ASSEMBLEIA NACIONAL GABINETE DO PRESIDENTE

Transcrição

1 ASSEMBLEIA NACIONAL GABINETE DO PRESIDENTE Discurso de S.E o Presidente da Assembleia Nacional na cerimónia de abertura da I Conferência Internacional Uma Criança, Um Cidadão. Senhora Ministra da Educação e Desporto, Senhor Procurador Geral da República, Senhor Provedor da Justiça, Senhora Coordenadora Residente do Sistema das Nações Unidas, Senhores Deputados, Senhora Presidente do Instituto de África Ocidental e Embaixadora da Conferência, Senhora Representante da União da Coalizão Oeste-Africana para os Direitos da Criança, Senhora Presidente do ICCA, Senhora Presidente da ACRIDES, Senhoras e Senhores Conferencistas, Ilustres Convidados, Aproveito este ensejo para saudar todos os participantes nesta Conferência Internacional e, ao mesmo tempo, agradecer à Senhora Presidente da ACRIDES pelo convite para presidir a esta cerimónia de abertura. Respondi positivamente, pois, partindo a solicitação de uma 1

2 instituição que vem desenvolvendo um tão meritório trabalho com as nossas crianças e jovens, eu não poderia recusar. Por outro lado, este encontro pretende comemorar uma efeméride muito importante e que deve convocar-nos para um balanço sobre o que foi feito durante estes 25 anos da Carta Africana dos Direitos das Crianças. No meu entender, trata-se de uma iniciativa muito oportuna e pretexto para reflectirmos sobre o caminho percorrido. Desde a criação da Organização das Nações Unidas, cujo 70º aniversário comemoramos este ano, muitas organizações internacionais, nomeadamente a UNICEF, têm preocupado com a questão da protecção da criança e com o respeito pelos seus direitos. Actualmente podemos nos congratular com o trabalho feito em prol das crianças, pois, antes raramente mereceram a devida atenção. No que concerne ao continente africano, é de justiça reconhecer que nos últimos 25 anos registaram-se progressos na situação das crianças, particularmente na educação e na saúde. Porém, temos ainda a lamentar o rapto de crianças e jovens por grupos extremistas; a persistência da prática de mutilação genital feminino; a utilização de meninos-soldados; agressões sexuais; o trabalho infantil; a falta de escolas e de cuidados de saúde; as guerras e o drama dos refugiados. Temos que ter em conta que só há uma infância, que precisa ser protegida, e que não tem como ser adiada. Temos plena consciência de que muitos dos flagelos que ainda hoje afectam as crianças africanas são perfeitamente evitáveis, bastando para isso a mobilização da vontade dos homens. Felizmente para as crianças cabo-verdianas, a realidade é sensivelmente diferente do que se descreveu. Para além de gozarem de um conjunto de direitos, as instituições que trabalham nesta área promovem o respeito pelas leis e convenções aplicáveis, a começar pela Constituição da República. De sublinhar também o facto de vivermos num clima de paz e na ausência de todas as trágicas consequências que são comuns em teatros de guerra. Pelo contrário, o nosso compromisso é com a Democracia, o desenvolvimento e a estabilidade política e social. Como resultado, temos uma situação relativamente confortável, de que nos orgulhamos, e que não é fruto do acaso. 2

3 De referir que desde que ascendeu à Independência, Cabo Verde tem colocado a criança num lugar privilegiado em termos de tratamento e de preocupações do Estado. Trata-se de uma opção consciente, que abarca um conjunto variado de acções, tendo sempre como objectivo a protecção dos seus direitos. Estando elas no centro das prioridades, um dos sectores que mobiliza um grande volume de investimentos é o da saúde, visando o seu normal crescimento. Do mesmo passo, a garantia do acesso à educação a todas as crianças e jovens em idade escolar é um indicador claro da política de Cabo Verde de investir no futuro. É graças à política de formação e de qualificação dos seus Recursos Humanos que o país dispõe, hoje, de um leque significativo de quadros e de profissionais que, trabalhando nos mais diversos sectores, contribuem para o progresso e o desenvolvimento. Acreditamos que o futuro está na educação, tanto a formal como pela via da transmissão de valores que enformam a nossa sociedade. Esta tarefa, pela sua importância, deve ser compartilhada pela família e pelos estabelecimentos de ensino. Naturalmente, a responsabilidade da família está longe de se esgotar apenas com a assunção desta missão de formar, mas também de propiciar a integração social. O seu papel, muito mais insubstituível, é de oferecer um refúgio seguro à criança, dando-lhe amor e carinho para que possa crescer num ambiente saudável e com estabilidade física e psicológica. Assim, e de forma harmoniosa, se consegue formar as sucessivas gerações de homens e mulheres cabo-verdianos, portadores de valores cívicos, morais e éticos característicos de uma sociedade de progresso, pacífica, justa e democrática. Mas apesar de todos esses esforços, constata-se que, por várias razões, algumas crianças não conseguem beneficiar do conforto e tranquilidade de um lar. Se a família é o melhor lugar para a criança viver e desenvolver a sua personalidade, nem todas tem tido essa oportunidade. Assim, julgo que os temas que serão apresentados e que se relacionam com A Convivência Familiar e Comunitária, são muito pertinentes. A paternidade irresponsável, a existência de famílias desestruturadas, a pobreza, são factores que concorrem para que uma criança se torne vulnerável. Constata-se que, apesar de consagrados na lei, alguns dos direitos podem não estar acessíveis a todas as crianças. E à sociedade e 3

4 aos poderes públicos coloca-se o desafio de encontrar os melhores caminhos para os materializar. Posso afirmar que há pessoas e instituições que fazem toda a diferença nessa tentativa de realização dos direitos das crianças e dos jovens. Permitam-me, a propósito, destacar o papel desempenhado pela ACRIDES e pela sua Presidente, a Senhora Lourença Tavares. É o exemplo de como a sociedade civil pode responder às solicitações quando, infelizmente, a família e outras instituições não conseguem garantir de forma satisfatória, a observância de todos os direitos e do bem-estar das crianças. A actuação da ACRIDES vem complementar o esforço de uma parceria envolvente com vista a evitar que muitas crianças e jovens de vários bairros da cidade da Praia enveredem por caminhos da marginalidade como resultado da exclusão social, que geralmente se lhe associa. Há que ter a frontalidade de reconhecer que, apesar de todos os progressos registados, ainda debatemos com problemas que afligem crianças e jovens cabo-verdianos. Sendo assim, espero que desta Conferência resultem contributos para uma inflexão desses registos, particularmente no que respeita a diversos tipos de violência contra crianças. Lamentavelmente, constatamos, por exemplo, que muitas das crianças que neste momento se encontram institucionalizadas, antes de o serem, foram vítimas de maus-tratos, abusos e violações, atitude que a nossa sociedade deve rejeitar com veemência. E o desconforto é tanto maior quando se sabe que os agressores, em geral, são precisamente aqueles que teriam o dever de protegê-las. Nesta ocasião, deixo aqui um desafio ao Estado e a todas as Instituições ligadas à problemática da infância e da juventude no sentido de serem aliadas e se empenharem no cumprimento dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) no horizonte 2030 para que tenhamos tanto sucesso como o que conseguimos com os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Lanço este repto na certeza de que quase todos os ODS estão directa ou indirectamente relacionados com a protecção dos direitos da criança e do adolescente. Transpondo esses objectivos para a realidade de Cabo Verde da erradicação da pobreza ao combate à fome; da educação de qualidade à saúde e bem-estar; do emprego à paz e à justiça, tudo 4

5 contribui para a construção de um mundo melhor para todos, principalmente para as crianças e jovens. Assim, temos motivos mais do que suficiente para insistir na redução da pobreza, acabar com a desnutrição e garantir o acesso a alimentos suficientes a todas as crianças. Em relação à saúde, há que esforçar para reduzir ainda mais a mortalidade infantil e a mortalidade neonatal. Convém recordar que todas as crianças têm o direito a uma identidade, ou seja, devem ter registo de nascimento. É igualmente possível melhorar a educação pré-escolar, bem como capacitar os jovens com habilidades e competências técnicas e profissionais para melhor enfrentarem o mercado de trabalho. No caminho inverso, há que continuar a combater o trabalho infantil e todas as formas de violência contra as crianças. É assim com sentimento de optimismo que declaro aberta a I Conferência Internacional Uma Criança, Um Cidadão. Muito obrigado pela vossa atenção! Salão de Banquetes da Assembleia Nacional, 19 de Novembro de