ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DE PACIENTES DIABÉTICOS PARA PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES Carolina Gomes de Sá (ICV-UNICENTRO), Daniele Karine Ruthes (ICV- UNICENTRO), Thiago da Silva Lemos (ICV-UNICENTRO), Cíntia Raquel Bim (Orientadora), e-mail: crbim@unicentro.br. Universidade Estadual do Centro-Oeste/Setor de Ciências da Saúde Departamento de Fisioterapia Palavras-chave: diabetes, prevenção, fisioterapia, pé diabético. Resumo: A diabetes mellitus é uma doença crônico-degenerativa, e sua prevalência tem aumentado nos últimos anos em todo o mundo. Esta doença traz complicações crônicas que contribuem para o aumento da morbidade e mortalidade desses pacientes, dentre elas a neuropatia diabética, que pode levar a transtornos tróficos da pele e da estrutura osteoarticular do pé, levando ao chamado pé diabético. Introdução A diabetes mellitus leva a diversas complicações crônicas que contribuem para o aumento da morbidade e mortalidade dos pacientes, como as complicações vasculares, causadoras de retinopatia e nefropatia, hipertensão arterial sistêmica, dislipidemias e neuropatias (Sacco et al., 200). A neuropatia diabética é definida como a presença de sinais ou sintomas de disfunção neurológica em pacientes com DM após a exclusão de outras causas. Quando não diagnosticada ou não tratada, pode levar a transtornos tróficos da pele e da estrutura osteoarticular do pé, falta de sensibilidade, fraqueza muscular, ulcerações, podendo chegar às amputações (Sacco et al., 200). Cinqüenta por cento das amputações nãotraumáticas de membro inferiores são atribuídas a diabetes, e o risco de amputação é 15 vezes maior do que na população geral (Vigo e Pace, 2005). Materiais e Métodos A presente pesquisa faz parte do Projeto Fisiodia: fisioterapia na prevenção de complicações sensório-motoras de pacientes diabéticos, e caracteriza-se por um estudo descritivo, de corte transversal, de caráter quantitativo.
O estudo foi realizado com os diabéticos que procuraram a Clínicaescola de Fisioterapia (CEFISIO) da Universidade Estadual do Centro-oeste UNICENTRO, Guarapuava-Paraná, no período de março a junho de 2009, que totalizaram 25 pacientes. Foi aplicado um questionário estruturado com questões sobre identificação do paciente e características da diabetes, o que permitiu caracterizar a amostra. Foram realizadas avaliações de índice glicêmico, sensibilidade tátil, térmica e dolorosa, inervação, função muscular, amplitude de movimento. Para este estudo foram abordados apenas a caracterização, o índice glicêmico e a sensibilidade dos pacientes analisados. O índice glicêmico foi mesurado através do medidor de glicose da marca Abbott MediSense, modelo Optium Xceed, considerando índice de glicemia aceitável para um diabético de até 126mg/dl de sangue. A sensiblilidade tátil, térmica e dolorosa foi avaliada por meio de pincel (tátil), calor e frio (térmica) e agulha (dolorosa), seguindo os mesmos pontos para os três tipos de sensibilidade. Os materiais foram colocados em regiões específicas do pé, tornozelo e perna do paciente, que estavam de olhos fechados e tiveram que informar o tipo de sensação e o local que estava sendo estimulado. As avaliações foram realizadas na (CEFISIO) pela pesquisadora e seis acadêmicas terceiro e quarto ano do curso de Fisioterapia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Guarapuava-Pr. Após a coleta, os dados foram analisados de maneira descritiva. Os pacientes convidados a participar da pesquisa e manifestaram-se de acordo assinaram termo de consentimento livre e esclarecido, conforme Resolução 196/96 do Ministério da Saúde para pesquisa com seres humanos. A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do SCS-UNICENTRO, obtendo parecer favorável sob n o 115/200. Resultados e Discussão Nos quatro meses de desenvolvimento do Projeto Fisiodia abordados neste trabalho, 25 pacientes foram avaliados. Desses, 64% eram mulheres e 36% homens, com média de idade de 61 anos, variando entre 10 e 9. O índice médio de massa corporal foi de. Grande parte (2%) dos pacientes possuía hipertensão arterial, e tomavam medicamentos para o controle. Tanto o excesso de peso quanto a hipertensão arterial são fatores de risco para o desenvolvimento de complicações nesta população, fatores que devem ser monitorados por profissionais de saúde que atendem esses pacientes (Torquato et al, 2003). O tempo de diagnóstico da diabetes foi de,5 anos, variando entre meses a 20 anos de doença, onde 44% tinham a doença entre 0 e 5 anos, % entre 6 e 10, 16% entre 11 e 15 e 12% entre 15 a 20 anos. O tipo de
diabetes mais freqüente foi o tipo 2 (92%), com apenas 2 casos de diabetes do tipo 1 (%). Em relação às complicações decorrentes da diabetes, 52% nunca tiveram nenhuma e 4% já apresentaram alguma. Dentre as complicações apresentadas estavam retinopatia diabética, nefropatia diabética, úlceras nos pés e acidente vascular encefálico. O estado diabético causa várias complicações: aumento do risco de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral, problemas renais, cegueira, disfunção sexual, isquemia e gangrena dos membros (Torquato et al, 2003), e algumas delas foram encontradas nos pacientes estudados. A sensibilidade foi avaliada bilateralmente e os resultados estão descritos na Tabela 1. Tabela 1 Análise da sensibilidade plantar de diabéticos Sensibilidade Direito n % Esquerdo n % Tátil 1 2 Térmica 1 2 Dolorosa 1 2 A neuropatia diabética é definida como a presença de sinais ou sintomas de disfunção neurológica em pacientes com DM após a exclusão de outras causas. Quando não diagnosticada ou não tratada, pode levar a transtornos tróficos da pele e da estrutura osteoarticular do pé, falta de sensibilidade, fraqueza muscular, ulcerações, podendo chegar às amputações. Foram avaliadas a função muscular dos músculos sóleo, gastrocnêmio, tibial anterior, tibial posterior, e fibulares, e a média de força está descrita na Tabela 2. Tabela 2 - Função muscular de pacientes diabéticos Função muscular Tornozelo direito Tornozelo esquerdo variação média variação média sóleo (2-5) 4, (2-5) 4, gastrocnêmio (2-5) 4,40 (2-5) 4,44 tibial anterior (3-5) 4,36 (3-5) 4,44 tibial posterior (3-5) 4, (3-5) 4,40 Fibulares (2-5) 4,16 (3-5) 4,24 Em relação à amplitude de movimento, foram mesuradas a dorsiflexão (0-20º), plantiflexão (0-45º), inversão (0-30º) e eversão (0-25º) do tornozelo. A angulação máxima da dorsiflexão direita estava presente em 60% dos pacientes avaliados, com média de 1,40º. A plantiflexão máxima foi apresentada por apenas um paciente (4%), com média de 31,4º. A inversão máxima encontrada na amostra foi em % dos avaliados, com
média de 21,40º, e a eversão máxima estava presente em 20% da amostra, com média de 16,2º. Em relação ao tornozelo esquerdo, a angulação máxima da dorsiflexão estava em 60% dos pacientes, com média de,56º, a plantiflexão máxima foi constatada em apenas dois pacientes (%), com média de 30,96º, a inversão máxima em %, com média de 22,36º, e a eversão máxima e %, com média de 1,2º. Apenas um paciente da amostra estudada apresentou 0 o de amplitude de movimento na eversão de ambos os tornozelos, ou seja, não realizava a eversão. Pacientes diabéticos que apresentam insensibilidade, fraqueza muscular e diminuição de amplitude de movimento têm maior risco para o desenvolvimento de ulcerações nos pés. Os movimentos mais afetados são a flexão, inversão e eversão de tornozelo e movimentos da primeira articulação metatarsofalangeana (Sacco et al., 200). Esses movimentos, quando limitados, diminuem a habilidade do complexo do pé de absorver o choque e as rotações transversais durante a marcha, contribuindo para a patogênese da ulceração plantar no pé insensível. Ocorre o aparecimento de deformidades como dedos em martelo e em garra, deslocamento de coxins gordurosos sob as cabeças dos metatarsos, aumentando as pressões plantares nessas regiões, predispondo a ulcerações, infecções e necrose (Zimny et al., 2004). Os pacientes também foram submetidos a análise da pressão plantar através da baropodometria, porém estes dados ainda estão sendo analisados. Conclusões Através da análise das características clínicas dos pacientes diabéticos desta pesquisa, observamos que a informação sobre a doença é extremamente necessária na prevenção de complicações da doença. Com o passar dos anos após o diagnóstico, as complicações surgem, e com monitoramento diário e contínuo da doença algumas delas podem ser evitadas, ou postergadas. O fisioterapeuta pode acompanhar os pacientes diabéticos particularmente na monitorização da sensibilidade e da função muscular, para tentar minimizar as complicações dos pés ocasionadas pela diabetes. Referências Sacco, I.C.N.; Sartor, C.D,; Gomes, A.A.; João, S.M.A.; Cronfli, R. Avaliação das perdas sensório-motoras do pé e tornozelo decorrentes da neuropatia diabética. Rev Bras Fisioter, 200, 11(1): 2-33. Torquato, M.T.C.G.; Montenegro Junior, R.M.; Viana, L.A.L.; Souza, R.A.H.G.; Lanna, C.M.M.; Lucas, J.C.B., Bidurin, C.; Foss, M.C.. Prevalence of diabetes mellitus and impaired glucose tolerance in the urb-
an population aged 30-69 years in Ribeirão Preto (São Paulo), Brazil. Sao Paulo Med J 2003; 121(6):224-230. Vigo, K.O. e Pace, A.E. Pé diabético: estratégias para prevenção. Acta Paul Enferm, 2005. (1) 100-9. Zimny, S.; Schatz, H.; Pfohl, M. The role of limited joint mobility in diabetic patients with an at-risk foot. Diabetes Care. 2004;2(4):942-6.