mas muito demorada na língua escrita, já que qualquer alteração implica ampla divulgação, mudança de hábitos, cursos de reciclagem e treinamento de professores, alunos e profissionais que trabalham com esse registro - completa Liney. Para ela, a solução é de realização improvável. - Os professores de todos os níveis teriam de aprender, novamente, a gramática descartada do ensino por teorias pedagógicas, utilizada no código da língua escrita, para ensiná-la aos seus alunos; depois, exigir que eles a empreguem, para que possam reconhecê-la ao ler um texto. Sem regras que todos conheçam, é impossível formar um código que lhes permita ler, entender e produzir textos de vários gêneros. Se os alunos se comunicarem apenas por língua oral, que é aquela escrita nas mensagens instantâneas, apenas poderão interpretar e entender textos nesse registro - diz.

Polarização Já na opinião de Denis Zanini, o problema é deixar que a criança exercite a escrita só por meio de smartphones, tablets e aparelhos de "escrita curta". Ela tem de ser estimulada a escrever textos elaborados, em que poderá desenvolver sua linha de raciocínio e exercitar sua capacidade de questionamento. - Fora da escola, os professores e pais podem sugerir que a criança crie um blog, como uma espécie de diário. Ou até uma fanpage. Veja o caso da menina que criou uma fanpage para retratar o dia a dia da sua escola e conseguiu trazer melhorias para todos. É mais ou menos por aí. E sim, estimular sempre a criança a ler, sejam jornais, revistas, livros - conclui. A onipresença das novas tecnologias provoca debates polarizados. - Há diversas pesquisas com enfoques diferenciados em todas as áreas do conhecimento, tentando entender a complexidade desse fenômeno. Por ser uma questão recente em nossa cultura, os resultados ainda não são conclusivos e nem permitem generalizações, demonstrando a necessidade e a urgência de continuarmos pesquisando a esse respeito para entender melhor como tais processos ocorrem. Nem sempre as práticas de pesquisa possuem implicações diretas e imediatas em termos didáticos e metodológicos no processo de ensino-aprendizagem e na formação, o que requer um tempo para elaboração das sínteses e suas aplicações, seja na escola, seja na educação informal que envolve a família e a sociedade - afirma a professora de metodologia de ensino Monica Fantin, da Universidade Federal de Santa Catarina. Qualidade O Twitter alcançou, em junho, a marca de meio bilhão de contas criadas, segundo a Semiocast, empresa com sede em Paris, que realiza pesquisa sobre mídias sociais. Os Estados Unidos representam o maior número de novas contas desde o começo do ano - mais de 140 milhões. Já o Brasil foi o país que mais cresceu, com 41,2 milhões de usuários - contra os 33,3 milhões registrados em janeiro. No ranking de postagens de tweets, São Paulo ficou em 4º lugar, perdendo apenas para Tóquio e Londres. A pesquisa foi realizada com base em uma amostra de pouco mais de 1 milhão de tweets públicos registrados no mês de junho. Para a professora Monica Fantin, mais importante que ser o país com "mais internautas do mundo" é discutir a qualidade de participação de tais internautas nas redes e como essas e outras formas de participação se transformam em experiências de cidadania e inclusão social, econômica, política e cultural. - Num primeiro momento, há que se perguntar de que crianças estamos falando, visto que no Brasil ainda há grande parcela de crianças e jovens excluídas do acesso qualificado à tecnologia digital. Em segundo lugar, precisamos saber o que as crianças realmente fazem com o celular e quando estão nas

redes sociais. São questões importantes para avaliar o papel da mediação crítica do adulto diante de usos, consumos e práticas culturais e midiáticas - explica. Desafio José Manuel Moran acredita que o Brasil aprendeu a ser ativo na internet. Os jovens escrevem, falam, interagem continuamente e, em casa, fazem múltiplas tarefas: estudam, ouvem música, veem TV, navegam. - Por isso, é importante que pais e professores ajudem os jovens a valorizar o que há de positivo nessa efervescência e a perceber o que há de exagero, de perda de tempo, de dependência. É importante equilibrar a quantidade com a qualidade das interações - afirma. Segundo o Comitê Gestor da Internet no Brasil, crianças e jovens entre 10 e 24 anos são muito mais habilidosos no uso de computador e internet do que os de outras faixas etárias. O brasileiro vê nas redes sociais um forte elemento de socialização, sendo o maior usuário da rede em tempo de conexão. Seu perfil de uso da internet também mudou nos centros de acesso pago: aumentou o uso brasileiro das redes sociais e há queda no de jogos. Tal contexto sugere um potencial das redes sociais a ser explorado pelo contexto educacional. - Para tanto, é necessária a presença de políticas públicas de inclusão digital, que compreendam desde a garantia de acesso (material, físico) até a formação de professores. É preciso expor os jovens, de forma orientada, aos diferentes usos, em diferentes contextos, levando-os a se conscientizar da adequação da linguagem - explicam Dieli e Alessandra, da PUC-SP. Estudo Nancy dos Santos Casagrande, coordenadora de letras da PUC-SP, vê a internet como um grande instrumento de estudo, cujo impacto ainda deve ser dimensionado. - Não acho que o celular ou a internet sejam responsáveis diretos pela "ignorância" nacional na escrita. Se grande parte das crianças tem acesso a esses recursos é porque de alguma forma tem condições econômicas para isso. Mudanças na escrita não acontecem de repente, se houver algum "prejuízo" nesse processo, só poderá ser avaliado daqui a alguns anos; a língua é viva e suas mudanças acontecem por meio do uso constante de uma forma em detrimento de outra. Não creio que haverá, a curto prazo, um grande impacto na escrita da língua portuguesa no Brasil - acredita. Luiz Antonio da Silva, professor de sociolinguística da USP, afirma que todas as inovações tecnológicas trazem benefícios e alguns prejuízos. - Hoje é muito fácil comprar um carro e, com isso, deixamos de andar a pé, por isso é preciso buscar uma academia para suprir tal necessidade. É mais interessante gastar tempo ao computador do que ler

um livro ou praticar alguma atividade física. É o preço que pagamos, mas nada que o bom-senso não possa resolver. O problema está no fato de que o ensino não acompanha e não se beneficia, pelo menos como poderia, dessas inovações - avalia.