Processos de Singularização e Experimentações na Produção de Videopoesia no Contexto Educacional



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Transcrição:

Processos de Singularização e Experimentações na Produção de Videopoesia no Contexto Educacional ROSO, Adriane 1 Universidade Federal de Santa Maria - UFSM ROMANINI, Moises 2 Universidade Federal de Santa Maria - UFSM RESUMO Apresentar o resultado de uma proposta de ensino que envolve o uso do recurso de produção de vídeopoemas. O uso dos recursos didáticos visou desenvolver o interesse dos discentes sobre a temática da disciplina, bem como capacitar os discentes a ampliar abordagens alternativas no campo da expressão pessoal e da psicologia social. Diversos recursos foram preparatórios para a produção final de vídeopoesias: aula expositivodialogada preparadas pela professora e por discentes; análise de vídeos produzidos por alunos externos à instituição; análise de documentários; leitura de hipertextos; desenho não-visual; discussão sobre de vídeos produzidos por professores externos à instituição; análise de caso clínico; e análise de propagandas na mídia. Os vídeospoesias criados pelos discentes sintetizaram o conteúdo da disciplina, cujo foco teórico é a esquizoanálise, mas não se resumiram como conteudistas. O envolvimento dos alunos na produção dos vídeos foi significativo. Treze alunos e mais a professora participaram da produção, gerando um total de cinco vídeos. A avaliação da disciplina foi extremamente positiva e os vídeopoesias já foram apresentados em um dos eventos dirigidos à categoria profissional psicólogos. Palavras-Chave: Psicologia Social; Educação; Videopoesia A comunicação é uma atividade vital ao ser humano, a qual tem se modificado ao longo dos anos. Se na pré-história os humanos se comunicavam basicamente por sinais, na pós-modernidade, a comunicação é atravessada por algo antes impensável: as novas 1 Professora Adjunta do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria UFSM. Líder do Grupo de Pesquisa Saúde, Minorias Sociais e Comunicação. 2 Psicólogo, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Bolsista CAPES. E-mail: moisesromanini@yahoo.com.br 79

tecnologias de informação e comunicação. Cada vez mais, as relações humanas são influenciadas e modificadas por aparatos tecnológicos e midiáticos: telefonia móvel, computadores, ipod, etc. Há quase um senso de conformidade quanto a isso, como se não pudéssemos resistir ao poder das grandes mídias. No entanto, os receptores não são de forma alguma passivos claro que há um movimento intenso por parte dos grandes agentes midiáticos para que isso aconteça a recepção é sempre uma atividade. Como salienta Thompson (1998) No processo de recepção, os indivíduos usam as formas simbólicas para suas próprias finalidades (...). Mesmo que os indivíduos tenham pequeno ou quase nenhum controle sobre os conteúdos das matérias simbólicas que lhe são oferecidas, eles os podem usar, trabalhar e reelaborar de maneira totalmente alheias às intenções ou aos objetivos dos receptores (THOMPSON, 1998, p.42) À psicologia, o estudo da produção e recepção das formas simbólicas (mensagens, imagens, etc.) é de grande importância, em especial à psicologia social. O psicólogo social Serge Moscovici (1972) vai nos dizer que um dos objetos central e exclusivo da psicologia social deve ser o estudo de tudo aquilo que é pertinente à comunicação do ponto de vista da sua estrutura, da sua gênese e da sua função. (...) (p.55). No presente relato, nos interessa pensar na possibilidade de, ou na tentativa de, andar no contra-fluxo das produções objetificantes. Neste contra-fluxo encontra-se a poesia um modo peculiar e criativo de comunicação. Nosso olhar se dirige à produção alternativa de formas simbólicas midiatizadas a videopoesia. A videopoesia - também denominada, videpoema, cyberpoesia, poesia artificial, poesia digital, tecnopoesia, poesia eletrônica ou clipe poemas - entra em cena justamente como um recurso novo nas relações humanas, nos processos comunicacionais e na Educação, salientando-se que a videopoesia não é empreendimento novo. Melo e Castro, por exemplo, criou uma videopoesia em 1969 - Roda Lume (veja FERREIRA, 2004). Todavia, com a crescente facilidade de acesso à internet, cada vez mais torna-se viável que as pessoas comuns (não-poetas oficilizados) encontrem no espaço cyber novas possibilidades de expressão. Como salienta Lima 80

Como toda produção veiculada pela internet, os videopoemas não são produzidos, necessariamente, por poetas sofisticados e intelectuais. A internet, não se pode esquecer, é o lugar do cidadão comum, mediano. Assim, os videopoemas, além de possuírem características técnicas diferentes, também abrangem desde a arte abstrata até a expressão singela e ingênua com palavras, sons e imagens das pessoas comuns (teoricamente não-poetas). O vídeopoema possui muito da ludicidade do poema tradicional com as palavras e do movimento icônico do videoclip musical. (LIMA, 2004, p.6) Não é nosso intuito empreender uma análise de videopoesias 3 neste relato de experiência. Queremos aqui desenhar novas possibilidades de enriquecimento não somente do processo de ensino mas do complexo comunicacional humano, de modo a estimular a produção de singularidades. Por singularização entendemos os processos disruptores no campo da produção do desejo: movimentos de protesto do inconsciente contra a subjetividade capitalística, através da afirmação de outras maneiras de ser, outras sensibilidades, outra percepção etc. Pode ser pensado como uma relação de expressão e de criação, na qual o indivíduo se reapropria dos componentes da subjetividade (GUATTARI e ROLNIK, 2005, p.42). Usar a elaboração de videopoesia em sala de aula rompe com o trabalho individualindividualizante, pois facilita, como diz Ferreira (2004), a ruptura com antigos pressupostos, onde o trabalho coletivo ganha maior destaque e o conceito de autoria se modifica devido ao fato de que na arte interativa, o texto passa a ser obra em devir. Portanto, as questões envolvendo as novas tecnologias indicam um movimento ascendente da poesia rumo à interatividade (FERREIRA, 2004, p. 42). Videopoemas são objetos híbridos que aglutinam som, imagem e palavras e podem ser veiculadas em suportes como vídeo-cassete, DVD ou computador, desse modo conseguem inserir na tela o objeto poético. (MACHADO, 2007). Eles são exemplos de que tecnologia e arte podem caminhar juntas numa troca de recursos cada vez mais visível e dinâmica. Trabalhar com a tecnologia para além da questão do utilitário ou do previsto, conseguir com a máquina resultados para os quais ela não está, a priori, programada (FERREIRA, 2004, p.43) 3 Para tal, consulte Ferreira (2004) e Santos & Justino (2009). 81

Trabalhar com este objetivo é partir do pressuposto que a prática pedagógica não deve se apoiar em uma educação bancária (no sentido Freiriano); muito pelo contrário, ela deve ser expressão da luta dos seres humanos em busca de sua humanização e liberdade e da luta cotidiana pela tomada de consciência de sua condição, numa realidade concreta, socialmente construída, e que necessita ser superada (ROZENDO, CASAGRANDE, SCHNEIDER & PARDINI, 1999). Defendemos que um dos caminhos para a tomada de consciência pode ser através das novas possibilidades de criação. Cientes de que a realidade virtual não é uma réplica da realidade material, mas uma possibilidade de problematizarmos e repensarmos todas as nossas relações com o reino do simbólico e com aqueles tradicionais conceitos binários como mente/corpo, sujeito/objeto, material/imaterial (LIMA, 2004, p.4), o uso do termo videopoesia para nós será utilizado como sinônimo de poiesis, de criação no sentido lato mas também extensivo, como proposto por Adolfo Montejo Navas,. O termo aplica-se melhor a toda invenção de linguagem (de construção de formas) e de leitura das coisas (a cosmovisão de mundo, do real), além de ser mais abrangente e aplicável ao universo plural de registros e suportes da arte e da poesia. Ele se orienta mais para a poesia no sentido de leitura não alienada das coisas, para outra linguagem fora do reificado, do recalcado (NAVAS, 2008). De fato, como assinala Lima, fazer poesia pode significar muito mais do que escrever poemas em folhas de papel, já que o videopoeta recriará seu texto com os recursos digitais do computador e será seu próprio editor e distribuidor, agregando ao seu trabalho elementos do espetáculo, do show, da performance, isto é, elementos da corporeidade (LIMA, 2004). No presente texto relatamos o resultado de uma proposta de ensino que envolve o uso do recurso de produção de vídeopoesia na disciplina PSI -141 Subjetividade e Clínica, pertencente à grade curricular do curso de graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria -UFSM. O uso dos recursos didáticos visou concretamente desenvolver o interesse dos discentes sobre a temática da disciplina, bem como capacitar os discentes a ampliar abordagens alternativas em psicologia. Todavia, a meta subjacente à atividade foi como salientamos anteriormente, estimular a produção de singularidades. 82

A disciplina é cursada por alunos do oitavo semestre e, de modo geral, nela são ministrados conteúdos que não são desenvolvidos nos semestres anteriores. O conteúdo programático da disciplina versa sobre conhecimento psicológico, modernidade, pósmodernidade e globalização; a clínica e o social; a noção de sujeito e a subjetividade; a crise do paradigma científico dominante; novas perspectivas teóricas em psicologia. O foco teórico da disciplina é a Esquizoanálise. A esquizoanálise é uma concepção da realidade em todas suas superfícies, processos e entes, e também nas suas individuações inventivas como acontecimentos-devires. Para esta concepção, a produção e o desejo revolucionários são imanentes entre si e produtores de toda a realidade. Consiste em uma ampla leitura da realidade, tanto natural, quanto social, subjetiva e industrial-tecnológica, assim como de uma realidade "outra", pluripotencial e imperceptível. Essa abordagem propõe uma série de dispositivos e de procedimentos para a transformação do mundo e trabalha com todas as agrupações e práticas humanas inventivas e mutativas. (FUNDAÇÃO GREGORIO BAREMBLITT - INSTITUTO FELIX GUATTARI, 2010). Os alunos demonstram resistência em aprender sobre essa nova perspectiva em psicologia, pois, segundo informações colhidas dos alunos, a Esquizoanálise é difícil de ser entendida e os professores não apresentam a perspectiva. Ciente disso, pensamos que a disciplina podiria, frente às resistências já antecipadas, também servir como uma linha de fuga. O Processo de Produção de Videopoemas Diversos recursos foram preparatórios para a produção de vídeopoesias: aula expositivo-dialogada preparadas pela professora e por discentes; análise de vídeos produzidos por alunos externos à instituição; análise de documentários; leitura de hipertextos; produção de desenhos; discussão sobre vídeos produzidos por pessoal externos à instituição; análise de caso clínico; e análise de propagandas na mídia. Nenhum dos discentes havia produzido videopoesia anteriormente. Foi, sem dúvida, uma atividade desafiadora para todos, inclusive para a docente. Considerando que assistir a um vídeo-poema é uma forma de aprendizado mais eficiente do que ler uma exposição teórica e uma descrição detalhada sobre o mesmo (LIMA, 2004, p.10), além 83

dos movimentos preparatórios supracitados, foram selecionados aleatoriamente alguns videopoesias que circulavam online, como por exemplo The Arch (http://cidca47fac15ba71354.office.live.com/self.aspx/v%c3%addeos/the%20arch.wmv) e Clarice Lispector (http://cidca47fac15ba71354.office.live.com/self.aspx/v%c3%addeos/v%c3%ad%c2%addeopoe ma%20clarice%20lispector.wmv ). A produção da videopoesia foi feita em grupos, com a orientação da professora. Os vídeospoesia foram produzidos utilizando o Windows Movie Maker como operador. Aos discentes foi dada a liberdade de produzirem o que e como desejassem; não foi imposto nenhum limite à criação, pois acreditávamos que esse seria o modo mais genuíno de propiciar a produção de singularidade, em um contexto que é permeado pelo poder disciplinar. Os alunos assinaram um termo de autorização do uso de imagens que versa sobre utilização dos vídeos produzidos com o desígnio de pesquisa e ensino, sem fins lucrativos. Deste modo, os vídeos foram publicados online de modo que eles sirvam como produções midiáticas alternativas. Inventando Novos Modos de Ser Discente Os vídeospoesias criados pelos discentes sintetizaram o conteúdo da disciplina. O envolvimento dos alunos na produção dos vídeos foi significativo. Treze alunos e mais a professora participaram da produção dos vídeos, gerando um total decinco vídeos, que foram intitulados: (a) Psicopoiese - Vidas em Construção (b) Era uma vez, (c) SingulariZAR, (d) Cotidiano Frenético e (e) Sem Título. Os alunos que livremente não participaram dessa atividade, produziram artigos teóricos e práticos sustentados nas temáticas da disciplina. A criatividade foi um elemento marcante nos videopoemas. Embora o conteúdo da disciplina fosse o mesmo para todos os alunos, cada vídeo foi único. Como lembra Deleuze (2004) a criatividade, assim como outras características próprias do trabalho imaterial, inscreve-se no próprio sistema capitalista, mas também podem representar possibilidades de singularização, o que pode ficar compreensível na visualização dos videopoemas disponíveis em https://cid- 84

ca47fac15ba71354.office.live.com/browse.aspx/subjetividade%20e%20cl%c3%adnica?move=ca47fac15ba71354!454&sid=ca47fac15ba71354!354&iscopy=0 A avaliação da disciplina foi extremamente positiva e os vídeopoesias já foram apresentados em um dos eventos dirigidos à categoria profissional psicólogos. A idéia é que essas vídeopoesias possam circular no meio acadêmico e extra-acadêmico, estimulando estratégias de ensino-aprendizagem alternativas, que acompanhem os interesses e habilidades pós-modernos dos discentes que vivem os adventos midiáticos. Os vídeos foram apresentados no Sarau Cultural realizado em comemoração ao Dia do psicólogo, quando mais de cinqüenta pessoas puderam assistir uma produção diferenciada em psicologia. Também os videopoemas produzidos foram usados ao longo do semestre em outra disciplina do curso, servindo como estímulo para o pensar e para a produção de novos videopoemas. Ao assistirem os vídeos dos colegas, a turma (com exceção de 3 alunas) optaram por também realizar uma construção singular. É preciso ser dito que com a reforma curricular do curso de Psicologia, que entrou em vigor em março deste ano, essa disciplina deixou de existir. Esta era uma disciplina que, em seu conteúdo programático, abria um espaço (formal) para esse tipo de discussão. O formal espraiamento de expressões criativas através de uma disciplina acadêmica foi, por ora, coarctado. Conclui-se que educar na pós-modernidade significa que o educador poderá continuar a ser um grande protagonista na criação de novas possibilidades de se viver, de se pensar, de desejar ter prazer enquanto um ser integral e não dicotômico, mesmo que as etiquetas institucionais continuem sendo aplicadas sob o seu fazer. Pelo lado do educando, ao produzir e apresentar aos colegas e ao público seu videopoema, ele está (re)contando a sua experiência discente de um modo singular, com recursos audiovisuais que capturam o receptor de uma maneira também singular. No momento do encontro com o Outro, os vídeopoemas possibilitam uma releitura da experiência do Outro e de (re)invenção de mundos. Com certeza, é preciso retomar, para finalizar por ora, que corremos o risco de uma adesão alienada à realidade virtual, esquecendo-se dos jogos de poder e dos processos inescrupulosos na manipulação dessas novas linguagens e tecnologias (LIMA, 2004). Devemos estar atentos para que o uso de videopoemas não seja usado para manipular, 85

mas, sim, como mais um recurso para estimular os processos de singularização, que não se resumem à produção de mídias, já que são complexos e multifacetados. Ao postar os videopoemas produzidos pelos discentes fazemos uma aposta na afirmação de Guareschi (2001), que Uma nova comunicação é possível. Se não temos espaço para postar e escrever aquilo que pensamos ser justo e ético nas grandes mídias de massa, por que não reverberar no cyberspace nossas concepções de mundo via videopoesia? REFERÊNCIAS DELEUZE, Gillies. Conversações: 1972-1990. São Paulo: Ed. 34, 2004ª FERREIRA,Ana Paula. Videopoesia: uma poética da intersemiose. Em Tese, v. 8, p. 37-45, dez., 2004. FUNDAÇÃO GREGORIO BAREMBLITT - INSTITUTO FELIX GUATTARI. Glossário. Esquizoanálise. Belo Horizonte, 2010. Disponível em http://www.fgbbh.org.br/glossario.htm GUARESCHI, Pedrinho A. (Org.). Uma nova comunicação é possível. Mídia, ética e política. Porto Alegre: Evangraf, 2002. GUATTARI, Félix e ROLNIK, Suely. Micropolítica : cartografias do desejo. 7.ed. revis. Petrópolis: Vozes, 2005. LIMA, Luciano Rodrigues. O vídeo-poema como performance: Movimento e corporeidade virtual da palavra. Tabuleiro das Letras, n.1., 2004. Disponível em http://www.tabuleirodeletras.uneb.br/secun/numero_01/pdf/artigo_vol01_04.pdf MACHADO, Arlindo. Arte e mídia. (Coleção Arte Mais). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007. MOSCOVICI, S. Society and theory in social psychology. In: J. ISRAEL & H. TAJFEL (orgs.), The context of social psychology. London, Academic Press,1972. p. 17-68. 86

NAVAS, Adolfo Montejo (2007). Para uma razão da poiesis. In ANDRE_VALLIAS, FRIEDRICH_W_BLOCK, Navas, Adolfo_MONTEJO (Orgs.). POIESIS : POEMA ENTRE PIXEL E PROGRAMA : exposição internacional de poesia, pp.17-24. Rio de Janeiro : Instituto Tele. Disponível em http://www.p0es1s.net/poiesis.pdf Acesso em: 15 março de 2010. ROZENDO, C.A.; CASAGRANDE, L.D.R.; SCHNEIDER, J.F.; PARDINI, J.C. Uma análise das práticas docentes de professores universitários da área de saúde. Rev.latinoam.enfermagem, Ribeirão Preto, v. 7, n. 2, p. 15-23, abril 1999. SANTOS, Andreia da Silva & JUSTINO, Luciano B. Nome: a inter-relação entre poesia e meios de comunicação eletrônicos. Anais do XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação Universidade do Vale do Paraíba, 2009. Disponível em http://www.inicepg.univap.br/cd/inic_2009/anais/arquivos/re_0378_0096_01.pdf Acesso em: 15 março 2010. THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade. Uma teoria social da mídia. Petrópolis: Vozes, 1998. 87