ESTRESSE OCUPACIONAL E ESTRATÉGIA DE ENFRENTAMENTO: UMA ANÁLISE SUMÁRIA DA LITERATURA



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Transcrição:

ESTRESSE OCUPACIONAL E ESTRATÉGIA DE ENFRENTAMENTO: UMA ANÁLISE SUMÁRIA DA LITERATURA Luciane Teresinha Zermiani Pereira 1, Eduardo Soares Lucena 2 1 Mestrando em Gestão e Desenvolvimento Regional. Universidade de Taubaté/ECA, Rua Exped. Ernesto Pereira s/n Taubaté - SP 2 Mestrando em Gestão e Desenvolvimento Regional. Universidade de Taubaté/ECA, Rua Exped. Ernesto Pereira s/n Taubaté SP Resumo Os ambientes organizacionais sofrem constantes mutações em função da necessidade de adaptabilidade ao mercado. As consequências para as organizações podem ser desde um aumento gradativo do estresse até uma alavancagem do índice de afastamento no trabalho. As políticas de Recursos Humanos podem ser tratadas pelas organizações como estratégias de enfrentamento do estresse decorrente deste cenário, por outro lado, o indivíduo também pode desenvolver suas próprias estratégias de enfrentamento do estresse. O objetivo deste artigo é o de fazer uma análise sumária da literatura sobre estresse ocupacional e coping, afim de provocar uma reflexão acerca das atitudes dos indivíduos e organizações sobre o tema proposto. Palavras-chave: Estresse Ocupacional. Estratégia de enfrentamento.

ABSTRACT The organizational environments suffer constant change depending on the need for adaptability to the market. The consequences for organizations can be provided a gradual increase of stress to a rate of removal of leverage at work. The politics of Human Resources can be handled by organizations such as the stress of coping strategies under this scenario, On the other hand, the individual can also develop their own strategies for confrontation of stress. The objective of this paper is to make a brief review of the literature on occupational stress and coping, in order to provoke a discussion about the attitudes of individuals and organizations on the proposed topic. Key Words: Occupational Stress. Confrontation Strategies (Coping).

1. Introdução As organizações sofrem pressões dos diversos mercados, acionistas, governos, além das variáveis políticas e econômicas, forçando a tornar-se competitiva, tendo assim que flexibilizar e alinhar-se a estas exigências. Os impactos dessas pressões recaem sobre as pessoas. Exige-se o comprometimento das pessoas, resultados de qualidade e melhoria contínua para atender a nova realidade de mercado. Diante deste cenário as pessoas sofrem o impacto direto dessas pressões, o que pode gerar o estresse como resultado. A exposição das pessoas a estas pressões de maneira contínua, aumenta a probabilidade do indivíduo desenvolver algum transtorno mental e do comportamento que se não cuidado, pode agravar e levar a um adoecimento mental. Para colaborar com esta reflexão, vejamos a observação de Inocente (2007, p. 151) na Classificação dos Transtornos Mentais e do Comportamento CID 10 (OMS, 1993), o estresse é visto como uma reação a um evento de vida excepcionalmente estressante, produzindo uma reação aguda ou uma mudança de vida significativa e levando a circunstâncias desagradáveis continuadas, que resultam em um transtorno de ajustamento. Constatou-se em várias pesquisas que existem inúmeras implicações, para os indivíduos e organizações, ocorridas em função de situações estressantes entre elas podemos citar: doenças bucais, doenças cardiovasculares, doenças dermatológicas, doenças gastricas, dores músculo-esqueléticas, entre outras. Podemos dizer que o estresse vem sendo considerado um dos males do século devido às transformações do mundo, onde as mudanças são constantes e as pessoas sofrem os impactos das mesmas. Este artigo tem como propósito, por meio de uma revisão da literatura: Identificar as principais definições de estresse ocupacional e coping, abordados em artigos acadêmicos, livros e bibliotecas virtuais; Investigar a correlação existente entre os conceitos e as abordagens, analisando pontos de convergências e divergências entre os autores;

Diagnosticar como a abodagem teórica trata a origem do estresse e como os indivíduos e organizações fazem o enfrentamento. Inferir quais atitudes as organizações podem desenvolver afim de previnir o estresse ocupacional. Enfim, compreender os conceitos de estresse e como as organizações e indivíduos fazem o enfrentamento, é o ponto central que norteia todo o desenvolvimento deste artigo. 2. Metodologia A pesquisa bibliográfica realizada teve como fonte os artigos publicados em revistas científicas, além de livros que tratam sobre o assunto abordado: estresse ocupacional e coping. As bases de dados utilizadas foram: Scielo, onde as palavras chaves foram: estresse ocupacional e enfrentamento. 3. Revisão Sumária da Literatura 3.1 Estresse Inicialmente faremos uma análise dos principais conceitos de estresse abordados por diversos autores, objetivando identificar o que mais se aproxima do propósito deste artigo. De acordo com o dicionário Aurélio (p.728) a palavra estresse pode ser definida como o conjunto de reações do organismo a agressões de ordem física, psíquica, infecciosa, e outras, capazes de perturbar-lhe a homeostase; estricção. Para Edna et al o estresse é um termo utilizado para denominar um conjunto de reações orgânicas e psíquicas de adaptação que o organismo emite quando é exposto a qualquer estímulo que o excite, amedronte ou faça muito feliz (2008, p.137).

Segundo Lipp (2003, p.18) o estresse é uma reação psicofisiológica muito complexa que tem em sua gênese a necessidade do organismo fazer face a algo que ameace sua homeostase interna. Também para Lipp o stress é um processo e não uma reação única. (2003, p.18) Para Seyle (1954, apud Santos; Júnior, 2007, p. 104) O estresse é uma resposta não específica do organismo diante de qualquer situação que ameace a homeostase do indivíduo, gerando a necessidade de mobilização para enfrentar o evento causador do desequilíbrio biopsicossocial. Conforme Sampaio; Galasso (2007, p. 65) diferentemente de outros riscos ocupacionais, em geral relacionados a trabalhos específicos, o stress associa-se de formas variadas a todos os tipos de trabalho, prejudicando não só a saúde, mas também o desempenho dos trabalhadores. Analisando a forma abordada por FRANÇA, RODRIGUES (2007), temos que as reações ao estresse são naturais e necessárias até certo ponto, é o chamado estresse positivo ou eustress. De acordo com Inocente (2007, p.151) o estresse não é necessariamente um processo nocivo ao organismo. É importante ressaltar que, com grau de intensidade adequada, aumenta a eficiência do desempenho necessário para o funcionamento vital e para o desenvolvimento pessoal, e é chamado de eustress. Por outro lado quando há um rompimento do equilíbrio bio-psico-social seja por excesso ou mesmo por falta de esforço é chamado distress. Conforme podemos observar no gráfico a seguir.

Curva do Stress Fonte: Rodrigues, 1988; Lipp, 1996 apud França, 2007 Segundo Selye (1956 apud Lipp 2003) o estresse se desenvolve em três fases:alerta, resistência e exaustão. Conforme veremos no quadro 01. A fase de alerta neste estágio pode-se dizer que a uma quebra do equilíbrio interno de forma natural, essa reação que permite ao organismo lidar com situações de urgência foi provocada pela adrenalina lançada no organismo através do sistema nervoso como defesa automática do corpo. Quando o agente estressor tem uma duração curta, a adrenalina é eliminada e a homeostase é restaurada (LIPP 2003) Na fase de resistência de forma natural, essa reação que permite ao organismo lidar com situações de urgência foi provocada pela adrenalina lançada no organismo através do sistema nervoso como defesa automática do corpo. Quando o agente estressor tem uma duração curta, a adrenalina é eliminada e a homeostase é restaurada. A terceira fase é caracterizada pelo esgotamento da energia do organismo. Vejamos no quadro 1 a seguir, as fases do processo de estresse.

Quadro 1 Fases do processo de Estresse FASES DO PROCESSO DE ESTRESSE Fase Características Conseqüências Fase de Alerta ou Reação de Alarme Fase de Resistênci a Fase de Exaustão Contato com o agente estressor Quebra do equilíbrio interno do organismo Produzir mais força e energia para enfrentamento Capacidade de resistência acima do normal Sensação de desgastes sem motivos Dificuldade de memorização Após adaptação ao estressor cessa o estresse e suas seqüelas Aumento da freqüência cardíaca Aumento da pressão arterial Aumento da freqüência respiratória Ansiedade Ulceração no aparelho digestivo Irritabilidade Insônia Mudança de humor Diminuição do desejo sexual Sintomas semelhantes aos manisfestados na fase de Falhas no mecanismo de alarme adaptação Ocorre a exaustão psicológica manifesta em forma de Esgotamento por sobrecarga depressão fisiológica As doenças começam a aparecer podendo ocorrer a morte Morte do Organismo Fonte: Adaptado de França e Rodrigues (2002, p.37-38) apud Tacio(2006) Dadas as concepções dos diversos autores sobre o estresse, podemos observar que a abordagem de estresse de Selye, trata o estresse em momentos e intensidade diferentes, ou seja a de que o estresse se desenvolve em três fases, variando da alerta, passando pela resistência até chegar na fase de exaustão. Segundo Lipp (2003, p. 20) o estresse pode acarretar inúmeras conseqüências para as pessoas, familiares, comunidade e empresas. No âmbito psicológico e emocional do ser humano, o stress excessivo produz cansaço mental, dificuldade de concentração, perda de memória imediata, apatia e indiferença emocional. Além de outras, conforme consta no quadro 01. As causas do estresse são os estressores, estes podem ser externos como também internos. Como estressores externos pode-se considerar a fome, o frio, dores, ambiente social ou de trabalho. Os estressores internos apresentam-se como pensamentos, emoções, angústias, medo, alegria, tristeza, entre outros (FRANÇA e RODRIGUES, 2002).

A liderança ruim é outro fator que pode influenciar o desenvolvimento do estresse nos trabalhadores segundo Quick et al (2005) influenciando diretamente ou indiretamente sobre o ambiente de trabalho. Para Inocente (2007) o estresse pode decorrer de quatro áreas, esta abordagem nos dá uma dimensão dos fatores geradores de estresse, as quatro áreas são as seguintes: Fatores orgânicos estão ligados a condição geral de saúde do organismo do indivíduo; Fatores cognitivos refere-se aos pensamentos do indivíduo em relação a si mesmo, ao mundo, ao futuro e ao controle que possui da situação; Fatores comportamentais decorrente de recompensas e punições que o indivíduo recebeu em relação aos seus comportamentos ao longo de sua vida, o comportamento que o indivíduo possui para o enfrentamento ou esquiva de situações adversas. Fatores ambientais são os elementos presentes no ambiente que podem atenuar ou intensificar os efeitos do estresse sobre o organismo. As pessoas vêem os estressores no ambiente de trabalho através dos elementos percebidos. Se os elementos forem contínuos e se os indivíduos não possuírem potencialidades para enfrentá-los há uma propensão para criação de reações físicas e psicológicas, fato este que contribui para o aumento de doenças ocupacionais e afastamento ao trabalho (TAMAYO, 2008). Neste sentido, ao consultarmos as bases de dados do Scielo, observamos que os fatores estressores variam de profissão para profissão, variam ainda em função do ambiente de trabalho, da liderança a que o indivíduo está submetido, a ausência de apoios sociais no trabalho, falta de recursos para desempenhar suas funções, falta de autonomia no trabalho dentre outros. Em relação ao modelo de demanda/controle temos a contribuição de Inocente (2007) para esclarecer seu significado, onde foca na problemática do indivíduo ter baixo controle sobre o seu trabalho, ou seja, baixa autonomia para desempenhar suas tarefas, correlacionado com altas exigências psicológicas e baixo apoio social dos colegas e superiores. Em pesquisa realizada no Scielo, Araújo; Garça e Araújo (2003) analisaram as contribuições do modelo demanda-controle, Os resultados apontaram para a boa capacidade do modelo demanda-controle em identificar diferentes situações de risco à saúde mental dos trabalhadores. Aspectos relacionados à demanda psicológica do

trabalho estavam mais fortemente associadas a elevadas prevalências de distúrbios psíquicos menores do que os aspectos referentes ao controle, estas conclusões foram possíveis a partir do uso do JQC ( Job Content Questionnaire) na aplicação do modelo demanda-controle. Todas estas condições que o indivíduo acaba sendo submetido, principalmente pelas necessidades de adaptação da organização ao mercado, leva, dependendo da forma como ele percebe a situação, ao estresse. 3.2 Estratégia de enfrentamento (coping) As estratégias de enfrentamento referem-se a forma como o indivíduo lida com a situação estressante, como ele percebe e trata a situação, enfrentando-a, nesta linha vejamos as contribuições dos autores: Lipp ( 2003, p. 93) afirma que em português, coping vem sendo traduzido como enfrentamento, ajustamento, é o equivalente ao enfrentamento, como se vê na literatura em língua francesa. Ainda de acordo com Lipp (2003) o coping é o conjunto de esforços de controle, sem levar em consideração as conseqüências, sendo uma resposta ao estresse com o intuito de diminuir as qualidades aversivas. O coping é uma resposta que tem como objetivo ampliar, construir ou manter a percepção do controle pessoal. Sendo que este sentido pode ser ilusório. As pessoas podem perceber o estresse de forma consistente e na forma de combatê-lo, mas essa consistência depende de variações sistemáticas de situações ou estilo. A escolha de uma estratégia de enfrentamento irá depender do indivíduo. Para França (2007) o enfrentamento são os eforços que desenvolve-se ao lidar com situações externas ou internas, as quais são consideradas além das possibilidades. Uma das estratégias de enfrentamento, que a organização pode oferecer ao indivíduo ou funcionário é o investimento em saúde preventiva, com programas que visam amenizar o impacto do estresse sobre a vida das pessoas, conforme apresenta Inocente (2007) em estudos recentes as empresas consideradas sadias propõem políticas que protegem a saúde do trabalhador. Onde a empresa sadia é aquela que têm baixas taxas de enfermidades, lesões e invalidez e que consegue ser competitiva e produtiva em relação ao mercado.

Observamos que o enfrentamento pode ser trabalhado sob a ótica da capacidade individual da pessoa e também sob o prisma da organização, como indivíduo, o enfrentamento depende muito das habilidades que ele possui de criar caminhos que minimizem ou até eliminem o impacto do estresse; como organização, o enfrentamento pode ser feito com base nas políticas de Recursos Humanos que a empresa resolve adotar, desde programas de saúde preventiva envolvento o SESMT Serviço de Segurança e Medicina no Trabalho, os programas de treinamento em relacionamento e desenvolvimento gerencial, até as políticas salariais adotadas pela empresa como estímulo recompensa ao trabalhador. Podemos perceber que uma boa política de Recursos Humanos pode ajudar muito no enfrentamento do estresse, por outro lado, uma política de Recursos Humanos mal formulada pode ter o efeito inverso, ou seja, o de estimular o desenvolvimento de estresse entre os trabalhadores de uma organização. Para contribuir com esta discussão do estresse na organização podemos buscar apoio na referência de Morgan (1996) onde utiliza a metáfora da organização como prisão psíquica, esta metáfora trata a organização no sentido de que são processos conscientes e incoscientes que criam as preisões psíquicas e as mantêm como tais com a noção de que as pessoas podem tornarem-se prisioneiras de imagens, idéias, pensamentos e ações que esses processos acabam por gerar. Estabelecendo um paralelismo com o desenvolvimento de políticas de Recursos Humanos, As organizações precisam verificar se as políticas de Recursos Humanos estão estimulando ou não a prisão psíquica, o que pode consequentemente gerar maior estresse e alienação do trabalhador ou não. Um estudo realizado por Barros e Nahas (2001) com 4225 trabalhadores da indústria, que visava identificar a prevalência e analisar a associação entre comportamentos de risco a saúde, percepção de estresse e auto-avaliação do nível de saúde em trabalhadores da indústria, concluiu que mesmo considerando as limitações inerentes aos estudos transversais, e baseado em medidas auto relatadas, os resultados sugerem elevada prevalência de abuso de bebidas alcoólicas e inatividade física de lazer. A associação observada entre sexo e comportamento de risco redefiniu um perfil bidimensional: nos homens os comportamentos de risco mais prevalentes tornaram a forma de risco direto/ativo (fumar, abuso de bebidas alcoólicas) e nas mulheres tornaram a forma de risco indireto/passivo (inatividade física, estresse). Os resultados apresentados por este estudo reforçam a necessidade das organizações prepararem

políticas de Recursos Humanos mais adequadas as necessidades das pessoas nas organizações, ou arcará com o ônus de não prever situações como as apresentadas nesta pesquisa. 4. Discussão Analisando as abordagens teóricas apresentadas na revisão sumária da literatura, podemos observar que o conceito de estresse é abordado por diversos autores, sempre tratando a percepção do indivíduo como a referência para saber se possui o estresse; Uma situação pode provocar ou não estresse para a pessoa, dependendo da forma como ela percebe esta situação. Observamos que existe o estresse positivo e o estresse negativo, conceituado na revisão sumária da literatura como eustress e distress respectivamente. A situação que a pessoa enfrenta pode ser percebida por ela como um desafio que precisa vencer, mesmo que seja uma situação de considerável pressão, se a percepção dela é a de que esse desafio vai ajudá-la a crescer e o vê como uma oportunidade, o estresse gerado para este caso é um estresse positivo, ou seja, o eustress; Por outro lado, se a pessoa enfrenta uma situação de pressão e esta situação é percebida por ela como algo que afeta seu bem estar, sua condição normal de comportamento, gerando ansiedade, medo, e outros sentimentos negativos, são indícios de que poderá ocorrer o distress, ou seja, o estresse negativo que afeta a saúde do indivíduo. As etapas do estresse abordadas anteriormente, são tratadas como alerta, resistência e exaustão, estas etapas dão uma referência da evolução do estresse no indivíduo, abordadas por Lipp e França e Rodrigues, as etapas nos permite perceber e classificar em que estágio se encontra o estresse do indivíduo, afim de que possa ser orientado quanto aos cuidados que deve tomar para não evoluir e quais as estratégias de enfrentamento que ele pode desenvolver. Quanto a origem dos estressores, podemos observar que podem ser de origem interna e externa e ainda advindo de quatro áreas, ou seja, orgânicos, cognitivos, comportamentais e ambientais.

Os artigos pesquisados no Scielo convergem para as abordagens teóricas aqui apresentadas, desde as definições de estresse, passando pelas estratégias de enfrentamento coping, até os modelos como é o caso do modelo demanda-controle. Em relação a organização observa-se que uma atitude de investimento em saúde preventiva pode amenizar o impacto do estresse no ambiente de trabalho, podendo reduzir os níveis de estresse ocupacional. Outro aspecto que também auxilia na redução do nível de estresse ocupacional é a política de Recursos Humanos desenvolvida pela empresa, dependendo dos direcionamentos definidos podem reduzir o impacto do estresse no ambiente organizacional ou ainda, por outro lado, pode aumentar o nível de estresse organizacional. A política de Recursos Humanos também pode contribuir para que o indivíduo se sinta mais livre, ou com mais autonomia para desenvolver seu trabalho, ou não, pode ser uma política que não atentou-se para estas consequências, o que pode levar o trabalhador a sentir-se em uma prisão, parafraseando a metáfora da organização como prisão psíquica. A liderança das organizações exercem forte influência no desenvolvimento e no enfrentamento do estresse. Uma liderança, cujo perfil está mais próxima de estilos autoritários e centralizadores, pode estar contribuindo de maneira significativa para o desenvolvimento do distress, por outro prisma de visão, uma liderança que tem um perfil mais participativo e democrático, contribui para a percepção das dificuldades como desafios que a equipe precisa enfrentar, logo, a maneira de lidar com a situação é mais desafiadora, aumentando as chances do trabalhador desenvolver o estresse positivo, o que conceitualmente chamamos de eustress. 5. Considerações Finais A abordagem de grande importância para a compreensão do tema deste artigo, é a de que podemos analisá-lo sobre o prisma do indivíduo, onde ele desenvolve seus mecanismos de defesa, tentando sobreviver diante das adversidades geradas no seu ambiente de trabalho, e também sob o prisma de atuação das organizações, onde pode ter uma atuação mais coletiva, preservando a saúde e a qualidade de vida no trabalho, através do desenvolvimento de ações prevencionistas, como é o caso da ginástica

laboral, exames periódicos que possam ser analisadas as causas dos problemas e sua correlação com o estresse no ambiente de trabalho, ainda as políticas de recursos humanos, passando desde as regras e procedimentos, a qual o trabalhador precisa se submeter, até os apectos de desenvolvimento do trabalhador trantando inclusive as questões de remuneração e promoção. Outra observação significativa, refere-se às origens do estresse, uma vez identifadas suas origens, esta servirão de norte para a definição de ações individuais ou organizacionais para a prevenção do estresse. Talvez possamos inferir que as organizações que mais se preocupam com esta questão, têm resultados mais positivos, que contribuem para sua longevidade, contrário a isto, as organizações que não se preocupam com esta questão, estão mais propensas a terem sua longevidade interrompida pelas consequências do estresse no trabalhador e seu reflexo na produtividade, o que seria um interessante problema para pesquisas futuras. Enfim, estas são as contribuições deste artigo, após a revisão sumária da literatura sobre estresse ocupacional e coping.

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