PRÁTICAS EDUCATIVAS JUNTO A MÃES-ACOMPANHANTES E SEUS FILHOS HOSPITALIZADOS EM UMA UNIDADE DE INTERNAÇÃO PEDIÁTRICA: RELATANDO UMA EXPERIÊNCIA 1 RESUMO Cláudia Silveira Viera Luana Aparecida Alves da Silva Alessandra Vidal da Silva Ana Carolina Rossin Gabriele Balbinot Este estudo visa apresentar uma experiência de práticas educativas desenvolvidas junto a mães-acompanhantes e seus filhos na unidade de internação de Alojamento Conjunto Pediátrico (ACP) de um hospital público do oeste do Paraná. As práticas educativas saúde desenvolvidas em um projeto de extensão universitária da UNIOESTE que esta em andamento a nove anos e já foram desenvolvidas por acadêmicos dos cursos de pedagogia, informática e enfermagem, atualmente são executadas por acadêmicos do terceiro ano do curso de Enfermagem da UNIOESTE. Por meio das práticas educativas sem saúde podemos vislumbrar uma oportunidade de apreensão de conhecimentos pelas mães e crianças hospitalizadas no ACP que poderão se repercutir no cotidiano de sua hospitalização, bem como de sua saúde. Oferecer, portanto, durante o período de hospitalização no ACP as práticas educativas exigem da equipe de saúde disponibilização de estratégias que motivem a participação dos usuários nas atividades. PALAVRAS-CHAVES: práticas educativas; criança; saúde. INTRODUÇÃO As mudanças que ocorrem na rotina familiar e de trabalho da família que tem um filho hospitalizado devem ser percebidas pela equipe de enfermagem, para que faça parte do cuidado prestado a díade criança-família. O alojamento conjunto pediátrico surgiu, então, para favorecer a permanência da mãe nas unidades de pediatria, com o intuito de diminuir o estresse causado pela separação decorrente da hospitalização tanto para a criança como para mãe/família. Esse modelo de assistência trouxe mudanças na rotina da unidade e 1 Recorte do projeto de extensão intitulado Atividades lúdicas junto a crianças e adolescentes hospitalizados em unidade de pediatria. 1
da família, porém a equipe de enfermagem em seu cotidiano não percebe que essas mudanças também ocorrem para a família da criança. Tornando-se esta, muitas vezes apenas um recurso humano presente na hospitalização que pode auxiliar nos cuidados a serem prestados à criança. A situação vivenciada com a hospitalização provoca uma alteração na estrutura familiar, possibilitando conflito no papel dos pais. Percebe-se que a mãe fica angustiada e estressada com tal situação, pois fica dividida em seu papel de mãe. Enquanto cuida do filho hospitalizado, o outro fica privado de sua presença e cuidados em casa, além de ter de se ausentar de casa e do trabalho. Nesse sentido, questiona-se porque não intervir na rotina da instituição para amenizar a situação adversa experimentada pela mãe-acompanhante. Dessa forma, poder-se-á contribuir para a diminuição de sua angústia e estresse, propiciando-lhe melhores condições para cuidar de seu filho na hospitalização. Viera (2000) identificou em seu estudo o diagnóstico de enfermagem Conflito de Desempenho no Papel dos Pais relacionado a preocupação expressa pela mãe com mudanças no papel materno e no funcionamento familiar, decorrente da hospitalização da criança; preocupação com os outros filhos em casa; da mudança na rotina de sua vida; mudança no papel de dona-de-casa em que o esposo passou a assumir as atividades de casa; queixa de solidão e de não conseguir dar atenção ao esposo; mudança na rotina diária de sua vida devido à permanência no hospital por longo período com a criança ou ainda, a rotina diária de sua vida mudou por estar longe do trabalho e dos afazeres domésticos. Portanto, são vários os fatores que contribuem para o sofrimento psíquico da mãe-acompanhante durante a hospitalização. Uma das formas de minimizar o sofrimento psíquico dos sujeitos envolvidos no processo de hospitalização de um ACP é a utilização das práticas educativas como estratégia. Estas vem assumindo certa relevância como forma de cuidado na Enfermagem em Saúde Pública, em que a partir de experiências desenvolvidas percebe-se o cuidado e sua relação com a ação educativa (ACIOLI, 2008). Desse modo, este estudo procura apresentar uma estratégia de intervenção desenvolvida em um projeto de extensão junto a mães-acompanhantes e seus filhos hospitalizados em uma unidade de pediatria de um hospital público do oeste do Paraná, que promoveu momentos de lazer e práticas em saúde para esses sujeitos. Assim, tem como objetivo apresentar uma experiência de práticas educativas desenvolvidas junto a mães- 2
acompanhantes e seus filhos na unidade de internação de Alojamento Conjunto Pediátrico (ACP) de um hospital público do oeste do Paraná. METODOLOGIA Relato de experiência de projeto de extensão desenvolvido junto a mãeacompanhantes e crianças do alojamento conjunto pediátrico de um hospital público do Oeste do Paraná. Os sujeitos deste relato foram 38 mães-acompanhantes e 55 crianças. As atividades aqui relatadas desenvolveram-se de março a julho de 2009. No início do corrente ano, as atividades práticas ocorriam duas vezes na semana, sendo uma atividade de prática educativa e outra lúdica para a criança e uma para as mães-acompanhantes intervaladas. Contudo, após algumas intervenções, em reunião do coordenador do projeto com as acadêmicas do curso de enfermagem que realizavam as atividades foi relatado uma experiência de atividade conjunta com mãe-acompanhantes e crianças no mesmo horário, a qual foi avaliada muito produtiva e teve maior participação das mães-acompanhantes. A partir de então, passou-se a desenvolver as atividades uma vez por semana concomitantes, salientando-se que as atividades de relaxamento com as mães-acompanhantes teve sucesso e passou a ser utilizada em todas as intervenções, associada ou não a prática educativa em saúde. A prática educativa consistia de aulas em power point sobre temáticas variadas: parasitoses, corpo humano, alimentação saudável, higiene corporal, promoção a saúde da criança. Primeiramente, eram convidados a todos a participarem da atividade na sala de recreação da unidade, tanto crianças como acompanhantes, posteriormente apresentava-se a atividade no computador ou na televisão e ao término da atividade fazia-se um momento lúdico de feedback: pintura, desenhos pelas crianças ou de relaxamento com os acompanhantes. As atividades lúdicas consistiam de acesso a sites infantis pelas crianças com auxílio das mães-acompanhantes, sendo orientado pelos acadêmicos quanto a um tempo inicial livre de acesso a internet e em um segundo momento, eram conduzidos a uma prática educativa acerca da ferramenta informática (noções gerais dos programa). Durante as atividades fazia-se o registro em um formulário previamente elaborado das reações tanto das crianças como das mãe/acompanhantes antes, durante e depois da prática educativa e/ou lúdica. Esses dados foram sistematizados em um quadro próprio, 3
fazendo-se uma descrição dos sentimentos e reações identificados nos encontros e, posteriormente foram analisados mediante comparação com a literatura. RESULTADO As crianças que participaram das atividades tinham entre um a 13 anos, a maioria tinha entre seis a nove anos e estavam hospitalizadas pelas mais diversas patologias: pneumonia, com ou sem derrame pleural, sepses, pós-operatório de apendicectomia e fratura de antebraço, hidrocefalia, meningite, atropelamento, infecções de trato urinário, crise convulsiva e, diagnóstico a esclarecer. Antes da realização da atividade na unidade foi observado que as mães-acompanhantes tinham uma aparência apática, cansada. Em suas falas relataram queixas de cansaço, estresse, ansiedade, que as horas não passavam no hospital e o ambiente era cansativo, estavam ansiosas para irem embora. Durante a atividade prestaram atenção, algumas queriam brincar junto com a criança, referiam gostar da atividade e mostravam-se satisfeitas com a alegria da criança, relatavam sobre o problema do filho, na forma de desabafo, questionando às acadêmicas sobre problemas de saúde da criança. Quando era dia de atividades no computador, queriam jogar junto com a criança, auxiliando-a no jogo, pareciam estar se divertindo e ao término da atividade pareciam estar satisfeitas, pois se demonstravam mais alegres do que quando entraram para a atividade. Referiam sentirem-se melhor depois das atividades, principalmente a de relaxamento e alongamento, sentiam que o estresse de permanecer no hospital diminuía. Antes da atividade as crianças apresentavam-se desanimadas, outras curiosas, ansiosas, agitadas, outras atenciosas, tímidas, introvertidas, ficavam olhando para o suporte de soro constantemente e algumas relutavam em sair da enfermaria para participar da atividade. Durante o desenvolvimento das atividades tanto lúdicas como das práticas educativas, as crianças participaram quando eram solicitadas, riam algumas vezes, mostravam-se atentas, no momento de desenharem mostravam-se ansiosas por fazerem a atividade e escreverem seus nomes ou para jogarem no computador. Apresentavam fácies de alegria e satisfação com a brincadeira, mostravam seus desenhos todo o tempo. Contudo, dependendo da faixa etária, algumas crianças brincavam sozinhas, não interagiam com as demais, disputavam os brinquedos, outras ficavam observando os colegas, tinha também aquelas que queriam comandar a brincadeira. 4
No término da atividade, apresentavam-se menos agitadas, mais alegres, choravam porque não queriam parar com a brincadeira, no entanto, algumas se mantinham agitadas e ansiosas. Na atividade com a ferramenta da informática apresentavam intenso interesse e não queriam sair do computador. Para contribuir com a humanização do cuidado à criança e família na hospitalização, este projeto criou um espaço lúdico onde a criança e mãe-acompanhante pudessem se expressar e externalizar por meio do brincar, do fazer, os sentimentos advindos do processo de adoecimento e internação. Além de contribuir para amenizar o sofrimento causado pela situação atual. O desenvolvimento do projeto mostrou resultados semelhantes ao estudo de Guiss et al. (2007) em que a criança/adolescente durante as atividades lúdico-recreativas ou mesmo logo após estas, passavam de uma condição passiva, que a doença e o ambiente hospitalar impõe muitas vezes, para uma condição ativa, em que desenvolvem suas potencialidades, expressam seus medos, dúvidas angústias, aliviando seu sofrimento e recuperando assim sua normalidade. Brincando, as crianças constroem seu próprio mundo e os brinquedos são as ferramentas que contribuem para esta construção. A utilização da informática como meio de humanizar o cuidado na hospitalização é uma realidade em nosso país, em estudo desenvolvido por Torres (2007) sobre a experiência com o desenvolvimento de atividades de aprendizagem pedagógica mediante um ambiente virtual com crianças hospitalizadas, o autor refere que houve uma interrelação entre as crianças/adolescente e os bancos escolares, superando uma das maiores dificuldades do processo de escolarização desse grupo, que é o afastamento escolar por período indeterminado devido à doença. CONSIDERAÇÕES As atividades desencadeiam um processo de socialização do binômio criançafamília, construindo juntos algo que lhes traga satisfação. Além de minimizar o estresse da criança-família, essas atividades demonstram que no espaço hospitalar é possível desenvolvermos uma assistência que vai para além do biológico, buscando a construção da integralidade. É preciso, então, desenvolver estratégias de cuidado que possibilitem o enfrentamento dos momentos difíceis vivenciados durante toda a hospitalização. Uma dessas estratégias pode ser a utilização do lúdico para desenvolver habilidades de enfrentamento, bem como possibilita aproximar um pouco o cotidiano do brincar para a 5
criança no contexto hospitalar, assim como para seu acompanhante. Este deixará um pouco suas preocupações e vivenciará momentos de relaxamento e lazer. Este projeto propiciou à criança hospitalizada e ao seu acompanhante, o desenvolvimento de atividades lúdicas, recreativas e pedagógicas durante o período de sua permanência na instituição hospitalar. Desenvolveu uma proposta metodológica de atuação no sentido de minimizar os efeitos da internação, por meio da recreação planejada no intuito de descontrair o ambiente e alegrar o cotidiano da criança hospitalizada e seu acompanhante, tirando-os do foco da doença proporcionando-lhes momentos de prazer. O desenvolvimento do projeto além de reduzir o estresse da hospitalização, propicia o acesso digital de crianças e mães-acompanhantes, cujas condições sócio-econômicas não permitiriam esse acesso não fosse no ambiente hospitalar. Pode-se dizer que há uma potencialidade na extensão enquanto espaço de formação voltada para o cuidado e como produção de conhecimento, além da centralidade da ação educativa para a Enfermagem em quaisquer espaços de atenção à saúde. REFERÊNCIAS 1. VIERA, C.S. Os diagnósticos de enfermagem da Taxonomia da NANDA de mulheres com filho prematuro hospitalizado e o sistema conceitual de King. Dissertação [Mestrado] Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto USP, Ribeirão Preto, 2000. 2. GUIS L. et al. A política de humanização do cuidado à criança e ao adolescente hospitalizados: escola de informática e cidadania no hospital. IN: 3º seminário Nacional Políticas Estado Sociais no Brasil. UNIOESTE. Cascavel. 23 a 25 de agosto de 2007. 3. TORRES, P. L. Laboratório on-line de aprendizagem: uma experiência de aprendizagem colaborativa por meio do ambiente virtual de aprendizagem Eurek@kids. Caderno do CEDES/Centro de Estudos Educação Sociedade 2007 set-out; v 27, n73, p. 335-352. 4. ACIOLI, S. A prática educativa como expressão do cuidado em Saúde Pública. Rev Bras Enferm. 2008 jan-fev; v 61, n 1, p. 117-21. 6