O mercado de mandioca, preços reagem. E o futuro? *



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Transcrição:

O mercado de mandioca, preços reagem. E o futuro? * Foto: Acervo Biblioteca SEAGRI-BA Carlos Estevão Leite Cardoso** Lucilio Rogério Aparecido Alves*** Fábio Isaias Felipe**** Enéas Santos Melo***** O objetivo deste texto é apresentar breves considerações sobre a cadeia produtiva e os mercados de mandioca e de seus derivados, chamando a atenção para a estrutura de governança, assim como para a concorrência por área entre algumas culturas anuais e por matériaprima (raiz de mandioca) entre os segmentos produtores de farinha e fécula, e para a concorrência identificada no mercado de amido. Os efeitos da instabilidade nos preços (Gráfico 1) decorrentes, dentre outros fatores, de uma coordenação da cadeia (Índic e) 300 250 200 150 100 50 Gráfico 1 Índices de preços de raiz de mandioca nos Estados da Bahia e do Paraná. 1990 a 2005. 0 jan/90 jan/92 jan/94 jan/96 jan/98 jan/00 jan/02 jan/04 (Meses) Índice Bahia índice Paraná índice *Este artigo é uma versão ampliada do artigo Mandioca: organização da cadeia produtiva, publicado na Revista Agroanalysis, v.27, n.2, 02/2007. Os autores agradecem as sugestões apresentadas pelos pesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, Clóvis Oliveira de Almeida e Ranulfo Corrêa Caldas. **Pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, Pesquisador convidado do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada Cepea/Esalq/USP, Cruz das Almas BA; e-mail: estevao@cnpmf.embrapa.br ***Doutor em Economia Aplicada, Pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada Cepea/Esalq/USP, Piracicaba SP; e-mail: lualves@esalq.usp.br ****Graduando em Ciências Econômicas e Pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada Cepea/Esalq/USP, Piracicaba SP; e-mail: fifelipe@esalq.usp.br *****Estudante de graduação do Centro de Ciências Agrárias da UFRB, Bolsista do CNPq, Cruz das Almas BA; e-mail: eneasmelo@yahoo.com.br 49

não adequada às características da oferta de matéria-prima, voltam como era esperado, a espalhar, por todo segmento, incertezas e desestímulo. No âmbito do setor industrial (produção de fécula e de farinha de mandioca) a escolha entre os diversos modos de gestão das transações na cadeia de mandioca, ou seja, entre as diferentes formas de governança, consideram a decisão entre produzir a própria matéria-prima (raiz de mandioca), comprá-la via mercado spot ou adquiri-la por meio de uma forma híbrida entre os dois extremos, predominando a forma mais eficiente. Isto é: aquela que minimiza não só os custos de produção, mas também os custos de transação envolvidos. Tem predominado nesta cadeia, no âmbito nacional, a compra da matéria-prima via mercado spot. Exceção é feita às iniciativas tomadas no Centro-Sul do Brasil no sentido de buscar uma melhor harmonia entre a oferta e a demanda de matéria-prima. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) apontam que, no ano de 2004, mais de 60% das fecularias do Brasil (concentradas no Centro-Sul do País) fizeram contratos de compra de matéria-prima com o produtor, determinando um preço mínimo de aquisição. Entretanto, o volume de matéria-prima (Índice) Fonte: Dados básicos (FGV, 2006). e a área envolvida não são considerados satisfatórios, e, em alguns casos, o cumprimento do contrato ainda não é realizado totalmente, identificando-se atitudes oportunistas de ambos que participam do processo (produtores e industriais). Mesmo assim, este instrumento é a sinalização do caminho a ser seguido pela cadeia produtiva na busca de uma melhor estrutura para o setor. Enquanto a efetivação dos contratos não se materializa nos importantes pólos de produção de mandioca de forma ampla e continuada, assiste-se às recorrentes crises cíclicas que ganham contornos Gráfico 2 Índices de preços do trigo no Brasil e no Estado do Paraná. 1990 a 2005. 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 jan/90 jan/92 jan/94 jan/96 jan/98 jan/00 jan/02 jan/04 (Meses) Índice Brasil índice Paraná índice diferentes a depender da conjuntura nacional e internacional. A situação conjuntural, até meados do mês de agosto de 2006, não era tão favorável. Além do impacto do comportamento cíclico do mercado de mandioca, havia alguns fatores que estavam concorrendo para agravar a situação do mercado nacional. Entre os principais podem ser citados: a) o preço do trigo, embora tenha reagindo nos últimos meses de 2006, no pico da safra de mandioca apresentava tendência de queda, decorrente do aumento na safra interna e da política de valorização, que concorre para o decréscimo nos preços (em real) dos produtos importados (Gráfico 2). b) embora a participação brasileira no mercado internacional de fécula não seja tão expressiva, a valorização cambial, por sua vez, também, reduz a competitividade da fécula no mercado externo, uma vez que diminui a rentabilidade (em moeda nacional) por unidade exportada. Em 2006 (até novembro), o real apresentou valorização média de aproximadamente 10,5%, em relação ao dólar. Quando se comparam os anos de 2002 e 2006 (anos recentes de preços baixos de mandioca), pode-se dizer que, para quem exporta na cadeia de mandioca que, este último Foto: Manuela Cavadas 50

Foto: Manoel França ano, foi extremamente difícil. A diferença na taxa de câmbio entre esses dois anos foi de aproximadamente 34,1%. c) a safra tailandesa de fécula apresentou redução no ano-safra 2004/05 (-21%), mas voltou a sinalizar recuperação na safra atual (2005/06), com acréscimo de 12%, o que provocou queda do preço do amido de mandioca no mercado internacional, em virtude da grande participação daquele país nesse mercado. Isso restringiu ainda mais as possibilidades de exportação por parte do Brasil, em decorrência dos preços não competitivos, mesmo se tendo observado preços baixos no mercado externo na maior parte do ano de 2006; d) os preços do milho estavam em queda. Comparando-se os meses de set/2005 e set/2006, o preço do milho, no mercado atacadista do Paraná, foi 18,6% menor, influenciado pelo acréscimo da produção e pela redução na demanda de rações para aves, em virtude da gripe aviária. Neste caso, houve menor pressão sobre o preço da matériaprima do amido de milho, substituto da fécula de mandioca em vários processos industriais, quando o seu preço não está favorável; e) além disso, nos estados do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, muitos proprietários estão optando por arrendar, principalmente as maiores áreas para o plantio de cana-de-açúcar. Neste sentido, é necessário se atentar para a possibilidade de elevação dos custos de produção em resposta à valorização da terra e, conseqüentemente, do arrendamento. Com custos maiores, há redução nas margens dos produtores, e tendência de se elevar os preços de venda, o que diminuiria a competitividade dos produtos derivados da mandioca, comparativamente aos seus substitutos. A maioria desses aspectos, no curto prazo, concorreu para a queda no preço da fécula. Isto significa maior disponibilidade de raiz para outros fins e, conseqüentemente, queda no preço da farinha de mandioca em todo o Brasil. Ao mesmo tempo, como o preço pago ao produtor de raiz é determinado com base no preço recebido pelos derivados, subtraídos de um markup do setor industrial (ver ALVES, et al., 2006), há menor sustentação para os preços da matériaprima. Com preços menores, o plantio de mandioca perde atratividade vis-à-vis a culturas concorrentes em área, favorecendo a incerteza quanto a preços nos períodos posteriores. Este é o cenário observado no Centro-Sul, onde o plantio de mandioca concorre em área com grãos, cana-de-açúcar e pastagens. Neste último caso, a depender da conjuntura de mercado, há até complementaridade entre as duas atividades. Para o Semi-árido do Nordeste a situação se agrava diante de uma queda de produção na próxima safra (de maio a novembro de 2007). Portanto, para a safra 2007, os efeitos combinados do atraso nas chuvas de verão (2005/2006) e dos preços em baixa podem significar queda na produção determinada pela menor 51

área plantada. Neste sentido, poderá haver uma elevação dos preços, no final de 2007 (já observado em todo o Centro- Sul) e início de 2008. A magnitude dessa elevação vai depender, também, do comportamento dos preços no Centro- Sul do Brasil, que poderá ser influenciado pela expectativa do novo mercado que se abrirá com possibilidade da adição da fécula de mandioca à farinha de trigo. A título de exemplo, de meado de agosto ao final de novembro de 2006, os preços médios recebidos pelos produtores de mandioca do Estado do Paraná, quase dobraram (descontando-se a inflação), passando de R$ 76,34/t para R$ 146,08/t (dados básicos Cepea, 2006). Para a Região Nordeste, os impactos dos preços baixos observados na maior parte do ano 2006, só não se tornaram mais drásticos, no curto prazo, porque o efeito da seca provocou aumento na demanda por raiz e pela parte aérea da mandioca para o arraçoamento animal. Em Araripina (PE) e Arapiraca (AL), por exemplo, o resíduo sólido, resultante da produção de farinha (a raspa como é chamada na região), chegou a custar mais caro que a própria raiz. A utilização da parte aérea de forma indiscriminada para a alimentação animal, em alguns anos, chega a provocar déficit no material propagativo para os novos plantios. Isso também poderá concorrer para uma menor área e maiores preços no médio e longo prazos. Diante desse contexto, realça-se a necessidade de melhorar a estrutura de governança na cadeia produtiva. Em termos de microrregiões, por exemplo, talvez a ampliação dos contratos entre produtor e indústria, e entre estes e os compradores dos produtos finais, parece ser primordial. Entretanto, é importante que se iniciem discussões visando a modernização dos contratos. Contratos que só contemplam preços mínimos ou nem mesmo esses, certamente retardam o processo de implantação de uma adequada organização na cadeia produtiva. Alguns dos contratos que foram negociados no Centro-Sul do Brasil visando a próxima safra (2008/2009) só contemplaram a quantidade e a época de entrega de matéria-prima. Outrossim, promover uma maior participação de todos os atores sociais da cadeia produtiva torna-se imperativo, se há realmente a intenção em conduzi-la para um lugar de destaque no agronegócio brasileiro. Estimular uma maior participação dos pequenos produtores em todos os fóruns de decisão poderá significar um importante passo para se atingir essa meta. Neste sentido, sugerese, como primeiro passo, que se estimule a criação de câmaras setoriais em todos os estados brasileiros em que a cultura da mandioca é importante. Organizações que atuam no âmbito regional parecem contribuir para iniciar o crescimento de um maior lobby junto aos setores público e privado. Os grupos de interesses deverão ser vistos como importantes aliados na formulação de políticas setoriais. Foto: Acervo Biblioteca SEAGRI 52

Como ação de curto prazo, aventa-se a possibilidade de contar com o apoio de instituições que já trabalham com a cadeia produtiva da mandioca nos diversos estados. Uma alternativa pode ser a formulação de um projeto que aloque recursos financeiros para ações/atividades que possam promover o fortalecimento institucional e a governança da cadeia da mandioca. Como resultado dessa estratégia, espera-se aumentar a informação e minimizar a instabilidade nos preços, tentando-se reduzir as divergências entre a oferta e a demanda. Essas ações deverão contar com o apoio das instituições públicas, empresários, representantes dos produtores e organizações não-governamentais. O Estado da Bahia poderia aproveitar a oportunidade e trilhar esse caminho, neste momento de mudança, considerando-se as importantes ações públicas e privadas que já vêm se desenvolvendo no Estado em apoio a essa cadeia produtiva. Ao finalizar, olhando para o futuro, resta a constatação: se não for alterada a relação entre os segmentos produtores de matéria-prima e as indústrias de processamento (fecularias e farinheiras), e destas com as indústrias que usam a fécula como insumo, os preços tenderão a repetir, ao longo do tempo, o comportamento cíclico já bastante conhecido, sendo alterado, para pior, quando fatores aleatórios mencionados anteriormente aparecerem (gripe aviária, por exemplo). REFERÊNCIAS ALVES, Lucilio Rogério Aparecido et al. Casualidade e transmissão entre os preços de mandioca, trigo, milho e seus derivados no Paraná. Revista de Economia e Agronegócio, v.4, n.3, p. 313-342, 2006. CEPEA. Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. Mandioca. Disponível em: < http://www. cepea.esalq.usp.br/mandioca/raiz.xls >. Acesso em 13 dez. 2006. FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. FGVDados. Rio de Janeiro, 2006. Foto: Manuela Cavadas 53