PLANEJAMENTO E GESTÃO DE DISCIPLINAS SEMIPRESENCIAIS: DEBATES, PESQUISA E PROPOSTAS



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Transcrição:

1 PLANEJAMENTO E GESTÃO DE DISCIPLINAS SEMIPRESENCIAIS: DEBATES, PESQUISA E PROPOSTAS Resende - RJ - maio/2015 Miguel Carlos Damasco dos Santos Associação Educacional Dom Bosco - contato@profdamasco.site.br.com Classe: Investigação Científica Setor Educacional: Educação Superior Classificação das Áreas de Pesquisa em EaD: Meso: Formas de Assegurar a Qualidade Natureza do Trabalho: Descrição de Projeto em Andamento RESUMO Este artigo apresenta importantes questões que não devem ser deixadas em segundo plano por nenhuma instituição de ensino superior (EIS) que oferece disciplinas semipresenciais para alunos de seus cursos presenciais. Inicialmente, o trabalho apresenta observações pontuais levantadas em debates e palestras realizadas em eventos de educação a distância (EaD) sobre essa modalidade de disciplina. Nesse contexto, destaca os modelos de oferta de algumas instituições, seus aspectos positivos e os problemas identificados. A seguir, analisa dados de pesquisa aplicada em alunos, cujos resultados merecem uma análise crítica na busca pela qualidade necessária para o ensino e a aprendizagem semipresencial. Prosseguindo, o trabalho propõe ações a serem empregadas na busca pela melhoria das condições de oferta e gestão de disciplinas online, baseadas em teorias e experiências de estudiosos sobre o tema. Por fim, o artigo faz considerações relevantes sobre os pontos levantados, propondo a continuidade do estudo e seu aproveitamento em outras instituições que ministram disciplinas semipresenciais. Palavras-chave: disciplinas semipresenciais; gestão de EaD; pesquisa.

2 1- Introdução Favorecida pelas ferramentas tecnológicas atuais que podem ser empregadas no processo educacional, a educação a distância (EaD) vem ganhando espaço nos últimos anos. A Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) realiza todo ano um censo para acompanhar o crescimento dessa modalidade de ensino e aprendizagem no Brasil (ABED, 2014). A Portaria Nº 4.059, de 2004, do Ministério da Educação (MEC) autorizou que 20% das disciplinas presenciais pudessem ser ministradas de forma semipresencial, desde que empreguem métodos e práticas de ensinoaprendizagem que incorporem o uso integrado de tecnologias de informação e comunicação para a realização dos objetivos pedagógicos (BRASIL, 2004). Desde então, diversas Instituições de Ensino Superior (IES) passaram a oferecer disciplinas nessa modalidade em seus cursos presenciais, porém nem sempre acompanhadas da qualidade necessária (SILVA et al, 2010, p. 13), e em alguns casos, até pela falta de experiência em EaD, já que essas instituições sempre estiveram voltadas para o ensino presencial. Algumas IES deixam de observar o prescrito nos Referenciais de Qualidade para Educação Superior a Distância, que busca garantir qualidade nos processos de EaD e coibir tanto a precarização da educação superior, verificada em alguns modelos de oferta de EAD, quanto a sua oferta indiscriminada e sem garantias das condições básicas para cursos com qualidade (BRASIL, 2007, p. 2). Em vários eventos sobre EaD, sempre com bom público, aconteceram debates sobre as disciplinas semipresenciais na apresentação de artigos, mesas redondas e palestras, focalizando dúvidas e aspectos específicos e diferenciados na forma de condução, o que mostra a relevância do tema. Assim sendo, este trabalho apresenta algumas questões significativas a considerar no planejamento e na oferta de disciplinas semipresenciais, que requerem reflexão de gestores, docentes e profissionais da equipe de EaD, identificando os pontos que merecem correções de rumo necessárias. Por fim, o artigo faz algumas considerações sobre o tema abordado, reiterando a importância da busca pela qualidade na EaD em todas as suas dimensões, além de propor a continuação de outros estudos.

3 2- Debates sobre ofertas de disciplinas semipresenciais Inicialmente, visando obter experiência em EaD, muitas IES buscaram solucionar problemas em disciplinas presenciais, que contavam com número elevado de alunos na situação de dependência escolar, através de disciplina semipresencial como possível alternativa para que eles pudessem prosseguir seus estudos, conforme cita Campos (2011, p. 14). Hoje, com mais prática sobre o tema, as instituições já oferecem as disciplinas semipresenciais de várias formas. As modalidades que mais encontramos em nossas observações colhidas junto às IES, sempre respeitando o limite máximo online de 20%, foram as seguintes: 1) Cursos com suas disciplinas presenciais ofertando até 20% de suas atividades de forma semipresencial, como complemento a suas atividades. Nessa modalidade, o professor pode variar sua prática de ensino criando tarefas interativas num ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Mas tudo com cuidado, pois não deve simplesmente transplantar métodos de ensino que foram desenvolvidos para a sala de aula tradicional (FAVA, 2014, p. 167). 2) Cursos com disciplinas totalmente semipresenciais, com encontros presenciais marcados nas seguintes condições: um no início do período letivo para apresentar a disciplina e um antes de cada avaliação bimestral buscando sanar as dúvidas existentes. Assim, toda a sala de aula se transforma num AVA, com seus diversos recursos síncronos e assíncronos, mas considerando sempre que o professor é peça essencial nesse contexto, já que tem experiência em docência e no aprendizado do aluno (MATTAR, 2012, p. 81). 3) Cursos com disciplinas que permitem encontros obrigatórios a cada quinze dias, facilitando o contato do professor-tutor com seus discentes. Esse modelo proporciona, inclusive, a oportunidade de emprego da sala de aula invertida. Para Valente (2015, p. 1-2), a sala invertida consiste em prover material de apoio de modo que o aluno possa estudar o conteúdo antes de frequentar a sala de aula. Com base no material estudado, o aluno responde um conjunto de questões. (...). O professor antes de ministrar a aula, verifica as questões mais problemáticas, e que devem ser trabalhadas em sala de aula. Em todos os contextos acima citados, verificamos os seguintes pontos que estão sempre sendo discutidos nos eventos, além de outros: - Resistência inicial de muitos alunos pelo fato de estar num curso presencial;

4 - Tal resistência vai se dissipando durante o andamento das disciplinas, principalmente pelos alunos com maior experiência no uso da tecnologia; - Às vezes são empregados professores sem a capacitação necessária; - A escolha das melhores disciplinas para serem ministradas na modalidade semipresencial nem sempre são as ideais; - Por serem cursos presenciais, nem sempre existe uma equipe multidisciplinar em EaD completa para planejar e desenvolver tais disciplinas; - Dúvidas quanto às melhores formas de avaliação; e - Ambientes virtuais utilizados e plataformas de tecnologia da informação (TI) diferenciados, cada um com suas especificidades, vantagens e desvantagens. Buscando verificar se as impressões acima se confirmam, resolvemos analisar na seção a seguir os resultados de uma pesquisa numa IES. 3- Pesquisa sobre disciplina semipresencial Com o intuito de ratificar ou não as indagações citadas nos debates, resolvemos aprofundar a análise dos resultados de uma pesquisa aplicada na Associação Educacional Dom Bosco (AEDB), uma IES privada que atua há mais de 50 anos em Resende-RJ, oferecendo 18 cursos de graduação, todos presenciais. Alguns resultados iniciais já foram divulgados por Santos (2014). 3.1- Metodologia O objetivo da pesquisa foi verificar a percepção dos alunos matriculados em cursos presenciais, sobre o andamento das disciplinas ministradas na modalidade semipresencial. Conforme Mattar (2014, p. 57), no desenvolvimento de material para EaD, antes de tudo, devemos conhecer nosso público-alvo, senão, corremos o risco de planejar e desenvolver um ensino para uma audiência que não existe. A pesquisa foi do tipo Survey com abordagem quantitativa, que segundo Oliveira (2011, p. 21), é elaborada a partir do levantamento de dados via instrumento de coleta padronizado tipo questionário, aplicado em contato direto com uma amostra da população cuja opinião se deseja conhecer. Foi utilizado um questionário cuja primeira parte continha questões fechadas, sendo que algumas possibilitavam ao aluno expressar sua opinião. Já na segunda parte da pesquisa, referente às disciplinas e seus professores-

5 tutores, haviam questões usando uma escala Likert de 4 pontos, para os entrevistados indicarem o seu grau de concordância com os quesitos apresentados (BRANDALISE, 2014, p. 4). Além da pesquisa acima, foram também utilizadas técnicas de observação, conforme Oliveira (2011, p. 11), sobre os seguintes aspectos: capacitação de professores, suas funções, composição de equipe multidisciplinar, local de trabalho, horários de atendimento ao aluno, condições da plataforma e AVA. 3.2- Resultados obtidos Sobre o questionário, responderam à pesquisa 143 alunos de diferentes turmas e que já haviam estudado ou estavam participando de 12 disciplinas semipresenciais. Nos questionamentos iniciais da pesquisa, verificamos que existem questões parecidas com as que as outras IES trouxeram para os debates, tais como: a maioria dos alunos não sabia que iria estudar disciplina semipresencial e não tinha experiência anterior em EaD. Muitos alunos citaram como problema: os prazos para a realização das tarefas; as panes na plataforma de EaD; a falta de comunicação e interação com o professor, demora no tempo de resposta e sites desorganizados. No final da pesquisa, cada aluno avaliou uma disciplina semipresencial cursada, considerando os atributos citados por Campos (2011). Foram atribuídas notas de 1 a 4 para cada atributo, da seguinte forma: 1. Totalmente Insatisfeito; 2. Insatisfeito; 3. Satisfeito e 4. Muito Satisfeito. A pior disciplina avaliada, em porcentagem, encontra-se na Tabela 1: Atributo Nota 1 Nota 2 Nota 3 Nota 4 Organização da disciplina 25,0 45,0 30,0 0,0 Material didático 10,0 55,0 30,0 5,0 Mediação da tutoria 45,0 25,0 25,0 5,0 Interatividade entre professores/alunos 35,0 50,0 15,0 0,0 Avaliação da aprendizagem 15,0 25,0 55,0 5,0 Ambiente virtual de aprendizagem 60,0 20,0 15,0 5,0 Tabela 1. Pior avaliação de disciplina semipresencial Notamos que o resultado apresentado pela Tabela 1 deve ser alvo de preocupação da coordenação de EaD, tendo em vista, principalmente, que tal avaliação foi feita por alunos de turmas diversas, que estudavam com o mesmo professor e em ambientes virtuais diferentes.

A disciplina melhor avaliada pode ser verificada na Tabela 2 abaixo: Atributo Nota 1 Nota 2 Nota 3 Nota 4 Organização da disciplina 4,5 6,8 47,7 40,9 Material didático 2,3 6,8 45,5 45,5 Mediação da tutoria 0,0 15,9 36,4 47,7 Interatividade entre professores/alunos 0,0 9,1 45,5 45,5 Avaliação da aprendizagem 0,0 11,4 54,5 34,1 Ambiente virtual de aprendizagem 2,3 9,1 52,3 36,3 Tabela 2. Melhor avaliação de disciplina semipresencial Comparando os dados das tabelas verificamos uma grande diferença em todos os atributos. No caso da Tabela 2, vemos que os alunos, em sua maioria, aprovam o andamento da disciplina e a ação do professor-tutor. Na observação documental, pudemos notar que a instituição oferece os três tipos de modalidades de EaD citados na seção anterior. A composição do núcleo de EaD (NEAD) estava incompleta, existindo somente um coordenador geral, um coordenador pedagógico, um administrador do sistema e um webdesigner como estagiário. Os professores atuavam como conteudistas e tutores. Somente um professor-tutor não estava capacitado no AVA. Todo NEAD funciona em apenas uma sala, tanto para trabalhos internos, como para atendimento ao aluno. Em meados de 2014, o site da AEDB, e também seu AVA, ficaram fora do ar na maioria dos finais de semana, perfazendo um total de 257 horas sem que aluno pudesse acessar. Mas existem algumas ações que podem ajudar a mudar todo o quadro apresentado anteriormente nesse trabalho, como veremos a seguir. 6 4- Gestão de disciplinas semipresenciais Para Silva (2013, p. 30), o gestor de EaD deve estar atento, desde o planejamento, para os seguintes fatores, além de outros: sistemas de comunicação; material didático; avaliação; quadro de pessoal; infraestrutura de apoio; gestão acadêmico-administrativa e sustentabilidade financeira. 4.1- Planejamento Sobre o efetivo do NEAD devemos considerar, além dos coordenadores de EaD e pedagógico, pelo menos mais o seguinte: designer instrucional (DI), revisor, secretária, Webmaster e Web Instrucional. A quantidade de cada um deles depende do número de turmas e alunos.

7 Conforme Silva (2013, p. 55), sugerimos que além da sala da coordenação geral e pedagógica do NEAD, deve haver: uma sala própria para a tutoria, uma sala de design instrucional e de produção de material didático, um depósito e uma sala de secretaria, além do espaço para o atendimento. A instituição deve ter um sistema que faça a integração entre as matrículas dos alunos na secretaria com o seu cadastramento nos AVA, pois isso torna o acesso imediato do aluno nas disciplinas logo no início do ano. Estudos devem ser realizados de forma conjunta com o setor de TI para a aquisição de novos servidores de rede exclusivos para a EaD com maior capacidade de processamento e armazenamento, além da ampliação da velocidade da Internet, visando resolver os problemas da plataforma. Sobre a capacitação dos professores, Silva (2013, p. 70) diz: dentre todos os investimentos, os talentos humanos são os mais importantes. Sem profissionais qualificados, a probabilidade de erro amplia-se, inviabilizando qualquer iniciativa de EaD. Assim, todos os profissionais que atuam na modalidade devem estar devidamente capacitados para atuarem nos projetos. Além disso, a escolha das mídias, o planejamento das atividades de ensino-aprendizagem, o planejamento da tutoria e o sistema de avaliação dos alunos sejam desenvolvidos em objetivos gerais e específicos bem definidos, coerentes com teorias de aprendizagem (GAMEZ, 2012, p. 80). O tamanho das turmas é outro aspecto importante, pois é improdutivo conduzir chat e fóruns, por exemplo, com turmas cujo efetivo é elevado. 4.2- Desenvolvimento Inicialmente, os alunos devem participar de eventos que apresentem os motivos que regem uma disciplina semipresencial, seu enquadramento junto ao MEC, além de despertar para as vantagens da EaD e as características de um aluno online, buscando minimizar as resistências iniciais. A comunicação com os alunos deve ocorrer de várias formas, tanto na forma síncrona como na assíncrona, proporcionando interatividade pelo emprego das diversas ferramentas do AVA, tais como chat, correio, fóruns, entre outras, na busca constante da interação entre alunos e com tutores. Para Tori (2010, p. 57), sobre a comunicação entre alunos e professor, apesar das separações físicas, existem tecnologias que podem reduzir as

8 limitações temporais e espaciais. Para o autor, é perfeitamente possível ao aprendiz se sentir próximo ao professor, ou presente em uma atividade de aprendizagem, mesmo se encontrando afastado geograficamente. As atividades empregadas na disciplina devem se basear nas metodologias ativas e colaborativas, objetivando colocar o aluno no centro do processo, pois a aprendizagem a distância implica num grande desafio, já que o aluno não recebe o conhecimento de forma passiva (LITTO, 2010, p. 58). A disciplina deve oportunizar a autoavaliação, para que o aluno possa acompanhar o seu desenvolvimento e as correções de rumo necessárias ao seu próprio aprendizado. Além disso, deve contemplar os três tipos de avaliação para mensurar o aprendizado: diagnóstica, formativa e somativa. Outras avaliações podem ser feitas através de relatórios, considerando os registros dos acessos feitos pelo aluno no AVA e as ferramentas que utilizou. Os métodos pedagógicos utilizados devem ser analisados pelos educadores, visando questionar como está sendo a aplicação didáticopedagógica e a sua relação com a aprendizagem. Porém, para Mattar (2014, p. 154), professores e treinadores não são as melhores fontes de informação para prever a eficiência dos materiais, mas sim os próprios aprendizes. Assim, a aplicação de pesquisas pontuais nos alunos, possibilita o levantamento de suas opiniões, razão de ser do todo o processo, o que pode ajudar a resolver muitas questões na busca por melhorias efetivas. 5- Considerações Finais Este trabalho apresentou algumas questões que devem ser analisadas pelos gestores de EaD buscando contribuir para a melhoria das condições de oferta de disciplinas semipresenciais, considerando diversos aspectos, desde a montagem da equipe multidisciplinar, passando pelo investimento financeiro, chegando até na implementação e desenvolvimento das disciplinas. Mudanças de atitudes em vários níveis do processo e de forma significativa e pontual podem proporcionar resultados bem mais favoráveis na aprendizagem, e isso vai se refletir nas respostas ao se aplicar uma nova pesquisa nos alunos.

9 De acordo com os estudos desenvolvidos nesse trabalho, o gestor de EaD da instituição deve ficar atento aos pontos críticos aqui levantados. Propomos as seguintes ações para o NEAD, além de outras: - Atentar para os Referenciais de Qualidade do MEC; - O gestor de EaD deve administrar: sistemas de comunicação; material didático; quadro de pessoal; infraestrutura de apoio e gestão acadêmica; - Completar o quadro de profissionais do NEAD, seus horários e atendimento; - Ampliar a organização física do núcleo com os seguintes ambientes; - Adquirir servidores para EaD e ampliar a velocidade de acesso à Internet; - Preparar todos os professores para serem tutores e capacitados no AVA; - Proporcionar maior interação e comunicação entre professores e alunos; - Empregar as ferramentas mais adequadas do AVA, inclusive as colaborativas; - Fazer uso de formas diferenciadas de avaliação, inclusive a autoavaliação; e - Realizar pesquisas nos alunos para conhecer sua visão sobre o tema. Nossa proposta aos profissionais que trabalham com EaD e, principalmente com disciplinas semipresenciais, é que realizem novas pesquisas, se possível empregando outras ferramentas, visando analisar o processo por ângulos diferentes para que sejam feitas as correções de rumo necessárias, na busca pela consolidação da EaD com qualidade. O espírito da Portaria Nº 4.059 do MEC deve ser seguido pelas instituições, buscando realizar os projetos de disciplinas semipresenciais em conformidade com os reais objetivos propostos pelo citado dispositivo de lei. Finalizando, o artigo espera ter contribuído com as EIS no que se refere ao planejamento e gestão de disciplinas semipresenciais, o que pode possibilitar uma EaD virtual de maior credibilidade e não só por modismo. Referências ABED. Censo EAD.BR 2013: relatório analítico da aprendizagem a distância no Brasil. Curitiba: Ibpex, 2014. BABBIE, E. Métodos de Pesquisas de Survey. Belo Horizonte: UFMG, 1999. BEHAR, Patrícia A. (org.). Modelos pedagógicos em Educação a Distância. Porto Alegre: Artmed, 2009. BRANDALISE, Loreni T. Modelos de Medição de Percepção e Comportamento. Disponível em: <http://www.lgti.ufsc.br/brandalise.pdf> Acesso: 20 fev 2014.

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