CONFERÊNCIA DOS MINISTROS DO TRABALHO E SEGURANÇA SOCIAL E DOS ASSUNTOS SOCIAIS DA CPLP INTERVENÇÃO DO SENHOR EMBAIXADOR DOMINGOS DIAS PEREIRA MASCARENHAS, CHEFE DA DELEGAÇÃO, SOBRE O TEMA CENTRAL OS DESAFIOS DA PROTECÇÃO SOCIAL PARA ALCANÇAR A SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL MAPUTO, 25 DE ABRIL DE 2013
Senhoras e Senhores Ministros, Senhoras e Senhores Chefes de Delegação Senhoras e Senhores Delegados, Antes que tudo, gostaria de, por intermédio das Senhoras Ministras do Trabalho e da Mulher e da Acção Social, agradecer ao Governo de Moçambique toda a hospitalidade de que temos beneficiado desde a nossa chegada a esta bela e sempre acolhedora cidade de Maputo, bem como as excelentes condições de trabalho proporcionadas, as quais representam um contributo certo para o sucesso dos trabalhos da nossa reunião. Felicito Angola pelo contributo que deu à nossa Comunidade e a esta reunião sectorial dos ministros do trabalho e dos assuntos sociais exercendo com empenho a presidência rotativa desde a reunião precedente. Do mesmo passo, auguro sucessos a Moçambique no exercício da presidência que acaba de assumir. Senhora Ministra, o sucesso de Moçambique será também nosso. Que me seja permitido exprimir um desejo; o de que a paz, a estabilidade, o desenvolvimento e a democracia continuem a ser valores acarinhados e preservados por todos, pois que sem estes valores não haveria tempo nem lugar para estarmos a discutir conjunta e construtivamente assuntos tão importantes para os nossos países como é, em meio a outros, o da correlação entre protecção social e segurança alimentar e nutricional, tema central deste nosso encontro e de manifesta pertinência.
E sobre ele gostaria de assinalar, em jeito de contribuição ao nosso debate, o seguinte. Historicamente Cabo Verde, em virtude da adversidade do seu clima, da marcada escassez de recursos naturais e da insularidade, entre outras condicionantes, nomeadamente de índole política, sempre teve de lutar arduamente para garantir alimentação suficiente para todos. Todo o nosso percurso de Nação até meados dos anos 70 do século passado regista catástrofes humanas que se traduziram em mortes de milhares de cabo-verdianos devido à falta do mínimo para se alimentarem. Daí que, depois de 1975, ano da Independência, até ao presente, a questão da segurança alimentar enquanto direito do Homem, tenha estado e continue a estar no fulcro de todas as medidas de política adoptados pelos sucessivos governos do país, sempre contando com uma forte e permanente parceria da comunidade internacional. Todas essas medidas sempre foram consideradas numa perspectiva transversal, levando-se em devida conta os aspectos que relevassem de todos os sectores importantes, como são o da agricultura, do comércio, da saúde, dos transportes ou da educação, para só referir estes. Esta breve retrospectiva visa assinalar que os constrangimentos estruturais de Cabo Verde em matéria de segurança alimentar ainda se mantêm, mormente desde o ponto de vista da produção endógena de bens alimentares essenciais. Cabo Verde importa 80% dos bens que consome. Este dado, por si só, atesta a importância que o tema central da nossa reunião assume. Mas nós não cruzamos os braços ante os desafios que se nos colocam, seja no que diz respeito a esforços para garantir alimentação suficiente e de qualidade aos cabo-verdianos, quer no que tange à concepção de
programas de protecção social que garantam o acesso das camadas mais vulneráveis aos bens alimentares essenciais. Assim, e no que toca à produção e disponibilização de bens alimentares, investimentos avultados foram sendo realizados no sector da agricultura, sendo de assinalar a verdadeira revolução que está em curso neste momento, fruto de projectos virados para a construção de barragens de retenção de águas superficiais e desenvolvimento de bacias hidrográficas, projectos que têm já um forte impacto na redução da nossa dependência externa, na redução dos preços dos produtos agrícolas e na consequente melhoria do acesso a esses produtos para pessoas com mais fraco poder de compra. Não parece haver dúvida de que tais investimentos irão, a médio prazo, alterar profundamente o quadro da segurança alimentar em Cabo Verde. De tal modo é significativo o impacto desses projectos que assistimos, já hoje, em algumas ilhas, ao processo de inversão do êxodo rural, registando-se um regresso ao campo de pessoas que o haviam deixado. Verifica-se também uma crescente empresarialização da agricultura. No que tange à protecção social, importa sublinhar que o quadro de adversidades já referido, levou a que desde muito cedo os governos de Cabo Verde se preocupassem com a concepção de programas direccionados para a garantir o acesso dos mais vulneráveis aos bens essenciais. Já em 1975 foram elaborados programas de trabalhos públicos remunerados com recursos provenientes da monetarização da ajuda alimentar concedida por parceiros bilaterais e multilaterais. Esses programas tiveram o mérito de afastar definitivamente o espectro da fome das populações, ganho essencial para um país de cuja história recente fazem parte mortes por fome ainda na segunda metade da década de 40.
Esses programas só foram reformulados na sua quase totalidade nos finais da década passada, dando eles lugar à promoção de actividades geradoras de rendimento, no quadro de um programa nacional de luta contra a pobreza, iniciado na década de 90 e que está em curso até ao presente. Este programa, desenvolvido tanto ao nível central como local, conta com um forte envolvimento da sociedade civil. Outro programa que merece menção é o da protecção social no sector da Educação cuja implementação se acha actualmente a cargo da Fundação Cabo-Verdiana de Acção Social Escolar (FICASE), a qual assegura a gestão de um vasto leque de actividades, de entre as quais avulta a de atender às necessidades nutricionais dos alunos durante a sua permanência em ambiente escolar, contribuindo para o crescimento, o desenvolvimento e a aprendizagem. Esta fundação pública gere o Programa Nacional das Cantinas Escolares, uma das mais importantes componentes da sua actividade, e que é, em larga medida a tributária dos relativamente elevados indicadores que Cabo Verde apresenta hoje no domínio da educação, particularmente no que respeita à quase completa alfabetização na faixa etária dos 6 aos 15 anos. No que respeita à segurança social, ela se encontra estruturada em três níveis: i) A Rede de Segurança, que abrange toda a população residente que se encontre em situação de vulnerabilidade e que não possua os meios de subsistência para garantir a sua própria protecção. As suas prestações são geridas pelo Centro Nacional de Pensões; ii) A Protecção Social Obrigatória, que abrange os trabalhadores por conta de outrem ou por conta própria e suas famílias, através de um seguro financiado por contribuições dos
próprios trabalhadores e das entidades empregadoras. Este nível é gerido pelo Instituto Nacional de Previdência Social; iii) A Protecção Social Complementar, de adesão voluntária, tendo como objectivo reforçar a cobertura oferecida pela Protecção Social Obrigatória. Além desses níveis que estão definidos na Lei de Bases, o Sistema de Protecção Social inclui ainda um sistema de saúde de cobertura nacional e programas de assistência social de apoio à educação, habitação, alimentação, nutrição e aos deficientes, entre outros, assegurando uma cobertura abrangente da população. Um estudo recente sobre o Sistema de Protecção Social de Cabo Verde identificou mais de 9 dezenas de actividades de protecção social levadas a cabo tanto ao nível central como ao nível municipal, bem como ainda ao nível da sociedade civil, através de várias ONG. De tal sorte que, presentemente, um dos principais desafios do sistema é o aprimoramento ou quiçá a redefinição do quadro institucional, por modo a que se ultrapasse os problemas de coordenação e sobreposição já identificados e aumentar o impacto das actividades nos beneficiários. Outro grande desafio prende-se com o desígnio da universalização das prestações num contexto de crise económica e financeira, a qual vai significando o abrandamento do crescimento económico, e, logo, podendo afectar o financiamento do sistema e sua sustentabilidade, embora esta, por ora, não esteja em causa. Estes, Senhoras e Senhores, Senhora Presidente, alguns apontamentos que gostaria de deixar como contributo à abordagem do tema central do nosso encontro. Obrigado.