ESCOLA COMO ESPAÇO DE GARANTIA DE RESPEITO ÀS DIFERENÇAS



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Transcrição:

ESCOLA COMO ESPAÇO DE GARANTIA DE RESPEITO ÀS DIFERENÇAS Verlani Catarina da Silva 1 ; Thales Valença Ferreira Castro 2 A escola como um espaço tão múltiplo de ideias, classes sociais e diversidades culturais esconde em seu âmago graves conflitos as vezes velados ou não, que deixam marcas na alma. Dialogar sobre os problemas com toda comunidade escolar afim de refletir a importância da igualdade e respeito as diferenças de cada indivíduo deve ser uma prática usual. Ter claro e saber definirmos preconceito, racismo e discriminação e como cada um se apresenta nos seres humanos é importante para que todos tenhamos noção do que isso vem causando ao longo dos anos na sociedade. O círculo de cultura realizado com os alunos foi um encontro de muita reflexão, respeito da escuta, leituras e conhecimentos trocados/socializados. Palavras Chave: Respeito, Discriminação, Preconceito, Racismo, Círculo É dentro do ambiente escolar, nos seus conteúdos desenvolvidos, na metodologia aplicada, na interação com o sujeito e na não neutralidade política que sempre acompanhou a educação que formaram-se (colocar em forma) ou libertaram-se ideias que ajudassem nas transformações da sociedade. Somente em uma prática pedagógica libertadora, necessariamente engajada, que habita a Esperança da reforma educacional proposta. Ao longo da história observamos que as transformações tecnológicas se deram pelo saber. Mas, as mudanças sociais significativas vieram da relação e da interação com o outro e da intervenção no meio. No investimento das relações afetivas, no respeito, na dignidade, no olhar crítico sobre o mundo e na identidade e vínculos que estabelecemos com os alunos. Contudo, no Brasil, ainda precisamos avançar mais junto aos nossos representantes públicos para que eles compreendam e ajudem a valorizar as 1 Professora Alfabetizadora em Escola Municipal da Cidade de Nova Hartz/RS. 2 Professor de História/RS.

transformação social através de políticas públicas proporcionando desta forma maior alcance da educação na contribuição efetiva e necessária. [...] os educadores progressistas sabem muito bem que a educação não é a alavanca da transformação da sociedade, mas sabem também o papel que ela tem nesse processo. Paulo Freire,2001-p.30 Muitos dirigentes políticos ainda estão pensando e agindo como se a escola fosse apenas um espaço frio, uma instituição que tem o compromisso de ensinar a ler, escrever e fazer contas. Esquecem que na escola os alunos ampliam seus conhecimentos de cidadãos com direitos e deveres, podendo desta maneira exercer mais plenamente sua cidadania, fazendo escolhas e envolvendo-se nas transformações do meio em que participam. Pelo fato da sociedade estar mais atenta e os pais mais participativo no ambiente escolar, os problemas e dificuldades encontrados são na sua grande maioria discutidos com a direção e comunidade escolar nas reuniões de pais e encontros de formação com professores. Este exercício de estar mais presente diretamente ou através da participação coletiva, traz pra escola momentos de muito crescimento e mudança, ampliando função e seu papel social. Alongando um pouco mais estas considerações, talvez eu pudesse dizer que, enquanto numa prática educativa conservadora competente se busca, ao ensinar os conteúdos, ocultar a razão de ser de um semnúmero de problemas sociais, numa prática educativa progressista, competente também, se preocupa, ao ensinar os conteúdos, desocultar a razão de ser daqueles problemas. Paulo Freire,2001-p.30 Entre as inúmeras adversidades que enfrenta o dia a dia de uma escola, o que vamos abordar está diretamente ligado a um caso ocorrido que envolveu preconceito, racismo e discriminação racial. Utilizamos a metodologia do Círculo de Cultura que Paulo Freire praticava, para conversar com a turma de alunos ajudando-os a pensar sobre o assunto. Para melhor compreensão é importante entendermos os conceitos que seguem:

Preconceito - é uma opinião que formamos das pessoas antes de conhecê-las. É um julgamento apressado e superficial e muito perigoso, pois ao invés de melhorar a nossa vida e da sociedade, acaba trazendo muitas situações complicadas. Racismo - Existem pessoas que não conseguem deixar de ser preconceituosas e podem vir a se tornar racistas. Um racista acredita que existe raças superiores às outras, o que é grande tolice, pois na espécie humana, não podemos dizer que existam raças; a cor da pele, a forma do nariz, o tipo do cabelo, o tipo do sangue, o formato e cor dos olhos, a espessura dos lábios, não são suficientes para estabelecer diferentes tipos de raças entre os seres humanos, que biologicamente são iguais em quase tudo, restando pequenas diferenças externas pouco importantes e que não servem para fazer com que uns sejam superiores ou inferiores aos outros e vice versa. Discriminação é tratar os outros com inferioridade, se julgando superior. A pessoa que faz isso, geralmente, quer valorizar a si próprio e diminuir os demais mesmo de brincadeira. É insegura porque não tem capacidade de conviver com os outros e aceitar as diferenças naturais entre os seres humanos. Os preconceituosos e racistas têm dificuldades em aceitar e conviver com a diferença e às vezes, suas atitudes chegam ao delírio e como são medrosos e inseguros, projetam sobre os outros que são inferiores a eles e que não podem ter os mesmos direitos quando os racistas e preconceituosos agem dessa maneira estão tratando os que eles julgam como inferiores a ele de maneira discriminatória. É o preconceito determinando atitudes, políticas, oportunidades e direitos, o convívio social e o econômico. A escolha desta turma de 4º ano, se deu devido a um caso identificado como racismo. O aluno vinha faltando muito as aulas e quando a mãe foi chamada para justificar, relatou que o menino não estava mais querendo comparecer na escola. Pois, vinha sofrendo com a discriminação racial por parte de alguns colegas da sala. Já havia sido percebido pela professora que o mesmo andava mais tristonho e calado em sala, inclusive havia perdido peso corpóreo visivelmente. Ou seja, a criança estaria somatizando o problema, foi encaminhado para atendimento com profissional da área da psicologia.

O relato que segue da atividade do círculo de cultura terá alguns ( não tudo que aconteceu no círculo), comentários que achamos pertinente para ilustrar o artigo. Participaram do círculo de cultura a supervisora da escola e a professora titular. Iniciamos com apresentações de todos participantes e a explicação do que é círculo de cultura, quem trabalhava desta forma, o quanto é importante este formato para que todos possam se ver, que queríamos trocar alguns pensamentos e ideias com a todos. Relatamos que a metodologia de trabalhar em círculos era uma prática de um professor brasileiro que escreveu muitos livros, que foi e ainda é muito importante para educação e que seu nome era Paulo Freire. Perguntado se alguém já havia escutado falar deste professor, para nossa surpresa uma aluna levantou dedinho dizendo que sim. Que assistiu na televisão um programa com ele. Iniciamos o diálogo contando de forma simples, mas pontuando bem a importância da história de Freire por todos os países por onde andou, por que precisou ficar longe do Brasil por 16 anos e o valor que o mundo dá a ele. Rodamos o vídeo ( A.H.F) Paulo Freire Educar para Transformar, selecionamos alguns pontos da fala dele importante para sensibilizar e para que os que não o conheciam visualmente passassem a conhecê-lo. No vídeo são apresentadas várias cenas de crianças provenientes das classes populares, das classes menos favorecidas economicamente. Os alunos ficaram muito atentos, lamentando-se assim que as cenas sucediam de acordo com a dinâmica utilizada, queriam ver todo vídeo linearmente. Neste momento alguns dos alunos cujo ambiente sócio econômico assemelha-se aos deles, logo identificaram-se com as crianças do vídeo, criando assim empatia por elas. Entre as muitas poesias e pensamentos presentes no círculo, tínhamos livros de histórias sobre as diferenças étnicas, sobre inclusão de indivíduos com necessidade especiais, relativo a diversidade cultural e de gênero. Distribuí a letra da música Proteção às Borboletas de Benito de Paula. Fizemos a leitura, cantamos, e só então fomos relendo, questionando o que o poeta gostaria de dizer, trazendo sempre para nosso dia a dia, ao nosso cotidiano, as relações que poderíamos ter com a nossa vida tanto na escola e em sociedade.

Para nossa alegria os alunos foram direto ao foco desejado (respeitar o outro, não maltratar, permitir que as pessoas sejam do seu jeito, etc.), surgiram vários entendimentos significativos que a todos sensibilizaram. Os alunos adoraram falar quando sentiram que suas opiniões foram valorizadas, já que a professora de classe e a supervisora contribuíram em grande monta, problematizando o que aprofundou notavelmente o Processo Dialógico. Proteção às Borboletas Benito Di Paula Eu sou como a borboleta Tudo o que eu penso é liberdade Não quero ser maltradado, nem exportado desse meu chão Minhas asas, minhas armas, não servem para me defender As cores da natureza pedem ajuda pra eu sobreviver Você que me vê voando Como a paz de uma criança Você sabe a minha idade Eu sou sua esperança A ordem da humanidade não deve ser destruída quando eu voar me proteja ]sou parte da sua vida Eu sou como a borboleta.. Estimulamos os alunos a escolher alguma poesia, frase, ou ainda algum dos livros presentes que estavam dispostos no círculo para fazer a leitura. E assim se deu. Os alunos muito à vontade participaram com entusiasmo e as leituras foram acontecendo sempre comentadas por todos os presentes.

Todos possuíam a perfeita compreensão dos conteúdos que estavam sendo abordados e que foram viabilizados através de relatos para que pudéssemos refletir e dialogar sobre discriminação, preconceito e racismo. Em nenhum momento foi abordado a experiência pessoal do aluno. Porém, observamos pelos relatos que estas atitudes discriminatórias de fato ocorrem sistematicamente entre eles, em suas rotinas escolares, principalmente nos momentos de raiva, de disputa, enfim, no dia a dia da escola. Os depoimentos foram tão profundos e bem compreendidos pelos alunos, que casos emblemáticos vieram à tona. A boneca barbie por exemplo. O que a faz ser tão famosa diante de outras? Quais os valores que esta boneca apresenta? O quanto de propositadamente étnico contém sua estética? Sobre este assunto nos debruçamos detidamente, refletindo e analisando, comparando o perfil daquele brinquedo, com a realidade das crianças. Porque será que as meninas gostam tanto da barbie? Nos textos lidos estão palavras tais como preconceito, racismo e discriminação, que durante a dinâmica do círculo tiveram seus conceitos assimilados. A partir de então, com as leituras, apropriaram-se destes diversos conceitos. Igualmente trouxeram oralmente o conhecimento da lei coercitiva ao crime de discriminação racial. O que quero dizer é o seguinte: que alguém se torne machista, racista, classista, sei lá o quê, mas se assuma como transgressor da natureza humana. Não me venha com justificativas genéticas, sociológicas ou históricas ou filosóficas para explicar a superioridade da branquitude sobre a negritude, dos homens sobre as mulheres, dos patrões sobre os empregados. Qualquer discriminação é imoral e lutar contra ela é um dever por mais que se reconheça a força dos condicionamentos a enfrentar. A boniteza de ser gente se acha, entre outras coisas, nessa possibilidade e nesse dever de brigar. Saber que devo respeito à autonomia e à identidade do educando exige de mim uma prática em tudo coerente com este saber. Paulo Freire,1997.p.67 Pedagogia da Autonomia Por serem as escolas espaços de convivência com um número grande de pessoas, cada uma com suas histórias e vivências que se misturam dia a dia é sabido que, além dos conflitos discriminatórios que existem entre alunos, existem da mesma forma outros entre os professores e demais participantes da

vida escolar. E, o pior de tudo, existe entre professores e alunos. Tudo isso fonte causadora de sentimentos de revolta e tristezas. Perante os graves obstáculos no combate à discriminação, racismo e preconceitos dentro da escola que torna-se fundamental que professores, família e instituição juntos promovam momentos que venham a instruir e conscientizar a todos da importância da igualdade e respeito as diferenças de cada indivíduo. Numa busca incessante na formação de cidadãos conscientes que construam um mundo mais justo e melhor. Não precisa me amar, só me dê meus direitos. Luis Fernando Veríssimo

BIBLIOGRAFIA FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes. Vol 1. 5ª ed. São Paulo, SP: Globo, 2008. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 3ª Edição São Paulo, SP: Ed, Paz e Terra S/A, 1997. _ A Educação na Cidade. 5ª Edição - São Paulo, SP: Editora Cortez,2001 SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 6ª ed. São Paulo, SP: Ed. Record, 2001. SODRÉ, Muniz. Claros e escuros: identidade, povo e mídia no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999. VIDEO- (AHF) Paulo Freire- Educar para Transformar Instituto Paulo Freire- Projeto memória 2005.