COMISSÃO DE DIREITO DO TRABALHO
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- Maria Eduarda Carreiro de Carvalho
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1 48º Congresso UIA 1 / 5 Setembro 2004 COMISSÃO DE DIREITO DO TRABALHO RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS EM PORTUGAL 3 Setembro 2004 Pedro Botelho Gomes (JPAB - José Pedro Aguiar-Branco & Associados) Rua José Falcão, 100 2º, Porto, Portugal Tel.:(351) / Fax: (351) pedro.botelho@jpab.pt -
2 AS ORIGENS E A EVOLUÇÃO DE UM CONCEITO A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS A emergência do conceito de responsabilidade social das empresas (RSE) teve por base uma tomada de consciência dos riscos sociais e ecológicos induzidos pelas actividades daquelas e a forte mobilização, tanto das organizações internacionais, como da sociedade civil. O conceito de RSE deve ser entendido com base no nascimento e evolução da ideia de Desenvolvimento Sustentável, a qual trouxe uma nova inspiração às questões relativas à empresa. A primeira e mais consensual definição para a noção de Desenvolvimento Sustentável foi lançada pela Comissão Mundial para o Desenvolvimento: desenvolvimento que responde às necessidades das gerações presentes sem comprometer a possibilidade de satisfazer essas mesmas necessidades às gerações futuras. Destaque-se a especial relação entre a responsabilidade social das empresas e o que se entende por Desenvolvimento Sustentável, patente no modo como aquela Comissão define a Responsabilidade Social: um comportamento que as empresas adoptam voluntariamente e para além das prescrições legais, porque consideram ser esse o seu interesse a longo prazo. Na prática, a integração dos valores do Desenvolvimento Sustentável. Fixemos, então, uma noção de RSE como um complemento das soluções legislativas e contratuais, e que se reporta a questões como a consulta e participação dos trabalhadores, a promoção dos direitos sociais, a melhoria das condições de trabalho e da qualidade dos produtos ou serviços. A RSE é um conceito segundo o qual as empresas contribuem, de forma voluntária, para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo. Num primeiro momento, as empresas têm concretizado tal contributo pela adopção de códigos de conduta, no âmbito das questões laborais, dos direitos humanos e da defesa do ambiente, podendo considerar-se estes códigos como importantes e inovadores instrumentos para a promoção destes direitos. 1
3 Este modelo de código de conduta (ou de declaração de princípios, de ideário, de carta de intenções) é um documento em que a empresa estabelece certos objectivos de carácter ético que deseja alcançar, interna e externamente. Contém aquilo que designaremos de missão da empresa. REFLEXOS PRÁTICOS NO ÂMBITO DO MERCADO PORTUGUÊS No debate europeu sobre RSE, refere-se, recorrentemente, o papel que poderá ser desempenhado pelas multinacionais. Ora, Portugal, tendo uma economia aberta, é sede de um reduzido número dessas empresas, embora acolha um grande número delas. Em Portugal, à semelhança da grande maioria dos países da Europa, os exemplos mais divulgados de boas práticas são oriundos de empresas de maiores dimensões, o que não é alheio ao facto de serem aquelas que podem suportar os custos da implementação de políticas de RSE. Na pesquisa do que se passa, neste âmbito, nas maiores empresas portuguesas, concluímos que apenas merecerão destaque empresas como a principal operadora de telecomunicações, a empresa responsável pela rede eléctrica do país, a concessionária da maior parte das auto-estradas, a maior empresa no sector da electromecânica e a petrolífera nacional. Acrescente-se a este grupo a BP Portugal, empresa que desempenha a sua actividade no âmbito do comércio de combustíveis e lubrificantes. A BP foi uma das empresas fundadoras do GRACE - Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial (2000) - uma associação sem fins lucrativos que tem como principal objectivo fomentar a participação das empresas na comunidade em que se inserem, conciliando os seus objectivos privados com a responsabilidade social, em áreas tão diversas como a ambiental, cultural, desportiva, educativa e social. As iniciativas da BP estendem-se, ainda, a áreas como a de formação profissional (tendo neste âmbito formado uma parceria com o Centro de Educação para o Cidadão Deficiente) e a de solidariedade social através de um protocolo assinado no âmbito de um projecto de apoio aos Sem Abrigo. 2
4 É verdade que, muitas vezes e neste âmbito, apenas se referem as empresas multinacionais por serem estas que conseguem dar mais visibilidade e divulgação às suas iniciativas, como sejam a adopção dos códigos de conduta, cartas de direitos, declarações ou rótulos de qualidade. Certo é que, face à realidade das estruturas empresarial, económica e social de Portugal o grande desafio que se coloca é o do modo de conseguir o envolvimento das pequenas e médias empresas no investimento em RSE. Mas, no quadro de um país do sul da Europa, em que o esforço de convergência com os parceiros da UE ainda se preenche em tantas áreas fundamentais à satisfação de necessidades de desenvolvimento tidas por mais prementes, entendemos ser de rejeitar a imposição de um quadro europeu de normas legais sobre esta matéria, tanto mais quanto ele represente um decréscimo de competitividade das empresas europeias em relação às concorrentes de outras zonas do mundo. O conteúdo do que acabamos de referir não tem qualquer coincidência com os limites territoriais portugueses: de facto, já em 2002 o Observatório das PME europeias especificava diferenças entre Norte e Sul da Europa, salientando que a percentagem de PME envolvidas em processos de RSE decrescia à medida que caminhamos para Sul. A esta circunstância não são alheias razões culturais, diferentes expectativas dos cidadãos e diferentes tradições no que respeita ao papel do Estado providência. A PERCEPÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL EM PORTUGAL Entre Julho de 2003 e Janeiro de 2004, foi realizado, em Portugal, um estudo que teve como objectivo acompanhar o processo de crescimento da responsabilidade social das empresas em Portugal. O objectivo do estudo foi percepcionar a relevância dada à questão da responsabilidade social das empresas, num universo composto pelas próprias empresas, associações, ONG, sindicatos, entidades governamentais e consumidores. Do ponto de vista das empresas, do mundo associativo e dos sindicatos, todos reconhecem que nos encontramos ainda numa fase embrionária, cujas condicionantes são a fragilidade da economia, o número 3
5 reduzido de empresas cotadas na Bolsa e a baixa monitorização das respectivas acções e, finalmente, a escassez de estímulo vindo da sociedade civil e do próprio Estado. O estudo demonstrou, contudo, que a questão da responsabilidade social está, progressivamente, a ganhar relevância na organização das políticas e estratégias das grandes empresas. No entanto, as medidas que têm sido tomadas neste âmbito têm, ainda, um carácter pontual e não são, normalmente, partilhadas e comunicadas aos cidadãos. As empresas menos envolvidas na questão tendem a considerar que as práticas de responsabilidade social se limitam ao cumprimento das leis e das normas básicas relativas aos trabalhadores, ao ambiente e à qualidade dos seus produtos ou serviços. Sublinhe-se ainda que a responsabilidade social em Portugal só se assume e é valorizada, quando as outras necessidades das empresas estão já satisfeitas. Conclui-se, como atrás já apontávamos, que, para que as empresas integrem projectos de responsabilidade social, é necessário que atinjam um certo nível de desenvolvimento e de maturidade. Em Portugal, as empresas socialmente responsáveis tendem a actuar, mais frequentemente, no âmbito do apoio a instituições de valor reconhecido, apoio à cultura, iniciativas lúdicas e finalmente no auxílio aos desfavorecidos. Ao Estado não é reconhecido um papel determinante neste processo. Poder-lhe-á caber, no entanto, a função de agente de reforço positivo através, por exemplo, de políticas fiscais. No que diz respeito ao consumidor português, ou seja, na perspectiva da dimensão externa da responsabilidade social, do estudo conclui-se que a generalidade das pessoas desconhece a expressão e o conceito de responsabilidade social. De um modo geral, o consumidor, quando questionado sobre as boas práticas das empresas, refere apenas as questões internas relacionadas com os colaboradores e as condições de trabalho, por ser uma realidade na qual está mais implicado. Num segundo nível, são valorizadas as grandes causas sociais organizadas (protecção da camada do ozono, atenuação da pobreza no mundo). A título de exemplo, refiram-se, ainda, os eventos com forte carga 4
6 emocional como o apoio dado pelas empresas a Timor Leste, e às iniciativas que lhe estiveram associadas. Em bom rigor, do estudo a que nos referimos uma evidência segura ressaltou: a necessidade urgente de educação/formação do consumidor (público alvo das empresas), para que se possa ganhar a aposta do desenvolvimento sustentável. O QUADRO LEGAL PORTUGUÊS E A IMPLEMENTAÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS Portugal, que apenas há 30 anos passou por uma revolução que alterou por completo a sua realidade política, económica e social, e que viveu depois condicionado por normas constitucionais programáticas de forte cariz de protecção social e do trabalho, plasmou, nalguns casos de forma pioneira, em dispositivos legais muitos dos objectivos previstos no que hoje designamos por códigos de conduta, e inerentes à responsabilidade social das empresas. Tal consagração legal foi efectuada em patamares superiores aos mínimos fixados pelas normas internacionais, e, fruto do conteúdo programático referido, afectando muitas vezes a competitividade das empresas de estrutura mais frágil. Importa agora conceder primazia na acção com vista a concretizar aqueles objectivos, não pela criação de novas normas legais a impor, mas antes pelo investimento na educação e na realização das tarefas que permitam o desenvolvimento sustentado desejado. Porto, Agosto 2004 Pedro Botelho Gomes JPAB José Pedro Aguiar-Branco & Associados Sociedade de Advogados 5
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