ASPECTOS CONTROVERSOS DA EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA (EIRELI) DIEGO BISI ALMADA Advogado, Professor Universitário, Palestrante e Sócio-Diretor da Almada & Teixeira Consultoria Empresarial. Coordenador da Escola Superior de Advocacia da 34ª Subseção da OAB/SP. Pós-Graduado pela Faculdade de Direito da Alta Paulista e graduado pela mesma instituição. Cursa, atualmente, MBA em Direito Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas. Autor de vários artigos científicos, inclusive em congressos internacionais. Autor de obras jurídicas para concursos públicos. 1-) CONSIDERAÇÕES GERAIS ACERCA DA EIRELI (EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA). Inicialmente, é importante salientar que a EIRELI (Empresa Individual de Responsabilidade Limitada) foi introduzida no ordenamento jurídico brasileiro com o advento da Lei nº 12.441 de 11 de julho de 2011. É de suma relevância explicitar que a lei supracitada, após o período de vacatio legis entrou em vigor no dia 09 de janeiro de 2012, trazendo mudanças substanciais no Código Civil. Em que pese o avanço trazido ao Direito Empresarial Brasileiro, em razão do surgimento da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, é de bom alvitre ressaltar que a referida pessoa jurídica de direito privado em tão pouco tempo de vida encontra-se imbuída por diversas críticas e problemas jurídicos, que serão tratados oportunamente no presente trabalho. 2-) CONCEITO LEGAL DE EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA (ARTIGO 980-A DA LEI Nº 12.441/2011)
Como já explicitado anteriormente, a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada foi introduzida ao ordenamento jurídico pela Lei nº 12.441/2011. É importante mencionar que a referida Lei traz, em seu bojo, o conceito legal de Empresa Individual de Responsabilidade Limitada. Explicita o artigo 980-A da referida Lei: Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País. Em análise ao referido artigo, percebe-se que a nova pessoa jurídica de direito privado será constituída por uma única pessoa titular do capital, que deverá ser devidamente integralizado no ato da constituição da empresa. Ademais, o referido artigo explicita que o capital da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada deverá ser de, no mínimo, cem vezes o maior salário mínimo vigente no país. É de grande relevância mencionar que o artigo supracitado ao conceituar a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada suscita diversos questionamentos jurídicos. O primeiro deles diz respeito à titularidade da EIRELI. Quem poderá constituir uma EIRELI: pessoas físicas ou jurídicas? O segundo questionamento jurídico diz respeito à atividade exercida pela EIRELI. Qual será a atividade exercida pela EIRELI: tão-somente atividades empresariais ou todas as atividades profissionais? O terceiro questionamento se refere ao capital da EIRELI. Haveria possibilidade de vinculação do capital ao salário mínimo ou estaríamos diante de uma inconstitucionalidade, em razão da presença de um vício material? Por derradeiro, o último questionamento ainda se refere ao capital da EIRELI. O artigo supracitado ao mencionar cem vezes o maior salário mínimo vigente no país se refere ao salário mínimo nacional ou regional?
Desta maneira, é cristalino o fato de que a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada apresenta sérios problemas jurídicos e que merecem ser analisados detalhadamente. 3-) LEGISLAÇÃO SOBRE A EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA É importante salientar que a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada apresenta como embasamento um arcabouço legal constituído por Lei Federal e Instruções Normativas do Departamento Nacional de Registro do Comércio. Inicialmente, cabe frisar que a Lei nº 12.441 de 11 de julho de 2011 criou a nova pessoa jurídica de direito privado denominada EIRELI. Em que pese a introdução da referida pessoa jurídica através da Lei supracitada, a mesma foi fruto de regulamentação através de três Instruções Normativas do DNRC (Departamento Nacional de Registro do Comércio). A Instrução Normativa DNRC nº 116/2011 dispõe sobre a formação do nome empresarial da EIRELI e sua respectiva proteção. A Instrução Normativa DNRC nº 117/2011 aprova o Manual de Atos de Registro da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada. Por derradeiro, a Instrução Normativa nº 118/2011 dispõe sobre o processo de transformação de registro de empresário individual em sociedade empresária, contratual, ou em empresa individual de responsabilidade limitada e vice-versa. Em que pese a existência de três instruções normativas que regulamentam a matéria, uma forte corrente doutrinária sustenta a tese de que as referidas instruções normativas do DNRC não possuem eficácia, em razão da falta de legitimidade do órgão para regulamentar o conteúdo explicitado em diploma legal. Destarte, cabe explicitar que as mesmas vem sendo devidamente obedecidas e cumpridas pelas Juntas Comerciais dos Estados. 4-) MODIFICAÇÕES INTRODUZIDAS NO CÓDIGO CIVIL EM RAZÃO DO ADVENTO DA LEI Nº 12.441/2011
Inicialmente, é importante frisar que várias modificações substanciais foram realizadas no Código Civil, em razão do advento da Lei nº 12.441/2011. É de grande relevância explicitar que a primeira modificação trazida pela Lei supracitada, acrescentou o inciso VI ao artigo 44 do Código Civil. Explicita o artigo 44 do Código Civil: Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: I - as associações; II - as sociedades; III - as fundações. IV - as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) V - os partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. (I ncluído pela Lei nº 12.441, de 2011) (Grifo Nosso). Nesse passo, percebe-se claramente que a Lei nº 12.441/2011 acrescentou o inciso VI ao artigo 44 do Código Civil, o que ensejou à empresa individual de responsabilidade limitada o caráter de pessoa jurídica de direito privado. Outra modificação relevante introduzida no Código Civil, através do advento da Lei supracitada, diz respeito à mudança de redação do parágrafo único do artigo 1033. Explicita o parágrafo único do artigo 1033, do Código Civil: Artigo 1033 omissis Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV caso o sócio remanescente, inclusive na hipótese de concentração de todas as cotas da sociedade sob sua titularidade, requeira, no Registro Público de
Empresas Mercantis, a transformação do registro da sociedade para empresário individual ou para empresa individual de responsabilidade limitada, observado, no que couber, o disposto nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 12.441, de 2011) É importante salientar que a mudança supracitada explicita que o sócio remanescente de sociedade que se encontra em estado de unipessoalidade, poderá pleitear a transformação do registro de sociedade para empresário individual ou empresa individual de responsabilidade limitada e vice-versa. Por derradeiro, a última modificação introduzida no Código Civil em razão do advento da Lei nº 12.442/2011, diz respeito à introdução do artigo 980-A e seus parágrafos. Explicita o artigo 980-A e seus respectivos parágrafos: Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País. 1º O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão "EIRELI" após a firma ou a denominação social da empresa individual de responsabilidade limitada. 2º A pessoa natural que constituir empresa individual de responsabilidade limitada somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade. 3º A empresa individual de responsabilidade limitada também poderá resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária num único sócio, independentemente das razões que motivaram tal concentração. 4º ( VETADO). 5º Poderá ser atribuída à empresa individual de responsabilidade limitada constituída para a prestação de serviços de qualquer natureza a remuneração decorrente da cessão de direitos
patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que seja detentor o titular da pessoa jurídica, vinculados à atividade profissional. 6º Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber, as regras previstas para as sociedades limitadas. Nessa toada, percebe-se claramente que o artigo 980-A traz várias peculiaridades acerca da empresa individual de responsabilidade limitada que serão analisadas detalhadamente nos tópicos seguintes. 5-) MOTIVOS PARA CONSTITUIÇÃO DE UMA EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA O presente item do trabalho tem por escopo demonstrar alguns motivos que eventualmente podem levar à constituição de uma empresa individual de responsabilidade limitada. O primeiro motivo diz respeito à vontade do empresário de empreender individualmente, ou seja, de exercer atividade de cunho empresarial sem a presença de sócios. Desta maneira, através da constituição da EIRELI, o empresário, mesmo agindo individualmente, será dotado de responsabilidade limitada ao capital da EIRELI que se pautará em, no mínimo, cem vezes o maior salário mínimo vigente no país. Ademais, cabe frisar que outro motivo ensejador da constituição da EIRELI é a busca pela limitação da responsabilidade. Como já explicitado, a EIRELI apresenta a limitação da responsabilidade pautada no capital de, no mínimo, cem vezes o maior salário mínimo vigente no país. Desta maneira, a busca pela limitação da responsabilidade poderá se caracterizar como um dos grandes motivos ensejadores da constituição das empresas individuais de responsabilidade limitada. Por derradeiro, cabe frisar que um terceiro motivo ensejador da constituição da EIRELI pode se pautar na dissolução parcial de uma sociedade, oportunidade em que através da retirada ou exclusão de um sócio, o remanescente passa a ser detentor das quotas e poderá pleitear a transformação em EIRELI.
6-) APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DAS REGRAS DA SOCIEDADE LIMITADA É importante salientar que, em análise ao artigo 980-A, parágrafo 5º, o mesmo apresenta a seguinte redação: Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber, as regras previstas para as sociedades limitadas. Desta maneira, percebe-se claramente que aplicam-se, subsidiariamente, à EIRELI, as regras inerentes às sociedades limitadas. Nesse passo, peculiaridades importantes aplicáveis às sociedades limitadas também se aplicam à EIRELI, como, por exemplo, responsabilidade do titular da pessoa jurídica, responsabilidade dos administradores, responsabilidades de cunho ambiental, previdenciário, tributário, falimentar, dentre outros. 7-) ANALISE COMPARATIVA ENTRE SOCIEDADE LIMITADA, EMPRESÁRIO INDIVIDUAL E EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA Visando a demonstrar as diferenças existentes entre Sociedade Limitada, Empresário Individual e EIRELI, é de suma importância o estudo comparativo das figuras comentadas. Nesse passo, empresário individual é a pessoa física que não precisa de sócios para constituir a empresa. Porém, em caso de dívidas, seus bens particulares poderão serão utilizados para os pagamentos dos credores, caracterizando, claramente, a situação de confusão patrimonial. Já para a constituição da sociedade limitada, diferentemente do empresário individual, há necessidade de existência de, no mínimo, dois sócios que se unem através da celebração de um contrato social, que deverá ser registrado no órgão competente. Cabe explicitar que, em caso de dívidas, a responsabilidade será limitada às quotas dos sócios constantes em contrato. No entanto, a responsabilidade poderá ser pessoal, através da aplicabilidade do instituto da Desconsideração da Personalidade da Pessoa Jurídica, disposto no artigo 50 do Código Civil. Desta maneira, presentes os requisitos dispostos no artigo supracitado, o sócio ou o seu administrador passarão a responder com o seu patrimônio pessoal. No tocante à Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, é importante explicitar que em caso de dívidas, o patrimônio pessoal do empresário
não será utilizado para o cumprimento das obrigações, pois a responsabilidade será limitada ao capital de, no mínimo, cem vezes o maior salário mínimo vigente no país. Desta maneira, percebe-se claramente a separação do patrimônio da EIRELI dos bens pessoais do titular da mesma. No entanto, cabe explicitar que, em razão da aplicabilidade subsidiária das regras aplicáveis à sociedade limitada há possibilidade de aplicação do instituto da Desconsideração da Personalidade da Pessoa Jurídica, disposto no artigo 50 do Código Civil. Desta maneira, presentes os requisitos dispostos no artigo supracitado, o titular da EIRELI ou o seu administrador passarão a responder com o seu patrimônio pessoal. 8-) TITULARIDADE DA EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA Inicialmente, antes de tecermos comentários acerca da titularidade da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, é importante transcrevermos abaixo o caput do artigo 980-A da Lei nº 12.441/2011: Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País. Em análise ao artigo supracitado é possível perceber que o mesmo explicita que a EIRELI será constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social. Desta maneira, percebe-se claramente que o artigo supracitado não menciona se a titularidade da EIRELI abarcará pessoas físicas ou jurídicas, ensejando, portanto, a interpretação de que ambas podem ser titulares da empresa individual de responsabilidade limitada. Tal interpretação é extraída do fato de que a lei supracitada não trouxe a vedação sobre o exercício da titularidade da EIRELI por
pessoas jurídicas. Portanto, diante de tal fato tanto pessoas físicas como jurídicas poderiam ser titulares de EIRELI. No entanto, o DNRC (Departamento Nacional de Registro do Comércio), em sua Instrução Normativa nº 117/2011, em seu item 1.2.11, explicita que não pode ser titular de EIRELI a pessoa jurídica, bem assim a pessoa natural impedida por norma constitucional ou por lei especial. Desta maneira, percebe-se que o DNRC veda expressamente na Instrução Normativa supracitada a constituição de EIRELI, cuja titularidade seja de pessoa jurídica. Em que pese a referida Instrução Normativa emanada do Departamento Nacional de Registro Civil cabe reiterar que uma forte corrente doutrinária sustenta a tese de que as referidas instruções normativas do DNRC não possuem eficácia, em razão da falta de legitimidade do órgão para regulamentar o conteúdo explicitado em diploma legal. 9-) OBJETO DA EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA Preliminarmente, antes de analisarmos o objeto da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada é importante tecermos comentários acerca do conceito de empresário explicitado no artigo 966 do Código Civil. Considera-se empresário aquele que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens e serviços, tal como prescreve o artigo 966 do Código Civil. No entanto, não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa, conforme explicita o parágrafo único do artigo 966 do Código Civil. O empresário individual se caracteriza por ser um profissional que exerce, portanto, sua atividade econômica de forma habitual e organizada. Entende-
se como atividade econômica não somente aquela que produz ou faz circular bens, produtos ou serviços, mas também que visa o lucro. Entretanto, não podemos esquecer que o profissional liberal não pode não pode ser considerado como empresário, pois se encontra vinculado aos respectivos códigos de ética. Nesse passo, levando-se em conta que a própria terminologia trazida pela Lei nº 12.441/2011 explicita que se trata de empresa individual de responsabilidade limitada, o melhor entendimento se pauta no fato de que o objeto da EIRELI corresponderá ao exercício de atos típicos de empresário, nos moldes do artigo 966, do Código Civil. Desta maneira, em razão da peculiaridade da atividade exercida, o registro do ato constitutivo há que ser realizado na Junta Comercial da respectiva sede, nos moldes do artigo 967 do Código Civil. É importante salientar que, visando padronizar os procedimentos de registro da EIRELI, o DNRC aprovou o Manual de Atos de Registro da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, através da Instrução Normativa nº 117/2011. Em que pese o entendimento de que a atividade exercida pela EIRELI será de cunho empresarial, uma corrente doutrinária sustenta posicionamento diverso, no sentido de que outras atividades profissionais também podem ser objeto de constituição de empresa individual de responsabilidade limitada. Tal corrente se pauta novamente na omissão da Lei nº 12.441/2011 que não explicita expressamente quais atividades podem ser exercidas pela EIRELI. Nesse passo visando esclarecer a omissão supracitada, a Associação dos Notários e Registradores do Brasil e o Instituto de Registro de Títulos e Documentos e de Pessoas Jurídicas do Brasil formularam pedido de esclarecimento à COSIT (Coordenadoria Geral de Tributação) da Receita Federal. Em resposta, o referido órgão emitiu a nota 446, explicitando que os funcionários do setor de cadastro da Receita Federal expedirão o CNPJ de EIRELI que tenha sido registrada em cartório, se for sociedade simples.
Desta maneira, estaríamos diante da chamada EIRELI Simples, que poderia ser constituída para o exercício de atividades profissionais alheias à de empresário, ensejando eventual afronta ao artigo 966 do Código Civil. É importante mencionar que a afronta resta caracterizada no fato de que o parágrafo único do referido artigo explicita que não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. 10-) CAPITAL DA EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA Inicialmente, antes de tecermos comentários acerca do capital da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, é importante transcrevermos abaixo o caput do artigo 980-A da Lei nº 12.441/2011: Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País. Em análise ao artigo supracitado, é possível perceber que o capital da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada será de, no mínimo cem vezes o maior salário mínimo vigente no país, devidamente integralizado no ato da constituição da referida pessoa jurídica. Cabe explicitar que o capital da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada encontra-se envolvido por diversas críticas. A primeira delas se refere ao fato de que o capital de, no mínimo cem vezes o maior salário mínimo vigente no país constitui um óbice à constituição da EIRELI, por se tratar de alto montante financeiro a ser dispendido pelo seu titular, o que inviabilizaria a perpetuação da referida pessoa jurídica.
Em que pese tal crítica, cabe explicitar que tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 2468/11, que tem por escopo a redução do capital da EIRELI de cem para cinqüenta vezes o maior salário mínimo vigente no país. O segundo questionamento diz respeito ao fato de que a Lei nº 12.441/2011 não explicita expressamente qual o salário mínimo deverá ser utilizado para constituição da EIRELI. Como já dito a lei supracitada explicita que o capital da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada será de, no mínimo cem vezes o maior salário mínimo vigente no país, devidamente integralizado no ato da constituição da referida pessoa jurídica. No entanto, não explicita se o salário mínimo adotado será nacional ou regional. Em que pese tal questionamento, cabe explicitar que as Juntas Comerciais dos Estados vem se posicionamento no sentido de que o capital da EIRELI deverá ser pautado em, no mínimo, cem vezes o maior salário mínimo nacional vigente no país. Por derradeiro, o último questionamento inerente ao capital da EIRELI diz respeito à eventual inconstitucionalidade existente pela afronta ao artigo 7º, inciso IV, da Constituição Federal. O artigo 7º, inciso IV, da Constituição Federal explicita: Artigo 7º - omissis IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim. (Grifo Nosso). Em análise ao artigo supracitado, é possível perceber que a Constituição Federal veda, expressamente, a vinculação do salário mínimo para qualquer fim. Desta maneira, percebe-se claramente que o artigo 980-A da Lei nº 12.441/2011, afronta o artigo 7º, inciso IV, da Constituição Federal ao explicitar que o capital da EIRELI não será inferior a cem vezes o maior salário mínimo vigente no país.
Logo, o Partido Popular Socialista ajuizou Ação Direta de Inconstitucionalidade contestando a parte final do caput do artigo 980-A da Lei nº 12.441/2011, que tramita sob o nº 4637 e encontra-se, atualmente, aguardando julgamento no Supremo Tribunal Federal. 11-) VEDAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO EM OUTRA EIRELI (PESSOA FÍSICA) É importante salientar que a Lei nº 12.441/2011 trouxe outra peculiaridade importante no tocante à Empresa Individual de Responsabilidade Limitada. O artigo 980-A, parágrafo 2º, da Lei nº 12.441/2011 explicita que a pessoa natural que constituir empresa individual de responsabilidade limitada somente poderá figura em uma única empresa dessa modalidade. Nesse passo, a pessoa física titular da EIRELI somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade. Visando regulamentar tal questão, o DNRC (Departamento Nacional de Registro do Comércio) em sua Instrução Normativa nº 117/2011, explicita que é cláusula obrigatória do ato constitutivo da empresa individual de responsabilidade limitada a declaração de que o seu titular, não participa de nenhuma outra empresa dessa modalidade. 12-) TRANSFORMAÇÃO DE SOCIEDADE EM EIRELI E VICE-VERSA Inicialmente, é importante mencionar que transformação consiste na operação pela qual a sociedade, a empresa individual de responsabilidade limitada ou o empresário individual alteram o tipo jurídico, sem sofrer dissolução ou liquidação, obedecidas as normas reguladoras da constituição e do registro da nova forma a ser adotada. É de suma relevância explicitar que todos os procedimentos inerentes à transformação de sociedade em empresário individual ou empresa individual de responsabilidade limitada encontram-se dispostos na Instrução Normativa DNRC nº 118/2011.
De acordo com a Instrução Normativa supracitada, a transformação o registro de sociedade em empresário ou empresa individual de responsabilidade limitada e vice-versa não abrange as sociedades anônimas, sociedades simples e cooperativas. Ademais, cabe frisar que tão somente as sociedades em condição de unipessoalidade poderão ter seu registro transformado para empresário individual, independentemente do decurso do prazo de cento e oitenta dias, desde que não realizada a liquidação decorrente da dissolução a que se refere o inciso IV, do artigo 1033, do Código Civil. Outrossim, cabe explicitar que no ato de transformação do registro somente serão admitidas alterações relativas ao nome empresarial e ao capital. Como já mencionado anteriormente a Instrução Normativa DNRC nº 118/2011 traz, em seu bojo, os procedimentos inerentes à transformação de sociedade em empresário individual ou empresa individual de responsabilidade limitada e vice-versa. No tocante à transformação de sociedade em empresa individual de responsabilidade limitada, cabe frisar que o sócio remanescente poderá requerer na Junta Comercial a referida transformação, independentemente do curso do prazo de 180 dias, desde que não tenha sido registrado ato de liquidação da sociedade. Já a transformação de EIRELI em Sociedade ocorrerá quando o titular da pessoa jurídica admitir um ou mais sócios na empresa, oportunidade que deverá ser realizada a operação de transformação, nos moldes da Instrução Normativa DNRC nº 118/2011. Por derradeiro, cabe explicitar que a referida instrução normativa traz, em seu bojo, a possibilidade de transformação de Empresário Individual em EIRELI e vice-versa. 13-) CONCLUSÃO A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada foi instituída pela Lei nº 12.441/2011 e regulamentada pelo Departamento Nacional de Registro do
Comércio, através da Instrução Normativa DNRC nº 116/2011, Instrução Normativa DNRC nº 117/2011 e Instrução Normativa nº 118/2011. Em que pese a sua entrada em vigor no dia 09 de janeiro de 2012, a EIRELI é objeto de vários debates e questionamentos jurídico. O primeiro deles diz respeito à sua titularidade. Em análise ao artigo 980-A da Lei nº 12.441/2011 percebe-se que a omissão do diploma legal enseja a interpretação de que pessoas físicas e jurídicas podem ser titulares da empresa individual de responsabilidade limitada. O segundo questionamento jurídico diz respeito à atividade exercida pela EIRELI. Levando-se em conta que a própria terminologia trazida pela Lei nº 12.441/2011 explicita que se trata de empresa individual de responsabilidade limitada, o melhor entendimento se pauta no fato de que o objeto da EIRELI corresponderá ao exercício de atos típicos de empresário, nos moldes do artigo 966, do Código Civil. O terceiro questionamento se refere ao capital da EIRELI. Em análise ao artigo 980-A da Lei nº 12.441/2011 é possível perceber que o capital da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada será de, no mínimo cem vezes o maior salário mínimo vigente no país, devidamente integralizado no ato da constituição da referida pessoa jurídica. Cabe explicitar que a Lei nº 12.441/2011 não explicita expressamente qual o salário mínimo deverá ser utilizado para constituição da EIRELI: o nacional ou regional. Em que pese tal questionamento, cabe explicitar que as Juntas Comerciais dos Estados vem se posicionamento no sentido de que o capital da EIRELI deverá ser pautado em, no mínimo, cem vezes o maior salário mínimo nacional vigente no país. Outrossim, outro questionamento inerente ao capital da EIRELI diz respeito à eventual inconstitucionalidade existente pela afronta ao artigo 7º, inciso IV, da Constituição Federal, pois a Lei nº 12.441/2011 vincula o capital da EIRELI salário mínimo. Ainda, cabe explicitar que a Lei nº 12.441/2011, veda que a pessoa física titular da EIRELI participe de uma outra empresa da mesma modalidade, declarando tal situação no próprio ato de constituição da pessoa jurídica.
Noutro ponto, é de suma relevância explicitar que a Instrução Normativa DNRC nº 118/2011 traz, em seu bojo, os procedimentos inerentes à transformação de sociedade em empresário individual ou empresa individual de responsabilidade limitada e vice-versa. Diante do exposto, espera-se que a nova pessoa jurídica de direito privado, denominada Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) seja amplamente utilizada e, com isso, mais empresas sejam constituídas e movimentem a economia brasileira de forma positiva. BIBLIOGRAFIA BRASIL. Lei nº 12.441 de 11 de julho de 2011. Altera a Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), para permitir a constituição de empresa individual de responsabilidade limitada. BRASIL. Departamento Nacional de Registro do Comércio. Instrução Normativa nº 116 de 22 de novembro de 2011. Dispõe sobre a formação do nome empresarial, sua proteção e dá outras providências. BRASIL. Departamento Nacional de Registro do Comércio. Instrução Normativa nº 117 de 22 de novembro de 2011. Aprova o Manual de Atos de Registro da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada. BRASIL. Departamento Nacional de Registro do Comércio. Instrução Normativa nº 118 de 22 de novembro de 2011. Dispõe sobre o processo de transformação de registro de empresário individual em sociedade empresária, contratual, ou em empresa individual de responsabilidade limitada e vice-versa e dá outras providências. PINHEIRO, Frederico Garcia. Empresa individual de responsabilidade limitada. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2954, 3 ago. 2011. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/19685>. Acesso em: 4 fev. 2012.