AS QUESTÕES AMBIENTAL, TÉCNICA E IMPLICAÇÃO SOCIAL DA LOCAÇÃO DAS UNIDADES OPERACIONAIS DE ESGOTOS



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Transcrição:

AS QUESTÕES AMBIENTAL, TÉCNICA E IMPLICAÇÃO SOCIAL DA LOCAÇÃO DAS UNIDADES OPERACIONAIS DE ESGOTOS Patrícia Magalhães Gomes (1) Engenheira da Superintendência de Projetos de Esgotos da CAESB, desde 1991. Formada pela Universidade de Brasília (1987). MSc em Public Health Engineering pelo Imperial College/Universidade de Londres (1990). Estágio em Sewage Works Engineering II no Japão (1994) e em Management of Urban Water Supply and Waste Water Systems na Suécia (1996). Cursos de extensão em saneamento. Antônio Luís Harada Engenheiro da Superintendência de Projetos de Esgotos da CAESB, desde 1991. Atualmente é o Coordenador da Divisão de Apoio Técnico da Superintendência de Projetos de Esgotos da CAESB. Formado pela Universidade de Brasília (1986). Especialização em Engenharia Sanitária em Loughbourogh/Inglaterra (1994). Cursos em extensão em saneamento. Mestrando em Recursos Hídricos pela UnB. Endereço (1) : SQS 111 - bloco D - apto. 503 - Asa Sul - Brasília - DF - CEP: 70374-040 - Brasil - Tel: (061) 346-9020 - Fax: (061) 346-9020 / (061) 325-7104. RESUMO O presente trabalho analisa os aspectos ambientais, técnicos e sociais referentes às estações de tratamento de esgotos e estações elevatórias de esgotos, no que tange a sua locação e tecnologia empregada e a influência e participação da comunidade no processo. Procurou-se analisar a questão de forma imparcial, sem perder o fim precípuo dos sistemas de esgotamento sanitário. Levantou-se aspectos relacionados à degradação ambiental; recuperação de cursos d água; problemas de desapropriação de terras; proximidade de áreas habitadas; urbanismo da cidade; aceitação da população beneficiada; dentre outros. Tentou-se responder questões básicas sobre o apoio da comunidade, influência do planejamento urbano; minimização dos impactos locais, efetiva determinação da utilização de impactos ambientais. Também foram analisados os problemas típicos do Distrito Federal. PALAVRAS-CHAVE: Locação Unidade Esgoto, Tratamento de Esgotos, Elevatória de Esgotos, Análise Multiobjetiva. INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por objetivo analisar os aspectos ambientais, técnicos e sociais referentes aos sistemas de esgotamento sanitário, em especial as estações de tratamento de esgotos e estações elevatórias de esgotos, no que tange a sua locação e tecnologia empregada e a influência e participação da comunidade no processo. Apesar do trabalho ter sido 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 727

elaborado no Distrito Federal acredita-se que a experiência candanga poderá ser útil a outros órgãos responsáveis pelo saneamento básico das outras cidades brasileiras. Os principais casos analisados foram os das estações de tratamento, tendo em vista o grande número destas unidades que estão atualmente em fase de projeto ou implantação; e que a CAESB procura, de um modo geral evitar o uso de estações elevatórias de esgotos. DESCRIÇÃO DO PROBLEMA Dentro de um sistema completo de esgotamento sanitário há uma série de características a serem definidas em uma seqüência própria. A primeira ponto a ser definido é o melhor tipo de sistema de esgotamento a ser utilizado. Sistemas individuais de esgotamento são soluções possíveis de serem adotadas em diversas áreas com vantagens técnico/econômicas, sendo importante a verificação da aplicabilidade deste sistema, levando-se em consideração as condições futuras de adensamento populacional, espaço disponível, tipos de edificação, capacidade operacional da população. Em contraponto, compara-se estas soluções a sistemas coletivos mais complexos, prevendo-se redes de coleta e unidades de transporte e tratamento de esgotos. A própria norma brasileira prevê um processo de escolha de alternativas na definição do sistema de esgotamento. De acordo com a norma NBR 9648, que estabelece critérios para a elaboração de estudos de concepção de sistemas de esgotamento sanitário, este tipo de estudo deve consistir de... arranjos das diferentes partes do sistema, organizadas de modo a formarem um todo integrado e que devem ser qualitativa e quantitativamente comparáveis entre si, para a escolha da concepção básica. Este estudo deve basear-se na definição de pontos básicos como: - número de elementos existentes: emissários, interceptores, estações elevatórias e de tratamento; - localização dos principais elementos; - número e abrangência das bacias de drenagem. Dentro da análise entram, também, questões como a subdivisão dos sistemas de tratamento em bacias menores e a possibilidade da operação dos sistemas pelas próprias comunidades. Um outro passo desse processo, intimamente ligado aos anteriores é a definição do tipo de tratamento. as limitações impostas pela população à proximidade de sistemas de tratamento de esgotos, o que limita o uso de soluções de uso extensivo de terreno. Tradicionalmente o aspecto decisivo na concepção de sistemas, o fator econômico, nos últimos anos, acabou por ceder espaço aos fatores ambientais e sociais não sendo mais o fator decisivo na hora da escolha do tipo de sistema de esgotamento sanitário a ser adotado em determinada localidade. De todos os aspectos que devem ser analisados no momento da definição do local de uma unidade operacional de esgoto, quer seja tratamento, quer seja elevatória, o mais importante talvez seja o ambiental. Entretanto, o aspecto social é fortemente ligado ao ambiental, tendo em vista que as unidades operacionais de esgotos estão cada vez mais perto 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 728

da população. Já o aspecto técnico perde a sua relevância uma vez que ele acaba por trazer soluções ao problema, mesmo que não seja a mais barato, e também interagir com a sociedade e o meio ambiente. Portanto, torna-se necessário responder a questões como: - É possível implantar unidades operacionais de esgotos com o apoio da comunidade local?; - Como se interpõe a questão do planejamento urbano e crescimento populacional no processo de definição destas unidades?; - Como considerar e minimizar os impactos locais gerados por unidades operacionais de esgotos? Tais impactos podem determinar a não utilização de tecnologias apropriadas? De forma a tentar responder tais questões pode-se iniciar a análise através do aspecto técnico, o qual é atualmente o mais simples, pois as ferramentas computacionais, hoje disponíveis, tornam a abordagem técnica bastante acessível. Planilhas Excel, bastante comuns, podem ser capazes de gerar os dados para a análise da capacidade de autodepuração dos cursos d água (modelo de Streeter-Phelps), como também dados de eficiência da remoção de DBO e informações para a análise de diversas situações possíveis de operação de EE. Apesar dos aspectos técnicos serem relativamente simples, é necessário adaptar a técnica ao ambiente no qual a unidade está inserida, por exemplo a disponibilidade de terras. No Distrito Federal existem várias unidades de proteção ambiental, e ocorreu um crescimento acelerado e desordenado da população causando uma dificuldade para estabelecer qual o melhor sistema de esgotamento sanitário para a localidade. Além disso, no Distrito Federal estão diversas nascentes de cursos d água que vão formar três importantes bacias hidrográficas, São Francisco, Tocantins e Paraná. A maior conseqüência disto é a pequena vazão encontrada nos cursos d água do DF, obrigando à ETE tratar os esgotos a nível compatível com a classe 2 da Resolução CONAMA n o 20, já que os cursos d água do DF não foram até hoje classificados, e o fato de muitas vezes a vazão de esgotos ser muito próxima da vazão do corpo receptor. Essa questão ambiental parte não apenas da degradação do meio ambiente, mas também da postura ambiental adotada pelo Governo do Distrito Federal. Usualmente a Secretaria de Meio Ambiente e Tecnologia (SEMATEC), órgão designado pelo governo não tem impedido a instalação dos sistemas de esgotamento sanitário. Entretanto, há, cada vez mais, numerosos requisitos de preservação ambiental e a sua recuperação. Por exemplo, a SEMATEC exige que a cada número de árvore cortada um número x de árvores sejam plantadas, este número varia de acordo com a espécie cortada. No contexto social, um dos maiores problemas da locação das unidades de esgotos é a necessidade de desapropriar as benfeitorias e as terras aonde se pretende implantar uma ETE ou EE, tendo em vista que as pessoas sentem-se lesadas e não aceitam que o benefício para a coletividade tenha que ser feito justamente aonde estão. Este efeito de aversão das comunidades à implantação de benfeitorias em sistemas de saneamento em suas proximidades tem recebido uma denominação especial que ilustra bastante o problema: Efeito NIMBY (not in my backyard). O despreparo dos órgão oficiais para o manuseio desses processos envolvendo desapropriação de benfeitorias ou terras também se torna impeditivo, pois ocasionam um processo de liberação de áreas moroso, inviabilizando cronogramas de implantação. No Distrito Federal, este 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 729

problema seria teoricamente simples de ser resolvido, pois na sua maioria as terras são arrendadas a chacareiros, sendo, portanto, terras de domínio do Governo do DF. Entretanto, este problema torna-se extremamente delicado, pois os chacareiros sentem-se donos da terra e querem ser ressarcidos da terra também, além de muitas vezes invadirem áreas públicas e não aceitarem a sua ocupação por ETE ou EE. Com relação ao planejamento urbano a situação complica-se dado que as previsões de crescimento populacional costumam não serem confiáveis a longo prazo. No DF o crescimento foi acelerado para algumas regiões e desordenado como um todo. Com surgimento de assentamentos de população de baixa renda promovidos pelos governos anteriores, o aumento dos condomínios irregulares e mudanças das normas de gabarito e edificação, todas as projeções de crescimento das Cidades Satélites foram superadas, seja para mais ou para menos, tornando difícil planejar a longo prazo. Com estas considerações é possível responder às perguntas formuladas. Sim, é possível considerar e minimizar os impactos locais gerados por unidades operacionais de esgotos, sendo que tais impactos efetivamente determinam a utilização de tecnologias apropriadas, não apenas no sentido de custo, mas, fundamentalmente, às necessidades da comunidade a ser atendida. É necessário, também, discutir com os órgãos governamentais as questões do planejamento urbano e o envolvimento da população no processo. Entenda-se que a população não deve decidir o processo de esgotamento a ser adotado, pois isto é função dos técnicos da concessionária local, mas sim, na interação com o sistema adotado e através da colaboração com a implantação do sistema e, fundamentalmente, com a sua correta utilização. COMO ABORDAR O PROBLEMA? Esta não é uma pergunta fácil de ser respondida. Ao considerar a abordagem tradicional do problema, ele teria que ser enquadrado dentro de uma análise do tipo custo-benefício, buscando-se entre as várias alternativas técnicas, a de melhor desempenho financeiro. Nesta análise, os custos a serem avaliados, para todas as alternativas, deveriam incluir: - custo de implantação dos sistemas; - custo de operação/manutenção; sendo uma das parcelas mais importantes, dependendo do sistema de tratamento e disposição final de esgotos considerado, envolvendo também insumos e a mão-de-obra utilizados no funcionamento dos sistemas; - custo de desapropriação de terras; parcela que adquire maior importância à medida em que são utilizados sistemas com maior necessidade de área, para tratamento e disposição final; - custos de orientação comunitária de uso dos sistemas; principalmente em sistemas descentralizados ou individuais. Estes custos, porém, não refletem todos os aspectos necessários, indicando que modos mais flexíveis de análise seriam interessantes. Uma das características mais importantes do problema, é a existência de inúmeros elementos que devem influenciar na tomada de decisão. Esta diversidade indica, inicialmente, que o custo não é o único fator preponderante na escolha da alternativa, pois este é mais relevante apenas para um grupo de decisores, representado pelo 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 730

responsável pelo saneamento local e os organismos de financiamento. Outros agentes tem interesses diferenciados, desligados do critério básico de análise de custo. São critérios como a melhor conservação dos recursos hídricos e áreas de interesse ecológico, no caso dos órgãos ambientais; e o maior conforto proporcionado à população local. Há, ainda, interesses ligados a sistemas que melhor permitam a expansão populacional. Outro aspecto é a rigidez dos modelos convencionais de seleção de alternativas do tipo custobenefício. Estes modelos implicam numa estrutura de preferência entre alternativas bastante rígida, onde pequenas diferenças já caracterizam uma relação de dominância. Pequenas diferenças de custos entre alternativas poderiam ser excessivamente valorizadas em detrimento de características interessantes de alternativas mais caras. Também não há a valorização de aspectos de difícil custeio, como por exemplo o risco de propagação de odores, a maior flexibilidade na permissão do adensamento urbano, ou uma melhor qualidade de água em uma maior extensão de rios. Dentre a série de diferentes tipos de alternativas que devem ser abordadas verifica-se que muitas dificilmente poderiam ser comparáveis do ponto de vista de custos. Por exemplo: sistemas operados pelas comunidades e sistemas individuais de esgotamento são provavelmente de grande interesse da empresa de saneamento e órgãos financiadores, pelo pequeno desembolso de originam. Neste aspecto pode residir um conceito de incomparabilidade inexistente dentro de uma análise de critério único, baseada unicamente em custos. Portanto, fica clara a necessidade do uso de um modelo de inspiração multicritério como maneira de buscar uma solução ao problema apresentado, por ter maior flexibilidade para a consideração de todas as condições particulares de cada sistema. De um modo geral, tal análise deve era simples para permitir um bom entendimento e concordância da população atingida; considerar as opiniões dos agentes financiadores, além do panorama político e a necessidade de rapidez de execução. PROPOSTA DE ABORDAGEM SUGERIDA Não se estabeleceu uma metodologia específica na elaboração destes estudos, uma vez que a análise de cada caso ocorreu concomitantemente com a definição dos locais e métodos de tratamentos a serem empregados, inclusive de vários locais ao mesmo tempo. Porém, já é possível empregar algumas técnicas de auxílio à decisão como análises multicritério, uso de informações tomadas em reuniões com a comunidade e a participação de equipes multidisciplinares, que buscam aliar os interesses de diversos órgãos do Distrito Federal. E, a partir daí, desenvolver uma metodologia para auxiliar no processo de locação das unidades operacionais de esgotos e até certo ponto do tipo de sistema de esgotamento sanitário a ser utilizado em determinado local. De um modo geral, deve-se desenvolver um set de alternativas viáveis, utilizando um grupo de critérios que consideram além dos aspectos econômicos e financeiros os aspectos técnic os, ambientais e sociais. A cada tipo de aspectos deve se dar pesos e medidas, as mais simples possíveis, de tal forma que leve a escolha da melhor alternativa. Na medida do possível, deve- 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 731

se discutir com os envolvidos os pesos de cada aspecto analisado. Sendo assim, pode-se identificar pontos em comum entre as alternativas que geram melhores possibilidades de escolha da melhor alternativa. A construção de uma matriz é simples, pois os princípios do processo são rudimentares. Mas esta simplicidade é extremamente importante para a compreensão tanto dos técnicos, como da comunidade e demais agentes envolvidos. Para cada aspecto avaliado são dados pontos de 1 a 5 (muito negativo a muito positivo) e para cada aspecto analisado adota-se pesos percentuais, diferenciando assim a importância a ser dada os aspectos econômicos-financeiros, técnicos, ambientais e sociais. Desde modo, a alternativa que obtiver o maior produto Peso x Pontuação será a alternativa mais indicada. Para os aspectos econômicos-financeiros pode-se considerar, dentre outros: - custo de desapropriação das terras (quanto mais elevado o seu custo mais negativa a sua pontuação); - custo de implantação (quanto mais elevado mais negativo o impacto); - custo de operação e manutenção (quanto mais elevado mais negativo o impacto). Para os aspectos técnicos pode-se considerar, dentre outros: - necessidade de área (quanto mais necessário mais negativo o impacto); - tecnologia construtiva/operacional (quanto mais complexa mais negativo o impacto); - flexibilidade do sistema ( quanto mais flexível mais positivo o impacto); - confiabilidade operacional (quanto mais a confiável mais positivo o impacto); - eficiência do tratamento (quanto maior a remoção de DBO, N, P, patogênicos etc. mais positivo o impacto); - produção de lodos (quanto maior mais negativo o impacto); - risco de extravasamento (quanto maior mais negativo o impacto). Para os aspectos ambientais pode-se considerar, dentre outros: - os impactos durante a implantação; - os impactos da operação; - os impactos nos recursos hídricos. De um modo geral os impactos sobre o meio ambiente variam de medianos a positivos, pois na maioria das vezes estes impactos são mais benéficos que a ausência do sistema se esgotamento sanitário. Deve-se considerar neste caso os impactos sobre a flora, fauna, terra, ar, água e ruídos causados pelo empreendimento, e verificar se serão apenas temporários ou permanentes. Para os aspectos sociais pode-se considerar, dentre outros: - aceitabilidade pela população afetada (quanto menor mais negativo o impacto); - influência na economia local (verificar impactos sobre o nível de emprego, transportes, desenvolvimento geral da localidade, valor dos imóveis etc.); 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 732

- melhoria nas condições de vida/saneamento/educação (quanto melhor mais positivo o impacto). À partir destes dados determina-se uma matriz de avaliação multiobjetiva, conforme o exemplo abaixo. Pode-se comparar, até um certo grau com as matrizes de avaliação de impacto ambiental. A alternativa que apresentar a melhor pontuação será aquela que deverá ser desenvolvida, salvo algumas restrições que possam ser impostas à ela pelos agentes financiadores ou outros aspectos não considerados na matriz. Tabela 1: Matriz de Avaliação de Sistemas de Esgotamento Sanitário. TIPO DE CRITÉRIO PESOS ALTERNATIVA I ALTERNATIVA II Pontos Pontos x Pesos Pontos Pontos x Pesos Econômico-Financeiro (x %) Desapropriação x1 1 a 5 1 a 5 Implantação x2 1 a 5 1 a 5 Operação x3 1 a 5 1 a 5 Técnico (y%) Necessidade de área y1 1 a 5 1 a 5 Tecnologia y2 1 a 5 1 a 5 Flexibilidade y3 1 a 5 1 a 5 Confiabilidade y4 1 a 5 1 a 5 Eficiência y5 1 a 5 1 a 5 Produção de lodos y6 1 a 5 1 a 5 Risco de extravasamento y7 1 a 5 1 a 5 Ambiental (z%) 1 a 5 Implantação z1 1 a 5 1 a 5 Operação z2 1 a 5 1 a 5 Recursos hídricos z3 1 a 5 1 a 5 Social (w%) 1 a 5 Aceitabilidade w1 1 a 5 1 a 5 Economia local w2 1 a 5 1 a 5 Condições de vida w3 1 a 5 1 a 5 TOTAL 100 Ip Ipp IIp IIpp Pontuação utilizada na avaliação: 1-muito negativo, 2-negativo, 3-indiferente, 4-positivo, 5-muito positivo Ressalta-se que a matriz é flexível, devendo ser elaborada uma para cada caso. O pesos de cada item, apresentados como xn, yn, zn e wn, deverão der dados em comum em debates com os elementos envolvidos, incluindo representantes de interesses da comunidade, órgãos regionais, agentes financiadores e, principalmente, da empresa de saneamento. OUTROS IMPORTANTES ASPECTOS A OBSERVAR Independente da concepção do sistema a ser implantado, é possível contar com o apoio da comunidade desde que ocorra um trabalho de base de educação e diálogo. A CAESB, através da adoção do sistema condominial de esgotos, tem tido a oportunidade de realizar um trabalho de educação sanitária junto à população permitindo, assim, quebrar mitos e desenvolver uma cultura de higiene e saneamento melhorando as condições de vida da população. Desta forma, é 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 733

possível a criação do interesse, nem sempre existente, pela implantação de sistemas de saneamento, tendo ainda o comprometimento da população. As reuniões de educação sanitária propostas pelo sistema condominial vem ajudando neste processo, sendo uma importante arma. Um outro aspecto social que precisa ser levado em conta independente da concepção do sistema é a adaptação deste à arquitetura da localidade, não destoando as estruturas externas do seu entorno. Obras visualmente mais amigáveis, levam as comunidades a defender a implantação de unidades operacionais de esgotos, quebrando a tradicional repulsa a estas estruturas, sendo interessante o estímulo à urbanização e o acabamento das obras, mesmo significando acréscimos em custo. Este aspecto também pode ser verificado na questão de impactos ao meio ambiente local. A utilização de árvores da vegetação local como a faixa verde de ETE e EE, possibilita a redução de impactos e evita restrições de órgãos ambientais. O aproveitamento de elementos naturais como o cerrado da região, caatinga ou campina da região pode servir como elemento de urbanização e de caracterização visual da área interna da ETE. CONCLUSÃO A principal conclusão deste trabalho não poderia ser outra senão o estudo caso a caso e negociações técnicas com o órgão ambiental competente. Entretanto, é possível abstrair alguns detalhes de interesse geral como a utilização da vegetação nativa na área verde de proteção das estações de tratamento de esgotos e elevatórias de esgotos; necessidade de respeitar o urbanismo e arquitetura do local; possibilidade de orientar a população adequadamente sobre o sistema de esgotamento sanitário e a obtenção da colaboração desta população; o grande tempo demandado pelas desapropriações e obtenção do direito de uso da área pelo governo local, além dos custos envolvidos; uma aparente degradação ambiental pode significar uma grande recuperação de cursos d água; além da grande influência da população sobre as obras de implantação dos sistemas de esgotamento sanitário. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. HARADA, A L. Metodologias para a criação de diretrizes do esgotamento sanitário de loteamentos não regularizados no DF. Brasília, 1997. Seminário de mestrado-faculdade de Tecnologia-Universidade de Brasília. 2. ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). NBR 9648-Estudo de Concepção de Sistemas de Esgoto Sanitário. Brasil, 1986. 3. SERVSAN, Engenharia e Consultoria Ltda. Projeto do Sistema de Esgotamento Sanitário da Cidade de São Sebastião/DF. 2 a remessa. Brasília, junho 1996. 25p. Contrato com a CAESB. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 734

4. SERVSAN, Engenharia e Consultoria Ltda. Projeto da Complementação do Sistema de Esgotamento Sanitário da Cidade de Sobradinho/DF. 2 a remessa. Brasília, maio 1996. 46p. Contrato com a CAESB. 5. BURSZTYN, M. A. Gestão ambiental, Instrumentos e Práticas. Ministério do Meio Ambiente e Amazônia Legal / IBAMA. Brasil,1994. 6. GOICOECHEA, et al. Multiobjective Decision Analysis with Engineering and Business Applications. John Wiley & Sons inc. Chichester (UK), 1082. 7. VINCKE, et al. Multicriteria Decision-Aid. John Wiley & Sons inc. Chichester (UK), 1982. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 735