A Psicopedagogia aplicada para a educação de jovens e adultos



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Transcrição:

Joveliana Amado da Silveira A Psicopedagogia aplicada para a educação de jovens e adultos Hoje, a inclusão dos jovens e adultos nos projetos de alfabetização tem nascido basicamente da exigência do mercado de trabalho, onde o ensino fundamental não significa somente acesso ao mesmo, mas principalmente permanência, para isto é indispensável que os diversos setores da sociedade busquem inserir e possibilitar a permanência na escola, para que os cidadãos possam participar ativamente da sociedade, da vida cidadã, cultural e política do seu país. Relato de Experiência Introdução O Estudo de Caso realizado surgiu do ''Desejo''da psicopedagoga de aprofundar os conhecimentos acerca da alfabetização de Jovens e Adultos, uma vez que, por diversos motivos estes se encontram excluídos do processo normal de escolarização e são portadores de distúrbios de aprendizagem. A escola regular ao oferecer o ensino fundamental volta seu ''eixo'' de trabalho à criança, esquecendo-se que o ''adulto'' que não teve acesso à escola na idade certa, se encontra à margem do conhecimento e do saber, necessitando de apóio pedagógico e psicopedagógico. Hoje, a inclusão dos jovens e adultos nos projetos de alfabetização tem nascido basicamente da exigência do mercado de trabalho, onde o ensino fundamental não significa somente acesso ao mesmo, mas principalmente permanência, para isto é indispensável que os diversos setores da sociedade busquem inserir e possibilitar a permanência na escola, para que os cidadãos possam participar ativamente da sociedade, da vida cidadã, cultural e política do seu país. O jovem e adulto ''castrado do conhecimento'' é como em outra ordem a proibição do incesto, provoca seu desejo de conhecer. Para Fernández (1994), quem não conhece morre para a vida, não existindo o conhecimento não há lugar para a sexualidade humana, para o trabalho, para a procriação de filhos, de novos seres humanos que, reproduzindo os velhos, ressignificam a história''. No momento em que o ser humano prisioneiro do sintoma de aprendizagem, centrado na inibição da neurose, ressignifica sua aprendizagem no nível desejante, o papel do professor, do pai, da mãe e da sociedade,são fundamentais principalmente por não ocultar ao aprendiz o caráter de sujeito pensante. Segundo Fernández (1994), a aprendizagem é a apropriação, a reconstrução do conhecimento do outro, a partir do saber pessoal. Já as patologias na aprendizagem, tanto individual como social, correspondem a uma não coincidência entre o conhecimento e o saber. O ''não-dito''que uma pessoa carrega, interioriza, esconde é que torna falso o conhecimento. A principal transmissão no ensino se dá no não-dito, naquilo que não está nomeado, que não está falado. Desta forma, os conteúdos do ensino estão vinculados, atravessados, transversalizados por uma série de fatores econômicos, sociais, políticos, ideológicos, possuindo um aspecto consciente e outro inconsciente. É indispensável que a psicopedagogia análise os fatores inconscientes que abrem espaço de liberdade humana, de pensar, de ser e de agir, constituindo assim, um dos principais aspectos para o libertar-se. Diante destes fatores anteriormente citados, pode-se concluir que, o objetivo da psicopedagogia é o estudo e a intervenção sobre as determinações inconscientes que permeiam o ensinoaprendizagem, abrindo espaço de liberdade e criatividade. Práticas Psicopedagógicas na Educação Prof. Dorival Rosa Brito 12

Estudo de Caso A Intervenção Psicopedagógica foi realizada em um adulto em processo de Letramento e Alfabetização (Tfouni,1995). O adulto é casado, pai de três filhos, tendo o primeiro 17 anos, o segundo,16 anos e o terceiro, 10 anos; todos estudantes do Ensino Fundamental. A estória de vida relatada pelo adulto, demonstrou ter iniciado vida estudantil aos sete anos em Currais Novos, Rio Grande do Norte, onde aprendeu a escrever o seu nome e o alfabeto, embora tenha se evadido, porque teve uma professora que o marcou profundamente, devido ao excesso de cobranças, extremamente rígida, exigente, onde o mesmo não conseguiu permanecer por muito tempo. Após alguns anos, observando seu pai no trabalho, iniciou suas atividades profissionais, apresentando idade cronológica de 11 anos; primeiro, como pintor de casa, em seguida, como operador de refrigeração, bombeiro, hidráulico, soldador, construção civil, enfim, em todas estas atividades, o caráter profissional foi possibilitando e ressignificando a aprendizagem que se deu através da observação e do pensamento lógico-matemático.'' Piaget (1973), introduz as noções de experiência física e experiência lógico-matemática, para descrever como, durante o ato de conhecimento, sujeito e objeto interagem continuamente. E assim, o conhecimento físico experimental em geral (compreendendo aí a geometria do mundo real ) procede, em compensação por abstração, a partir das propriedades do objeto como tal. Só descobrimos a propriedade do objeto acrescentando algo à percepção e este algo, diz respeito à experiência lógico-matemática, ou aprendizagem lógico-matemática (LM), que é, para Piaget, uma segunda forma de conhecimento, indissociável de fato da experiência física, mas de outra natureza''. Portanto, as características básicas da experiência lógica - matemática são: o sujeito aqui está agindo sobre o objeto, através da ação e da operação, derivando dessas operações, um conhecimento que não é mais intrínseco ao objeto. O encaminhamento para o psicopedagogo se deu pela professora do Projeto Alfabetização de Jovens e Adultos, percebendo problemas de visão, sendo necessários exames médicos e ao mesmo tempo foi detectado dificuldades de leitura e escrita. Na entrevista de anamnese, constata-se que o adulto apresenta uma linguagem oral fluente, com um nível de desenvoltura oral extremamente rica sem regionalismo ou sotaques, ver em anexo ''A Narrativa''produzida pelo mesmo. Dados pessoais na época da avaliação Idade: 36 anos Sexo: Masculino Escolaridade: I Período de Alfabetização Queixa Escolar: Dificuldade de leitura e escrita, Dificuldade de memorização. Questão da Escola: O aprendiz não possui leitura e escrita e a queixa do aluno é que ele precisava da leitura e escrita para garantir a permanência no trabalho. Instrumentos de Avaliação Diagnóstico realizado pela professora do Projeto E.J.A, no início do ano letivo de 1999 e no final do mesmo, ver (Anexo 1).Entrevista de Anamnese realizada pela Psicopedagoga, em 31 de Setembro de 1999. Desenho HTP- desenhos de uma casa, uma árvore e uma pessoa, em inglês : House, rhee and Práticas Psicopedagógicas na Educação Prof. Dorival Rosa Brito 13

person (HTP). '' Pretende-se observar a imagem interna que o cliente tem de si mesmo e de seu ambiente. Os desenhos tem grande poder simbólico, saturados de experiências emocionais e ideacionais ligados ao desenvolvimento da personalidade ''(Safra, 1984, p.64). Narrativas produzidas pelo adulto da função que exerce no trabalho- (Anexo 2). Leitura de sílabas, palavras e frases. Entrevista de Devolutiva: Avaliação da Aprendizagem. Dados encontrados na avaliação Área cognitiva: Boa organização do pensamento, nas atividades desenvolvidas como : A Narrativa do tema gerador, ''Tubulação Hidráulica ''(Ver Anexo) em que demonstra que o mesmo é capaz de, produzir um texto coerente com a nomenclatura usual da frase. Possui Pensamento lógico-matemático, pois a aprendizagem das atividades da função que exerce no trabalho o comprovam, isto é, foi através da observação e da interação do sujeito com o objeto que se comprova a interação-ação; bem como o raciocínio lógico-matemático. Linguagem oral compatível com nível silábico (Ferreiro,1980), bom vocabulário, boa estrutura de frases, não apresenta regionalismos, possui uma linguagem coerente com o meio de trabalho. Área Afetivo -Social: Rigidez de comportamento, talvez originado da educação recebida em casa; Pessoa comunicativa, criativa e às vezes insegura, necessitando apóio. Apresentou resistência à algumas regras a serem cumpridas por exemplo, ao realizar um desenho, diz não gostar, muito embora no trabalho utiliza-se de gráficos para desenvolver projetos de manutenção. Não aprovou o uso de músicas para relaxamento, talvez pelo pouco tempo de intervenção ou por possuir uma postura um tanto quanto rígida. Por outro lado apresentou um comportamento um tanto distante, preocupado exigindo uma reflexão acerca do não-dito'' que possa ocultar, motivos familiares e cobrança no trabalho, que possa estar dificultando a aprendizagem. Área pedagógica: Insegurança e constrangimento de errar na leitura e escrita. Vínculo adequado com a aprendizagem escolar e o seu ''Desejo'' junto à sala de aula do Projeto o comprovou. Apresentou alguma resistência à algumas atividades propostas. Utilizou-se o Método Paulo Freire (1980), onde o Tema Gerador foi a sua ferramenta de trabalho, Práticas Psicopedagógicas na Educação Prof. Dorival Rosa Brito 14

isto é, narrativas da função de técnico de manutenção, diálogos, associando a linguagem utilizada no seu dia-a-dia. Leitura: lê palavras embora omite letras; Domínio de cálculos e operações matemáticas Identifica medidas, pesos, espessuras, cores, etc. ; Trabalho Interdisciplinar com a professora do Projeto EJA. Síntese dos resultados da avaliação Dificuldades de leitura e escrita. Memória lenta. Lentidão na leitura e escrita, originado talvez pelo excesso de trabalho da função que exerce no trabalho. Conclusão O adulto apresenta dificuldades no processo de leitura e escrita, dominava algumas palavras simples* e consoantes. Indicações e prognósticos Atendimento psicopedagógico individual por mais seis meses; Encaminhamento ao médico neurologista para exames complementares, para detectar possível causa de dificuldade de memorização, lapsos de memória, lentidão na leitura. Encaminhamento para psicólogos para diagnóstico de problemas emocionais e familiares que esteja afetando a aprendizagem, isto é, a lentidão na sala de aula de ensino regular. Atendimento Psicopedagógico O adulto apresentou características de pessoa extremamente inteligente pois exerce uma função de técnico de manutenção que comprova as habilidades desenvolvidas, utiliza -se de pensamento lógico, de observações e de potencial para desenvolver tal função. O atendimento teve ótima aceitação e resultados favoráveis para continuar com a intervenção psicopedagógica, inclusive o mesmo pediu para continuá-lo, o que comprova seu ''desejo'' de aprender. O Atendimento psicopedagógico foi realizado na instituição de ensino superior, Centro Universitário do Triângulo (UNIT), onde foram realizadas onze sessões de 60 minutos cada, uma vez por semana, durante quatro meses. O seu desejo de aprender o levou a progressos na leitura e escrita, embora ainda encontra-se um pouco lento, embora consiga fazer associações dos temas geradores à situações de trabalho. Trabalho interdisciplinar da psicopedagoga e a professora do projeto EJA e da supervisora de Estágio. Práticas Psicopedagógicas na Educação Prof. Dorival Rosa Brito 15

Apesar de ter sido pouco tempo de intervenções psicopedagógicas, a professora do projeto EJA (UNIT), já percebeu avanços significativos na leitura e escrita, lê soletrando, embora ainda omite letras. O curto tempo que o adulto possui para estudar influência sobremaneira no desenvolvimento e por outro lado, o stress cotidiano poderá ser um dos fatores que dificulta a aprendizagem, isto é percebido na dificuldade para memorização, nos lapsos de memória. A medida que as intervenções foram se desenvolvendo, estimulou-se a aprendizagem e o pensamento lógico, o que possibilitou transpor o bloqueio do não aprender, facilitando a entrada na normalidade do processo de alfabetização. Este bloqueio originou-se na Infância, no ciclo inicial de escolarização, quando o mesmo encontrou uma professora rígida que o fez evadir, muito embora o seu desejo de aprender, de conhecer voltou a ser reelaborado à medida que foi se desenvolvendo nas atividades que ora desenvolve no trabalho, que antes utilizava-se de pensamento lógico e da observação. O adulto já teve o '' insight'' da leitura e escrita, apesar de omitir letras. As intervenções psicopedagógicas tiveram como eixo central, a parte pedagógica, ou seja, foram priorizadas as dificuldades de leitura e escrita. As sessões foram realizadas através de materiais confeccionados pela psicopedagoga, através de letras do alfabeto, recortes de jornal, colagem, palavras- cruzadas, palavras-chaves, sílabas, cores, bloco lógico e finalmente, materiais de sucata para confecção de maquete de tubulação hidráulica. No Tema Gerador, a partir de um diálogo, o adulto foi narrando as atividades que exerce no trabalho e foi registrado pela psicopedagoga, que em seguida, orientou o adulto na realização de cópia das palavras-chave. Em seguida, realizou-se Palavras- Cruzadas, onde o mesmo foi recordando palavras trabalhadas anteriormente.também foi realizado recorte e colagem de palavras-chave. Na realização do Tema Gerador: ''A Narrativa Tubulação Hidráulica'', uma atividade desenvolvida que o mesmo mais gostou de realizar, na função de técnico de manutenção, partimos de palavras - chave, onde o mesmo fez a leitura das palavras, como exemplo : vasos-acoplados, almoxarifado, válvulas-hidras, parafuso, segueta, que em seguida separou em sílabas as palavras. Na sessão seguinte, foi proposta uma tentativa de escrita de frases, seguida por escrita livre. Na nona sessão, através de Bingo de sílabas foram reelaboradas as palavras trabalhadas anteriormente. Finalmente, foram propostas atividades utilizando-se do Bloco Lógico, com objetivo de reconhecer cores, espessura, formas e ao mesmo tempo atividades lúdicas, criativas e livres. Neste momento que utilizamos os ''Blocos Lógicos'', foi um dos poucos momentos que o aprendiz pôde se abrir e dizer que a sua vida familiar estava ''desajustada''. Foram estabelecidos vínculos entre o adulto e a psicopedagoga, pois no momento em que o mesmo sente-se à vontade para narrar sua estória de vida, foi quando o espaço terapêutico se enriqueceu e as intervenções ficaram mais dinâmicas. O adulto demonstrou uma certa rigidez de comportamento, originado da rigidez familiar, onde o mesmo demonstra na sua fala, que teve uma mãe castradora, exigente e rígida. Observações durante o tratamento a) Progressos: Lê todas as palavras e escreve lentamente. Associação das palavras-chave com objetos utilizados no trabalho. Práticas Psicopedagógicas na Educação Prof. Dorival Rosa Brito 16

A memória ativada, à medida que fomos trabalhando palavras-chave o adulto foi tendo mais facilidade para assimilar as atividades desenvolvidas na sala-aula; Maior compreensão dos problemas e da realidade significativa que o atinge no setor emocional ou no trabalho. b) Apesar dos progressos citados ainda eram mantido: - tenso em relação ao trabalho, à cobrança do serviço e da família. - Inseguro na aprendizagem em relação à escrita de palavras, de frases e na leitura. - Lentidão mesmo sabendo a palavra pedia confirmação, quando ligava as sílabas. - Inseguro na formação de textos. Considerações Finais: Para o bom desempenho deste caso, baseei-me em pressupostos teóricos, que norteiam as intervenções psicopedagógicas, e por outro lado, a prática pedagógica, volta -se para o método Paulo Freire, como eixo de trabalho, onde o tema gerador, está vinculado à função que o aprendiz exerce como técnico de manutenção. Neste Caso, os fatores orgânicos, familiares, sociais foram pontos de referência para o entendimento do Caso e das possíveis intervenções aqui relatadas. O trabalho psicopedagógico se torna mais completo se a família estiver integrada às relações do aprendiz com a psicopedagoga, mas no caso do aprendiz-adulto, se torna mais difícil. Existia um bloqueio na aprendizagem, embora exercia uma atividade muito importante no trabalho. O mesmo buscou formas de desenvolver e realizar seu ''Desejo'' de aprender. As palavras difíceis que o adulto utilizava pelo universo de seu trabalho, associando palavras do cotidiano, e esta associação se dá na teoria e prática, que segundo Freire (1979) é a PRÁXIS. Segundo Tfouni (1995), ''para que ocorra o letramento e alfabetização, é necessário analisar a sociedade letrada'' isto é, na instituição de ensino superior, as práticas de leitura e escrita são práticas cotidianas, com grande estímulo visual, pois vive-se entre letras, símbolos e imagens. Segundo Tfouni (1995), o tema ''distúrbio de aprendizagem''deve ser encarado no mínimo com muita cautela e alguma desconfiança. Para Orlandi (1987), os conhecimentos não são compartilhados homogeneamente ; eles são distribuídos socialmente. Assim, pode-se visualizar esse processo ideal de alfabetização letrada dentro de uma cadeia social de distribuição de conhecimento, onde muitos grupos mesmo vivendo em uma sociedade letrada, e possuindo, portanto, um certo grau de letramento, são no entanto, excluídos desse processo de produção de conhecimento e acabam colocados nos elos terminais dessa cadeia de distribuição.'' O conjunto de atividades realizadas possibilitou a observação de alguns pontos para continuação de atendimento, a fim de contribuir eficazmente para o bom desempenho das sua atividades na vida acadêmica e profissional. Um diagnóstico bem aplicado e analisado pela psicopedagoga, ''pode trazer uma situação presente, desde o real, como trampolim para investigar o lugar do paciente designado problema de aprendizagem, como depositário da enfermidade de todo o grupo familiar, como signo de um Práticas Psicopedagógicas na Educação Prof. Dorival Rosa Brito 17

conjunto de vínculos alterados, como porta-voz ou intérprete dos não-ditos familiares, etc. (Fernández,1991) Segundo, Fernández, quando se constata que o problema de aprendizagem ou o sintoma do educando, esteja na estrutura pessoal dele mesmo, então todo o grupo familiar pode defender-se da angústia. Mas, à medida que o conflito está angustiando em relação ao conhecer e ao nãoconhecer, ao secreto, ao escondido, ao roubo ou às diferentes significações que o aprender esteja apresentando dentro deste grupo, pode ser encoberto pelo sintoma. Finalmente, um falso diagnóstico acarretará sérias dificuldades no aprendiz, onde cabe ao psicopedagogo indicar- lhe caminhos e não soluções prontas, definitivas. Práticas Psicopedagógicas na Educação Prof. Dorival Rosa Brito 18